Acreditando que as loucuras que esse ser dizia eram meros artifícios e teatro para ganhar votos de tios do zap da geração Baby Boomer, Bolsonaro na verdade se mostrou o pior presidente da história do Brasil e uma das piores e mais monstruosas pessoas de todas as eras em todo o planeta. É um genocida, assassino, covarde, doente mental e monstro.
Analisando as características básicas dos regimes nazista e fascistas e comparando com as características do que vem sendo chamado de Bolsolavismo, não podemos deixar de notar que isto é, de fato, uma releitura do fascismo, o fascismo do século 21, diferente do fascismo do século 20, mas ainda sim tem as mesmas características.
Emilio Gentile, historiador italiano, elencou 11 características básicas do Fascismo. Vejamos e comparemos com o Bolsonarismo:
1 - um movimento de massa de adesão multiclasse em que prevalecem, entre os líderes e os militantes, os setores médios, em grande parte, novos na atividade política, organizados como uma milícia partidária, que baseiam sua identidade não em hierarquia social ou origem de classe, mas em um sentido de camaradagem, acredita-se investido de uma missão de regeneração nacional, considera-se em estado de guerra contra adversários políticos e visa conquistar o monopólio do poder político por meio do terror, política parlamentar e acordos com grupos maiores, para criar um novo regime que destrói a democracia parlamentar;
2 - uma ideologia "anti-ideológica" e pragmática que se proclama antimaterialista, anti-individualista, antiliberal, antidemocrática, anti-marxista, mas populista e anticapitalista em tendência, se expressando esteticamente mais que, teoricamente, por meio de um novo estilo de política e por mitos, ritos e símbolos, como uma religião leiga projetada para aculturar, socializar e integrar a fé das massas com o objetivo de criar um "Novo Homem";
3 - uma cultura fundada no pensamento místico e o no sentido trágico e ativista da vida concebida como a manifestação da vontade de poder, sobre o mito da juventude como artífice da história, e na exaltação da militarização da política como modelo de vida e atividade coletiva;
4 - uma concepção totalitária do primado da política, concebida como uma experiência de integração para realizar a fusão do indivíduo e das massas na unidade orgânica e mística da nação como uma comunidade étnica e moral, a adoção de medidas de discriminação e perseguição contra aqueles considerados fora desta comunidade quer como inimigos do regime ou membros de raças consideradas inferiores ou perigosas para a integridade da nação;
5 - uma ética civil, fundada em total dedicação à comunidade nacional, sobre a disciplina, a virilidade, a camaradagem e o espírito guerreiro;
6 - um Estado de partido único que tem a tarefa de prover a defesa armada do regime, a seleção de seus quadros de direção e organização das massas no interior do estado, em um processo de mobilização permanente de emoção e da fé;
7 - um aparato policial que impede, controla e reprime a dissidência e a oposição, mesmo usando o terror organizado;
8 - um sistema político organizado pela hierarquia de funções nomeadas a partir do topo e coroado pela figura de "líder", investido com um carisma sagrado, que comanda, dirige e coordena as atividades do partido e do regime;
9 - defesa armada do regime, a seleção de seus quadros de direção e organização das massas no interior do estado, em um processo de mobilização permanente de emoção e da fé;
10 - organização corporativa da economia que suprime a liberdade sindical, amplia a esfera de intervenção do Estado, e visa alcançar, por princípios de tecnocracia e solidariedade, a colaboração dos "setores produtivos" sob o controle do regime, para alcançar seus objetivos de poder, ainda preservando a propriedade privada e as divisões de classe;
11 - uma política externa inspirada no mito do poder nacional e grandeza, com o objetivo de expansão imperialista.
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DIFERENÇAS
Uma leitura e já percebemos que se tem algo próximo das ideias bolsolavistas é o Fascismo. Mas o Bolsolavismo é um fascismo diferente. Na verdade o bolsolavismo é uma derivação do fascismo, é um tipo heterodoxo de fascismo.
Em que, então, está a diferença do fascismo bolsolavista para o fascismo "tradicional"?
Na minha opinião os pontos diferentes são os seguintes:
1 - Enquanto no nazismo o ódio foi direcionado aos judeus, no bolsolavismo o ódio é direcionado aos comunistas: o grande inimigo são os comunistas, confabulados numa conspiração de dominação mundial, exatamente a mesma teoria da conspiração judaica que Hitler pregou e difundiu;
2 - Parasitar o Cristianismo: enquanto Hitler e Mussolini perseguiram o cristianismo como coisa velha, ultrapassada, inferior e que atrapalha o estabelecimento do Novo Estado, Bolsolavismo finge ser cristão e busca escravizar pessoas justamente nas igrejas, sob pretexto de ser uma luta de Deus contra o demônio. O movimento bolsolavista assim faz dos cristãos uma massa de manobra. Sabemos bem que se tem uma coisa que Olavo de Carvalho não é é cristão, Bolsonaro muito menos. Alguém ainda acha que aquele padre Paulo Ricardo é cristão? É um fascista e dos bem burros, foi usado pelo Bolsolavismo para espalhar as doutrinas do astrólogo entre conservadores e tradicionalistas católico, e é tão idiota que até hoje não percebeu isso.
3 - Falso liberalismo: buscando enganar e fazer de trouxa os liberais, o Bolsolavismo diz ser a favor de medidas "liberais" para "diminuir o Estado" e tornar a economia mais "livre". Balela total, o bolsolavismo tem como característica o aparelhamento das instituições públicas para dar o Poder aos alunos do vagabundo Rasputin da Virgínia. O que eles querem é tomar a Coisa Pública para si.
4 - Teoria da Conspiração: há uma grande conspiração mundial de uma elite intelectual e financeira, os Iluminatti, para implantar o COMUNISMO. Sim, os grandes capitalistas e conglomerados e multinacionais estão usando Hollywood e a música pop para implantar o comunismo ( a sociedade sem classes, onde os ricos seriam mortos e não haveria propriedade privada) em escala global. Eu me pergunto porque um empresário rico iria financiar filmes e bandas musicais para espalhar ideias comunistas que pregam o fim da sua propriedade. Tudo isso é justificado com uma imensa teoria da conspiração sobre "Os Globalistas" ou "Socialistas Fabianos".
5 - Decadência e baixaria moral: Olavo, acusado por sua filha Heloisa de Carvalho de ser um viciado em prostitutas e tarado sexual, usa palavrões, piadas indecentes, baixaria, apelo sexual, deboche do mais baixo nível e coisas mais horrendas ainda. Isso é bem diferente de antigos fascistas bem eruditos educados até. Seus discípulos nas redes sociais e alunos de seu fajuto "curso de filosofia" (que é pagar para ouvir teoria da conspiração e palavrões) imitam o Grigori Rasputin falsificado vomitando baixaria e palavrões por todo lado. Isso porque se dizem cristãos.
6 - O cidadão de Bem bolsolavista não busca valores como família tradicional e nacionalismo. O cidadão de Bem bolsolavista é o Carluxo (Carlos Bolsonaro), um homossexual enrustido, imbecil, inculto, estranho e covarde que usa robôs (programas e aplicativos de replicação de perfis e mensagens em redes sociais) para subir hashtags no Twitter e fazer acreditar que "o povo" está com Bolsonaro, além de atacar e destruir reputações com Fake News. Ou seja, o modelo de cidadão ideal do Bolsonaro é uma mistura de um astrólogo tarado sexual que só fala perversidades e palavrões com um homossexual viciado em redes sociais e perfis falsos. Ernesto Araújo e Bia Kicis são exemplos notórios disso.
7 - Desnacionalismo e complexo de inferioridade: busca-se sempre destruir o Brasil, a imagem do Brasil no exterior, a economia, a cultura nacional, e sempre enaltecer os Estados Unidos, a Europa e a "civilização ocidental". Em todo vídeo sobre Brasil, Olavo ataca e humilha o país enquanto enaltece potências estrangeiras.
8 - O Bruxo-Guru: o Bolsolavismo assimilou a história de Grigori Rasputin, o estranho "místico" também acusado de perversidades sexuais e bruxaria, como o guru da familícia. Grigori Rasputin levou a Rússia ao caos e à desgraça ao ser tido como sábio pelo czar e pela família imperial. Graças a ele a Revolução Russa foi possível. Não me lembro de ter havido gurus assim na Alemanha ou na Itália nazi-fascistas.
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SEMELHANÇAS
OS PONTOS SEMELHANTES MAIS NÍTIDOS
Podemos concluir então que o bolsolavismo é uma forma excêntrica de fascismo, cujo objetivo final não é enaltecer e engrandecer a Pátria mas sim destruí-la totalmente. O ideólogo desse governo é um falso astrólogo que está indicando as piores e mais podres pessoas malucas e doentes para ocupar cargos relevantes e importantes no governo. É por isso que temos mais de 300 mil mortos por Covid. Bolsonaro não quer matar comunistas apenas, ele quer matar OS BRASILEIROS porque ele ODEIA o Brasil. Ele foi ensinado por Olavo a odiar o país. Ele não é nacionalista. Sob pretexto de proteger o povo de chip e outras tecnologias de espionagem e controle mental que viriam com a coronavac e o 5G (uma teoria da conspiração que mais parece um filme blockbuster desses bem água com açúcar), o Bolsolavismo é claramente um tipo de fascismo porque:
A - Prega o ódio a um grande inimigo, os comunistas, que estariam destruindo a nação com sua ideologia;
B - Crê e divulga Teoria da conspiração: uma elite mundial está empenhada em implantar o globalismo comunista através da cultura, das universidades, das músicas e dos filmes;
C - É racista, pois inventa um modelo ideal de brasileiro, que é branco, cristão, heterossexual e conservador, o único brasileiro legítimo, enquanto indios, negros, mestiços, homossexuais, esquerdistas e etc são inimigos e minorias que precisam ser destruídos, perder seus postos de trabalho, perder suas funções intelectuais e de direção, perder o poder cultural e criativo e sair de toda repartição e instituição pública, cedendo todos esses espaços para os alunos de Olavo de Carvalho, brancos, cristãos, conservadores e heterossexuais.
D - É Militarista: manipula a polícia, fazendo lavagem cerebral conspiracionista nas polícias militares para convencê-los de que comunistas estão em tudo e defendem os bandidos; que o homem branco e cristão é o único cidadão de bem e o resto é do mal; que estamos em guerra contra os comunistas e que é preciso matar pessoas.
E - Os fins justificam os meios: como estamos, de acordo com a teoria da conspiração, dominados pelos comunistas e globalistas, não tem outro meio de acabar com o poder deles a não ser acabando com o Estado Democrático de Direito, matando pessoas, se apropriando das coisas e instituições públicas de forma ditatorial e autoritária, pois só através de um governo autoritário e antidemocrático é que poderemos nos livrar dos comunistas e seu controle sobre o Estado. Por isso BolsoNazi quer controle sobre a Polícia Federal e o Judiciário.
F - Cruzada/Jihad/Intifada contra os infiéis: é preciso destruir o inimigo a qualquer custo, em nome do "bem". É preciso militarizar a sociedade e entrar em guerra para impor a vontade do líder. É preciso criar Gabinetes do Ódio para execrar quem pensa diferente. Não pode haver liberdade de expressão.
G - Guerra contra a Mídia e contra a Liberdade de Expressão: para fazer gestos nazistas e atacar minorias a liberdade está garantida e grita-se a favor da democracia. Mas apontar as corrupções e ladroagens do governo e suas loucuras não pode e é preciso destruir a grande mídia, impedir o livre pensamento e a livre expressão, usando todos os artifícios possíveis: aparelhamento do Estado e da Justiça, robôs de redes sociais, difamações e calúnias em massa, etc.
TUDO ISSO É MUITO CHOCANTE. Um louco está no governo seguindo as doutrinas de alguém mais louco ainda. Como pode ser normal um governo que tem/teve participações ilustres de criaturas bizarras como Damares Alves, Ernesto Araújo, Abraham Weintraub, Eduardo Bolsonaro, Carluxo, Felipe Martins... Um governo apoiado por pastores evangélicos como Silas Malafaia e Edir Macedo... Só pode ser o próprio inferno na Terra. E de fato é maligno pois o genocida matou 300.000 pessoas por se negar a vacinar o seu povo, negar dar vida e saúde para as pessoas que deveria cuidar, amar e lutar.
É triste, revoltante, nojento e decepcionante.
Este é o Fascismo do Século 21. Este é o Bolsolavismo.
O artigo abaixo da revista Ética e Filosofia Política da Universidade Federal de Juiz de Fora traz os comentários de dois autores católicos que, depois de pesquisar e tentar entender o Maniqueísmo, chegaram a conclusão de que a religião foi muito mal compreendida na antiguidade, inclusive mal compreendida por Agostinho, e reconhecem nela uma belíssima tradição religiosa que possui uma profunda e verdadeira Filosofia. O Maniqueísmo, para eles, precisa ser estudado com mais profundidade para ser realmente compreendido!
RESUMO: É notório que as interrogações filosóficas de Agostinho foram profundamente marcadas pelo Maniqueísmo. Este artigo tem como objetivo fazer um estudo comparativo das obras de François Decret e Pio de Luis sobre o Maniqueísmo. Sua finalidade principal é apresentar, o mais objetivamente possível, o quadro geral da filosofia maniqueísta e nos permitir atingir uma compreensão mais aprofundada da atitude agostiniana face ao Maniqueísmo. Será que a guerra ideológica contra os maniqueus, como outras tantas que Agostinho travou, o tornaram o melhor expositor de suas doutrinas? Além disso, as respostas dos maniqueus sugerem que Agostinho desconhece os mistérios mais profundos do credo professado por eles. No entanto, o Maniqueísmo marcou profundamente o pensamento de Agostinho, principalmente no que concerne às interrogações propriamente filosóficas que o bispo de Hipona desenvolverá mais tarde: a questão metafísica e ética da origem do mal é um exemplo palpável dessa influência. PALAVRAS-CHAVE: Agostinho, Maniqueísmo, Mal.
Introdução
Este estudo comparativo entre duas das raras obras que visam expor a historiografia e o quadro geral da filosofia maniqueísta é minha tentativa pessoal de fazer jus à participação no Núcleo de Estudos Agostinianos (NEA) nos anos de 2013 e 2014. Interessou-me o fato de ambas as análises serem, como era de se esperar, apreciações de autores católicos sobre a natureza do Maniqueísmo, sua origem cristã herética e sua posterior influência sobre a tradição cristã. Também não passa despercebido o encantamento de ambos os autores que, pode-se imaginar, tenham iniciado seus estudos com o intuito desmistificador e confrontador com uma filosofia/mitologia que em algum momento acabou por lhes conquistar o respeito e a admiração.
COMENTÁRIO: Quem se aprofunda e busca realmente conhecer o Gnosticismo e o Maniqueísmo acaba, se for um buscador da Verdade e da Sabedoria, encantado com a elevado nível filosófico e espiritual da tradição Gnóstica.
Como não pode deixar de ser, a hermenêutica principia pelo que é alheio, pelo ponto de partida próprio do leitor, que, paulatinamente, ao deixar falar o universo que precisa ou quer compreender acaba surpreendido por aquilo que ultrapassa a sua construção prévia sobre o assunto, sua tentativa de redução e inserção do objeto no fluxo da história como degrau galgado e superado da tradição.
Até que ponto o Maniqueísmo está realmente miscigenado ao corpo da cosmovisão cristã ou o nosso olhar retrospectivo não o reconfigura segundo os valores e expectativas de uma visão cristã, não podemos saber. Mas sabemos, por textos como os que ora analisamos, que a familiaridade e a simpatia com que o pesquisador não raro se surpreende diante do texto maniqueísta afastam celeremente qualquer impressão de se lidar com o alheio. Que se a veja como morta ou incorporada, a tradição maniquéia parece se revelar decididamente como parte de nossa própria história.
COMENTÁRIO: Isto se dá não só pela influência de gnósticos e maniqueístas ao longo da história da igreja ocidental, mas pelo fato de que todos nós seres humanos possuímos a Partícula de Luz, a Centelha Divina em nós que ora pulula de nosso ser mais íntimo e profundo e aparece em nossos escritos, sem darmos conta. Existe um subconsciente, um inconsciente pessoal, um inconsciente coletivo, uma base do Ser dentro de nós que, por mais que ignoramos, está lá e aparece sem que o convidamos.
A primeira parte desta análise documental apresentará o resumo de Mani et la tradition manichéene, de Françoise Decret; a segunda tratará do volume “Contramaniqueus” da Biblioteca de Autores Cristianos, com introdução de Pio de Luis. A conclusão fará com brevidade o apanhado crítico dos documentos conforme alguns pontos filosoficamente relevantes.
Mani e a tradição maniquéia:
François Decret apresenta-nos uma rica e profunda introdução histórica sobre a civilização sassânida e o masdeísmo. Além de uma erudita exposição dos reinados sassânidas e suas contribuições jurídicas, sociais, políticas e religiosas, destaca a teogonia dualista do masdeísmo e sua consequente ética da purificação e “alinhamento” rumo a um dos lados de nossa natureza interna, correspondentes aos princípios cosmológicos do bem e do mal.
COMENTÁRIO: É um pecado e um verdadeiro CRIME o que o cristianismo e a academia ocidental fizeram com a Pérsia. Como já dissemos lá atrás na série de postagens A Fé Gnóstica, a religião de Zoroastro influenciou na própria criação do Judaísmo e nos desenvolvimentos da nação de Israel. A religião, a teologia, a ética zoroastriana é notória no velho testamento. Deveríamos estudar a história dos persas, partas, medos (de onde vieram os magi, os magos da pérsia, ou melhor, os magos da média), elamitas e outros povos indo-iranianos. A história do Império Persa está entrelaçada com a história da Grécia helenística e do Império Romano. Como pode ser possível que os cristãos não saibam que existe uma religião chamada Zoroastrismo e que, de fato, o cristianismo é fortemente baseado nas doutrinas de Zardusht (Zoroastro)? Há um interesse vívido em esconder a influência persa no judaísmo e no cristianismo, isso é óbvio e notório.
Exemplo claro: Giovanni Reale em sua História da Filosofia, obra boa e recomendável, de forma apaixonada, canalha e sorrateira diz que "o medioplatonismo foi influenciado pelas religiões do oriente", mas não explica que "religiões" são essas e não explicita em quê o medioplatonismo foi influenciado mais detalhadamente, para que o leitor saiba do que ele está falando. A mesma coisa faz com o judeu Fílon de Alexandria, falando da "influência de religiões orientais no pensamento de Fílon" mas escondendo trechos onde Fílon cita os gimnosofistas (yogues) e brâmanes da Índia, magos da pérsia e druidas celtas como grandes filósofos nos quais a Sabedoria de Deus havia se lhe infundido, como também em Platão e Moisés. Atacando os gnósticos, diz que "os aeons valentinianos são a decadente transposição europeia do pensamento hindu". Como pode um professor de filosofia chamar o "pensamento hindu" de decadente? Isso se chama INVEJA, pois ele é cristão e ele SABE que o hinduismo é superior ao cristianismo católico o qual professa, filosófica e eticamente, pois é mais próximo do gnosticismo. Ele sabe que quando alguém entra em contato com o Vedanta, ou a pessoa se torna adepta de formas filosóficas de hinduísmo, ou se torna um verme e um porco invejoso cheio de ódio, que é o que está acontecendo com pastores evangélicos, o câncer de nosso século, entrando em contato com as filosofias do oriente e ficando loucos esbravejando de ódio e atacando "o paganismo". Vejam esse vídeo do excelente canal do ex-diácono ortodoxo Marcelo Paiva sobre os surtos esquizofrênicos de um pastoreco evanjegue sujo qualquer, intitulado "A Ignorância Triunfante: a desonestidade intelectual de um apologeta cristão", dois vídeos que eu recomendo MUITO assistir!!!
GNOSTICISMO E VEDANTA são como que a peneira ou filtro que separa as Trevas da Luz, o joio do trigo, a ostra da pérola, o cascalho do diamante. Pode ser forçado isso que estou dizendo mas é minha percepção, pois eu mesmo era uma pessoa bem estúpida quando criticava o gnosticismo sem conhecer o que realmente ele é. E quando entrei em contato com Vedanta fiquei simplesmente maravilhado e, de fato, algo se transformou dentro de mim quando, ao mesmo tempo tempo, estudei e tentei praticar Gnosticismo e Vedanta.
Por sua origem geográfica, é possível que Mani tenha tido fortes impressões dos resíduos culturais deste dualismo masdeísta, mas sabe-se com ainda maior certeza que ele absorveu muito do estoicismo, do evangelho de Lucas e das epístolas paulinas. Decret observa, adicionalmente, que o marcionismo havia prosperado muito no século III, abrangendo justamente as regiões da Mesopotâmia e leste da Síria. Esta seita se distinguia por um monasticismo de rigor extremado.
Também de acentuada importância para a época, assevera Decret, é a existência de uma crise interna do cristianismo com suas vertentes gnósticas, altamente secularizadas. Não ignorando a helenização da tradição cristã como um todo, Decret nos apresenta a seguinte apreciação do gnosticismo e do catolicismo: “uma helenização radical e prematura do cristianismo, com rejeição do Velho Testamento; o sistema católico, ao contrário, uma secularização, uma helenização feita gradualmente e com a conservação do Velho Testamento” (DECRET, 34).
COMENTÁRIO: O próprio cristianismo em si é uma criação grega helênica. Grega pois é baseado na cultura e filosofia grega tardia, um ecletismo que abarca Platão e medioplatonismo, estoicismo e a própria cosmovisão indo-européia grega popular. Helênico porque helenista, fruto do sincretismo da cultura grega com as culturas orientais (egípcia, persa, judaica, babilônica, etc). Nos Evangelhos e outros textos do Novo Testamento bíblico vemos a grega filosofia do Logos sincretizada com o dualismo e profetismo zoroastriano, a escatologia egípcia, a astrologia babilônica e os motivos teológicos dos judeus. Podemos perceber até mesmo elementos confucionistas e budistas no Sermão da Montanha.
Apesar deste caldo cultural já apresentar alto grau de hibridação à época de Mani, é temerário traçar com excessiva segurança as fontes exatas e o grau de influência que estas escolas tiveram sobre seu pensamento, por demais inaugural, pragmático e monolítico. Por mais certo, portanto, que sejam estas “presenças” na filosofia maniquéia difundida após a morte de Mani, a sua relação direta no primeiríssimo momento de elaboração da doutrina deve ser mantida sempre entre parênteses.
COMENTÁRIO: Isto é bastante claro quando vemos a influência do Taoísmo no Maniqueísmo Chinês posterior. Onde quer que entrasse, o Maniqueísmo se sincretizava e absorvia elementos da religião local. Os mitos cosmogônicos e as divindades babilônicas são notórias no mito Maniqueísta mas perdem bastante espaço para Jesus Cristo no império romano, Brahma, Shiva, Vishnu e Ganesha na Índia e em Kushana e Buddha e Lao Tsé na China.
Certa mesmo é a influência do elkhasaísmo, heresia cristã razoavelmente influente na região da Mesopotâmia e na Pérsia, que pregava entre outras inovações a plena humanidade de Jesus (não muito diferente de Ario), e que Cristo reencarnara diversas vezes na Terra a fim de trazer repetidamente a mesma mensagem. A primeira das reencarnações de Cristo teria sido Adão. Também permitiam ou recomendavam a apostasia “aparente” em caso de perseguição (DECRET 38). De veia quase agnóstica em alguns aspectos, repudiavam os rituais, superstições e os aparatos de culto exterior como desnecessários e até obstrutivos à purificação, a qual era tida como exercício espiritual totalmente interiorizado. Não obstante, pareciam legar grande importância ao batismo.
Nascido em 14 de Abril de 216, Mani se apresentava assim: “Mani, Mensageiro do Deus da verdade, vindo da terra da Babilônia” (DECRET, 46). É, contudo, tão difícil precisar a verdade dessa informação quanto qualquer outra acerca de sua vida.
Mani teria recebido em vida duas visitas do espírito consolador prometido por Jesus para cumprir e terminar a sua revelação (João XIV, 26). Aos 12 e aos 24 anos, Mani foi instruído pelo Espírito Santo a dedicar-se totalmente ao seu ministério, preparando-se para a verdade que haveria de anunciar. Ao passo que não se entendia como sincretista, Mani afirmava que Buda, Zaratustra e Jesus eram seus precursores (DECRET 63).
Decret dá enorme importância ao sucesso militar de Shapur contra os romanos na difusão do maniqueísmo. Como sói ocorrer com as revoluções culturais, elas se alastram nos momentos de grande crise ou no zênite de uma civilização. Felizmente para o maniqueísmo a Pérsia estava em alta e, pelos idos de 250 a 280, Roma tropeçava.
Passando do contexto para uma apreciação mais sintética:
“Como todo gnosticismo clássico, o maniqueísmo pretende abordar o conhecimento fundamental, a gnose, que revelará ao iniciado o alfa e o ômega de sua condição humana ou, para usar a terminologia da seita: o começo, o meio e o fim. Ou, à diferença do conhecimento racional e discursivo, que almeja o conceito e opera por deduções e proposições teóricas, a gnose, que escapa aos mecanismos da lógica e de seus limites especulativos, propõe o seu ensinamento sob a forma de mito. O gnóstico considera com efeito que a verdade é propriamente intraduzível – inenarrável e inefável, disse o maniqueu Secundinus – para os processos habituais das ciências comuns. Ele necessita de atenção e meditação, contemplação extática e mística, imersão, enfim , do sujeito, com o que irá conhecer o objeto mesmo, a Verdade, a qual invade uma alma disponível.”(DECRET, 80)
COMENTÁRIO:
Ao contrário das outras religiões, o Gnosticismo pretende trazer a explicação e solução da condição humana, da existência humana. Mani expressou isso através da sua Doutrina dos Três Tempos: o Antes, o Agora e o Depois e em cima disso expôs um mito fantástico sobre a Grande Guerra entre o Senhor da Luz e o Outro ( o Senhor das Trevas) para iniciar as pessoas nesse Conhecimento. Os gnósticos antes dele expressavam isso através do Mito de Sophia, um mito fantástico sobre a aventura de uma protagonista feminina e seus erros e acertos, símbolo da Alma Humana, história em que também aparecem os Três Momentos mas não tão expostos quanto Mani fez, onde o papel de cada ser humano é exatamente o mesmo do mito maniqueísta: restaurar a Unidade Primordial quebrada pelas ações de Yaldabaoth (no caso maniqueísta, do Senhor das Trevas, Melekh Heshokha).
Usa-se o mito como primeiro passo, primeira iniciação na doutrina. Pois não é uma doutrina realmente. É uma PERCEPÇÃO DO REAL. A mais verdadeira percepção da realidade que nos cerca. Esta percepção do real NÃO PODE SER DITA, ESCRITA OU EXPLICITADA. Não temos capacidade para isto. O Real transcende a ferramenta da Linguagem que temos. No entanto, esse Real é percebido por nós, como se fosse um sentimento... Mas não é sentimento. É o uso de uma ferramenta que não é diferente de nós nem do próprio universo: o acesso a algo que está em nós e em todo o universo. Isto não pode ser descrito, somente experimentado. E não é uma experiência sensível, como temos com os cinco sentidos: tato, olfato, paladar, audição e visão. É uma experiência que transcende tudo isso. Mas não é mental, pois é muito mais e vai muito além da mente, não é um pensamento ou uma ideia fabricada. É um arrebatamento não de nosso ser, mas o acesso ao nosso verdadeiro ser. Com explicar isso? É impossível. Ao longo da história se convencionou chamar isso de Mística, União Mística, Transe, Transcendência, Visão, Êxtase, Vazio, Plenitude, Reino dos Céus, Absoluto, Vida, o Ser, etc. No Oriente isso foi muito mais pesquisado, analisado e destrinchado e encontramos termos que falam de coisas ao mesmo tempo iguais e diferentes: Samadhi, Dhyana, Jnana, Gnana, Satori, Buddhadatu, Nirvana, Moksha...
Devido a estas características patentemente gnósticas, os mitos não podem ser interpretados de modo fundamentalista ou crédulo, já que a sua verdade depende de um exercício pessoal e intransferível para a aquisição do conhecimento que não pode ser vertido em texto. São, portanto, desonestas as críticas adversárias que interpretam o mito literalmente, enfatizando suas “contradições e aberrações”, apresentando-o como “fallacissima fabula” (DECRET, 80).
COMENTÁRIO: SÃO DESONESTOS OS QUE ATACAM AINDA HOJE OS GNÓSTICOS, dizendo que o demiurgo é um deus mal ou que Mani ensinou que há dois deuses e tudo é uma briga entre o Deus do Bem e o deus do mal. Isso é ridículo até. O mito não pode ser interpretado literalmente pois ele é uma ferramenta de iniciação, o primeiro contato de um ímpio com a Gnose. É preciso avançar, aprendendo a Sabedoria, reconhecendo no mito os elementos que simbolizam a condição existencial humana e experiência humana com o Noúmeno.
A Verdade que pode ser dita não é verdade mas sim mentira.
A Sabedoria ou Conhecimento que pode ser expressado em palavras não é sabedoria nem conhecimento, mas ignorância.
Aquele que ensina que maniqueísmo é a crença em dois deuses do bem e do mal, ou que gnosticismo é a crença que deus é mal criou o mundo, das duas uma: ou é malicioso, mentiroso, manipulador e canalha propositalmente, sabendo e querendo enganar; ou é um idiota, uma pessoa burra, inepto, incapaz, deficiente intelectual.
Além de seu obvio dualismo, a doutrina maniqueísta fala de tempos ou momentos de desdobramento da criação e de uma grande batalha cósmica entre o bem e o mal onde cada homem é um ator ou uma peça de tabuleiro capaz de escolher em qual lado vai jogar. Os momentos são anterior, mediano e posterior. No primeiro momento não há céu e terra, só o Uno e o Outro, Luz e Treva. No momento mediano, a obscuridade tenta cobrir a luz e partes da luz penetram na obscuridade. No momento posterior se atinge a instrução e a conversão, a mistura é desfeita e os mundos são separados novamente, um de luz e um de treva (DECRET, 81).
Em fragmentos que lembram a linguagem e a lógica do Apocalipse:
“Deus o Pai domina o Império da Luz, magnífica por sua potência, verdadeira por sua natureza, exultante em sua própria eternidade, possuindo em si mesma a sabedoria e os atributos da vida. Contra ele há a Terra das Trevas e todo o gênero pestífero, no interior da qual uma raça de sombra e fumaça, um Príncipe feroz, soberano de outros príncipes inomináveis. São cinco os membros do Pai: Inteligência, pensamento, reflexão, vontade, razão. O príncipe feroz, o arquidemônio, o Satã, ou Ahriman, trabalha pela concupiscência da alma morta da matéria.” (DECRET, 85) “O Homem primordial e seus “elementos” são devorados por demônios: a afronta do tempo médio começa por um defeito da Luz que se mistura à substância das Trevas [...]. O Homem Primordial, primeira vítima da raça malvada, é o arquétipo do homem salvo que entendeu o apelo.” (DECRET, 86)
Há muitos símbolos no mito que mereceriam ser estudados (a cruz de Luz, a máquina do Juízo, entre outros), mas o importante é saber que a grande guerra torna o homem mais forte, torna-o um homem novo. Assim diz o Salmo a Jesus: “Jesus, verdadeiro protetor meu, possa tu velar por mim, tu és o vinho vivo, filho da verdadeira vinha. Em meio ao mar, Jesus, és o meu piloto. O coração se rejubila em ti. Ele se arma para combater o dragão. Jesus, a primeira rosa do Pai.” (DECRET, 96-98)
Tratado por seus discípulos como apóstolo de Jesus, Mani acreditava não apenas ser o paráclito prometido, como o saber verdadeiro de Paulo. À diferença de Jesus, exemplo ideal para uma humanidade sofredora, o Profeta representa realmente a humanidade. Prefigura, assim, a humanidade de almas divinas engajadas no combate. Jesus apresentou o caminho e a meta; o Profeta é aquele que guiará a humanidade em meio ao pecado e as tentações; ele tem a alma dividida entre a paz de Cristo e a sombra dos desejos infernais, e precisa travar uma guerra interna idêntica à que se desenrola no plano cósmico. “Jesus nos enviou o Espírito de Verdade, e nos agarramos aos erros do mundo. [...] É o espírito mau da concupiscência que é a origem de todas as guerras e preside o conflito interior para sujeitar a boa alma.” (DECRET, 100).
COMENTÁRIO:
MANI É O TIMONEIRO DO NAVIO DA LUZ. Ele não é como Jesus, que veio ensinar qual é o caminho e fica no céu olhando de longe, um aeon. Mani encarnou o Caminho. Ele é o Paráclito, Aquele que Ensina Toda a Verdade. Ele está conosco e sabe de tudo pois passou pelas mesmas coisas que nós: a tentação dos desejos da carne, a luta da matéria e das trevas para dominar nossa mente. Ele teve desejos e paixões, sofrimentos e dores, amou, sofreu, pecou, errou e no fim venceu as trevas, entrando no Reino da Luz. Jesus é uma divindade distante de nós, oramos a Ele e pedimos sua proteção pois Ele é poderoso e Salvador. Mani é um Profeta, o mais próximo de nós que já foi enviado, o último Mensageiro do Reino da Luz, um homem como todos nós.
Introdução ao “Contramaniqueus”:
Pio de Luis, organizador e apresentador do volume Contramaniqueus da Biblioteca de Autores Cristãos, nos apresenta uma visão do maniqueísmo explicitamente mediada pela crítica de Agostinho. Não obstante, podemos perceber um esforço não menos evidente em fazer justiça aos méritos histórico-culturais do movimento, e um evidente cuidado hermenêutico.
O maniqueísmo não pode ser compreendido, conforme Pio de Luis, sem o endereçamento ao cristianismo. A mensagem maniqueia se dirigia prioritariamente aos cristãos. Não é de estranhar que “falassem muito pouco de Mani e seus escritos e muito de Cristo e das Escrituras.” (AGUSTÍN, 1) “O maniqueus se apresentava, ademais, como cristão perfeito, ou se preferir, como o cristão sem mais, se ser cristão significava aceitar o Evangelho, e aceitar o Evangelho não se reduz a apenas “crer”, como também agir conforme a ele.” (AGUSTÍN, 12).
COMENTÁRIOS: Aqui há um erro. O maniqueísmo do império romano foi dirigido, de fato, especialmente aos cristãos. Não foi assim com o maniqueísmo persa dirigido aos zoroastrianos. Nem o maniqueísmo chinês e da ásia central, dirigido especialmente aos budistas mas também aos taoístas. Tampouco na Índia, onde o maniqueísmo foi dirigido aos hindus.
Movimento reformador do caráter por excelência, o maniqueísmo só erroneamente pode ser reduzido a um conjunto de crenças e princípios gnósticos. É, indubitavelmente, uma filosofia prática no auge da fusão cultural entre o helenismo e a revelação ética de Jesus. Não espiritualista metafísico, senão prioritariamente espiritualista moral é o caráter maniqueu.Precisamente por isso as ameaças de recaída na heresia eram muitas e graves: o aspecto doutrinal, os dogmas, a “interpretação correta” da natureza de Cristo e de Deus eram submetidos ao pano de fundo moral do conflito entre o bem e o mal. Nenhum olho ou mão, por mais benefícios que tragam, será poupado se for motivo de pecado, e o maniqueísmo não terá piedade de arrancar os elementos mais preciosos da doutrina cristã se estes afastarem o praticante da verdadeira pureza que o pode salvar.
De tudo o que se possa falar sobre o maniqueísmo, que fique somente isto: é uma reforma que busca resgatar e enfatizar a transformação comportamental e psicológica do cristianismo e de outras revelações celestiais; não deve haver empecilhos ou constrangimentos no curso dessa reforma.
O seu é um culto espiritual que já não tem mais templo além do próprio sujeito que o pratica, não tem mais estátuas do que Cristo, o Filho de Deus, estátua viva da majestade viva; o altar não é outro que a mente imbuída de boas artes e disciplinas, não tem honras divinas nem sacrifícios que não sejam as orações simples e puras. (AGUSTÍN, 13)
COMENTÁRIO: O Gnosticismo como um todo é uma reforma moral e espiritual de toda e qualquer religião. Já foi citado aqui no blog uma imagem muito correta: o Gnosticismo era visto pelos antigos gnósticos como uma Chave pela qual todos credos podiam ser interpretados, corrigidos e evoluídos para um estado de sublimação religiosa. A Gnose eleva as religiões, melhora em tudo. Gnosticismo é a evolução da Religião até alcançar seu ápice supremo. O Gnosticismo é a religião perfeita, pois corrige todas as outras, explica todas e melhora todas.
A Gnose acaba com a idolatria politeísta, pois corrige a errônea concepção de que existem vários deuses que precisam ser acalmados para que desgraças não ocorram: os deuses nada mais são do que aspectos e atributos do Uno supremo e absoluto, e muitas vezes as divindades são aspectos e reflexos das maldades que nascem no coração humano, ou seja, os demônios.
A Gnose corrige o erro monoteísta, que é a idolatria de um ditador fictício que cria um falso sistema moral para escravizar os homens, ou seja, é um sistema de valores criado por uma elite para dominar a sociedade num sistema corrupto e falso que é vendido como "vontade de Deus" para amedrontar as vítimas.
A doutrina Gnóstica explica todos os credos, corrige seus erros, retira o que está errado, permanece com o que está certo e acrescenta o que está faltando. As mensagens de Zoroastro, Jesus e Buda foram corrompidas por seus seguidores, que criaram junto com os governantes sistemas corruptos de governo para manter os homens na ignorância, escravos de sistemas econômicos e impedidos de acessar o Conhecimento. O Maniqueísmo é a Chave para corrigir esses erros.
Nenhum gnóstico ou maniqueísta matou ou perseguiu ninguém ao longo da história, mas os gnósticos e maniqueístas são os mais atacados e perseguidos entre todos. É porque o Senhor das Trevas, o desejo material que domina o mundo, não quer que o Homem se liberte dos sistemas opressores das Leis, do Estado e da falsa moral religiosa corrompida.
Mas, como o objetivo de Pio de Luis é apresentar o maniqueísmo de Agostinho e segundo Agostinho, o texto rapidamente passa da apresentação da tradição para a recepção do jovem intelectual. Segundo as Confissões, Agostinho foi maniqueu dos 19 aos 28. Desde o momento da conversão, “creu fundamente e buscou fazer proselitismo da sabedoria.” (AGUSTÍN, 20)
Sua influência principal e o incentivador de sua conversão foi Fausto, que ganhava fama no norte da África como expositor e exemplo moral do maniqueísmo.
O Maniqueísmo de Fausto e Agostinho tinha traços do de Mani, mas era já filosófico, relativamente mais cristianizado (ou, poderíamos dizer, mais católico) e relativamente iluminista. O que estava em jogo não era confrontar tradições religiosas, mas levar sabedoria aos cristãos. Ensiná-los a ver o mundo de forma profunda, mas a partir de suas próprias bases,provando estarem elas diluídas nas cartas de Paulo, nos Evangelhos e em outros escritos filosóficos e religiosos.
COMENTÁRIO: Nós gnósticos não queremos ficar confrontando ideias, debatendo quem é o melhor. Queremos levar as pessoas a um conhecimento mais profundo de si mesmas e da realidade. Nas próprias escrituras cristãs, zoroastrianas, budistas, hindus, taoístas podemos encontrar os vestígios e elementos da Verdade diluídos. Até mesmo nos rituais, liturgias, missas e serviços das várias tradições. O cristão comum e simples sabe só uma parte da verdade, aquela bem básica. Mas é preciso avançar, pois a Verdade não pode ser reduzida a conjunto de regras e profissões de fé. Muitas vezes os adeptos das religiões não sabem o que creem, apenas repetem automaticamente o que lhes foi ensinado decorar. Os que estudam demais teologia e dogmas não aprendem realmente, pois ficam em círculos memorizando dogmas e interpretações literais, bobas e infantis dos mitos e ritos. Isso quando não caem em idolatria e superstição.
Os textos do próprio Mani e sua vida eram raramente citados. Eles tinham caráter de relíquia. Os pergaminhos eram ricamente ornados e encadernados, guardados sempre em local especial e diferenciado da biblioteca. Mas o tratamento recebido pelos escritos era mais de veneração intelectual e simbólica, como chave para toda a compreensão da filosofia e da religião em geral, do que como Palavra, a ser repetida e resguardada. Por isso, ao invés de se citar Mani, citava-se Paulo à luz de Mani, o Evangelho à luz do maniqueísmo.
COMENTÁRIO: O Gnosticismo é A RELIGIÃO por excelência. Pois é a chave de todas elas. É a ferramenta pela qual TODOS OS CREDOS são corretamente compreendidos, explicados, corrigidos e praticados.
O Gnosticismo é A FILOSOFIA por excelência. Pois é a chave de todas elas. É a ferramenta pela qual TODAS AS FILOSOFIAS são corretamente compreendidas, explicadas, corrigidas e praticadas.
Com a Gnose corrigimos Marx e Hegel, a Bíblia e o Tripitaka, Judaísmo e Hinduísmo, Cristianismo e Islamismo, Platão e Aristóteles, Nietzsche e Sartre, etc e etc.
Os maniqueus – ao menos na época e contesto de Agostinho – também rejeitam o Velho Testamento, sob alegação de que ele não apenas contradiz o Novo, como é mais primitivo em comparação com este. Esta rejeição, contudo, se dá na forma de uma diferenciação de nível. O Novo Testamento é sempre mais correto que o Velho, mas este último pode ser válido em questões das quais o Novo não fala. Preferencialmente, contudo, o Velho Testamento não é tido como fonte segura para o julgamento de questão alguma, mas tem ainda certa respeitabilidade, como esforço primitivo de estabelecimento da justiça e da verdade. Tem, assim, valor histórico e cultural. Tampouco o NT deve ser integralmente aceito, mas somente as partes que “edificam nossa fé”.
Tal complexidade no trato dos dois testamentos fica evidente na passagem em que Jesus afirma “não ter vindo para destruir a lei, mas dar-lhes cumprimento”. Que quereria dizer Jesus, que tantas vezes aboliu pontos cruciais da lei?
Para os maniqueus, ou Jesus não teria dito isso, e a redação das escrituras contém erros, ou o disse em contexto completamente distinto e específico, como, por exemplo: “vim cumprir as profecias que falavam de um Messias e de um Príncipe da Paz.” (AGUSTÍN, 49)
Como Mani apresenta uma solução para o problema do mal, ao invés de fórmulas filosóficas e especulativas, seus discípulos o identificavam com o Paráclito prometido por Jesus para explicar todas as coisas. A hermenêutica agressiva do maniqueísmo não se justificaria sem essa prerrogativa de resgate do sentido original do cristianismo, o que passa, não por último ou ocasionalmente, pela contextualização do ensino espiritual de Jesus em face de um ecletismo espiritualista que tem também em vista filosofias e revelações várias do caldeirão cultural dos séculos II e III.
Conforme Pio de Luis, a doutrina de Fausto era explicitamente docetista, não admitindo que Jesus pudesse ter qualquer contato com a carne, ou qualquer natureza carnal. Negavam, portanto, como herética a ideia de que Maria o pudesse gerar. (AGUSTÍN, 58) Isso pode ou não ter alguma base no maniqueísmo original, mas ao menos o formato e o vocabulário do maniqueísmo de Agostinho nos remete à hibridações culturais do século IV.
Outro ponto controverso é o do papel da reencarnação na doutrina original e no maniqueísmo difundido a partir do século IV. O maniqueísmo de Agostinho era certamente reencarnacionista. Ao passo que os eleitos se salvam por sua desvinculação da matéria, os ouvintes não podem ser abandonados, já que se dedicaram a guardar a palavra e um modo de conduta parcialmente espiritualizado. Recebem, assim, nova oportunidade por meio da reencarnação. (AGUSTÍN, 73)
Crítica:
Grande parte da controvérsia atual em torno do maniqueísmo permanece sob influência de preconceitos e atitudes militantes, não apenas católicas, mas de todo o cristianismo.Alguns dos ataques mais célebres de Agostinho ao maniqueísmo se dirigem ao suposto materialismo de fundo dessa doutrina.
Enquanto o Agostinho maniqueu cria em Deus como uma massa luminosa se estendendo infinitamente pelo espaço; ele agora vê que o Deus verdadeiro é incorpóreo e infinito sem extensão. Enquanto o Agostinho maniqueu imaginava Deus sujeito a ataque, corrupção e violação nas mãos de um poder rival; ele agora vê que o Deus verdadeiro é imutável e incorruptível. Enquanto o Agostinho maniqueu crê que há duas substâncias divinas independentes em conflito uma com a outra; sua visão agora permite-lhe reconhecer que o Deus verdadeiro é o próprio ser, a fonte única de tudo o que existe. (STUMP; KRETZMANN, 2006, p. 73).
COMENTÁRIO: Ora, lendo as obras de Agostinho fica claro que ele não entendeu bulhufas do maniqueísmo. Se ele entendeu e mesmo assim disse aquelas barbaridades ignorantes, é um mal caráter, mentiroso, e sabemos bem quem é o Pai da Mentira: o Diabo, Satanás, aquele velho inimigo da Luz. Pois é bem chocante que Agostinho possa ser tão estúpido a ponto de não conseguir entender que o mito deve ser interpretado alegoricamente e não literalmente, como Mani explica em seu Evangelho e Fausto e Secundino, alguns dos grandes nomes do maniqueísmo romano, explicaram claramente para o santo católico que ou era burro ou era mau caráter e mentiroso.
Mas é razoável supor que a guerra ideológica contra os maniqueus, como outras tantas que Agostinho travou, não o tornassem o melhor expositor das doutrinas alheias. Além disso, as respostas dos maniqueus sugerem que Agostinho esteve longe de conhecer os mistérios mais profundos do credo; uma resposta que pode perfeitamente sofrer a mesma crítica do ataque de Agostinho. Sendo o materialismo de fundo e o comprometimento da superioridade e bondade de Deus em face do princípio das trevas os dois problemas principais destacados pelos seus opositores, destacamos que a falta de pesquisa sobre o conceito de reencarnação é um dos principais motivos de ambas. Como expõe Helmut Zander, o conceito de reencarnação tem papel filosófico, isto é, o de garantir a bondade de Deus e uma sensível, embora não incontestável, superioridade em relação ao princípio das trevas.
Após uma grande guerra apocalíptica, Jesus chega para o juízo primordial, para separar os bons, os maniqueus, dos maus (nos quais pode restar ainda alguns elementos de luz) condenados à danação eterna. Este fim pode ser evitado pela reencarnação, chamada Metaggismos (Transvazar; Refundir) ou, conforme textos partos, “Morte-nascimento”. Aí está reencarnada a Kefalia, “o resto daquela luz que remanesceu da destruição... [...] O objetivo da transmigração é a encarnação em maniqueus mais desenvolvidos, um Electus [...] De todo modo, há também a possibilidade de o indivíduo se salvar em apenas uma vida como mero ouvinte [...] tendo para isso que se esforçar na ascese sexual [...] Ele logrou, então, separar o seu pensamento do mundo (Kosmos) e depositar o seu coração unicamente na santa Igreja. (ZANDER, 1999, p. 98)
REFERÊNCIAS
Agustín. Obras completas de San Agustín XXX. Biblioteca de Autores Cristianos. Madrid: La Editorial Católica, 1986. DECRET, François. Mani et la tradition manichéene. Paris: du Seuil, 1974.
Bibliografia de apoio:
STUMP, Eleonore; KRETZMANN, Norman. The Cambridge Companion to Augustin. Cambridge: Cambridge University Press, 2006.
ZANDER, Helmut. Geschichte der Seelenwanderung in Europa. Darmstadt: Wissenschaftliche Buchgesellschaft. 1999.
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CONCLUSÕES
Uma coisa que já li alguns comentadores refletindo e também eu já tinha chegado a essa conclusão é o fato perceptível de que os gnósticos eram "os nerds e geeks da antiguidade". Claro, guardando as devidas proporções. Mas é fato que os gnósticos adoravam mitologia e fantasia, histórias de deuses e seres fantásticos. O Profeta Mani, especialmente, era alucinado por fantasia. Ele adorava isso e se debruçou sobre as diversas mitologias que conheceu para construir seu próprio universo mitológico.
Uma questão recorrente no meio da literatura e religião é o fato de que há na obra de Tolkien notórios elementos gnósticos, tanto do mito clássico quanto do maniqueísta. Isto é visto não só na sua grande obra O Senhor dos Anéis mas também, e mais nitidamente, no mito cosmogônico do Silmarillion. O Profeta Mani fez algo muito parecido com o que fez Tolkien, criando um universo fantástico e um mito da criação próprio. Se os gnósticos antigos pudessem ser transportados para hoje, com certeza absoluta eles seria totalmente aficcionados por Alta Fantasia e Ficção Científica. Eles estariam trancafiados em bibliotecas e livrarias devorando todos os livros possíveis e imagináveis. Não sairiam mais da internet, escrevendo, pesquisando e produzindo infinita literatura repleta de magia e fantasia, cheia de simbolismos. E com certeza estariam praticando todos os tipos de yoga, meditação e outros exercícios espirituais e psicológicos existentes, além de produzirem desenhos, símbolos, anagramas, selos, diagramas, mandalas e outras coisas parecidas. Seriam amigos de Carl Jung e Neil Gaiman e, com certeza, de Stephen King. Acredito piamente que os antigos gnósticos iriam escolher, preferencialmente, cursar a graduação em Psicologia.
Parece que o mito gnóstico clássico, a história clássica do Apócrifo de João e outros textos setianos, se tornou fonte infinita para todos os criadores de mitologia e fantasia modernos. O Mito Maniqueísta parece ser um Mono-Mito, uma criação cujo objetivo era ser A MITOLOGIA suprema e absoluta para todas as religiões e todos os povos.
De fato, isso ocorreu. Os mitos gnóstico clássico e maniqueísta se eternizaram de forma modificada nas sociedades esotéricas, nas ordens ocultistas, nas seitas e denominações místicas dentro das grandes religiões. O mito gnóstico enriqueceu a mitologia hindu, desenvolveu a imaginação dos sufis muçulmanos e deu uma base muito mais profunda para o budismo, judaísmo e cristianismo.
Se formos em uma ordem ou comunidade esotérica, ou mesmo em grupos de wicca ou nova era e perguntarmos se conhecem o Senhor dos Aneis ou se leram algum dos livros, com certeza vários afirmarão conhecer E GOSTAR da aventura. Já se formos numa paróquia católica perguntar o resultado será decepcionante pois muitas, na maioria, não saberá nem do que se trata.
Porque então há gente tão boboca que chega ao ponto de dizer que O Senhor dos Aneis é uma obra "católica"? Se quem gosta é o pessoal do esoterismo e ocultismo? O pessoal do catolicismo nem sabe do que se trata! O fato de Tolkien ser católico não diz muita coisa. Que conversões ao catolicismo Tolkien vem realizando com seus livros? Parece o contrário, que o mito de Tolkien vem é levando as pessoas a pesquisas mais profundas sobre mitologia e religião!
Tudo isso é ignorado pelos caçadores de heresia, que insistem naquelas velhas mentiras de Ireneu, Epifânio, Agostinho e cia. Ainda hoje essas mentiras toscas e ridículas continuam a ser alardeadas por cachorros correndo atrás do próprio rabo, os cristãos fanáticos e fundamentalistas antignósticos incapazes de enxergar um palmo à frente e centrados em suas próprias ideologias e certezas, condenando e ignorando tudo o que está além de seu campo de visão - isto é Yaldabaoth, o autocentrado, o cabeça de leão, louco por si mesmo, idólatra do "só eu". Se essas pessoas abrissem um pouquinho seus corações para tentar entender aquilo que ultrapassa toda sua formação socialmente construída e intelectualmente limitada...
Vamos falar sobre essas influencias gnósticas em Tolkien mais pra frente. Depois pretendo falar sobre as diferenças e semelhanças entre ortodoxia cristã e gnosticismo cristão, principalmente do porque Voegelin ter inventado que o gnosticismo é o pai do marxismo e porque acusam o gnosticismo de ser revolucionário e subversivo.