quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Gnosticismo é dualista? Não! (PARTE 1) Sobre o engano da patrística que se perpetua até hoje.




    Quando lemos os textos patrísticos que atacam as "heresias" gnósticas, vemos que o principal e primeiro argumento deles é que os gnósticos supostamente exacerbaram o dualismo platônico ao proclamar uma separação total e inconciliável entre Espírito e Matéria, ou Alma e Corpo.

MAS quando lemos os textos gnósticos reencontrados em Nag Hammadi e em outras partes do Egito vemos que isso não é verdade. Muito pelo contrário, a doutrina ali apresentada não é dualista mas sim MONISTA e muito próxima, senão idêntica, às várias escolas da Vedanta hindu e do Budismo Mahayana.

Vamos então deixar tudo bem claro.

Como eu já havia dito, o Gnosticismo nota uma coisa que eu chamo de DUALISMO EXISTENCIAL, que simplesmente é o conceito de Yin e Yang do Taoísmo. É exatamente a mesma coisa. Tudo na nossa realidade, ou melhor, na nossa percepção, se fundamente em dualidade: claro e escuro, doce e amargo, masculino e feminino, alegria e tristeza, seco e molhado, dia e noite, ser e não-ser., etc. A dualidade, ou DIFERENCIAÇÃO, é a estrutura do que chamados de realidade.

No nosso "plano", ou melhor, nessa realidade comum que percebemos com nossos cinco sentidos, tudo o que podemos perceber nós o fazemos através de um dualismo. O primeiro dualismo é o sujeito-objeto: o ser humano se percebe como uma coisa e que o mundo e as outras pessoas e coisas são outra coisa. Isso é o que chamei de Dualismo Existencial. Eu expliquei um pouco isso na postagem https://gnosedesi.blogspot.com/2021/06/civilizacao-ocidental-desmistificando.html

( Obs: Nem vamos entrar em discussão aqui sobre uma possível influência do Taoísmo no Gnosticismo, que eu sinceramente acho que não pode ter acontecido mas sim o surgimento de ideias abstratas parecidas em locais diferentes do Globo, como vemos também na Índia antiga (como registrado nos Vedas) e nas Américas pré-coloniais. )

Este dado da realidade, o Dualismo Existencial, o Yin e Yang, é o nível que a mente ordinária se encontra, de acordo com os gnósticos. Quando a Alma humana percebe esse dualismo, ela sobe de nível um pouco e começa a caminhar na Gnose.

As pessoas materialistas e ignorantes não percebem que sua Mente possui uma natureza diferente do corpo. Muito menos se entendem como uma Alma de substância inteligível. Ou, se percebem, não se importam com isso. O gnóstico, ou sábio, pelo contrário, não só percebe essa realidade transcendente que ele, de certa forma, tem dentro de si como busca mais essa realidade.

Os gnósticos então vão formular que o ser humano afundado na matéria, na medida em que avança na busca da Verdade sobre si mesmo, vai sair da concepção materialista para uma percepção dualista, ou seja, que ele é uma mistura de espírito e matéria. Depois, num nível mais profundo e esotérico, propriamente Gnóstico, o Sábio alcança uma percepção tão profunda da realidade que finalmente VÊ E ENTENDE QUE A MATÉRIA É UMA ILUSÃO E A REALIDADE É TRANSCENDENTE. A matéria é uma espécie de programa, uma realidade artificial e não é a verdadeira realidade. Ela é apenas uma pequena parte do que podemos perceber do Real, da Realidade Verdadeira e Última.

Só entende isso quem teve uma experiência mística e direta. Quem não teve não pode entender.

Ou seja, temos três tipos de pessoas e de percepções da realidade:

1- Nível Material: não há espírito, o mundo material é tudo que há. Eu sou pura matéria.

2- Nível Mental (psíquico): Há matéria e mente (espírito), duas realidades diferentes formando um ser humano. Eu sou uma mistura de mente e corpo, duas coisas diferentes.

3- Nível Espiritual (Gnóstico): Tudo é somente espírito. A matéria é uma ilusão programada. Transcendendo a matéria, conseguimos ver a Realidade como ela é: Eterna, Imutável e Infinita. A matéria não existe.

Os Padres da igreja não entenderam isso. Partindo da constatação gnóstica do dualismo existencial, concluíram, retirando trechos e falas soltas dos gnósticos, que eles eram "dualistas radicais" e que "desprezavam a matéria" para "libertar" suas almas do mundo.

Será que isso é verdade? Não. Não é.

Vamos ver o que os textos gnósticos tem a nos dizer.

EVANGELHO DE TOMÉ - Dito 3

3 Jesus disse: "Se seus lideres lhes dizem: 'Vejam, o reino está no céu', então os pássaros do céu os precederão. Se lhes dizem: 'Está no mar', então o peixe os precederá. Antes, o reino está dentro de vocês e está fora de vocês". "Quando vocês se conhecerem, então serão conhecidos, e compreenderão que são filhos do pai vivo. Mas se não se conhecem, então vivem na pobreza e são a pobreza"

COMENTÁRIO: O Reino está dentro e fora e é preciso conhecer a si mesmo para experimentar o Reino. Esse dito de Jesus é um manifesto não-dual. Não existe fora nem dentro. A Realidade Suprema está além de ser e não-ser, sujeito e objeto, dentro e fora. O Reino não está no céu, não é racional, mental ou ideal. Não está no mar, na Terra, não é o mundo material. Antes está dentro e fora, além de tudo.


PISTIS SOPHIA - Cap. 100

O Salvador, respondendo, disse-lhe: "Pergunta aquilo que desejas e o revelarei a ti diretamente, sem parábolas."

André pergunta a Jesus.  André respondeu, dizendo:  "Meu Senhor, estou abismado e tremendamente maravilhado pelo modo como os homens que estão no mundo e no corpo desta matéria sairão deste mundo, passarão por esses firmamentos e todos esses regentes, senhores, deuses, todos esses grandes invisíveis, pelos (habitantes) da região do Meio, de toda a região da Direita, por todos os grandes seres das emanações da Luz, entrando em todos eles, herdando o Reino da Luz.  Este assunto, portanto, é difícil para mim."

Os discípulos e os poderes são todos da mesma mistura.  Quando André disse isto, o Espírito do Salvador ficou tocado em seu interior e disse:  "Quanto tempo tenho que vos aturar?[1]  Por quanto tempo tenho que ter paciência convosco?  Então, ainda não entendestes e sois ignorantes?  Não sabeis que sois juntamente com os anjos, arcanjos, deuses e senhores, os regentes e grandes invisíveis, os do Meio e da região da Direita, os grandes seres das emanações da Luz e de toda a sua glória todos unos uns com os outros, vindos da mesma massa, da mesma matéria, da mesma substância, e que vós sois todos da mesma Mistura?[2]

E que, ao comando do Primeiro Mistério, a Mistura foi compelida até que todos os grandes seres das emanações da Luz com toda sua glória se purificassem, e até que eles se purificassem da Mistura.  E eles não se purificaram por si mesmos, mas foram purificados por necessidade de acordo com a organização do Uno e Único, o Inefável.



[1] Expressão semelhante, em outro contexto, foi registrada Mt 17,17: "Ó geração incrédula e perversa, até quando estarei convosco?  Até quando vos suportarei?" e também  em Mc 9,19 e Lc 9,41.

[2] A Mistura é o plano da mente inferior, no qual a substância luminosa (espiritual) é misturada à material (hilê ou astral), que deve ser inteiramente dominada pela alma peregrina.

COMENTÁRIO: Até quando iremos permanecer na ignorância? Não sabemos que somos da mesma substância de Deus e dos anjos, e que todos somos uma emanação do Altíssimo, o Uno, o Primeiro e o Último, assim como tudo que existe? 


EVANGELHO DE FILIPE 38:20-34

"AS PESSOAS NÃO PODEM VER COISA ALGUMA NO REINO REAL, A MENOS QUE SE TORNEM ESSA MESMA COISA. NO REINO DA VERDADE, NÃO É COMO OS SERES HUMANOS NO MUNDO, QUE VÊEM O SOL SEM SER O SOL, E VÊEM O CÉU E A TERRA E ASSIM POR DIANTE SEM SER ELES. ANTES, SE VOCÊ VIU QUALQUER COISA LÁ, VOCÊ SE TORNOU AQUELA COISA: SE VOCÊ VIU O ESPÍRITO, VOCÊ SE TORNOU O ESPÍRITO; SE VOCÊ VIU O UNGIDO (CRISTO), VOCÊ SE TORNOU O UNGIDO (CRISTO); SE VOCÊ VIU O PAI VOCÊ SE TORNARÁ O PAI. ASSIM, AQUI NO MUNDO VOCÊ VÊ TUDO E NÃO VÊ A SI MESMO. MAS LÁ, VOCÊ VÊ A SI MESMO; POIS VOCÊ SE TORNA O QUE VOCÊ É."

COMENTÁRIO: O Reino Real é um lugar onde ninguém que está nele pode não ser ele. Ir para o Reino Real é ser o Reino Real. No mundo fenomênico, no estágio mental simples, nós vemos dualidade: sol, céu e terra são coisas diferentes de nós mesmos. Mas no Reino Real, tudo é Um. No Reino Real não há dualismo entre Espírito e Matéria, pois quando você chega ao Reino Real você se torna o Reino Real. Tudo que alcança o Reino Real se torna o Reino Real, toda diferença e dualidade se exaure. 

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O que nós aprendemos ao ler os textos gnósticos é que deve-se partir do dualismo para alcançar uma percepção não-dual do Real. Cada grupo gnóstico vai propor métodos, exercícios e etapas para se alcançar esse estado.

Pistis Sophia propõe 13 níveis espirituais, como na Cabala tardia. Cada Aeon corresponde a uma sephirot. Partindo de Malkuth, o Plano Material em Pistis Sophia, nós temos um caminho de desenvolvimento espiritual:

PLANO DO INEFÁVEL (NÃO-MANIFESTADO)
13º Aeon = Ain
12º Aeon = Ain Soph
11º Aeon = Ain Soph Aur

MUNDO DO PENSAMENTO
10º Aeon = Kether
9º Aeon = Hokmah
8º Aeon = Binah

MUNDO DA ALMA
7º Aeon = Chesed (Gedulah)
6º Aeon = Geburah
5º Aeon = Tiphereth

MUNDO CORPÓREO
4º Aeon = Netzah
3º Aeon = Hod
2º Aeon = Yesod
1º Aeon = Malkuth

O plano material é aquele em que nós podemos perceber o dualismo e assim subir de etapa em etapa até o Inefável, abandonando pouco a pouco os apegos do mundo material.

Blavatsky já disse em seus relatos quando visitou o Tibet e foi iniciada no budismo tibetano, e aqui no blog nas postagens sobre os Ngakpas do Tibet e outras, vimos que os Gurus do budismo tibetano possuem ensinamentos próprios, mesmo que inseridos em uma tradição, escola ou denominação. Cada um deles possui um conjunto pessoal de práticas que ensina aos seus discípulos em adição aos ensinamentos de sua escola ou denominação.

Assim era também no Gnosticismo. Uma outra acusação boba de Ireneu e outros heresiologistas é que cada líder ou mestre gnóstico ensinava algo de diferente dos outros, copiando e modificando o que aprendiam de seus mestres e se tornando eles mesmos mestres de outros, dando origem a muitos ramos e sub-ramos dentro das igrejas. Ora, isso não é porque os gnósticos são vaidosos e gostam de ser mestres mas sim porque compartilhavam da mesma cultura da relação mestre-discípulos. Além disso, cada professor gnóstico podia desenvolver práticas próprias e ensinar a seus colegas e alunos mesmo estando dentro de uma igreja. Exatamente como os Gurus do hinduísmo e budismo tibetano.

MAS E O MANIQUEÍSMO? ELES NÃO PREGAVAM O DUALISMO ESTRITO ENTRE ESPÍRITO E MATÉRIA?

Sim e não. O Mito Maniqueísta fala do conflito entre dois deuses: um verdadeiro feito de uma Massa Infinita de Luz e outro falso feito de um fumegar incessante de Fogo e matéria.

Precisamos deixar bem claro que Mani era um gnóstico e, portanto, ensinava doutrinas esotéricas. Os relatos dos heresiologistas e textos sobreviventes do Maniqueísmo sugerem que mesmo DENTRO DA IGREJA MANIQUEÍSTA HAVIA NÍVEIS DE DOUTRINA e que para Eleitos e outras pessoas mais capacitadas a Gnose era ensinada e praticada, enquanto que para os crentes mais simples da Igreja os mistérios mais profundos da Gnose NÃO ERAM ENSINADOS.

Na doutrina exotérica, para todos, eram ensinados ensinamentos dualistas sobre a Luz e as Trevas, o Espírito e a Matéria, o dualismo existencial básico.

Já na doutrina esotérica, explicava-se a doutrina gnóstica: o dualismo deve ser abandonado, devendo-se chegar ao não-dualismo através de uma profunda concentração em si mesmo, buscando a origem de todos os fenômenos mentais e corporais.

O que o Profeta Mani queria dizer quando desenvolveu e ensinou o Mito da Guerra do Rei da Luz contra o Rei das Trevas era a doutrina esotérica que Platão ensinava secretamente somente oralmente, sem escrever, as chamadas Doutrinas Não-Escritas de Platão. Esses ensinamentos falam a respeito do Uno e da Díade e Giovanni Reale chamou isso de Protologia, o estudo sobre os Princípios Primeiros. Nessas doutrinas, que Platão referencia em alguns diálogos, Aristóteles e outras testemunhas da época também referenciam em outros textos, Platão fala de Dois Princípios Basilares da Realidade: Uno e Díade Indeterminada. De uma forma Mística que não entendemos, o Uno ao Ser o que ele É emana a Multiplicidade, seu contrário, o Não-Ser, que Platão chama de Díade Indeterminada.

A Díade Indeterminada é descrita como matéria em constante mudança, sempre emanando e se transformando em seu contrário, nunca permanecendo. É um mundo de TOTAL DUALIDADE, onde nada permanece.

(Um amigo de minha família, um evangélico um pouco estranho com ideias diferentes sobre várias coisas, há muitos anos escreveu um livro sobre uma experiência que teve com mundos infernais. Neste livro ele explica que o Diabo não tem forma fixa, ele é um ser que muda constantemente de forma e, nessa experiência, ele entendeu que Deus queria mostrá-lo que as coisas do mundo espiritual não são como a maioria das pessoas imaginam e e nem poderiam imaginar pois muitos simplesmente não entenderiam ou enlouqueceriam. Ele me parece uma pessoa sincera e eu realmente acho que ele teve experiências extra-sensoriais com outros planos).

O que vemos nos textos Maniqueístas é que o Reino das Trevas é constituído exatamente de fogo, fumaça, vento flamejante e matéria desordenada, sempre em mudança, nunca constante. Enquanto o Rei da Luz é Imutável, Uno e Eterno, o Rei das Trevas é como a descrição da Díada Indeterminada em Platão, e que os gnósticos seguindo Platão chamavam de Caos e também de Trevas Exteriores, ou ainda, o Grande Dragão.



EVANGELHO DE MANI 1:8-10, 2:1

8. Ora, a Boa Fonte habita na Região da Luz, e Seu Nome é "O Pai da Grandeza", e Seus Cinco Tabernáculos habitam com Ele: Razão, Mente, Inteligência, Pensamento, Compreensão; e não existe limite para a Luz acima, nem para a direita ou para a esquerda.

9. E alinhado com Deus, há outros Poderes, assim como servas, todo o bem: o Brilho e a Luz e Acima - todos estes são com Deus.

10. Mas a fonte do mal, chamada "O Rei das Trevas", habita em sua terra escura, em seus cinco mundos: Fumaça, Fogo, Vento Quente, Águas Agitadas e Penumbra; não há limite para a escuridão abaixo, ou para a direita ou para a esquerda. E com Matéria estão a Ofuscação e Escuridão e Abaixo e outros como eles, todo o mal.

Capítulo 2

1. Então, depois de muitas eras, a Matéria foi dividida contra si mesma, e seus frutos um contra o outro; a Matéria tornou-se desordenada, e ela produziu e cresceu e continuou emanando muitos poderes.

Portanto, podemos concluir que a doutrina de Mani deriva em parte do Platão esotérico. E que o "dualismo" Maniqueísta é uma mitologia inicial para levar as pessoas lentamente para a Gnosis Não-Dual.

Ora, no Mito Maniqueísta, a matéria foi ordenada por Mihr Yazd e pela Mãe da Vida e o mundo criado por eles para ser um estágio intermediário entre o Reino da Luz e as Trevas Flamejantes. Estes Deuses fizeram isso para permitir o processo de transmigração de almas. Consequentemente o Mundo Material não é mau, nem maligno pois não é matéria pura e sim Mistura. Isso significa que Agostinho e os heresiologistas mentiram quando disseram que Mani opõe Espírito e Matéria de maneira inconciliável, pois justamente o Mundo foi uma criação de Mihr Yazd e da Mãe da Vida para permitir às almas saírem de todo resíduo Dualista que a Matéria possui. Soma-se a isso o fato de que no fim dos tempos, Ormizd, o Homem Primordial, será ressuscitado e dominará a Matéria totalmente, fundindo em si todas as Partículas de Luz (Almas) e levando elas todas para o Reino da Luz.

EVANGELHO DE MANI 5:3-16

1. A Mãe da Vida estendeu os céus com as peles dos governantes das trevas e fez dez céus, enquanto seus corpos foram arremessados para a Região das Trevas e fez oito reinos.

2. Então o Senhor desde Deus - o Espírito Vivo - recolheu seu manto no décuplo céu e vestiu-se com o ser divino da Água.

3. Então Mihr Yazd criou o universo e, trazendo os outros três Poderes, desceu para a criação física, ele liderou os Governantes e os prendeu no Firmamento, que é a sua orbe.

4. O Espírito Vivo os acorrentou no céu e na terra; ele colocou cada um deles por seu orgulho e sua humildade.

5. Alguns deles ele confinou em uma prisão, outros deles ele pendurou de cabeça para baixo, alguns foram crucificados, outros foram colocados sentados para sempre, alguns deles foram amarrados sob seus associados, atormentados por meio de uma forte corrente para que nenhum deles escapasse de sua mão.

6. De acordo consigo mesmo, ele deu autoridade a uns sobre os outros para trabalhar sua vontade sobre aqueles que estão abaixo deles.

7. Então os cinco Filhos de Mihr Yazd, cada um deles foi designado ao seu trabalho:

8. Tzefat Ziwa o Guardião do Esplendor, que sustenta os cinco Seres Brilhantes por suas cinturas, enquanto os céus estão espalhados abaixo de suas cinturas;

9. Shabala aquele que Suporta, que se ajoelha em um joelho e carrega as terras;

10. E depois dos céus e terras serem feitos, Melekh Rabba d'Shubkha, o Grande Rei da Honra, assenta-se no centro do céu e vigia todos eles.

11. Após ter acorrentado os governantes na Orbe, o Espírito Vivo, em seguida, mostrou suas formas aos Filhos das Trevas, e da Luz que havia sido engolida por eles destes cinco Seres brilhantes ele refinou a luz e fez o Sol e a Lua.

12. Da Matéria, ele se retirou ao máximo do Poder como tinha sofrido pouco da mistura, que, apesar da mistura manteve a sua própria virtude;

13. Assim, o Sol e a Lua surgiram, os Luminares que são remanescentes da Alma. Mas os que tinham chegado a um grande dano se tornaram mais de mil Estrelas e os vastos céus.

Em um fragmento Maniqueísta de Turfan, que resume o Mito, Jesus (o Filho de Deus) e a Donzela da Luz (sua irmã-esposa, Mãe da Sabedoria) são enviados por Deus para habitar secretamente dentro da Matéria a fim de enganar os arcontes (os poderes das trevas) e destruí-los no futuro:


Assim também agiu o Pai,
que enviou seu Filho robusto.
Ele produziu de si mesmo sua Donzela, equipada com os cinco Poderes para
que ela pudesse lutar contra os cinco Abismos do Escuro.

Quando o Vigia permaneceu rápido dentro das fronteiras da Luz,
ele mostrou os poderes das Trevas sua Donzela, que é sua Alma.
Eles ficaram agitados no Abismo e queriam possuí-la,
abriram a boca e tentaram engoli-la.

Ele agarrou o poder da Donzela e espalhou-o sobre os Poderes das Trevas,
como redes sobre os peixes, ele fez chover sobre eles.
Como nuvens purificadas de água, ela penetrou neles como um raio penetrante.
Ela rastejou dentro de suas entranhas e os amarrou a todos sem que eles nunca soubessem.

Quando o primeiro homem terminou sua luta, o Pai enviou seu segundo filho.
Ele veio e ajudou seu irmão a sair do Abismo.
Ele construiu todo este mundo a partir da mistura
que surgiu da Luz e das Trevas.

http://gnosis.org/library/Mani.html

Portanto, o "dualismo" Maniqueísta não é realmente dualismo, mas um Monismo onde o Mal é o apego dual que a Matéria nos propõe, cegando nosso intelecto. Lembremos das Cinco Shekinahs ou Habitações de Deus, que representam as Cinco Características ou Poderes que os Humanos tem para poder transcender o mundo. Sem esses poderes, adquiridos através do esforço com orações, jejuns, meditações e técnicas esotéricas, nós mergulhamos na "matéria", ou seja, no apego à dualidade. A Doutrina Maniqueísta parte do Dualismo Existencial para se chegar ao Monismo no Fim dos Tempos.

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CONTINUA NA PARTE 2