segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

Vazou um Outline (esboço) de O Festim dos Corvos de 2004 que pode revelar o que vai acontecer em Os Ventos do Inverno!!!




Um usuário do Reddit vazou um Outline (esboço) que George R R Martin fez de como seriam os capítulos e do que aconteceria com os personagens do volume O FESTIM DOS CORVOS (lançado em 2005), que pode revelar acontecimentos futuros no tão aguardado Os Ventos do Inverno, o 6º livro da Heptalogia (obra em 7 volumes) AS CRÔNICAS DE GELO E FOGO, atualmente a obra que eu mais leio e mais estou aficcionado.

Originalmente, o 4º livro da série, O Festim dos Corvos, teria quase tudo o que aconteceu nele e no próximo volume e último lançado até agora, A Dança dos Dragões. Acontece que o volume estava tão gigantesco que George Martin decidiu dividir o livro em 2 e ele fez uma divisão geográfica: em O Festim dos Corvos vemos o que acontece em Porto Real, nas Ilhas de Ferro, nas Terras Fluviais, no Ninho da Águia, em Dorne e outras localidades centrais da trama com os personagens Arianne, Alayne (Sansa), Gata dos Canais (Arya), Brienne, Senhora Coração de Pedra (Catelyn), Jaime, Cersei, Victarion, Euron, Sam, Asha, Aeron, Areo Hotah, Arys Oakheart. 

Já no outro volume, A Dança dos Dragões, ficaram os capítulos que acontecem do Outro Lado do Mar Estreito e também na Muralha e Para Além da Muralha com Daenerys, Tyrion, Quentyn, Jon Connington, Sor Barristan Selmy, Davos, Jon Snow, Melisandre, Stannis, Bran, Fedor (Theon), Varamyr e etc.

Essa divisão geográfica é meio estranha porque quando terminamos o Festim dos Corvos e lemos a Dança dos Dragões percebemos que os acontecimentos são concomitantes, apenas estamos vendo o que está acontecendo no mesmo tempo em outro lugar com outros personagens, as noticias dos acontecimentos se espalhando e afetando as tramas. O que é muito esquisito porque até agora os livros foram sequências cronológicas uns dos outros. Mas nada ruim que atrapalhe a leitura, só temos a impressão de que tem coisas demais acontecendo e personagens demais, muitos mesmo, um excesso gigantesco de personagens que faz a gente ficar agoniado com o que vai acontecer nos próximos livros e o que eles vão fazer pra resolver seus problemas.

Então vazou esse esboço que o Martin fez, que traduziram e eu posto aqui. Mostra que o projeto original do livro era diferente do que se tornou, mudando poucas coisas de alguns personagens e MUITA COISA DE OUTROS. A mudança mais nítida é que vários personagens perderam seus capítulos próprios de Ponto de Vista (POV ou PDV) enquanto outros ganharam. Kevan Lannister perdeu e isso foi ruim enquanto Melisandre ganhou e isso foi bom.

https://www.reddit.com/r/Valiria/comments/185b7yx/foi_disponibilizado_o_outline_original_de_festim/

No último fim de semana, Arnold Cha, fundador do grupo do Facebook "George R.R. Martin Rarities", disponibilizou o outline original de 3 páginas que George R.R. Martin escreveu para "Festim dos Corvos" em 2003 ou 2004, ANTES da divisão geográfica.

Post original em inglês no r/asoiaf, com as imagens do outline. Agradecimentos ao u/zionius_https://www.reddit.com/r/asoiaf/comments/18519cz/spoilers_extended_grrms_20032004_outline_for_affc/

A seguir, uma tradução das anotações de George, que revelam o que ele planejava para o arco de cada personagem naquela época (se alguém aqui achar que alguma tradução está errada, sinta-se a vontade para me corrigir):

Págs. 1-2

Dany: Finja que é um cavalo. Confronto no poço. Não [?se casar] - cidade. Cena de batalha. 'Eu estou indo para casa'. Capítulo 1

Sam: Cortado

Jaime: Peixe Negro

Prólogo: Sem velas de vidro - Pate - Rouba livro. Morte de dragões

Brienne: Fim com luta com o Cão

Davos: Casamento em Barrowton. Davos irá levar Arya recapturada para o norte. ‘Onde você vai’ - para um casamento

Jon: ‘Sim, vamos perder.’ ‘Posso conseguir a armadura’. Eu posso ficar e parecer corajoso e todos vocês morrerão. ‘Val carrega uma mensagem.’ Rattleshirt acompanha.

Cersei: Kettleblack: ‘A Rainha me pediu para dizer isso.’ ‘Osmund’ a trai.

Sansa: Dividir o capítulo. LF (Mindinho): Cersei exagerou. Ela logo estará acabada.

Dorne: Balon x Arys. Termina com Sangue e Fogo. Montanha faltando dentes

Kevan: Lar de Rochedo Casterly. Pronto para o inverno

Tyrion: Testemunha de incesto.

Príncipe dos Sofrimentos: Alivia a dor psíquica?? Conforto? Profecia? “Prostíbulos” “As prostitutas vão a todos os lugares.” Coragem. Deixe ir ou ele se tornará você. Deixe-os ir - não lhe trará paz. A dor irá [?manter] você no que você precisa fazer.

P3

Arya: Termine com seu primeiro presente. 1. Alegria de dar. 2. Misericórdia no Portão.

Tyrion: Cliffhanger com Dany? Capturado por Sor Jorah? 1. Os Sofrimentos. 2. Volantis. 3. O Mar. 4. Dany.

Dany: O casamento dela. 1. Queda de Astapor. 2. Cerco de Meereen - Fluxo Sangrento. 3. Clímax – dragões soltos. 4. Casamento.

Sansa: ?Velho - Resolva ser SS[?Sansa Stark] e tomar o norte. 1. Torneio do Cavaleiro Alado. 2. Sweetrobin corteja [ou se casa]. 3. Notícias de W.H.[?White Harbor]. Mate o Rato

Jon: Termina com Hardhome.

A seguir, minhas meras especulações:

  • Daenerys: Nada de drasticamente diferente aqui. O arco dela terminaria com Arena de Daznak e casamento. "Eu estou indo para casa" sugere que também terminaria com ela decidindo de vez voltar para Westeros.

  • Sam: aparentemente George tinha decidido que Sam não teria capítulos em Festim?

  • Jaime: Blackfish é a única anotação, então nada de diferente. Reparem que nem aqui nem na seção de Brienne, Martin citou Lady Stoneheart.

  • Prólogo: Confirma 100%, se é que ainda havia duvidas, que os Homem sem Rostos querem o livro "Sangue e Fogo", com o intuito de matar os dragões.

  • Brienne: luta com o que suponho ser o Fake Cão. Alguns usuários no r/ASOIAF estão se questionando se talvez Brienne iria enfrentar o verdadeiro Cão de Caça nessa versão original, que nem aconteceu na série de TV. Eu diria que não é 100% impossível, mas improvável.

  • Davos: esse parece ser de longe o mais drasticamente diferente em relação à versão final. Quando George disponibilizou o primeiro capítulo de Theon/Fedor anos antes da publicação de "Dança dos Dragões", os personagens citavam Barrowtown como o lugar onde ocorreria o casamento de Ramsay. Não há referência alguma dos Manderly ou Rickon. Será que Davos é quem originalmente seria enviado com a missão de salvar a falsa Arya Stark que na verdade é Jeyne Poole (se for o caso, fomos privado de interações entre Davos e Theon)? Ou Davos seria enviado para Braavos para negociar com o Banco de Ferro, encontraria a verdadeira Arya e levaria ela de volta para Westeros? Acho essa segunda opção mais improvável... Sintam-se a vontade para teorizar.

  • Jon: no final das contas, Jon vai mesmo para Hardhome (Durolar) que nem ocorreu na série (supondo que George ainda não tenha desistido da ideia). Porém, o outline menciona que é ali que terminaria o seu arco ao invés de ser traído e morto pelos Patrulheiros. É possível que a traição ocorreria em Hardhome.

  • Cersei: Nada de diferente aqui.

  • Sansa: Parece que aqui veremos algo um pouco (mas só um pouco) parecido com o que vimos na série, com a Sansa do livro também decidindo que irá reconquistar o Norte. E temos confirmação (ou não) de que o Mad Mouse (Sor Shadrich, o Rato Louco) vai morrer, provavelmente por ter reconhecido Sansa.

  • Dorne: "Balon x Arys"... um pouco confuso sobre as possíveis interpretações disso. Balon iria mais cedo para Dorne e mataria Arys pela sua traição? Também podemos apenas especular porque o crânio do Montanha tem dentes faltando... uma pista que confirma que o crânio é falso?

  • Kevan: Aparentemente, George queria que Kevan fosse um personagem POV antes do epílogo e seria a nossa câmera em Rochedo Casterly. Por algum motivo, ele mudou de ideia.

  • Tyrion: Não tenho a menor ideia do que "testemunha de incesto" significa. Aparentemente, George cogitou em terminar o arco de Tyrion em Festim com ele já encontrando Daenerys, mas ao invés disso ele optou por terminar com Tyrion encontrando Jorah... e mesmo isso acabou sendo adiado para o meio de Dança depois da divisão geográfica.

  • Arya: Nada de diferente aqui, até onde eu lembro.

Os Greyjoys não são mencionados porque os capítulos deles já tinham sido escritos e disponibilizados numa novella. Theon estava sendo planejado para retornar no livro seguinte, "The Winds of Winter". George ainda não tinha decidido tornar Quentyn, Connington e Barristan personagens POV. Por algum motivo desconhecido, não há qualquer menção à Bran.


O prólogo é o que mais me interessa. O primeiro capítulo do Festim tinha deixado muita gente na dúvida do que aconteceu e uma especulação no ar. Esse outline revela a trama que nós esperávamos e estava nas entrelinhas desse capítulo: um Homem sem Rosto mata Pate, um aprendiz noviço de padre da Cidadela, está se passando por ele com seu rosto roubado e está sim em busca do livro Fogo e Sangue: a Morte dos Dragões, um livro guardado secretamente ou perdido na Cidadela por Meistres. Arquimeistre Marwyn estaria guardando esse livro pra ninguém achar? Já que ele é a favor da Magia e dos Dragões e está indo atrás de Daenerys para protegê-la dos inimigos, ele poderia estar protegendo esse livro dos Meistres. Ele mesmo diz a Sam que 

" o mundo que a Cidadela está construindo não tem lugar para Dragões, feitiçaria, profecias ou velas de vidro. Sam, quem você acha que matou todos os dragões da última vez? Pergunte a si mesmo porque foi deixado que Aemon Targaryen desperdiçasse a vida na Muralha quando, por direito próprio, deveria ter sido promovido a Arquimeistre".

                          MARWYN, O MAGO


Marwyn diz que a Cidadela conspirou para destruir não só os dragões mas OS PRÓPRIOS TARGARYEN, criando conflitos e guerras dentro da família para destruí-los por dentro e tomar o poder político. Isso a Igreja Católica fez muito na idade média. Estamos assistindo House of The Dragon, a guerra civil Targaryen que causou a extinção dos dragões e a perda do poder dos Targaryen no mundo. Que família causou a guerra? Os Hightower de Vilavelha, a casa nobre que financia diretamente a Cidadela, a mais "católica" e conservadora família de Westeros, a família que financia a Fé dos Sete e ajuda a sustentar o poder da Cidadela e da religião dos Sete no mundo. Alicent Hightower e Otto Hightower foram os responsáveis diretos pela guerra civil que destruiu a casa Targaryen e causou a morte dos dragões. Coincidentemente são eles que sustentam a Cidadela e financiam a Fé dos Sete...

A minha teoria é a mesma de Arquimeistre Marwyn: a guerra chamada de Dança dos Dragoes que veremos agora na segunda temporada de House of The Dragon foi plantada pelos Meistres da Cidadela, os bispos da igreja da Fé dos Sete para destruir os Targaryen por dentro através de uma guerra civil. Eles aproveitaram o momento certo e envenenaram e atacaram os dragões durante o Ataque ao Fosso dos Dragões. Os dragões que saíram dos ovos depois disso não conseguiam sobreviver e cresceram até o tamanho de cachorros. Morreram até entrar em extinção. Isso é obra dos Meistres da Cidade, é obra da Cidadela!

Martin no capítulo que Sam viola os votos da Patrulha da Noite e transa com Goiva faz os ilhéus do verão, povo negro do sul do mapa mundi, dar um sermão no Sam que depois fica rejeitando Goiva com medo da Patrulha da Noite. A Ilhéu do Verão que esqueci o nome, filha do dono do Navio, chama os deuses da Fé dos Sete de demônios por negarem a vida e condenarem o amor livre e consensual entre dois namorados apaixonados. Esse capítulo é muito bonito e mostra a ideologia de Martin sobre o cristianismo, os monoteísmos e todas as religiões morais e que pregam sobre "pecado".

Voltando às revelações do futuro, esse Homem sem Rosto pode ser o Jaqen Hagar, mas acho improvável pois ele está em Bravos treinando a Arya para ela ser um Homem Sem Rosto. Deve ser um outro devoto avançado com essa missão. Mas porque um Homem Sem Rosto, um devoto da religião que adora todos os deuses da morte que existem, estaria atrás de um livro que ensina como matar dragões? Ora, o surgimento da Casa do Preto e do Branco, o templo sagrado dos Homens Sem Rosto, está relacionado a fuga de escravos da antiga Valiria, que só conseguiram se livrar da escravidão sob os valirianos porque houve a Perdição de Valiria e a extinção em massa dos dragões bem como o fim do Império Valiriano. Os Homens sem Rosto com certeza já sabem que Daenerys Targaryen chocou 3 ovos de dragão e se tornou a imperatriz de um Império que já abarca 3 cidades estado e controla o comércio de escravos do mundo. Acontece que Dany acabou com a escravidão e planeja acabar com ela no mundo todo. Mesmo assim os Homens Sem Rosto podem achar que Daenerys não é confiável e que seus descendentes podem muito bem usar os dragões pra reimplantar a escravidão sobre o povo das cidades livres.

O que os capítulos do Sam deixam nas entrelinhas é que o Sam vai encontrar esse livro Sangue e Fogo primeiro, pois ele é bem experto e curioso, e ele pode passar muitos apuros na Cidadela porque o falso Pate, um Homem Sem Rosto, se descobrir que Sam está com o livro, vai tentar matá-lo. Me parece que Martin está guardando muitas surpresas nos capítulos do Sam.

     ALAYNE STONE, O DISFARCE DE SANSA STARK.


Alayne. Agora sobre Sansa Stark e seu disfarce de filha bastarda do Mindinho, a jovem Alayne. O que aconteceu no final de Mindinho em Game of Thrones pode acontecer nos livros, mas tudo indica que vai ser lá no Ninho da Águia, no Vale de Arryn que essa trama se desenrolará, e de forma diferente. É que Alayne está aprendendo o Jogo dos Tronos do Mindinho e a última revelação bombástica que tivemos no ultimo POV dela parece que vai se concretizar da forma que Martin planejou no Outline: Alayne vai trair Mindinho no dia de se apresentar para o herdeiro do Vale de Arryn e revelar ser Sansa Stark escondida (se é que Robin Arryn vai morrer mesmo), e acusando o Mindinho de conspirar para matar Robin Arryn e planejando tomar o poder do Vale usando ela. Se Alayne realmente ficar experta e realmente estiver aprendendo o Jogo dos Tronos, acho que ela vai salvar a vida do Robin (por puro interesse, já que esse moleque é insuportável e ela tem nojo dele) ganhando a confiança dos lordes do Vale e executando Mindinho por alta traição, assassinato e conspirações. Sansa ganharia o Vale e todo o poder necessário para atacar e reconquistar sua casa Winterfell no norte. E algo me diz que Myranda Royce sempre soube que Alayne era Sansa Stark. A maneira como ela faz perguntas pra Alayne, as frases, o humor ácido, a gordinha peituda não é burra. Ela já matou vários maridos e ascendeu socialmente através de tramoias e trambiques. Eu acho que ela vai se unir a Sansa contra o Mindinho, afinal salvar e ter do seu lado a herdeira do Norte, o maior reino dos 7 reinos, não é coisa de se descartar! 

Acontece que no Norte há um novo Rei surgindo. O Sonho de Daenerys sobre ele diz: "uma flor azul brotou na Muralha de Gelo, exalando um doce perfume por todo canto." É Jon Snow que, muito provavelmente entrará em conflito com Sansa pelo Norte. Ele foi traído e morto e tudo indica que irá ressuscitar, mas por enquanto está morto. E, se ele for um Targaryen mesmo, ainda que bastardo, terá o sangue do Dragão. Se a Catelyn Stark ressuscitou e voltou um demônio vingativo em forma gente, agora conhecida como Senhora Coração de Pedra, quanto mais um Targaryen ressuscitado não voltará extremamente puto e cheio de ódio e vingança. Jon Snow pode muito bem se aliar com Daenerys contra Alayne/Sansa. Ainda tem o problema Rickon Stark, o herdeiro legítimo do Norte, que está perdido em alguma ilha no mar do norte. Jon Snow acabou usurpando o direito do irmão, o que pode colocar Sansa ainda mais em rota de colisão se tornando inimiga de Jon Snow e defendendo a causa de Rickon Stark. Sem a Patrulha, sem os irmãos e somente com o Povo Livre e Selvagem, a única alternativa para Jon deve ser Daenerys. E se ele descobrir que é um Targaryen, acredito que ele se virará contra os Stark e adotará o lema Sangue e Fogo de sua casa. Torço para isso. Torço para que o já controverso e arrogante Jon dos livros se torne impiedoso como Daemon Targaryen e apoie Daenerys em tudo.

Cersei: Nada mudou. A "cadela burra" que está sentada no Trono de Ferro se fodeu e esse é o destino dela, conforme a profecia de Maggy a Rã. Ao invés de Osney Kettleblack, na versão original de Martin a Rainha teria casos com o irmão dele, Osmund Kettleblack. Ele iria trair ela, ao contrário da versão final do livro em que Osney só contou pro Alto Pardal que transava com Cersei porque ele foi torturado depois de "confessar" pro velho desgraçado a mentira de ter transado com Margaery.

Daenerys: parece que a trama dos livros de ela retornar para Vaes Dothrak depois de ser capturada por Khal Jhaqo nao iria acontecer. Depois do ataque dos Filhos da Harpia na Arena e do seu casamento, ela iria decidir ser o Dragão e voltar para Westeros, para sua casa. Seria interessante essa ordem diferente de acontecimentos. O casamento fracassado com Hizdahr zo Loraq acontecer depois da Arena. Como ela se livraria da Arena? Para onde Drogon a levaria? Muito interessante. Temos ainda o Nó de Meereen, o problema que Martin criou com os personagens que estão tentando encontrar Daenerys ou manter contato com ela em Meereen, que ele está a uma década tentando resolver.

Nada sobre O Jovem Griff (suposto Aegon Targaryen), Jon Connington, Varys. O que indica que em 2004 Martin não tinha ainda criado essas tramas e teve essas ótimas ideias depois e as colocou na segunda parte do livro, Dança dos Dragões.

O último livro da saga lançado foi A Dança dos Dragões em 2011. Até quando vamos esperar pelo Os Ventos do Inverno?

terça-feira, 14 de novembro de 2023

Molok ou Yahweh? O sacrifício de crianças na Bíblia

Moloque nunca existiu. A bíblia mente mais uma vez, falsificando a história. Molok é um RITUAL de sacrifício e nunca foi uma divindade.

Os sacrifícios Molok eram, em Judá e Israel, feitos a Yahweh e a outros deuses. Sim, tanto na Bíblia quanto na Arquelogia está provado que Yahweh/Jeová exigia e recebia sacrifícios humanos de crianças.

Excelente série de vídeos, verdadeiros cursos completos recheados de informações e bibliografia. Imperdível essa série do canal Angela Natel sobre sacrifício de crianças e Molok na Bíblia.

Molok é um ritual específico de sacrifício espalhado em todas as regiões onde os povos cananeus estiveram além da Canaã: norte da áfrica, Espanha, Roma e Grécia, Sicília, Córsega, Sardenha:



Sim, os judeus praticavam sacrifícios humanos, não é uma prática de "cananeus" como se eles fossem estrangeiros ou povos estranhos. O texto bíblico está condenando práticas do próprio povo judaíta e israelita, que eram povos cananeus.

Yahweh exige sacrifícios humanos na bíblia. Ele é o Supremo Sacrificador. Mas também há sacrifícios a Shadayim, a Deusa Dupla dos Seios, Montanhas e Amamentação:




terça-feira, 7 de novembro de 2023

A Escala Nordestina: original e única! É do Brasil!

 A Escala Nordestina é absolutamente única. Parece com os modos gregos Mixolídio e Dórico mas ao mesmo tempo é bem diferente. É único. Os vídeos abaixo explicam e mostram muito bem essa escala:





Mas de onde vem escala? De Portugal? Da Espanha? Há muitas músicas nordestinas que estão em Modo Dórico devido à influência portuguesa e galega e vamos falar disso no final, mas a Escala Nordestina é absolutamente única e não tem paralelos na música europeia. E isso porque ela é indígena, nativo-americana. Mais especificamente dos povos indígenas do nordeste. Mais especificamente ainda, as melodias usadas pelos indios nos rituais do Toré, Rojão, Toada, Toante e outros.

Toré é uma coisa impressionante porque em São Paulo ele deu origem às danças caipiras, como a dança ritualística da Festa de Santa Cruz de Carapicuíba. É amplamente documentado que essa festa é um ritual indígena de benzedura de ocas cristianizado, ritual que envolve dança e ritmo repetitivo em que os indígenas entram em transe e o rito se assemelha a mantras hindus. Isso é exatamente a característica principal dos Torés, que é fazer entrar em transe toda a tribo.

Não é preciso pesquisar. Basta ouvir os cantos indígenas mais antigos e tradicionais do Nordeste para ver que todos estão em escala nordestina. Os povos Kariri-Xocó, Kapinawá e Fulni-ô são alguns do sque mais preservaram as melodias ancestrais pré-cabralianas:


https://www.youtube.com/watch?v=lz1VqRs__yc

https://www.youtube.com/watch?v=7uDedXqx8ss

https://www.youtube.com/watch?v=KsDUOQv0N4g

https://www.youtube.com/watch?v=W7lfhOk1PNQ

https://www.youtube.com/watch?v=Z1TRvj_UIT4

https://www.youtube.com/watch?v=BeS7kPvVhKs

https://www.youtube.com/watch?v=wJjWwRdgZhY

https://www.youtube.com/watch?v=j4g2yroTxco

https://www.youtube.com/watch?v=KTxkdEJSz7s

https://www.youtube.com/watch?v=dFAF6_tdKbA

https://www.youtube.com/watch?v=lefxNjfHTiw

https://www.youtube.com/watch?v=b1iSdlRT-yk

https://www.youtube.com/watch?v=V938PvG4WE0

https://www.youtube.com/watch?v=RNyuLDNw5yc

https://www.youtube.com/watch?v=SGnogIlIPsA

https://www.youtube.com/watch?v=FqvUNTVwr1k


Agora é só comparar com a música folclórica e erudita típica do Nordeste:

https://www.youtube.com/watch?v=6G7Q8FBTx_0 

https://www.youtube.com/watch?v=IpYEJ2RIScI

https://www.youtube.com/watch?v=64n6pnZVmMI

https://www.youtube.com/watch?v=lFN1bUpSKZg

 Viola Nordestina é a coisa mais maravilhosa da cultura brasileira. Passo horas a fio ouvindo e nunca enjoo. É belíssimo. A viola caipira tocando melodias em escala nordestina me causa uma sensação de melancolia misturada com nostalgia tão grandes, é viciante. Uma mistura de mistério de rituais indígenas na mata com suspense, não sei explicar direito mas é maravilhoso o que isso me causa. Me sinto tão bem, é indescritível:

https://www.youtube.com/watch?v=utVKYnpmeDA 

 O PÍFANO, essa flauta europeia foi adaptada para emitir sons mais indígenas brasileiros no nordeste, porque as flautas indígenas careciam de certos sons de cantos que eles passaram a querer reproduzir em flautas e violas. O Pífano é simbolo do Nordeste. As Bandas de Pífano, a Viola Caipira Nordestina, os rabequeiros e as variantes de Côco formam juntos a mais tradicional, original e brasileira Folk Music do nosso país. É nosso, é do Brasil!

https://www.youtube.com/watch?v=gz2cTQF1XZU

https://www.youtube.com/watch?v=dOZSiC0Xg34

https://www.youtube.com/watch?v=Q86JDzDCkis

https://www.youtube.com/watch?v=0IcKZXaZkGk 


ESSA CANÇÃO "VOZES DA SECA" DO QUINTETO VIOLADO É LINDÍSSIMA, EU CHORO MESMO DE EMOÇÃO TODA VEZ: 

https://www.youtube.com/watch?v=7N-DxLMGVAQ 

 O CÔCO É UM RITMO QUE SURGIU NO COMEÇO DA COLONIZAÇÃO NOS SERTÕES DO BRASIL E SE ENRAIZOU NO NORDESTE E EM ALGUMAS REGIÕES DE MINAS GERAIS, GOIÁS E TOCANTIS. ELE É UM MEIO TERMO ENTRE BAIÃO, SERTANEJO E SAMBA. DELE SURGIRAM AS RAMIFICAÇÕES QUE DERAM ORIGEM AO SAMBA, AO SERTANEJO E AO BAIÃO. TRATA-SE DE MELODIAS E CANTOS INDÍGENAS ADAPTADOS A TAMBORES PORTUGUESES E AFRICANOS, QUE DERAM NOVOS ARRANJOS ÀS MÚSICAS NATIVAS DOS POVOS INDÍGENAS. HÁ O CÔCO, O SAMBA DE CÔCO, O CÔCO DE TEBEI E OUTROS TIPOS:

https://www.youtube.com/watch?v=SmOjojj5eCc

https://www.youtube.com/watch?v=y3f9L9Y5oX0

https://www.youtube.com/watch?v=kuQZGPOjoHA

https://www.youtube.com/watch?v=6Vw954N1aX0 


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 MÚSICA NORDESTINA COM MELODIAS CELTAS (MODO DÓRICO) 

 A MORTE DO VAQUEIRO, VEM MORENA E HORA DO ADEUS SÃO MUITO FAMOSAS MÚSICAS DE LUIZ GONZAGA. ESTAO TODAS EM MODO DÓRICO: 

https://www.youtube.com/watch?v=jSWwftxuSQQ

https://www.youtube.com/watch?v=KeX2NbSOOUE

https://www.youtube.com/watch?v=Q7ERbLhCn3c


VAQUEJADA DO QUINTETO VIOLADO TAMBÉM ESTÁ EM MODO DÓRICO. QUE COISA MARAVILHOSA!!!:

https://www.youtube.com/watch?v=kAn_DQRKn9I


ISSO AQUI É MARAVILHOSO. ESSA FAIXA DUPLA MOSTRA DOIS MODOS DIFERENTES: "TOADA DE GADO" ESTÁ NA ESCALA NORDESTINA. "A MORTE DO VAQUEIRO" ESTÁ NO MODO DÓRICO. PERFEITO PRA PERCEBER A DIFERENÇA:


terça-feira, 24 de outubro de 2023

Como estragar uma série: Fear The Walking Dead e as péssimas escolhas de roteiro


Acima, Victor, Alicia, Madison, Nick e Luciana. Com Daniel, Troy, June, John Dorie, Althea e Isabelle, eles formam um excelente elenco de ótimos atores e maravilhosos personagens.

Em 2015, quando The Walking Dead (que acompanho desde 2010 na primeira temporada) ficou um LIXO TOTAL na sua 7ª e horrenda temporada no arco do Negan e dos Salvadores, saiu o primeiro spin-off (série derivada) do mesmo universo da série principal, Fear The Walking Dead.

Foi um sucesso! Foi incrível poder ver o apocalipse zumbir em outra cidade e ver muito antes dos acontecimentos que geraram o cataclisma civilizacional. Muito bem escrita, muito bem roteirizada, muito emocionante, cativamente, realmente superou e muito a série principal.

A trama principal girava em torno de Madison (interpretada por Kim Dickens), uma mãe que tentava manter a família unida diante de tantos problemas e conflitos mas que conseguiu isso somente depois do Apocalipse zumbi.


Acima, Isabelle e Althea, o casal mais fofo da série.


Tudo ia bem até a estranha morte de Nick, filho de Madison e irmão de Alicia, um jovem confuso e viciado em drogas que tentava ser normal mas não conseguia, sempre arranjava problemas e precisava ser salvo. Uma morte estranha e sem contexto que deixou um vazio na série. Mas, até aí, a gente fingiu que isso não tinha acontecido e continou assistindo porque ainda era bom.

Acontece que chega a 4ª temporada e os idiotas dos roteiristas resolvem assassinar Madison. Até a atriz Kim Dickens ficou revoltada. Sem entender se ela ficou viva ou não, a personagem sumiu e Alicia, sua filha, se tornou a protagonista. Continuamos vendo para ver se ainda prestava mas foi um horror!

O "plot" que é a manutenção da família de Madison, diferente da trama de The Walking Dead que é a história de heroísmo de Rick Grimes, se tornou uma aberração televisiva: de apocalipse zumbi virou apocalipse nuclear, com anti-herois e personagens cinza se tornando vilões do nada, mortes ridículas, novos personagens bons muito mal aproveitados, bagunças em relação a tempo e localização e, como se não bastasse, o personagem mais insuportável de The Walking Dead foi levado para Fear: Morgan. Que bosta!

A série era tão maravilhosa nas suas 3 primeiras temporadas, mostrando e fazendo correlações entre a migração de latino-americanos nos EUA, os povos indígenas sobrevivendo em reservas, famílias multi-raciais, muitos personagens latinos falando espanhol, a travessia na fronteira com o México... Aliás, grande parte da série se passa no México. Referências a vários jogos de zumbi como Resident Evil 4, enfim, a série era simplesmente perfeita. Mas virou uma caçamba de lixo total.

Uma piada. A série é odiada por 99% das pessoas, que esculhambam sem dó o que se tornou após a 4ª temporada. Um fracasso de audiência e uma vergonha alheia.






Acima, Qaletaqa e a tribo Hopi, excelentes personagens que deveriam ser melhor aproveitados e tiveram um bom arco, mas faltou mais história para contar.

Infelizmente desde a sua estreia, Game of Thrones contaminou todas as séries com essa porcaria de ficar matando os protagonistas e mudando completamente o rumo da história. É um traço de George R R Martin isso, tanto que Wild Cards é justamente um jogo de RPG que ele jogou com amigos e que resolveu transformar em uma obra literária, com acontecimentos completamente inesperados e que mudam radicalmente o jogo da história. Mas é preciso cacife, é preciso SABER fazer isso. Outra bomba tóxica vítima dessa modinha de matar os protagonistas no começo foi o lixo atômico The 100 que estragou completamente os livros de Kass Morgan, que eu li, mudando radicalmente a trama e levando a história a absurdos inassistíveis. Aliás a atriz que interpreta Alicia em Fear saiu de The 100 (sua perosnagem era Lexa, que eu adorava) justamente para poder se tornar protagonista de Fear como Alicia e se dedicar à série, mas os roteiristas estragaram tudo.

Enfim, Fear voltou. Acabei de assistir ao episódio 7 da 8ª temporada, que será a última. E digo o seguinte:

- O retorno de Madison, 4 temporadas horríveis depois, que está viva, foi muito bom. Ela é a protagonista e a série foi feita pra ela e é só dela. Fear The Walking Dead é de Madison e mais ninguém, assim como The Walking Dead é de Rick Grimes e mais ninguém.

- Mesmo com o retorno da MÃE, não creio que haverá conserto. A história ficou ridícula com aquela merda de apocalipse nuclear e o Victor Strand virando um vilão capenga e mal construído. Que desperdício de personagens.

- Ponto positivo: o maravilhoso Daniel Salazar não deixou a série e o retorno do desgraçado e adorável Troy. Eu amo esse projetinho de psicopata. Não passa de um menino carente querendo uma mãe presente. Ele é bem sacana mas é bom vê-lo de volta, o que significa que vamos passar muita raiva.

- Dwight e Sherry: irrelevantes, deveriam sumir do universo. Personagens muito chatos, saídos do péssimo e longuíssimo arco do Negan, as malditas 7ª e 8ª temporadas de The Walking Dead.

- Que saudade do cowboy. John Dorie foi de longe um dos melhores personagens que eu já vi. Que carinha simpático, divertido, inteligente. Ainda amargo a morte dele e esse morreu mesmo, virou zumbi. Fiquei com muita pena da June. John Dorie não só estava evoluindo mas June também estava com ele. Eles são o exemplo perfeito de como um péssimo roteirista pode estragar e mal aproveitar personagens incríveis que tem em mãos.


Acima, John Dorie, maravilhoso personagem que, infelizmente, está mais do que morto. Triste.

O que eu espero ver: o CRM (Republica Civica Militar, os nazistas que sequestraram Rick Grimes), personagens de World Beyond (outra série derivada, mostrando por dentro do CRM) e que o fim da série seja a união do grupo de Madison e Victor com o grupo do Rick na Commonwealth. Victor é um bom personagem mas está sendo estragado e espero que no fim ele morra de uma vez. Quero muito ver a volta de Althe a sua namorada que renegou ao CRM, a maravilhosa Isabelle. A história de amor delas e a declaração de amor que Isabelle fez para Althea dizendo "você é a coisa mais linda que eu vi desde que o mundo acabou" fincou no meu coração como uma estaca. Elas são a coisa mais linda juntas e eu torço muito para que voltem.

O que não quero ver: Morgan. Mas infelizmente ele está trabalhando com Madison e já tivemos cenas liberadas de que ele irá até a casa em que ele e Rick se viram pela primeira vez. Espero que a chatice do personagem sirva ao menos para levar Madison e os outros para o nosso amado grupo do Daryl, Carol, Maggie, Negan e todos da Commonwealth.

terça-feira, 17 de outubro de 2023

Hamas x pseudoestado artificial "Israel"

 Imagine que um grupo de assaltantes invada sua casa, tome posse de todos os seus bens, mate seus filhos, sequestre algumas crianças, te jogue nos fundos do quintal na casinha do cachorro, jogue seus parentes num quartinho mofado nos fundos da casa e ainda diz que você e os que restaram de sua família terão de viver o resto da vida nessas condições, como cidadãos de quinta categoria, inferiorizados e humilhados para sempre.

O que você faria? Ficaria parado, calado vendo sua vida acabar?

Pois é exatamente isso que é Israel contemporâneo: uma invasão colonizadora dos EUA a um território habitado, com genocídio e morte dos nativos. Já ouvimos essa história aqui nas Américas, não? Os europeus já fizeram algo parecido.

Minha opinião sobre isso é clara: Israel tem que acabar. Não passa de uma base militar do Império (EUA) para roubar, controlar e ameaçar os países colonizados pela burguesia americana em busca de petróleo e outras riquezas.

Nao sou a favor da manutenção de dois estados, mas de somente um: Palestina. Japão é cercado de bases americanas e se submeteu totalmente após as bombas atômicas. A Coreia do Sul é uma ridícula imitação de Ocidente, artificial, cheia de problemas, infestada de seitas evangelicas doentias que muito mal causam ao povo coreano, cada dia mais doente e cheio de problemas sociais. Cuba enfrentou o Império e ainda sobrevive heroicamente, um orgulho para toda a américa latina, um povo guerreiro, soberano e impressionantemente forte e unido.

O Império está esfarelando! Perdeu o Afeganistão nas mãos do Talebã que os próprios americanos criaram contra a União Soviética! Quando a URSS anexou o Afeganistão e implantou lá o socialismo, a vida das mulheres melhorou radicalmente, com alfabetização e investimento tecnológico e científico. Os americanos destruíram tudo.

A guerra econômica da China contra os EUA mal começou e já rendeu várias vitórias: paz entre Arabia Saudita e Irã, países abandonando o dólar, o Sul Global todo se unindo contra o inimigo em comum: os EUA.

A maioria desses grupos terroristas como o Hamas são reações ou mesmo criações do imperialismo americano. O próprio Hamas é uma criação de Israel para derrotar o grupo do líder socialista palestino Yasser Arafat. Mais uma vez o radicalismo islâmico terrorista tem origem no Ocidente, saindo diretamente das mãos de EUA e da base americana chamada "Israel".

Essa base tem que acabar, e, se possível, levar com ela os EUA inteiro para a inexistência. Israel é fascista, genocida, é os EUA e toda sua arrogância.

EUA usaram os idiotas dos cristãos (sempre eles, sempre os evangélicos por trás de toda merda possível) para apoiar a sua base militar no ocidente com as teorias mitológicas ridículas e mirabolantes inspiradas em Apocalipse. Sempre a Política estuprando e usando a Religião para o mal da humanidade, sempre!

Sobre os evangélicos desejando uma guerra mundial e morte de pessoas só pra ver se Jesus volta pro Armagedom: olha, eu acho os evangélicos seres tão inferiores, mas tão decadentes, moralmente podres, imbecis, idiotas, jumentos, retardados, o lixo da humanidade, realmente a decadência e demonstração da total derrota das bacterias procariontes que resolveram evoluir até virar evangélicos. O grande fracasso da natureza é a existência de evangélicos, uma vergonha para o todo o cosmo.  Eu acho que um grande passo evolutivo para a humanidade ocorrerá quando os evangélicos não existirem mais, porque não é possível vermes tão nojentos e desgraçados, tamanha psicopatia concentrada habitar ainda esse planeta.

Excelente live do Dr Osvaldo Luis Ribeiro sobre o tema:

quinta-feira, 31 de agosto de 2023

Megadeth: EXCELÊNCIA no Heavy Metal, verdadeira música clássica e erudita moderna!

 



Eu amo Slayer, amo Kreator, amo Testament, amo Overkill, amo Onslaught, amo Lich King, amo Vendetta, amo Paradox e amo Exodus mas MEGADETH sempre vai ser minha banda favorita de Thrash Metal.

Megadeth foi um divisor de águas na minha vida. Conheci a banda lá em 2004 lendo entrevistas de membros de bandas em revistas sobre rock. Demorei a gostar da banda mas fui me apaixonando aos poucos até ficar viciado e nunca mais parar de escutar.

Megadeth define se você é um metaleiro ou não, além de definir se você tem bom gosto musical e o chamado "ouvido musical", sensível, atento. Se você escuta algumas bandas de metal mas não gosta de Megadeth então você não é metaleiro porque a banda simplesmente é a definição do Metal. Tem gente que gosta de Iron Maiden, Metallica e outras bandas e não é metaleiro. É só apresnetar Megadeth que tudo fica esclarecido. Gosta de Megadeth? Então você tem o "espírito" do Metal, o ouvido musical necessário pra escutar todas as bandas do gênero.

Megadeth é música clássica em forma de Metal. A banda toca um Thrash Metal diferenciado, mais próximo do Heavy Metal Tradicional e cheio de progressismos e linhas melódicas complexas, o que torna a banda diferente de todas do subgênero Thrash. Mesmo assim não abandona a raiz do Thrash Metal: OS RIFFS! OS PODEROSOS RIFFS QUE ARREPIAM A GENTE.

Tuomas Holopainen, criador e compositor do Nightwish é fã da banda e disse em uma entrevista para um documentário sobre Heavy Metal que Megadeth é música clássica contemporânea.

Ralf, da dupla sertaneja brasileira Chrystian e Ralf, é metaleiro e fã da banda e também disse numa entrevista para a Record que Megadeth é música erudita de altíssimo nível. Aliás, as composições de Ralf são diferentes e melhores que todas as outras duplas sertanejas.

Mesmo o disco Super Collider de 2013 é bom! Esse é considerado o "pior" album da banda... Porra, mas muitas bandas queriam lançar um disco ruim assim! Se esse é o pior a banda tá boa demais porque mesmo o disco "ruim" é BOM PRA CARALHO!






Um riff é um pequeno trecho melódico repetitivo que é a base do Thrash Metal. A repetição desse trecho causa algo como se fosse um "transe". É gostoso, arrepiante, e eu diria BELO. É bonito. Um bom riff, um belo riff, faz toda a diferença numa música de Heavy Metal. Energiza, arrepia. O gostoso de ouvir Thrash Metal é ir apreciando os riffs sendo apresentados numa música.

A prova de que Megadeth é música clássica repaginada é a primeira faixa do Killing Is My Business... and Business is Good: Last Rites - Love to Deth:




SYMPHONY OF DESTRUCTION também não fica atrás. É uma das minhas favoritas e é uma peça de Mozart praticamente:




Mas a minha favorita de todos os tempos é TAKE NO PRISIONERS do maravilhoso disco RUST IN PEACE, puta que pariu que música do caralho, vou escutar isso pra sempre, quem não gosta tem cocô de barata no cérebro porque não é possível não gostar disso:




Outra que eu adoro é DIE DEAD ENOUGH do excelente disco THE SYSTEM HAS FAILED, porra o Dave Mustaine tá numa de suas melhores performances vocais, o disco é todo maravilhoso:




PEACE SELLS do maravilhoso PEACE SELLS... BUT WHO'S BUYING? é outra das minhas favoritas, os riffs poderosos que vão crescendo fazendo você ficar ansioso porque algo maior e melhor começa a vir a cada minuto que a música evolui, sem falar na letra que é um show a parte, aliás o Dave é um dos melhores escritores de letras de metal que eu já vi:




Kiko Loureiro, ex guitarrista da maravilhosa banda brasileira ANGRA entrou para o Megadeth a convite do Dave Mustaine e mostrou pra que veio: se tornou O MELHOR GUITARRISTA DA HISTÓRIA DA BANDA e com ele a banda lançou dois discos que são DUAS OBRAS PRIMAS DO HEAVY METAL CONTEMPORÂNEO: DYSTOPIA E THE SICK, THE DYING AND THE DEAD!




ALIÁS, eu recomendo que pare tudo que está fazendo e ouça imediatamente The Sick, The Dying and the Dead! Em pleno 2022 a banda continua a todo vapor lançando um álbum tão maravilhoso, tão perfeito... isso é pra poucos! Essa energia, esssa força de vontade, essa perfeição. 

Uma banda da década de 80 formada a partir da expulsão de um membro do Metallica por ter problemas com drogas e comportamento anti-social é em 2023 uma das melhores bandas de todos os tempos!

Megadeth forma junto com Metallica, Slayer e Anthrax, as 4 maiores bandas de Thrash Metal do mundo.







Cara, olha isso, olha essa música, esse peso, esses riffs, OLHA O RIFF QUE COMEÇA AOS 2:08 minutos, essa linha de Baixo maravilhosa, olha a justaposição dos instrumentos de forma PERFEITA, HARMÔNICA E DIVINA, tem que ter MUITO MAL GOSTO e ser muito bosta, muito lixo pra não gostar disso:

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Pós-morte na religião antiga: Diferença entre Nada, Gêmeo (Duplo) e Alma

 Complementando o post antigo, esse excelente vídeo do Dr Osvaldo Luis Ribeiro explica didaticamente, e com muito bom humor, a diferença entre Duplo e Alma e como o Cristianismo primitivo não acreditava em Alma (basta ler Paulo para perceber isso), tanto que NÃO EXISTE ALMA NA BÍBLIA EM PARTE ALGUMA:







O que é então esse Duplo ou Gêmeo que praticamente todas as religiões politeístas acreditavam (e ainda acreditam até hoje)?

Simples: quando uma pessoa morre, ela assume uma outra consistência vital, uma natureza diferente, a mesma natureza dos Deuses, Espíritos, Entidades, "demônios", etc. Não é que a pessoa enquanto viva era um corpo possuído e controlado por uma alma. Não! O corpo da pessoa assume uma outra consistência, uma outra natureza, a mesma natureza dos Deuses. Esse novo Corpo dela vai para o mundo dos Mortos. Não é algo "incorpóreo", ou "espiritual". É igual a Matéria mesmo, só que com outra consistência. Tem as mesmas características da matéria: fome, sede, pensa, anda, veste, trabalha, tudo igual nosso mundo, só que tem outra consistência, própria do mundo das entidades.

Na religião grega e europeia mais antiga não havia vida após a morte: a morte era o fim da existência. Com o passar dos milênios, o politeísmo se tornou extremamente semelhante em todo o mundo "conhecido" ou "conectado" de Europa, África e Ásia e a noção do Gêmeo ou Duplo, bem como da divisão do mundo em 3 regiões físicas e naturais se tornou preponderante nos 3 continentes: mundo dos deuses no céu, mundo dos homens no meio e mundo dos mortos embaixo da terra. Egito, Grécia, Babilonia, Canaã, China, África subsaariana, Gália, Britânia, Índia, Japão, essa era a base mitológica de todos esses povos, até que na Grécia e na Índia os conceitos de Alma e Atman fazem uma busca transformação na religião tradicional desses povos. 

Mesmo assim, a ideia de que os mortos tem contato com os vivos e de que os deuses tem quase a mesma consistência dos vivos ainda permanece na mente da população mesmo em religiões monoteístas como cristianismo e islamismo.

- Mundo dos Deuses: é físico, fica acima do Céu (a placa que separa as Águas da Criação da bolha de ar e terra seca abaixo) e lá moram os Deuses, Titãs, Anjos, Elohim, Kami, Orixás, semi-deuses e outras entidades. Se você conseguir subir com uma escada, construção, ou poder mágico que te faça voar, você chega lá porque é um lugar físico, com outra consistência (consistência de Elohim ou das Entidades, ou de Kami) mas é físico, você consegue chegar lá andando! Mas os Deuses não deixam qualquer um subir pra lá, então o único lugar que podemos chegar realmente é o mundo dos mortos embaixo da terra. Não se trata de "outra dimensão" ou "mundo paralelo" - esses conceitos são muito modernos e não cabem na religião antiga.

- Mundo dos Homens: A bolha de ar e terra seca que os deuses criaram por motivos que variam de cultura pra cultura.

- Mundo dos Mortos: buraco debaixo da terra pra onde todos vão. Também é físico e pode-se chegar lá andando, mas é um caminho sem volta. É o Sheol dos cananeus, o Hades dos gregos. Não se trata de outra dimensão. Também tem seus habitantes naturais, entidades próprias, Elohim, Deuses Ctonianos.

No entanto, alguns bruxos, magos, sacerdotes podem invocar os mortos. Alguns "espíritos", como na religião indígena brasileira Tupi-Guarani, fogem do mundo dos mortos e seus compartimentos e vem no mundo dos vivos atazanar a vida dos homens, daí que o Pajé é essencial para fazer rituais e expulsar essas entidades que são causadoras de males e doenças. Na religião celta europeia, o Halloween tem origem no Samhain, época do ano em que os mortos voltavam para o Mundo dos Vivos atrás de seus parentes, por isso criou-se o costume de fazer oferendas a eles para eles não agirem como "demonios" e ficarem felizes para retornar o mundo dos mortos.

E o Zoroastrismo?

O Zoroastrismo tem a mesma crença Egípcia do Julgamento Imediato após a Morte. Acredita no Duplo e na ressurreição dos mortos. O duplo é composto de Uruuan e Daena, duas partes que se relacionam como se fossem duas pessoas diferentes após a morte, quando o indivíduo se depara com sua consciência e suas ações. O Duplo é Imortal e julgado após a morte. Se for para o Céu, será guardião e protetor dos seus parentes e dos bons na Terra. Se for para o inferno, será torturado pela eternidade. No fim dos dias, quando Ahura Mazda fizer a Grande Renovação do mundo, o Duplo receberá um novo corpo para viver entre os vivos. O Duplo perde contato com os humanos porque está guardado por Ahura Mazda no Paraíso e o culto dos mortos é proibido. Essa é basicamente a crença dos Fariseus e dos cristãos. Os fariseus são o partido dos persas, os judeus que assimilaram a religião persa completamente e não apenas partes dela.

E a religiao Egípcia?

Muito complexo. O duplo continua em contato com os vivos, estando no mundo dos deuses ou dos mortos. O Duplo tem várias partes: corpo físico, corpo espiritual, identidade, personalidade, essencia vital, coração, sombra e poder. O Ba (personalidade) e o Ka (essência vital), por exemplo, são muito afetados e sustentados pelo que se coloca no túmulo do morto, como alimentos, frutas, estátuas de coisas queridas como animais domésticos e objetos, fazendo com que o morto não só se lembre mas se beneficie e se alimente das coisas mesmo estando no outro mundo.

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A ideia de alma é uma criação de classes altas. O objetivo é separar ricos de pobres e buscar uma justificativa para a desigualdade social, bem como dar um conforto a elite que terá um futuro pós-morte diferente dos pobres, dos quais tem um nojo absoluto. As ideias de Alma separada do corpo, bem como da reencarnação, servem como justificativa da sociedade de classes, da desigualdade social e da exploração do pobre: 

1- seja e bom e faça o bem, aceite as humilhações e explorações e você terá vida eterna no céu. Você é escravo mas um dia, após a morte, será rei.

2 - você nasceu pobre e doente porque fez o mal em vidas passadas. Aceite sua pena e sua condenação e na próxima vida, se esforçar, será recompensado com um bom nascimento.

Percebam como Alma e Reencarnação são conceitos perfeitos para os ricos manterem os pobres calados e subjugados, sem precisar da polícia ou dos militares pra espancar e aterrorizar a população? É a melhor arma para manter o pobre quieto e calado, aceitando ser roubado e explorado diariamente.

E o pior é que a classe média compra esse discurso, e acha que porque tem "conhecimentos" teológicos, frequenta uma igreja reformada tradicional e não seitas carismáticas, pratica um budismo namastê higiênico de apartamento, leu o catecismo da igreja católica e a horrível Summa Teológica de Tomás de Aquino e etc é superior aos pobres que só vão na igreja atrás de "bênção" e "milagres". Nada mais elitista e chauvinista, a idealização em seu estágio mais podre.



terça-feira, 22 de agosto de 2023

O dualismo alma x corpo é grego? A religião grega é dualista?



 Sim. Não.


É um erro recorrente que, inclusive, professores universitários cometem, esse de achar que os gregos eram dualistas. Não era assim. Se somos dualistas hoje é simplesmente porque o Cristianismo (a versão greco-romana-judaica do Zoroastrismo) roubou dos cultos de Mistério esse dualismo e o adaptou para o Monoteísmo.

Mas isso não devia ser óbvio? Zeus transou com Alcmena e ela engravidou de Hercules, ora bolas! Como que é dualista uma religião que os deuses comem, bebem, trabalham, transam?

Também é mito a teoria da conspiração da origem egípcia do cristianismo. Essa é muito querida entre os esotéricos que inventam cada burrice para justificar suas palhaçadas de classe média branca entediada. Cristianismo é Zoroastrismo e mais nada, veio do Farisaísmo que é Zoroastrismo puro. Enquanto o Zoroastrismo é um Monoteísmo disfarçado de Henoteísmo (os deuses são aspectos, facetas, características do maior dos deuses, Ahura Mazda, que só não é chamado de único para não chocar a população mas que, na prática, é o único deus criador e e digno de adoração), o Judaísmo é Monoteísta assumido. As semelhanças que mitos e lendas cristãs tem com a religião egípcia são as mesmas que tem com os mitos gregos, romanos, persas, babilonicos, fenícios e etc.

O que ocorreu foi que as crenças das religiões de mistério gregos passaram para os cultos orientais, dentre eles o Cristianismo, via intelectuais desses cultos como o péssimo Orígenes de Alexandria que utiliza o termo dos mistérios "Asômaton" (traduzido como incorpóreo, sem corpo) para definir a alma, já corrompendo o cristianismo primitivo com doutrinas órficas gregas. Com a expansão do Império Grego para o Oriente, elites gregas foram junto levando as crenças de mistério, mas a única religião oriental que abraçou o dualismo grego foi o cristianismo, enquanto o hinduismo desenvolveu uma forma aberrante de monismo na qual a matéria é considerada uma ilusão e sendo puramente espírito, daí o desprezo que algumas filosofias hindus nutrem pelo corpo não por ele ser uma tumba como no Orfismo mas por ser um estado ilusório do próprio "espírito", o que é tão horrível e aberrante quanto esse dualismo órfico-platônico-cristão que imbeciliza até hoje.

Voltando ao dualismo ontológico (alma x corpo), ele dá indícios de surgir entre alguns escritos e relatos de pós-morte egípcios mas só vai aparecer realmente no Orfismo. E o Orfismo é um culto de mistério, religião privada para classes abastadas, não pode de forma alguma ser confundido com a religião grega pública, popular e profundamente arraigada na natureza e no unitarismo (não existe alma, tudo é corpo).

Os egípcios não acreditavam em alma mas tinham uma concepção bastante peculiar do indivíduo. Com as variações a depender da Dinastia, do período histórico e etc, os egípcios acreditavam que todo ser humano tem um Duplo ou Essência Vital, assim como os babilônios e todos os outros povos do Oriente Médio, mas no caso do Egito houve uma tamanha sofisticação nesse conceito que esse Gêmeo pode ser caracterizado como 5 ou até 9 partes diferentes de um indivíduo, a depender da época e da crença dominante em cada período histórico do Egito! Não há alma no Egito, há o Duplo. Mas o Duplo do Egito é diferente de todos os outros duplos do Oriente Médio, a tal ponto que uma das partes desse duplo pode ser considerada mais ou menos o antecessor do que os cultos de mistério chamarão tardiamente de Daimon, Daimonion, Demônio, Alma, e nós hoje chamamos de Alma ou Espirito que possui um corpo humano.

Voltando à Grécia. As religiões de mistério surgem na medida em que ocorre uma estratificação social na Grécia a partir da invasão dos Dórios que causa a substituição da Realeza (Monarquia rural) pela Aristocracia urbana, uma sociedade muito mais estratificada, desigual e separou e dividiu ainda mais o mundo micênico entre extremamente ricos e extremamente pobres, a chamada Idade das Trevas Grega entre os séculos 12 e 8 a.C.. 300 anos depois Platão já escrevia seus diálogos fazendo referência clara aos Mistérios de onde tirou seus conceitos de Alma. 



Essa aristocracia urbana que surgiu e que agora comanda todas as Pólis vai criar uma forma de religião própria, separada da "ralé" e com um nível de idealização e especulação "espiritual" muito além da cultura grega comum. Desconfia-se que a inspiração para isso seja a alta sofisticação da teologia egípcia que só era acessível ao Faraó, nobreza e clero egípcios, com quem esses gregos tomaram contato e copiaram, não sem modificar o sistema. A extrema dualidade entre as castas sociais aristocratas da Grécia e o povo e a tradicional obsessão pela pureza ritual grega campesina (que influenciará no rito cristão da Eucaristia) podem ter influenciado na origem da ideia de que o a força vital que possui o corpo, o Daimon, é uma coisa chamada Alma (que será chamada depois de Psiché), um ser transcendental que não se polui (limpeza, pureza) com o corpo e se difere totalmente deste (estratificaçao, separação, hierarquia).

Essa idiotice de Alma ficou adstrita as classes altas, enquanto o povão grego praticava sua religião tradicional como sempre:

1 Dois erros fundamentais: a) confundir religião com mitologia; b) buscar a religião principalmente na literatura. [Heródoto] e Hesíodo nunca escreveram livros sagrados /13.

Evemerismo: Evêmero, 340-260 a.c.. Na ilha Panchaia há, no templo de [Zeus], uma estela com a lista de [Rei]s antigos que se sucederam cada um se rebelando contra seu pai. Os deuses seriam reis de outrora cujos feitos se converteram deformados em mitos. Evemerismo é tentativa de reduzir mitologia a deformação da história. (3]

3 O mito é um meio de explicar um rito. Um relato destinado a dar, seriamente ou não, o porque de um costume, que pode até ser profano, mas geralmente é cultual. O rito é a origem do mito. (6]

4 Lendas de [Herói]s são criadas quase totalmente a partir de relatos baseados em atos cultuais. As pessoas divinas são essencialmente ídolos e a [Estátua] de culto não é uma representação, mas o próprio deus. Por isso guerreavam pela posse de estátuas, algumas ditas caídas do céu, que eram [Talismã]s. Antes mesmo de aprenderem a talhar, captou-se nas [Pedra]s brutas o sagrado (argoi lithoi, veneráveis ancestrais das estátuas). É preciso fixas as influências invisíveis boas por meio de estátuas ou destruir as más jogando as efígies no fogo.

Sócrates foi condenado não por não crer nos mitos sobre os [Deuses], mas porque punha em perigo os cultos, os ritos que protegiam a cidade contra as catástrofes. (8-9]

5 “Enquanto as mais belas invenções da mitologia viram-se logo abaladas pelas reflexões mais elementares dos primeiros filósofos, o paganismo propriamente dito permaneceu inabalável durante toda a Antiguidade (e ainda o é), ou seja, foi a religião de camponeses convencidos de que o não-cumprimento dos ritos significa a perda das colheitas, epizootias, fomes” (10]. Há grande liberdade de pensamento e imaginação sobre a vida dos deuses, mas os atos de culto se mantém imperturbavelmente: o rito é o essencial para o povo. /14.

6 Para outros povos e religiões, os deuses estão sempre ligados a uma de três funções sociais importantes para a organização social, soberania/sacerdócio, guerra e produção. Na Grécia não é assim, seus deuses não são inclinados à especialização, tratam de todas as funções.

7 Características da religião grega: ausência total de dogma ou doutrina, de clero como classe social, de livro sagrado (12-13].

ii santuários e ritos

1. Traduziu-se indiscriminadamente [Hiéron], [Temenos] e naos como [Templo], mas só a terceira indica edifício de função religiosa.

2. [Naos] é o prédio onde mora o [Ídolo], a [Estátua], que é o próprio deus. /17

3. Temenos e hiéron(=santo) são o terreno com tudo que encerra, e que é propriedade do deus: o santuário.

4. se o santuário é arborizado chama-se alsos.

5. nada mais enganador que aproximar religião grega com romana. /19

5. a parte mais importante do santuário não é o templo, mas o [Altar], porque o [Sacrifício] é o ato mais relevante do culto: o santuário pode não ter templo, mas tem altar. /20

6. há dois tipos de altar, conforme a natureza do sacrifício.

7. o primeiro tipo de [Sacrifício] - que é o essencial da oferenda - é constituído da [[Fumaça] que sobe para os [Deuses] de cima, as potências celestes, olímpicas, uranianas (como em 'os pássaros' de Aristófanes).

8. aqui, o fiel fica sobre uma plataforma (prothysis) onde o animal é degolado; há uma construção elevada chamada eschara ou lateira, que queima apenas uma parte da vítima para que a fumaça alegre o deus. o resto da vítima é comido. esse tipo de altar é chamado bômos /22.

9. no segundo tipo de sacrifício, destinado aos deuses de baixo (os deuses infernais, ou os mortos, ou os heróis), o essencial é o [Sangue] (ou qualquer oferenda líquida) que deve penetrar no solo e suas profundezas. /21/. Para esse tipo usa-se um fosso (bothros) onde se derrama o sangue, outro onde se queima inteira a vítima (eschara). O conjunto é isolado por muro

8. o sacrifício para os deuses Ctonianos (ctoniano é tudo que tem relação com a terra, chton), inferiores, partem da ideia religiosa de que tudo relacionado à morte é impuro, imundo, contém miasma a eliminar. o sacrifício é uma eliminação de sujeira: carrega-se o animal de sacrifício com essa sujeira de que se pretende desfazer-se destruindo-a. Normalmente esse sacrifício é feito em segredo /24/, ou só com testemunhas ritualmente preparadas.

9. Os deuses representam um papel menos importante que os mortos nesse rito, que foi criado não pelo medo da Morte em si, mas daquilo que ela pode trazer de imundície aos vivos.

10. Quanto aos deuses de cima, em princípio só recebem a carne não consumível, e, quando se dão os [Ossos], dão-nos brancos, sem carne nenhuma /24/. Come-se carne quando há sacrifício, apenas. Supõe-se que o que se dava aos deuses era consequência do modo regulamentar de cortar a carne e eliminar os dejetos pelo [Fogo] /25/. Thysia significa sacrifício mas também festa religiosa. Quanto mais festas, mais dias em que se come carne /30/

11. Assim, no sacrifício ctoniano a ideia religiosa é a original, e no sacrifício celestial a ideia religiosa só veio depois, como consequência /25.

12. Festa Dipolies, de zeus protetor da cidade: espalhava-se o trigo e soltava-se um boi para comê-lo; enquanto ele comia, um sacerdote (membro de uma família de sacerdotes hereditários) o matava a machadadas, e fugia, largando o [Machado]; instituía-se um processo para julgar o machado, que era condenado a ser jogado fora do país. /26.

13. A religião grega também admitia o sacrifício humano, de cativos, normalmente em honra a mortos ilustres /26.

14. Em Esparta havia um rito no santuário de [Ártemis]: a sacerdote segurava o ídolo, que se cria caído do céu, enquanto fiéis (rapazes do serviço militar, certa época) eram açoitados; para encorajar os verdugos a sacerdote dizia que a estátua estava ficando pesasa, ia cair, o que causaria calamidades /27/.

15. Também em Atenas se conduzia um casal (prisioneiros certamente) por todo o território, para impregná-los com toda impureza, e depois os expulsavam da Ática; supõe-se que no passado isso terminava com a morte e não exílio dos supliciados, que eram chamados, alás, pharmacoi /28/.

16. Para certos heróis, como [Héracles], cabem os dois tipos de sacrifício, porque é ao mesmo tempo um morto e um deus. Exceto os deuses exclusivamente ctonianos, como [Hades], os demais, olímpicos, também tinham traços ctonianos, especialmente zeus. Não existiam deuses exclusivamente uranianos. De forma que podiam receber os dois tipos de sacrifício. /29/.

17. As cidades gregas nunca tiveram um calendário uniforme. Tentativa de corrigir a defasagem entre os meses, que são lunares, e o ano, que é solar (v. [Mês], [Ano], [Lua], [Sol]). Normalmente todas cidades tinham uma festa, Antestérias, para assinar o renascimento da vida e da [Vegetação]: inauguração do ano natural (fevereiro/março(. O rei preside essa festa, que é ligada a [Dioniso] /30/. A festa dura 3 dias,o 1º é da abertura dos jarros, o 2º de beber o vinho e concurso de bebê-lo; também havia a procissão; o 3º dia era de luto. Nesse dia ferviam-se grãos para servir aos mortos, que só nesse dia tinham licença de andar por toda parte, e eram expulsos ao final. /31/

18. A procissão era o ponto mais importante: análoga a [Casamento] conduzia o rei e uma mulher, que faz o papel de rainha na festa, até a 'casa do vaqueiro', onde, identificados ele como o deus-[Touro] e ela como deusa, faziam uma [Hierogamia], para assegurar a feretilidade da terra por um ano /32/.

19. Há muitos ritos nos quais um personagem desempenha o papel de um deus, e não só representa, mas é, na cerimônia, o próprio deus. Por isso muitas festas deram origem a representações dramáticas. /33.

20. As festas compõem-se de sacrifícios, cânticos, música, e danças. /33

21. Diz um mito que [Teseu], para comemorar a morte do [Minotauro], instituiu uma festa contendo uma dança que imitaria/reproduziria os circuitos (periodoi) e saídas (diexodoi) do [Labirinto], segundo um movimento (rythmos) com aternâncias (parallaxeis) e desdobramentos (anélixeis). Talvez tenha ocorrido o contrário: o mito do labirinto foi inventado para explicar a [Dança], que teria significado lustral e servia para purificar um local de culto. Homero também descreve uma dança representada no escudo de [Aquiles] /34-5/.

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Resumindo, a religião grega Pública era basicamente MACUMBA. Ritos públicos praticados por todos do povo pra atrair prosperidade, colheitas, chuvas, boa sorte e afastar doenças, morte, guerra e azar. Essas práticas são parecidas com xamanismo, pajelança, macumbas, candomblé, bruxaria, xintoismo, praticamente todas as religiões politeístas existentes tem semelhanças umas com as outras.

E não há problema nenhum nisso! Hoje eu vejo que pensei errado, muito errado!

Influenciado pelo cristianismo, monoteísmo, dualismo e etc, achava a religiosidade popular muito inferior. Hoje é o contrário e a academia me ajudou a me despir dos preconceitos arraigados dentro de mim, bem como do fascismo latente em todas as culturas monoteístas.

Fui da classe baixa para a classe média e passei a nutrir um desprezo pela religiosidade popular baseado na doutrinação religiosa e lavagem cerebral que recebi dos meus familiares. Acreditava nessa bobagem de "negar o eu", viver para o "espírito", não viver sob a "carne" e essas demências criadas por psicopatas para abusar de pobres, burros e fracos. Chegava a ter vergonha de mim mesmo, da minha natureza humana, até mesmo do meu corpo!

Tudo errado. Quem disse que não somos nosso corpo? O Orfismo, Platão, Agostinho, a Igreja Católica e o Cristianismo Ocidental em geral. Essas cinco grandes bostas podres que a humanidade cagou exalaram um fedor de esgoto horrível que destroi vidas até hoje. A ciência está aí para provar: consciência é matéria. Nós somos átomos, cadeias de carbono, a matéria que chegou a tal ponto de evolução que passou a se conhecer. Não existe alma, isso é mitologia ruim!

Negar o corpo é negar a si mesmo. Eu sou meu corpo, eu sou poeira das estrelas, eu sou o Universo. Eu não vim de outro mundo. Eu não estou aqui... EU SOU AQUI, EU SOU O MUNDO! Negar a carne é negar a vida, negar o existir, negar o amor.

Quando eu era pré-adolescente e ainda estava na igreja, eu acreditava em magia. Juntava com um coleguinha e escreviamos livros de feitiços e "simpatias". Faziamos rituais com ingredientes para conseguir coisas. Até criamos um grupo de magia. Depois, conheci a Wicca e ia nos bosques e matas com o pessoal do coven e queria ser bruxo, e estava na Igreja Evangélica! Conheci pessoas que tinham seus santos de devoção em casa enquanto iam a cultos até hoje, e gente que vai no candomblé e na igreja... São muitos assim, e isso tem uma explicação:

O POVO É POLITEÍSTA, É PAGÃO, É MACUMBEIRO.



Eu estava no Santuário São Judas Tadeu no bairro da Graça em Belo Horizonte com um colega, quando escutamos dois fiéis conversando. Um homem falava que precisava muito de uma graça e uma senhora passando ouviu e disse a ele: "Meu filho, tem que pedir é pra Nossa Senhora! Tem milagre que Jesus não resolve não, só Nossa Senhora que resolve". Eu adorei. Meu colega não gostou.

Na mente do povo, os santos, os anjos, as pessoas da santissima trindade, são todos deuses, divindades, entidades poderosas. No mundo do antigo testamento chamaríamos todos eles de Elohim. Não tem negócio de deus único não! O povo é pagão, é politeísta, sempre foi e sempre vai ser! A Elite é que adora um Monoteísmo pra concentrar o culto e controlar os pobres. A elite usa a religião contra o pobre sempre em qualquer sociedade.

Politeísmo é a forma mais tradicional e "natural" de religiosidade que existe. Cada divindade serve pra alguma coisa. Quem quer saber de "transcendência", "espiritualidade", "meditação", "alma", "vida espiritual", "evolução espiritual" é a porca e imunda classe média alta, que delira sobre o mundo pra ocupar sua vida porca cheia de vazios e tédios. Pobre quer prosperidade! Trabalhador quer comida na mesa! Proletário quer emprego melhor e salário alto! O povo quer carro, casa, apartamento e geladeira cheia! Foda-se a bosta da espiritualidade, isso é criação da classe alta pra manter o pobre no seu lugar, calado e sem fazer Revolução Social pelos seus direitos.

A Luta de classes é muito clara entre os Monoteístas e seu fascismo e os Politeístas e sua religiosidade popular, "natural" e tradicional. A verdadeira TRADIÇÃO é a macumba, a feitiçaria e a bruxaria, essa é a única e verdadeira TRADIÇÃO, viu guenonianos, perenialistas, schuonistas e outros imbecis homens brancos que deliram serem de castas espirituais superiores quando na verdade são uns velhos podres de classe MÉRDIA que ignoram os pobres sendo explorados, roubados e oprimidos diariamente na rua em que moram! Adoro esses maçons que os próprios parentes falam que são pessoas horríveis de se conviver, avarentos, presunçosos, um horror.

Tem até uma patota muito tosca de pastores evangélicos "progressistas" que vivem atacando o povo por gostar de macumba quando inventam um Jesus mais falso e ridículo que o da bíblia e dizem que esse ridículo mito pós-moderno, descolado e "cool" pra galera "curtir" é chave hermenêutica de texto bíblico hahahahaha mas tem que fumar quilos da pior maconha que comprarem ali no boca pra soltar isso. Toda hora ta aparecendo videos desse povo pra mim, um inventando um Jesus mais aberrativo que o outro...

A feitiçaria, a magia, a pajelança, a astrologia, a macumba, a bruxaria é a forma mais tradicional e popular de religião. É politeísta, aceita todos os deuses, é popular, proletária, chão de fábrica, materialista, real, histórica! Esse Jesus artificial e montado pra agradar jovens urbanos monoteístas em busca de uma espiritualidade que aceite suas tatuagens e piercings é a coisa mais ridícula que eu já vi. Se enxerguem, pastores progressistas, vocês são Malafaias que não deram certo.

Minha amiga que mora no Aglomerado da Serra e vende droga para um colega meu tem mais valores e honra que todos esses mestres, líderes e professores espirituais aí na tv, internet, igrejas e tudo mais. E detalhe que o dono do morro é policial e todos já sabem que os filhos dela não entram pra empresa. Se colocar o filho dela mais velho pra fazer comércio a bala vai cantar. Sei disso e muito mais, eu parei o carro na boca um dia com ela e participei do comércio, até ganhei por isso. Esse é o mundo real, não o desses pastores progressistas monoteístas com seus "evangelhos puros" de bosta.

Todo Monoteísta é FASCISTA porque ele quer impor DOGMAS, impor um sacerdócio hierarquizado que monopoliza não só os ritos mas as crenças mais íntimas dos indivíduos. O que os cristãos chamam de "anticristo" e "besta do apocalipse", "governante mundial" e outros mitos de ficção científica e de futuro distópico representa eles mesmos, o desejo deles, o sonho deles, que é o controle MORAL dos corpos e consciências de todos e imposição do pensamento único, ideia única, governo único, sacerdócio único, cultura única. Eles estão pregando isso AGORA nas seitas mais abjetas e doentias por aí! ISSO É POLÍTICA, CONTROLE POPULACIONAL! P-O-L-Í-T-I-C-A !!!!

Governo não tem que cuidar de moral!

Governo não tem que cuidar de costumes!

Governo tem que cuidar somente da Economia, da Segurança, da Saúde, da Educação E SÓ!

Na Grécia um dos motivos que fez surgir a Filosofia foi o tipo de religião da população. Por quê? POR QUE ERA MACUMBA PURA. Não havia sacerdotes hierarquizados como classe social detentores de dogmas e doutrinas oficiais obrigatórias. O que era oficial era só o rito pra ter chuva, colheita e comida. As lendas e feitos dos deuses e heróis eram passados, criados e inventados com ampla liberdade por todos. É o contrário do que dizem na Universidade ainda hoje, que os gregos acreditavam na alma, na transcendência e por isso a filosofia surgiu lá porque o espirito deles estava inclinado para a espiritualidade elevada e transcendente e blablablabla....


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A religião grega dividia-se em pública e dos mistérios. A pública era hierofânica (via em qualquer evento a manifestação do divino), naturalista (sem lugar para a santidade ou ascese, não queriam elevar o homem acima dele mesmo; tudo o que é natural para o homem vale como legítimo para a divindade; o homem mais divino é o que cultiva ao máximo suas forças humanas; o dever religioso consiste em fazer, em honra da divindade, o que é conforme a natureza humana), tinha concepção unitária de alma e corpo.

Religião dos mistérios (também chamada Orfismo) tinha concepção dualista de alma e corpo. Pontos importantes: a) no homem reside um princípio divino (daimonion), unido ao corpo por causa de uma culpa original; b) esse princípio é imortal, deve passar por série de reencarnações até expiar sua culpa; c) a vida órfica com práticas purificadoras ([Ascese]) pode por fim ao ciclo das reencarnações, levando à felicidade perfeita pós-vida.

https://www.albertosantos.org/Religi%C3%A3o%20grega%20p%C3%BAblica%20e%20dos%20mist%C3%A9rios.html

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Pequena correção do texto acima: não é concepção unitária de alma e corpo. NÃO TEM ALMA!!! Só corpo!

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A religião pública e os mistérios órficos

O segundo componente ao qual se precisa fazer referência para compreender a gênese da filosofia grega, como já dissemos, é a religião. Mas, quando se fala de religião grega, é necessário distinguir entre a religião pública, que tem o seu modelo na representação dos deuses e do culto que nos foi dada por Homero, e a religião dos mistérios. Há inúmeros elementos comuns entre essas duas formas de religiosidade (como, por exemplo, a concepção de base politeísta), mas também importantes diferenças que, em alguns pontos de destaque (como, por exemplo, na concepção do homem, do sentido de sua vida e do seu destino último), tomam- se até verdadeiras antíteses.

Ambas as formas de religião são muito importantes para explicar o nascimento da filosofia, mas a segunda forma o é mais, pelo menos em alguns aspectos.

Comecemos por ilustrar alguns traços essenciais da primei­ra. Para Homero e para Hesíodo, que constituem o ponto de referência das crenças próprias da religião pública, pode-se dizer que tudo é divino, porque tudo o que ocorre é explicado em função da intervenção dos deuses: os fenômenos naturais são promovidos por Nume; os raios e relâmpagos são arremessados por Zeus do alto do Olimpo, as ondas do mar são provocadas pelo tridente de Poseidon, o sol é levado pelo áureo carro de Apoio e assim por diante. Mas também a vida social dos homens, a sorte das cidades, das guerras e da paz são imaginadas como vinculadas aos deuses de modo não acidental e, por vezes, até mesmo de modo essencial.

Mas quem são esses deuses? Como os estudiosos de há muito reconheceram e evidenciaram, esses deuses são forças naturais personificadas em formas humanas idealizadas ou então são forças e aspectos do homem sublimados, hipostatizados e aprofundados em esplêndidas semelhanças antropomórficas. (Além dos exem­plos já apresentados, recordamos que Zeus é a personificação da justiça, Atena da inteligência, Afrodite, do amor e assim por diante.) Esses deuses, portanto, são homens amplificados e idealizados, sendo assim diferentes só por quantidade e não por qualidade. É por isso que os estudiosos classificam a religião pública dos gregos como uma forma de “naturalismo”. Assim, o que ela pede ao homem não é — e não pode ser — que ele mude a sua natureza, ou seja, se eleve acima de si mesmo, mas, ao contrário, que ele siga a sua própria natureza. Fazer em honra dos deuses aquilo que está em conformidade com sua própria natureza é tudo o que pede do homem. E, da mesma forma que a religião pública grega foi “naturalista”, também a primeira filosofia grega foi “naturalista”. E mais: a referência à “natureza” continuou sendo uma constante do pensamento grego ao longo de todo o seu desenvolvimento histórico.

Mas nem todos os gregos consideravam suficiente a religião pública. Por isso, em círculos restritos, desenvolveram-se os “mistérios”, tendo suas próprias crenças específicas (embora inseridas no quadro geral do politeísmo) e suas próprias práticas. Entre os mistérios, porém, os que mais influíram na filosofia grega foram os mistérios órficos, dos quais falaremos adiante. O orfismo e os órficos derivam seu nome do poeta trácio Orfeu, seu fundador presumido, cujos traços históricos são inteiramente recobertos pela névoa do mito. O orfismo é particularmente importante porque, como os estudiosos modernos reconheceram, introduz na civilização grega um novo esquema de crenças e uma nova inter­pretação da existência humana. Efetivamente, enquanto a concep­ção grega tradicional, a partir de Homero, considerava o homem como mortal, colocando na morte o fim total de sua existência, o orfismo proclama a imortalidade da alma e concebe o homem segundo um esquema dualista que contrapõe o corpo à alma.

O núcleo das crenças órficas pode ser resumido como segue:

a) No homem se hospeda em princípio divino, um demônio (alma) que caiu em um corpo em virtude de uma culpa original.

b) Esse demônio não apenas preexiste ao corpo, mas também não morre com o corpo, estando destinado a reencarnar-se em corpos sucessivos, através de uma série de renascimentos, para expiar aquela culpa original.

c) Com seus ritos e suas práticas, a “vida órfica” é a única em condições de pôr fim ao ciclo das reencarnações, libertando assim a alma do corpo.

d) Para quem se purificou (os iniciados nos mistérios órficos) há um prêmio no além (da mesma forma que há punição para os não iniciados).

Em algumas tabuinhas órficas encontradas nos sepulcros de seguidores dessa seita, entre outras, podem-se ler estas pa­lavras, que resumem o núcleo central da doutrina: “Alegra-te, tu que sofreste a paixão: antes, não a havias sofrido. De homem, nasceste Deus!”; “Feliz e bem-aventurado, serás Deus ao invés de mortal!”; “De homem, nascerás Deus, pois derivas do divino!” O que significa que o destino último do homem é o de “voltar a estar junto aos deuses”.

A ideia dos prêmios e castigos de além-túmulo, evidente­mente, nasceu para eliminar o absurdo que frequentemente se constata sobre a terra, isto é, o fato de que os virtuosos sofrem e os viciosos gozam. A ideia da reencarnação (metempsicose), ou seja, da passagem da alma de um corpo para outro, como nota E. Dodds, talvez tenha nascido para explicar particularmente a razão pela qual sofrem aqueles que parecem inocentes. Na realidade, se cada alma tem uma vida anterior e se há uma culpa original, então ninguém é inocente e todos pagam por culpas de gravidades diversas, cometidas nas vidas anteriores, além da própria culpa  original:

“E toda essa soma de sofrimentos, neste mundo e no outro, é só uma parte da longa educação da alma, que encontrará o seu termo último em sua libertação do ciclo dos nascimentos e em seu retomo às origens. Somente desse modo e sob o metro do tempo cósmico é que se pode realizar completamente para cada alma a justiça entendida no sentido arcaico, isto é, segundo a lei de que quem pecou, tem de pagar” (E. Dodds).

Com esse novo esquema de crenças, o homem via pela primeira vez contraporem-se em si dois princípios em contraste e luta: a alma (demônio) e o corpo (como tumba ou lugar de expiação da alma). Rompe-se assim a visão naturalista: o homem com­preende que algumas tendências ligadas ao corpo devem ser reprimidas, ao passo que a purificação do elemento divino em relação ao elemento corpóreo toma-se o objetivo do viver.

Uma coisa deve-se ter presente: sem orfismo não se expli­caria Pitágoras, nem Heráclito, nem Empédocles e, sobretudo, não se explicaria uma parte essencial do pensamento de Platão e, depois, de toda a tradição que deriva de Platão, o que significa que não se explicaria uma grande parte da filosofia antiga, como poderemos ver melhor mais adiante.

Uma última observação ainda se faz necessária. Os gregos não tiveram livros sacros ou considerados fruto de revelação divina. Consequentemente, não tiveram uma dogmática fixa e imutável. Como vimos, os poetas constituíram o veículo de difusão de suas crenças religiosas. Além disso (e esta é uma outra consequência da falta de livros sagrados e de uma dogmática fixa), na Grécia também não pôde subsistir uma casta sacerdotal custódia do dogma (os sacerdotes tiveram escassa relevância e escassíssimo poder na Grécia, porque, além de não possuírem a prerrogativa de conservar dogmas, também não tiveram a exclusividade das ofe­rendas religiosas e de oficiar os sacrifícios).

Essa inexistência de dogmas e de custódios dos dogmas deixou uma ampla liberdade para o pensamento filosófico, que não encontrou obstáculos do tipo daqueles que teria encontrado em países orientais, onde a existência de dogmas e de custódios dos dogmas iriam contrapor resistências e restrições dificilmente superáveis. Por isso, com razão, os estudiosos destacam essa circunstância favorável ao nascimento da filosofia que se verificou entre os gregos, a qual não tem paralelos na Antiguidade.

http://filosofia-bis.blogspot.com/2012/02/religiao-publica-e-os-misterios-orficos.html