segunda-feira, 15 de maio de 2023

COSMOGONIA E ESCATOLOGIA - Como o Zoroastrismo modelou a religião antiga e mudou tudo

 Mais um excelente vídeo do Necromante. Recomendo assistir tudo e depois ler aqui meus comentários.




Antes de Zoroastro remodelar a visão religiosa, os povos do Oriente Médio e Europa Oriental criam, cada qual a seu modo, em uma forma de religião que se baseia na crença do conflito entre as forças da Ordem e do Caos.

As mitologias principais de Grécia, Egito, Babilonia, Canaã, Índia, Roma e etc todas eram a estruturação e justificativa do Estado Político por meio da Mitologia.

Caos e Ordem representam o estado da civilização. Em meio ao caos social, vem um Poder e estabelece a Ordem, limitando e impedindo o Caos de invadir o Mundo Ordenado: Zeus e os Titâs, Marduk e Tiamat, Rá e Apep e etc. Ordem e Caos. Os deuses da Ordem criam e estabelecem o Estado, a Nação. Nenhuma mitologia dessas está preocupada com a criação do Mundo, Universo, Cosmo, nada do tipo. Cosmo na mitologia grega é tão e somente a Grécia.

Mas então Zoroastro faz algo diferente. Ele abole a  antiga mitologia e religião dos povos persas-iranianos, parecidíssima com a religião da Índia, tendo inclusive os mesmos deuses e rituais, e estabelece que a luta cosmogônica não se dá entre as forças da Ordem e do Caos mas sim do Bem e do Mal. ISSO MUDA TUDO!

O capítulo 3 do Bundahishn mostra como a guerra entre o Bem e o Mal é trabalhada pela religião, causando o surgimento do Mal, de criaturas violentas, venenosas e mortíferas no mundo, como animais selvagens e plantas venenosas:

CAPÍTULO 3.

1. Na investida do destruidor contra as criaturas, é dito, em revelação, que o espírito maligno, quando viu a impotência de si mesmo e dos demônios confederados (ham-dast), devido ao homem justo, ficou confuso e parecia em confusão três mil anos. 2. Durante aquela confusão, os arqui-inimigos dos demônios gritaram assim: 'Levante-se, pai de nós! pois causaremos um conflito no mundo, cuja aflição e dano se tornarão os de Ohrmazd e os arcanjos.'

3. Várias vezes eles relataram duas vezes suas próprias más ações, e isso não o agradou; e aquele espírito maligno perverso, por medo do homem justo, não foi capaz de erguer sua cabeça até que o perverso Jeh veio, na conclusão dos três mil anos. 4. E ela gritou para o espírito maligno assim: 'Levante-se, pai de nós! pois eu causarei aquele conflito no mundo do qual surgirão a aflição e a injúria de Ohrmazd e dos arcanjos,' 5. E ela relatou várias vezes suas próprias más ações, e isso não o agradou; e aquele espírito maligno perverso não surgiu daquela confusão, por medo do homem justo.

6. E, novamente, o ímpio Jeh gritou assim: 'Levante-se, pai de nós! pois nesse conflito derramarei tanto aborrecimento sobre o homem justo e o boi trabalhador que, por meio de minhas ações, a vida não será desejada e destruirei suas almas viventes (nismo); Eu vou irritar a água, eu vou irritar as plantas, eu vou irritar o fogo de Ohrmazd, eu farei toda a criação de Ohrmazd irritada.' 7. E ela contou aquelas más ações uma segunda vez, que o espírito maligno ficou encantado e se sobressaltou daquela confusão; e ele beijou Jeh na cabeça, e a poluição que eles chamam de menstruação tornou-se aparente em Jeh.

8. Ele gritou para Jeh assim: 'Qual é o teu desejo? para que eu possa dá-lo a ti.' E Jeh gritou para o espírito maligno assim: 'Um homem é o desejo, então dê para mim.'

9. A forma do espírito maligno era o corpo de um lagarto (vazak) semelhante a um tronco, e ele apareceu a Jeh como um jovem de quinze anos, e isso trouxe os pensamentos de Jeh para ele.

10. Depois, o espírito maligno, com os demônios confederados, foi em direção aos luminares e viu o céu; e ele os conduziu para cima, cheio de intenções maliciosas. 11. Ele ficou sobre um terço do interior do céu e saltou, como uma cobra, do céu para a terra.

12. No mês de Frawardin e no dia de Ohrmazd ele avançou ao meio-dia, e assim o céu foi tão destruído e assustado por ele, como uma ovelha por um lobo. 13. Ele veio para a água que estava disposta abaixo da terra, e então o meio desta terra foi perfurado e penetrado por ele. 14. Depois, ele veio para a vegetação, depois para o boi, depois para Gayomard, e então ele veio para o fogo; então, assim como uma mosca, ele correu sobre toda a criação; e ele fez o mundo tão ferido e escuro ao meio-dia como se fosse na noite escura. 15. E criaturas nocivas foram difundidas por ele sobre a terra, mordendo e venenosas, como a cobra, escorpião, sapo (kalvak) e lagarto (vazak), de modo que nem mesmo a ponta de uma agulha permaneceu livre de nocivas criaturas. 16. E a praga foi difundida por ele sobre a vegetação, e ela secou imediatamente.

http://www.avesta.org/mp/bundahis.html#chapter5



Porque Zoroastro fez isso com a religião?

Ora, sua intenção interior não sabemos mas suas intenções exteriores sabemos muito bem. O Zoroastrismo refundou a noção antiga de Império. Enquanto Império como Egípcio, Babilônico e outros capturavam as outras nações e levavam seus deuses cativos (roubavam as imagens dos Deuses), simbolizando  a vitória de um Deus sobre o outro (a vitória política do Estado), não acabando com o culto nativo mas apenas humilhando o Deus principal (a população continuava adorando seus deuses tranquilamente), Zoroastro propõe uma reformulação nos dogmas e tradições das religiões e essa reformulação é MORALISTA.

ZOROASTRISMO é uma relligião MORALISTA, DUALISTA ÉTICA. Segundo os proprios Gathas supostamente escritos por Zoroastro, ele pregou a sacerdotes e depois à Monarquia, ao Rei e à Rainha de seu país. Zoroastro não quis pregar à população. O zoroastrismo nunca foi uma religião de origem popular, da massa. É um movimento religioso revolucionário moralista feito por membros da classe dominante Persa antes do estabelecimento do Império, cuja consequência foi o estabelecimento do maior Império da História até então na região que substituiu o domínio Assírio: o Império Medo.

Os povos Medos, habitantes da Média, eram povos iranianos originados da invasão de indo-iranianos no Planalto Iraniano no século 20 a.C. Esses povos nunca haviam constituído um Império mas pequenos reinos independentes. O Zoroastrismo causa a unificação desses povos sob um único Centro Político e uma Única Religião. Os últimos reis medos, substituídos pelo Imperador Medo-Persa, o Xá, entre eles o mais famoso é Ciro, foram os responsáveis por levar a reforma de Zoroastro para todo o Irã.


Antes da invasão Indo-europeia, onde hoje é o Irã existiram numerosas civilizações que desapareceram, como os Elamitas que não eram nem semitas nem indo-europeus. Essas civilizações eram pequenos reinos. O Império Medo-Persa e o Zoroastrismo aniquilaram culturalmente todos os antigos resquícios dessas civilizações.

O Zoroastrismo é, muito claramente, uma Ideologia Política criada com o objetivo de se espalhar por todos os territórios Iranianos e fundir todos esses povos em um único governo. Isto quebra totalmente com a visão das antigas religiões politeístas, cujas mitologias não justificavam a expansão de um Império mas a existência da Cidade-Estado, posteriormente expandida para o Reino mas só até aí. Zoroastro parece querer expandir mais, visto que não tolera as outras religiões mas infecta elas com o Dualismo Ético (moralismo sócio-político) a fim de assimilá-las a seu projeto de poder mundial.

As mitologias antigas de Ordem e Caos querem apenas assegurar a sobrevivência do Estado, da Cidade. Bem e Mal existe, óbvio, mas isso não é assunto dos Deuses, é assunto dos homens. Os Deuses servem somente para garantir a Ordem e impedir o Caos. É cíclico: a cidade passa por turbulencias, ameaças, guerras, catástrofes e etc mas a Ordem sempre é estabelecida pelo Deus.

Mas a mitologia Zoroastriana relega Ordem e Caos a segundo plano e coloca em primeiro o Bem e o Mal: temos que fazer o Bem ser vitorioso, pegar em armas e lutar contra o Mal. Só existe um Deus e Um Bem, os outros são falsos e devem ser obliterados.

O efeito disso foi devastador. A elite exilada de Judá vai colocar no Gênesis o Império Persa e o Zoroastrismo como "Luz".

Genesis 1,3: "E disse Elohim: apareça/esteja a Luz. E a Luz aí apareceu/esteve."

Antes disso, a Ordem e o Caos estavam em conflito, quando a Luz aparece chamada por Elohim. O que é isso?

Ora, os sacerdotes de Judá estão claramente PUXANDO SACO DO IMPÉRIO PERSA, pois em nenhum mito semita, egípcio ou grego o Deus Criador é "Luz". Essa Luz que aparece em Genesis 1,3 são os persas, Zoroastro, Zoroastrismo. Os sacerdotes estão assimilando junto ao mito babilônico o mito Zoroastriano, Ahura Mazda é Deus do Bem e da Luz e afasta as Trevas, o Caos. Quem derrotou a Babilônia e libertou os Judeus? Os persas. É uma batalha de Deuses, onde o deus Persa está derrotando os deuses babilônicos e criando Jerusalém, ou melhor, libertando Jerusalém.

Ciro foi o libertador dos Judeus e o grande destruidor do Império Neobabilônico. Em Isaías ele é chamado de MESSIAS DE YAHWEH. É bastante provável que Genesis 1,3 é uma puxação de saco de CIRO, não apenas do Império Persa e do Zoroastrismo.  A Elite Judaíta sabe quem manda no mundo agora e que é melhor ficar do lado do novo dono do mundo do que contra ele!

É a Luz que acaba com a Tempestade, a Treva, o Vento... A CRIAÇÃO SÓ É POSSÍVEL COM ESSA ESTRANHA LUZ QUE APARECE DO NADA.

O livro de Ester é mais chocante ainda no Puxa-saquismo Persa. Esse livro praticamente exalta os persas como um povo superior a todos os outros povos e o Zoroastrismo como a melhor religião, além de debochar dos deuses babilônicos. Numa futura postagem vamos analisar a ideologia por trás de Ester.

Então, assim o Zoroastrismo PERVERTEU E DETURPOU toda a religião antiga, amaldiçoando os povos e seus deuses como "trevas", "ignorância" e o Monoteísmo como Luz e Salvação. Nada mais ridículo, porque o interesse político é óbvio. Ciro não está nem aí para questões éticas. Ele quer PODER, DINHEIRO, TERRAS, RIQUEZA. Ele não quer dividir o poder dele com ninguém, ele é O IMPERADOR!

Ora, como você justifica para o povo e a elite que só você deve mandar em tudo? Não seria perfeito que houvesse SOMENTE UM DEUS ao invés de vários?

Ora, não foi isso que Akhenaton fez no Egito? Expandiu seu poder, diminuindo o poder as aristocracias e sacerdotes dos vários deuses, dizendo que só havia UM DEUS? Ele próprio se nomeou o sumo-sacerdote de Aten, rebaixando e acabando com o poder dos demais sacerdotes!

Numa mitologia de Ordem e Caos, há vários deuses da Ordem lutando contra vários deuses do Caos.

Mas na Mitologia Dualista Moral, não pode haver vários deuses pois o Bem é somente Um e o Mal é somente um. O Bem é Deus e o Mal é Deus. Mas o Bem é mais poderoso, porque vai vencer e o Mal é menos poderoso porque vai perder.

Se queremos um Império Unificado, com todos obedecendo a Um Poder e praticando Uma Religião, é óbvio que é ideal que haja UM SÓ DEUS.

Conclusão: o Monoteísmo é uma criação POLÍTICA de membros das classes dominantes da antiguidade para expandir O IMPÉRIO sobre todas as nações e conquistar todo o mundo conhecido, DERRUBANDO PEQUENOS POVOS E SUAS CLASSES DOMINANTES, SACERDOTES, OLIGARQUIAS, ARISTOCRACIAS E ETC. Não tem nada de espiritual nisso, é uma doutrina política que poderíamos até mesmo chamar de uma forma paralela e antiga de FASCISMO.

O Zoroastrismo ou Monoteísmo é uma lavagem cerebral em massa visando criar uma ordem mundial totalitária e absoluta.

Sobre Genesis 1,3 e adiante, recomendo os videos:



domingo, 7 de maio de 2023

O Velho Testamento foi criado pela elite exilada de Judá. E o Novo Testamento?

 

 No outro blog vimos que a Torá é uma criação da elite de Judá exilada convertida a uma forma de Zoroastrismo artificial criada por eles mesmos para obterem o apoio e financiamento do Império Persa e dominarem as regiões que compreendiam aos territórios dos reinos antigos de Judá e de Israel. Eles sincretizaram várias mitologias, especialmente babilônica e cananeu-fenícia, para justificar seu poder e se tornaram os Sacerdotes do Templo de Jerusalém, exigindo ofertas e dízimos e adoração exclusiva nesse novo Templo, um governo teocrático fundamentalista e totalitário. Hoje, diríamos que isso era parecido com o governo da Arábia Saudita atual, só que pior ainda.

https://gnosedesi.blogspot.com/2022/07/o-antigo-testamento-quem-escreveu-parte.html

https://gnosedesi.blogspot.com/2022/07/o-antigo-testamento-parte-2-o.html


Mas e o Novo Testamento?

Recomendo fortemente os seguintes vídeos de André Chevitarese, historiador especialista em Novo Testamento e Paleocristianismo. Referência na Academia. Se o Dr Osvaldo Luis Ribeiro é referência sobre Antigo Testamento, André Chevitarese é referência sobre o Novo Testamento e Jesus.









PONTOS IMPORTANTES:

- O NOVO TESTAMENTO É UMA CONSTRUÇÃO DO SÉCULO 4, FEITA A PARTIR DA SELEÇÃO DE TEXTOS QUE JUSTIFIQUEM A AUTORIDADE DO SACERDOTE. TRATA-SE DE BISPOS SELECIONANDO TEXTOS QUE EXPLIQUEM E JUSTIFIQUEM PORQUE OS BISPOS DA IGREJA CATÓLICA DEVEM MANDAR EM TODOS OS CRISTÃOS, DOS ESCRAVOS AOS POBRES, E ATÉ NO IMPERADOR. OBVIAMENTE O NOVO TESTAMENTO É UMA CONSTRUÇÃO IDEOLÓGICA E SÓ FORAM ACEITOS TEXTOS QUE AJUDASSEM E NÃO ATRAPALHASSEM A ESTRUTURAÇÃO DO PODER HIERÁRQUICO DOS BISPOS, BEM COMO DA JUSTIFICATIVA DE SEU DOMÍNIO POLÍTICO-ECONÔMICO: É UM TEXTO ROMANO E IMPERIAL.

- JESUS EXISTIU, MAS ELE NÃO É NADA DO QUE A BÍBLIA DIZ. O JESUS HISTÓRICO É COMPLETAMENTE DIFERENTE DO PERSONAGEM MITOLÓGICO JESUS, QUE DE UM REVOLUCIONÁRIO SOCIAL MÍSTICO FOI TRANSFORMADO EM UM SACERDOTE DE UM CULTO HIERARQUIZADO ROMANO, ARQUÉTIPO DOS BISPOS DA IGREJA CATÓLICA.

- O EVANGELHO Q OU "FONTE Q" É UM CONJUNTO DE SENTENÇAS OU DITOS DE JESUS E É O MATERIAL MAIS ANTIGO SOBRE JESUS JÁ ESCRITO. É COESO E APRESENTA UM CONTEXTO BEM CLARO: AMBIENTE RURAL, PARÁBOLAS MÍSTICAS QUE PRECISAM SER INTERPRETADAS, UM SÁBIO ANDARILHO PREGANDO PARA GENTE SIMPLES, PROCLAMAÇÃO DE UM REINO DE DEUS SÓCIO-POLÍTICO GOVERNANDO POR TODOS E RESTAURADOR DA VERDADEIRA RELIGIÃO QUE TINHA SIDO CORROMPIDA POR MAUS SACERDOTES E POLÍTICOS.

- JESUS HISTÓRICO FALAVA ARAMAICO E ERA ANALFABETO. ERA UM CAMPONÊS, DISCÍPULO DE JOÃO BATISTA. ELE APRENDEU COM JOÃO BATISTA E COM ESSÊNIOS DOUTRINAS MÍSTICAS E ESPIRITUAIS QUE SE OPUNHAM À HIERARQUIA DO TEMPLO DE JERUSALÉM E PROCLAMAVA UMA PURIFICAÇÃO DO JUDAÍSMO, NUM SENTIDO MÍSTICO E ESOTÉRICO MAS, AO MESMO TEMPO, SOCIAL E POLÍTICO.

- JESUS FOI UM MILITANTE POLÍTICO: DENUNCIOU A CORRUPÇÃO DOS SACERDOTES E O IMPERIALISMO ROMANO. ELE NÃO CONCORDAVA COM A DOMINAÇÃO ROMANA E QUERIA A INDEPENDÊNCIA POLÍTICA DA JUDÉIA. ELE DENUNCIOU O CONLUIO CORRUPTO ENTRE OS SACERDOTES DE JERUSALÉM E O IMPÉRIO ROMANO, QUE OPRIMIA O POVO POBRE E CAMPONÊS COM ALTOS IMPOSTOS E DÍZIMOS.

- JESUS NÃO ERA SOCIALISTA: SUA "TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO" ERA MUITO MAIS UMA INDEPENDÊNCIA POLÍTICA DE UMA PROVÍNCIA DO QUE O DESEJO DE IMPLANTAÇÃO DE UM ESTADO SOCIALISTA. ALÉM DISSO, QUERIA RETIRAR O POVO DO DOMÍNIO DOS SACERDOTES: JESUS ERA UM ANARQUISTA ESPIRITUAL, NÃO ACEITANDO QUALQUER TIPO DE HIERARQUIA POLÍTICA E RELIGIOSA.

- O TRECHO QUE JESUS ESCREVE NA AREIA E IMPEDE A MULHER APANHADA EM ADULTÉRIO DE SER APEDREJADA (A FAMOSA PERÍCOPE DA ADÚLTERA, JOÃO 7:53 A 8:11) É UMA FALSIFICAÇÃO INVENTADA POSTERIORMENTE E ANEXADA AO EVANGELHO DE JOÃO NO SÉCULO 5.

- O ESCRITOR DE MARCOS PEGOU O EVANGELHO "Q", MUDOU A ORDEM DAS SENTENÇAS E ANEXOU A ELE OUTRAS TRADIÇÕES, INVENTANDO SEU EVANGELHO. O ESCRITOR DE MARCOS MUITO PROVAVELMENTE É UM GRUPO DE PESSOAS RICAS E ALFABETIZADAS DA ELITE JUDAICA HELENIZADA DO EGITO. NÃO É UM ESCRITOR INDIVIDUAL MAS UM GRUPO GRANDE DE PESSOAS.

- O ESCRITOR DE MATEUS PEGOU O EVANGELHO DE MARCOS E ANEXOU A ELE OUTRAS TRADIÇÕES (TEXTOS COMO "OS MILAGRES DE JESUS" E INVENÇÕES DO PRÓPRIO ESCRITOR), INVENTANDO SEU EVANGELHO.

- O ESCRITOR DE LUCAS PEGOU O EVANGELHO "Q" E, SEM MUDAR A ORDEM DAS SENTENÇAS, ANEXOU OUTROS TEXTOS ANÔNIMOS E INDEPENDENTES AO MATERIAL DE Q! NESSE PONTO, LUCAS É MAIS FIEL AO EVANGELHO Q DO QUE MARCOS.

- QUANDO JESUS ESTAVA VIVO, ELE PREGAVA EM ARAMAICO. QUANDO ELE MORREU, SUA FAMA SE ESPALHOU PARA DIFERENTES GRUPOS JUDAICOS. OS JUDEUS HELENIZADOS (FALANTES DE GREGO) PASSAM A INTERPRETAR JESUS A PARTIR DE CATEGORIAS GREGAS DE PENSAMENTO, DAÍ QUE A IDEIA DE JESUS SER UM DEUS NA TERRA SURGE E SE ESPALHA TOMANDO PROPORÇÕES GLOBAIS. MAS, ORIGINALMENTE, NEM JESUS SE CONSIDERAVA DEUS NEM SEUS PRIMEIROS DISCÍPULOS O CONSIDERAVAM ASSIM. FORAM OS JUDEUS HELENIZADOS, GREGOS, QUE TAXARAM JESUS DE DIVINDADE. OS DISCÍPULOS ORIGINAIS ARAMAICOS DE JESUS O VIAM COMO SUCESSOR DE JOÃO BATISTA: UM PROFETA-MAGO COM PODERES DE CURA NÃO SÓ DA "ALMA" MAS DO CORPO FÍSICO. JESUS NUNCA CHEGOU PERTO DE SER DIVINDADE PELOS SEUS DISCÍPULOS.

- A IDEIA DE JESUS COMO UM MAGO ALCANÇA PROPORÇÕES GLOBAIS AO SE ESPALHAR PELO IMPÉRIO ROMANO. OS DISCÍPULOS GREGOS DE JESUS IDENTIFICAM JESUS COMO UM MAGO MAIS PODEROSO DO QUE ASCLÉPIOS. INSCRIÇÕES ROMANAS E GREGAS DE JESUS ATESTAM QUE ELE ERA VISTO COMO UM MAGO PELOS PRIMEIROS CRISTÃOS DO IMPÉRIO ROMANO NÃO-JUDEUS. JESUS CADA VEZ SE ASSEMELHA MAIS A DIVINDADES DA CURA GRECO-ROMANO-ORIENTAIS, COMO ASCLÉPIOS. A IMAGEM MAIS CONHECIDA DE JESUS COMO UM HOMEM CABELUDO E BARBUDO É INFLUENCIADA PELA REPRESENTAÇÃO DE ASCLÉPIOS E SUAS IMAGENS E ESTÁTUAS.

- A EUCARISTIA (SANTA CEIA) É UMA TEOFAGIA, UM RITUAL DE CULTOS DE MISTÉRIO GRECO-ROMANOS INFLUENCIADOS POR RELIGIÕES ORIENTAIS, NOTADAMENTE O CULTO DE MITRA E O ZOROASTRISMO. A EUCARISTIA CRISTÃ É UMA ADAPTAÇÃO JUDAICO-HELENISTA DE RITOS DE CULTOS DE MISTÉRIOS. ESSAS TRADIÇÕES NÃO CONSTAM EM EVANGELHO Q, TEM ORIGEM GREGA.

- CURAS, NUMEROLOGIAS E ASTROLOGIA SÃO COMUNS NAS SEITAS JUDAICAS APOCALÍPTICAS. NOS MANUSCRITOS DE QUMRAN FORAM ENCONTRADAS TABELAS ASTROLÓGICAS, COM OS SIGNOS DO ZODÍACO. 300 ANOS ANTES DE CRISTO ESSES JUDEUS "REBELDES" JÁ PRATICAVAM UM JUDAÍSMO "APÓCRIFO" LONGE DO TEMPLO DE JERUSALÉM E INDEPENDENTE DELE. É ESSE JUDAÍSMO MÍSTICO QUE INFLUENCIA JESUS.

- O EVANGELHO DE JOÃO É EXTREMAMENTE TARDIO, POSTERIOR MESMO AO EVANGELHO DE TOMÉ (TOMÉ FOI ESCRITO NOS ANOS 50 D.C. A PARTIR DO EVANGELHO "Q"!!!!) E APRESENTA UMA TEOLOGIA GREGA SOBRE JESUS. É UM DOCUMENTO IMPORTANTE DO PONTO DE VISTA HISTÓRICO MAS, POR NÃO CONTER NADA DO EVANGELHO Q, MOSTRA QUE SEU AUTOR ESTÁ DISTANTE DEMAIS DO MOVIMENTO ORIGINAL DE JESUS. O AUTOR DE "JOÃO" NUNCA LEU O EVANGELHO "Q", É UM CRISTÃO DE UM GRUPO ANÔNIMO, EXTREMAMENTE HELENIZADO (PODERÍAMOS DIZER, "PAGANIZADO") E DESCONECTADO DE TODOS OS OUTROS GRUPOS CRISTÃOS PRIMITIVOS.

- NOS ANOS 50 D.C., TRÊS FONTES DIFERENTES ESCREVEM AS PRIMEIRAS OBRAS CRISTÃS:
1º - EVANGELHO "Q", OU FONTE Q.
2º - EVANGELHO DE TOMÉ.
3º - 7 CARTAS DE PAULO (VERDADEIRAS)

- 35% DO EVANGELHO DE TOMÉ É IGUAL A EVANGELHO "Q" E REPETIDO NAS 7 CARTAS DE PAULO. AS IDEIAS "GNÓSTICAS" EM TOMÉ, QUE NADA MAIS SÃO QUE IDEIAS CRISTÃS PRIMITIVAS MAIS PRÓXIMAS DO QUE PODERIA SER AS DOUTRINAS DE JESUS, JUNTO COM O EVANGELHO "Q", SÃO CONTADAS EM PARÁBOLAS E DITOS DE JESUS QUE TENTAM FAZER AS PESSOAS PENSAR E REFLETIR SOBRE A REALIDADE SOCIAL, POLÍTICA E RELIGIOSA DE SEU TEMPO. ISSO FAZ JESUS PARECER MUITO MAIS COM UM MONGE EREMITA ERRANTE BUDISTA-TAOÍSTA DO QUE UM SACERDOTE DE UMA RELIGIÃO ORGANIZADA.

- OS EVANGELHOS BÍBLICOS, TODOS, FORAM ESCRITOS DEPOIS DAS 7 CARTAS DE PAULO. ESSAS CARTAS SÃO OS TEXTOS MAIS ANTIGOS DO NOVO TESTAMENTO.

- NO EVANGELHO "Q" ESTÁ O ENSINAMENTO DO REINO DE DEUS DENTRO DOS JUDEUS QUE SERÁ RESTAURADO PELA TRANSFORMAÇÃO ESPIRITUAL E POLÍTICA, A PARTIR DE UM ARREPENDIMENTO (METANOIA) FEITO DURANTE O RITUAL SIMPLES DO BATISMO. É UM REINO REAL, FÍSICO, MATERIAL, SOCIAL, POLÍTICO E RELIGIOSO. ENALTECE A VIDA RURAL, CAMPESINA, SIMPLES E LONGE DAS AUTORIDADES, SACERDOTES E SUAS MAQUINAÇÕES ESTATAIS. JESUS ABOMINA O IMPÉRIO. O JESUS DE "Q" É UM CAMPONÊS SIMPLES QUERENDO CRIAR UMA SOCIEDADE JUSTA, IGUALITÁRIA, SEM GOVERNADORES CORRUPTOS E SACERDOTES AVARENTOS, UM JUDAÍSMO PURIFICADO E REVOLUCIONÁRIO, UM REINO DE DEUS NA TERRA. O JESUS DE "Q" É ARAMAICO, CAMPONÊS, RURAL, SEM QUALQUER TRAÇO DE HELENISMO.

- PAULO REJEITA ESSA IDEIA DE REINO DE DEUS RURAL E SIMPLES E PROCLAMA UM JESUS COSMOPOLITA, URBANO, IMPERIAL, UMA RELIGIÃO EM BUSCA DE RIQUEZA IMPERIAL, CONQUISTAR O MUNDO E O IMPÉRIO ROMANO. O CRISTIANISMO PAULINO É IMPERIALISTA. O JESUS DE PAULO SE PARECE COM O IMPERADOR ROMANO, É O REI-SACERDOTE DO UNIVERSO. O JESUS DE PAULO GOSTA DA BUROCRACIA ROMANA. O JESUS DE PAULO É FORTEMENTE HELENIZADO, GRECO-ROMANO, IMPERIAL.

- NAS 7 CARTAS DE PAULO APARECE MORTE E RESSURREIÇÃO DE JESUS, QUE NÃO EXISTE EM "Q" NEM "TOMÉ". ISSO MOSTRA QUE PAULO ACRESCENTOU TRADIÇÕES ESTRANHAS E NOVAS SOBRE JESUS AO MATERIAL ANTIGO. A MAIS ANTIGA CARTA DE PAULO, 1 CORÍNTIOS, É DATADA DE 54 A 60 D.C, OU SEJA, 20 ANOS DEPOIS DA MORTE DE JESUS. FOI ESCRITA DEPOIS DE "Q" E "TOMÉ". NESSA PRIMITIVA CARTA SE ATESTA QUE NINGUÉM VIU ONDE O CORPO DE JESUS FOI DEPOSITADO. DEPOIS DISSO, PAULO DIZ QUE "VIU JESUS" VIVO. TODA A TRADIÇÃO DO SEPULTAMENTO DE JESUS É FALSA E INVENTADA DEPOIS DESSA TRADIÇÃO PRIMITIVA DE CORÍNTIOS. ALÉM DISSO, PAULO QUANDO DIZ SOBRE VER JESUS RELATA UMA EXPERIÊNCIA ALUCINATÓRIA, COMO MUITOS HOJE DIZEM QUE VEEM ESPIRITOS, ENTIDADES E TUDO MAIS. ISSO ATESTA QUE A EXPERIÊNCIA DE PAULO NÃO É BASEADA EM EXPERIÊNCIAS REAIS MAS EM DESEJOS OU DELÍRIOS DELE. AS PESSOAS QUE REALMENTE VIRAM JESUS VIVO NUNCA ESCREVERAM NADA SOBRE ELE. SÓ ESCREVEU SOBRE JESUS QUEM NUNCA VIU ELE VIVO.

- JUSTINO EM "DIÁLOGO COM TRIFÃO", NO SÉCULO 2, CITA UM TRECHO DO EVANGELHO DE MARCOS E O CHAMA DE EVANGELHO DE PEDRO. A ATRIBUIÇÃO DESSE TEXTO A MARCOS FOI FEITA MUITO TARDIAMENTE.

- PAPIROS MÁGICOS GREGOS MOSTRAM QUE OS CRISTÃOS PRIMITIVOS PRATICAVAM MAGIA COMO OS JUDEUS. JESUS ERA VISTO ORIGINALMENTE COMO MAGO-PROFETA, MAS NÃO COMO SACERDOTE DE UMA HIERARQUIA INSTITUCIONAL!

- A IGREJA OU MOVIMENTO DE JESUS COM JESUS VIVO ERA NADA MAIS NADA MENOS QUE UM MOVIMENTO SOCIAL-POLÍTICO-RELIGIOSO, DE CONSCIENTIZAÇÃO SOCIAL CONTRA A HIERARQUIA DE JERUSALÉM E O IMPÉRIO ROMANO, NÃO UMA INSTITUIÇÃO COM SACERDOTES HIERARQUIZADOS.

- O EVANGELHO DE LUCAS FOI ESCRITO NA SÍRIA POR PESSOAS QUE NUNCA CONHECERAM JESUS. MONTADO COM VÁRIOS TEXTOS DIFERENTES E CONTRADITÓRIOS, É UM ESCRITO TEOLÓGICO E IDEOLÓGICO CRIADO PARA COMBATER OS CRISTÃOS DE JERUSALÉM QUE REJEITAVAM AS TRADIÇÕES INVENTADAS DE PAULO.

- JUDAS É UM PERSONAGEM CRIADO PARA ESTIGMATIZAR OS JUDEUS E FOI ACRESCENTADO MUITO DEPOIS NOS TEXTOS. FOI INVENTADO POR MEMBROS DO MOVIMENTO DE JESUS SEM JESUS (JA HAVIA MORRIDO) PARA ESTIGMATIZAR OS JUDEUS, QUE OS COMBATIAM, COMO AVARENTOS E NÃO-CONFIÁVEIS, TRAIÇOEIROS, DESLEAIS E INFIÉIS.

- A HISTÓRIA DA PAIXÃO DE JESUS, MORTE E CRUCIFIXÃO É UM TEXTO À PARTE INVENTADO POSTERIORMENTE E ANEXADO AOS EVANGELHOS. JESUS PROVAVELMENTE FOI CRUCIFICADO, MAS NÃO DE ACORDO COM O RELATO FANTASIOSO E TEOLÓGICO DO NOVO TESTAMENTO.

- JOSÉ DE ARIMATÉIA É UM NOTÓRIO EXEMPLO DE PERSONAGEM CRIADO DE ÚLTIMA HORA E ACRESCENTADO AO TEXTO PARA JUSTIFICAR PORQUE O CORPO DE JESUS FOI RETIRADO DA CRUZ E LEVADO PARA O TÚMULO, ALGO QUE NÃO ACONTECIA COM OS CRUFICIADOS E ERA ABSOLUTAMENTE IMPOSSÍVEL DE TER ACONTECIDO COM UM JUDEU: SOMENTE UM ROMANO TERIA TAL HONRA NA MORTE.

- O NOVO TESTAMENTO NUNCA FOI ESCRITO PARA NÓS. OS CRISTÃOS PRIMITIVOS ACREDITAVAM, COMO É CLARO NO APOCALIPSE DE JOÃO, QUE O IMPÉRIO ROMANO IRIA RUIR COM ELES EM VIDA AINDA E A JUDEIA TERIA SUA INDEPENDENCIA POLÍTICA.

- O APOCALIPSE DE JOÃO FOI ESCRITO POR UM JUDEU-CRISTÃO HELENIZADO QUE SOBREVIVEU À GUERRA JUDAICO-ROMANA QUE DESTRUIU O MOVIMENTO DE JESUS ARAMAICO E OS ESSÊNIOS NO ANO 70. TRATA-SE DE UM ESCRITO DE ÓDIO AO IMPÉRIO ROMANO, EM QUE O AUTOR MOSTRA TODA SUA RAIVA PELO IMPÉRIO ROMANO, OS JUDEUS E SEU DESEJO QUE JESUS FOSSE VINGADO POR DEUS. DEPOIS DE VER O HORROR DO EXTERMÍNIO E GENOCÍDIO DE JUDEUS, CRISTÃOS E ESSÊNIOS, ESSE JUDEU-CRISTÃO FOGE PARA A GRÉCIA, SE INSTALA LÁ ANONIMAMENTE E VIVE UMA MELANCÓLICA VIDA DESEJANDO QUE DEUS FIZESSE ALGO CONTRA OS ROMANOS POR CAUSA DA GUERRA. É UM HOMEM EXTREMAMENTE RICO E ALFABETIZADO, COM POSSES.

- PAULO FALSIFICOU EXTREMAMENTE O CRISTIANISMO E SÓ ASSIMILOU O QUE INTERESSOU A ELE, E O QUE CHEGOU ÀS SUAS MÃOS. EXISTIRAM MUITOS CRISTIANISMOS SEM PAULO. AS IDEIAS DE PAULO ADVÉM DE TRADIÇÕES QUE ELE RECEBEU DE TERCEIROS SOBRE JESUS, E O RESTO ELE INVENTOU. ESSAS TRADIÇÕES TARDIAS DIZEM QUE JESUS PRECISAVA MORRER, SER SEPULTADO E RESSUSCITADO, UMA MORTE SACRIFICIAL COM UM TEOR SACERDOTAL. ESSAS IDEIAS SACERDOTAIS E EM CONSONÂNCIA COM AS CRENÇAS GRECO-ROMANAS PAGÃS AGRADARAM MUITO MAIS A PAULO DO QUE O MOVIMENTO REBELDE DE INDEPENDÊNCIA DA PROVÍNCIA E ANARQUISMO ESPIRITUAL DO JESUS ARAMAICO. O MOVIMENTO ARAMAICO ORIGINAL DE JESUS NUNCA ACREDITOU EM NADA DISSO E REJEITA TOTALMENTE. NÃO EXISTE PAIXÃO DE CRISTO NO EVANGELHO "Q", MUITO MENOS RESSURREIÇÃO. SEGUNDO O EVANGELHO "Q", O PROGRAMA DE JESUS É POLÍTICO E SOCIAL, E JESUS NÃO É NEM NUNCA FOI NEM VAI SER DEUS. SUA MORTE FOI POLÍTICA. JÁ NA TRADIÇÃO TARDIA QUE PAULO ESCOLHEU, A MORTE DE JESUS É TRANSFORMADA EM UM RITUAL SACERDOTAL. 

- O EVANGELHO DE PEDRO, ESCRITO NOS ANOS 80 D.C.: JESUS RESSUSCITA MAS AINDA NÃO É DEUS. A IDEIA DE JESUS SER DEUS É GESTADA LENTAMENTE. JESUS, NO EVANGELHO DE PEDRO, SAI DO SHEOL AJUDADO POR DEUS QUE ENVIA DOIS ANJOS PRA TIRAR JESUS DO SHEOL. JESUS NÃO TEM AINDA CAPACIDADE DE SAIR DE LÁ SOZINHO. AINDA É ABSURDA A IDEIA DE JESUS SER DEUS.

- NÃO EXISTIAM "GNÓSTICOS" EM OPOSIÇÃO A ORTODOXOS. O CRISTIANISMO ERA MÚLTIPLO. A ALCUNHA "GNÓSTICO" É EXTREMAMENTE TARDIA, A PARTIR DE IRENEU EM 175 D.C. ANTES DISSO OS CRISTIANISMOS ERAM INDEPENDENTES, CADA UM COM SEUS TEXTOS E TRADIÇÕES QUE MUITAS VEZES NUNCA SE COMUNICAVAM. EXEMPLO CLARO É O EVANGELHO DE JOÃO QUE DESCONHECE TOTALMENTE O EVANGELHO "Q", SENDO QUE MARCOS, MATEUS E LUCAS SE BASEIAM EM Q.

- O CRISTIANISMO ARAMAICO DE JESUS ODIAVA O IMPÉRIO ROMANO. MAS TEXTOS POSTERIORES PASSAM A ENALTECER AS AUTORIDADES ROMANAS COMO "NOMEADAS POR DEUS". EXEMPLO: CARTA OS ROMANOS E AS EPÍSTOLAS DE PEDRO CONTRADIZEM FORTEMENTE MARCOS E MATEUS A RESPEITO DO IMPÉRIO ROMANO, QUE DE BESTA ODIOSA VIRA ALIADO DA IGREJA.

- JESUS É MANIPULADO, EDITADO E TRANSFORMADO NO QUE OS AUTORES DOS TEXTOS QUEREM, NA MEDIDA EM QUE O CRISTIANISMO ALCANÇA LUGARES DIFERENTES E EVOLUI NO TEMPO. PARA SOBREVIVER, O MOVIMENTO DE JESUS FALSIFICA JESUS E O TRANSFORMA NO SEU OPOSTO: ESSE É O JESUS DO NOVO TESTAMENTO CATÓLICO E DOS BISPOS.

- MATEUS E LUCAS USAM PELO MENOS 3 DOCUMENTOS DIFERENTES PRA INVENTAR SEUS EVANGELHOS: 
A) EVANGELHO Q;
B) TRADIÇÕES PARTICULARES (TRADIÇÕES RECOLHIDAS SÓ POR MATEUS, TRADIÇÕES SÓ DE LUCAS, ETC);
C) O EVANGELHO DE MARCOS

- NA MEDIDA EM QUE É TRADUZIDO E FALADO EM GREGO, O MOVIMENTO ARAMAICO DE JESUS CADA VEZ MAIS SE TORNA GRECO-ROMANO E ASSUME ESTRUTURAS, IDEIAS, MITOS E LENDAS DO MUNDO GREGO, PERDENDO SUA ORIGINALIDADE ARAMAICA.

- 13 CARTAS SÃO ATRIBUÍDAS A PAULO NO NOVO TESTAMENTO. SEIS CARTAS DE PAULO SÃO NOTORIAMENTE FALSAS, PSEUDOEPÍGRAFAS: EFÉSIOS, COLOSSENSES, 2 TESSALONICENSES, 1 E 2 TIMÓTEO E TITO.

- A SEGUNDA CARTA DE PEDRO É DATADA DE 150 A 170 D.C. É EXTREMAMENTE TARDIA, FALSA E RECHEADA DE INFLUENCIA ROMANA E HIERÁRQUICA, UM CRISTIANISMO TARDIO E GREGO. USA TRECHOS DE 1 PEDRO, DA EPÍSTOLA DE JUDAS E FAZ ALUSÃO A GRUPOS DE CRISTÃOS QUE REJEITAVAM A HIERARQUIA E SE CHAMAVAM DE GNÓSTICOS. O AUTOR DA EPÍSTOLA SE DIFERENCIA DOS APÓSTOLOS E AFIRMA QUE A GERAÇÃO DOS APÓSTOLOS JÁ PASSOU.


CONCLUSÃO: 

O QUE CHAMAMOS DE CRISTIANISMO É APENAS UMA PARTE MUITO MODIFICADA E ADULTERADA DO QUE ERA O CRISTIANISMO PRIMITIVO. ESSA PARTE PEQUENA SE TORNA PREPONDERANTE NA MEDIDA EM QUE SE ADULTERA PARA ACEITAR A AUTORIDADE DO IMPÉRIO ROMANO E SUAS ESTRUTURAS JURÍDICAS, A PONTO DE SE MESCLAR TOTALMENTE COM O IMPÉRIO. ESSE CRISTIANISMO IMPERIAL É UMA TRANSFORMAÇÃO MONOTEÍSTA DE UMA MESCLA DE CRENÇAS GREGAS E JUDAICAS CONTRADITÓRIAS E INCONCILIÁVEIS, COLADAS ARTIFICIALMENTE COM FALÁCIAS DE AUTORIDADE COMO A "SUCESSÃO APOSTÓLICA", TRADIÇÃO APOSTÓLICA, A DIVINDADE E O SACERDÓCIO DE JESUS, TUDO ISSO COMPLETAMENTE AUSENTE DO MOVIMENTO ARAMAICO DE JESUS.

SE JESUS É DEUS E NOMEOU APOSTOLOS (BISPOS), LOGO OS BISPOS SÃO A PALAVRA DE DEUS. QUEM FALA CONTRA OS BISPOS FALA CONTRA DEUS. OS BISPOS DEVEM MANDAR NO ESTADO E NO IMPERADOR. ISSO É O QUE É DECIDIDO NOS CONCÍLIOS DA IGREJA CATÓLICA E ESSA É A IDEOLOGIA POR TRÁS DO NOVO TESTAMENTO.


TODOS ESSES FATOS CORROBORAM AS TEORIAS DE MODERNOS GNÓSTICOS NAZARENOS, DE QUE A GNOSE NÃO É ORIGINALMENTE GREGA MAS ARAMAICA, E QUANDO SE ENCONTROU COM O MUNDO GREGO FOI TRADUZIDA. ALÉM DISSO, O ENSINAMENTO DE JESUS ERA "GNÓSTICO" COMO O DE JOÃO BATISTA E COMPROVADO PELOS MANDEUS MODERNOS DO IRAQUE:


Os Ditos de Jesus e o Jesus Histórico


JESUS HISTÓRICO: SE TEM UMA IMAGEM QUE PODE MOSTRAR TALVEZ COMO ELE ERA, É ASSIM: UM HOMEM DA RAÇA JUDAICA PALESTINA, ORIGINALMENTE FARISEU, POSTERIORMENTE PRATICANTE DE MISTICISMO JUDAICO E REVOLUCIONÁRIO POLÍTICO-SOCIAL.


http://seer.pucgoias.edu.br/index.php/caminhos/article/view/1196

LUIGI SCHIAVO 

Resumo: no contexto da terceira onda de pesquisa do Jesus Histórico, o Jesus Seminar é um movimento de pesquisadores do Novo Testamento, surgido nos anos 80 nos Estados Unidos, com o objetivo de avaliar o grau de autenticidade dos ditos e atos do Jesus Histórico e, ultimamente, da tradição de Jesus. No presente estudo apresentaremos o método, as principais conclusões e algumas questões críticas relacionadas ao Jesus Seminar. 

Palavras-chave: Jesus Histórico, Movimento de Jesus, literatura, sociedade, história.

A A BUSCA PELAS PALAVRAS E ATOS DE JESUS: O JESUS SEMINAR DO JESUS DA FÉ AO JESUS REAL 

pesquisa sobre o Jesus Histórico, a partir de Reimarus, no séc. XVIII, se desenvolveu, até os nossos dias, em três ondas, preocupadas em reconstruir os fatos históricos e a pessoa humana de Jesus, que ficavam como que escondidos atrás das afirmações dogmáticas e de fé das Igrejas. Tal busca é fruto de uma mentalidade racionalística, que acreditava, em nome da razão, poder reconstruir a verdade histórica relacionada a Jesus. Ela foi marcada por vários momentos e etapas, como a descoberta da estratificação e fragmentação dos textos bíblicos, sua consequente classificação, a inserção de Jesus no contexto histórico-sociocultural do judaísmo do I séc., e a referência a outras fontes canônicas, apócrifas e pseudepigráficas que lançavam novas luzes sobre a complexidade da religião e da sociedade judaica do tempo de Jesus (SCHIAVO, 2006).


Sendo os olhos e os enfoques do pesquisador bem diferentes dos olhos dos crentes e das Igrejas, são possíveis várias abordagem a Jesus, resumíveis a quatro (SCHIAVO, 2006): 

• o Jesus real: é o homem Jesus de Nazaré, o Jesus da história, que viveu na Galiléia na primeira metade do I séc. Pelo que podemos reconstruir, era filho de José o carpinteiro e de Maria, e tinha provavelmente outros irmãos chamados Tiago, José, Simão e Judas (Mt 13,55). Deve ter sido discípulo de João Batista e, depois da morte dele, atuou três anos como rabi, sendo condenado e crucificado, talvez na Páscoa do ano 30. Se de um lado conhecemos bem os dados relativos ao final de sua vida, sua infância e juventude são envolvidas no mistério, e as narrativas de que dispomos não passam de relatos míticos. Não temos fontes diretas sobre o Jesus real, mas só memórias literárias, sujeitas às limitações próprias destes documentos. 

• O Jesus histórico: é a reconstrução da figura de Jesus a partir dos dados a nossa disposição, vindo de várias fontes: a literatura bíblica e extra-bíblica do I séc.; a arqueologia; a sociologia; a historiografia, etc. Este trabalho, servindo-se de vários métodos científicos, busca reconstruir e entender o contexto histórico, sociológico e religioso do tempo de Jesus, tentando entender e imaginar o impacto de sua pessoa e mensagem dentro deste mesmo contexto. Parte-se do pressuposto que Jesus deve ser lido dentro do contexto galiláico de sua época. Não sabemos se o Jesus histórico corresponda ao Jesus real: com certeza se aproxima bastante a ele. 

• O Jesus teológico: é o Jesus das afirmações dogmáticas da Igreja, sobretudo dos primeiros quatro concílios que definiram os elementos fundamentais da cristologia, diante da fragmentação e do pluralismo das definições e dos movimentos religiosos: Nicéia (325), Constantinopla (381), Éfeso (431), Calcedônia (451). É o Jesus da fé, diferente do Jesus real, mesmo que tenha elementos do Jesus histórico, e que será a base da unidade da fé das Igrejas que a ele se referem. 

• O Jesus da fé: é o Jesus crido, na resposta de fé do fiel que encontra o Jesus da história. É o Jesus considerado o Filho de Deus, o Senhor da história, o Salvador, o Messias, etc. Neste nível, o Jesus real, como ele era, o contexto em que vivia, o que realmente disse e fez, tem menor importância. Vale o Jesus imaginado, representado, sonhado, na maioria das vezes relacionado com os próprios desejos e necessidades. É um Jesus que já se transformou num verdadeiro símbolo, mas que tem o poder de orientar a vida e se tornar a referência ética fundamental de grupos e pessoas. 

Neste nosso estudo, enfocaremos a pesquisa desenvolvida pelo Jesus Seminar, que tem como objetivo “o Jesus real”, a delimitação das palavras por ele realmente pronunciadas e a reconstrução das ações por ele realizadas. Ela se insere no contexto mais amplo da “terceira onda” (Third Quest) do Jesus Histórico que lê o Jesus Histórico a partir do princípio de continuidade com o judaísmo do tempo. A leitura comparada dos textos cristãos mais antigos com os textos judaicos canônicos e apócrifos do mesmo período permite a reconstrução de elementos e da matriz comuns entre o judaísmo e o cristianismo primitivo, no que chamamos critério de continuidade ou de plausibilidade histórica. As pesquisas sobre Jesus, muito numerosas nos últimos anos, enfocam aspectos e temas diferentes: o Jesus mestre de sabedoria (Crossan, Mack, Vaage); o Jesus profeta do cumprimento das expectativas dos últimos tempos (Sanders, Meyer); surgiram, também, vários estudos sobre o contexto histórico-social da Palestina do I séc. d.C. – a Galiléia (Vermes, Freyne); a guerra judaica (Horsley); o movimento de Jesus (Theissen); as influências helênicas no movimento de Jesus (Vermes e Morton Smith) etc. 

O JESUS SEMINAR 

O Jesus Seminar, objeto deste nosso artigo, é um projeto de pesquisa patrocinado pelo Westar Institute, um instituto sem fins lucrativos, sustentado por seus membros, e cuja finalidade é a pesquisa aplicada à literatura religiosa, seja bíblica seja teológica1 . O Instituto não depende de nenhuma Igreja, nem se refere a nenhum específico ponto de vista teológico. Tem uma revista, a The Fourth R (assim chamada pelas iniciais das quatro seguintes palavras: reading, ‘riting and ‘rithmetic religion), onde, desde 1987, divulga para o grande público escritos e pesquisas sobre religião em linguagem popular, desenvolvidas nos seus projetos. O Jesus Seminar reúne mais ou menos 200 pesquisadores, especialistas em grego bíblico, e se propõe, através da investigação histórica, determinar o que Jesus, como figura histórica, pode ter dito e feito. O Seminar foi fundado em março de 1985, em Berkeley, California, por Robert Funk, professor da Universidade de Montana, e compreendia inicialmente trinta estudiosos, aos quais se agregaram posteriormente outros profissionais, chamados Fellows. Nas palavras de convocação, Funk definia quais eram os objetivos do Seminar:

Nós estamos entrando numa importante empreitada. Vamos procurar simplesmente e rigorosamente a voz de Jesus, o que ele realmente disse. Neste processo, iremos formular uma questão que chega aos limites do sagrado, ou também da basfêmia, para muitos em nossa sociedade. Como consequência, o caminho que seguiremos poderá trazer riscos. Poderemos provocar hostilidades. Mas, vamos começar, apesar dos perigos, porque somos profissionais e porque a questão de Jesus deve ser encarada, da mesma forma que o monte Everest por um grupo de escaladores. 2

O Jesus Seminar se propunha reler os quatro evangelhos e o Evangelho de Tomé, considerado tão antigo e importante quanto os canônicos e com mais material autêntico que João, buscando o grau de probabilidade das sentenças de Jesus, definido pelo consenso dos estudiosos. Seu objetivo era reconstruir a vida do Jesus Histórico, chegando a definir quem Jesus era, o que fez, o que disse, e o que suas palavras significaram. A reconstrução disso se baseava na antropologia social, na história e na análise textual dos textos. 

O movimento do Jesus Seminar se explica como o resultado da reação da academia científica diante das posições dogmáticas das Igrejas, que, sobretudo nos Estados Unidos, criaram um clima de inquisição, que fez com que os estudiosos ficassem retraídos e como que encurralados. O novo fermento intelectual surgido no pós-guerra, contagiou também a pesquisa bíblica, que aos poucos foi ganhando espaços e disciplinas nas universidades americanas, forçando a linha mais tradicional em seus próprios seminários e faculdades. Isso permitiu um fantástico crescimento dos estudos bíblicos, naquela que é conhecida como a “terceira onda” do Jesus Histórico (Third Quest).

O MÉTODO DO JESUS SEMINAR 

Para reconstruir o contexto e a história da sociedade palestina do I séc. d.C., o Jesus Seminar servia-se da antropologia trans-cultural, e para

enfocar a pessoa de Jesus, assim como transparecia dos textos antigos, usava a análise textual. Distinguia entre fontes primárias, fontes secundárias e evidências arqueológicas. O grupo procurava e analisava também as tradições sobre Jesus dos primeiros quatro séculos, a partir dos critérios de múltipla atestação, originalidade e oralidade Assumiram sete pilares da moderna pesquisa crítica de Jesus, desenvolvidos desde o XVIII séc.: 

• distinção entre o Jesus Histórico e o Cristo da Fé (Reimarus e Strauss); 

• reconhecimento da maior confiabilidade histórica dos três evangelhos sinóticos a respeito de João (tradição alemã do XIX séc.); 

• prioridade de Marcos diante de Mateus e Lucas (tradição de 1900); 

• existência do documento da Fonte Q (tradição de 1900); 

• rejeição do Jesus escatológico (apocalíptico) (1970-1980); 

• distinção entre cultura oral e escrita; 

• consideração que os evangelhos têm conteúdo histórico. 

A questão da exclusão da visão apocalíptica e escatológica de Jesus, assumida como um dos pressupostos do Jesus Seminar, ganhou espaço nos anos 1970-1980, quando a pesquisa sobre Jesus deixou o ambiente religioso para o acadêmico. Consideravam-se os elementos apocalípticos próprios de João Batista e da comunidade cristã das origens. Esta escolha levou, porém, à definição de um Jesus mais ligados aos círculos da sabedoria do que da escatologia. 

O primeiro passo metodológico do Jesus Seminar, foi a tradução dos Evangelhos no inglês americano, naquela que é conhecida como Scholars Version, que se caracterizava por preferir frases da língua corrente parecidas com o estilo do autor ou às suas palavras literais. As versões de referência da Bíblia eram a King James Version, a Revised Standard Version e o Novum Testamentum Graece. Procurava-se ouvir a mensagem assim como podia ressoar nos ouvidos de um ouvinte do I séc., por isso estavam preocupados em preservar a voz própria de cada autor. 

A metodologia para se chegarem a definir o grau de autenticidade dos textos bíblicos era a seguinte: em preparação ao fórum dos pesquisadores, um grupo de estudiosos escolhia um texto e preparava sua edição crítica a partir do Greek New Testament, com suas variantes no rodapé.

Por votação, escolhia-se também a tradução mais oportuna do texto. Em seguida, enviava-se o paper aos estudiosos do Jesus Seminar, para sua própria apreciação, estudo e aprofundamento pessoal. 

Os foruns do Jesus Seminar aconteciam duas vezes ao ano: neste ambiente, os estudiosos debatiam os textos e chegavam à definição, através de uma ou mais votações, de seu grau de autenticidade. A participação dos estudiosos nos dois debates anuais era de extrema importância, porque o consenso se criava através da discussão. A votação acontecia através da escolha de bolinhas de cores diferentes, a segunda do grau de autenticidade das palavras ou atos de Jesus. Foram selecionadas quatro cores: vermelho, para o que Jesus realmente disse; rosa, próximo ao que ele disse; cinza, para o que ele não disse nesta forma, mas estava parecido com seu ensinamento; preto, para o que não era dele. O consenso era definido pela porcentagem da pontuação, e não pela simples maioria: desta forma, se acreditava que refletisse melhor as opiniões de todos na decisão. A votação não determinava a verdade: indicava somente a orientação dos estudiosos em relação ao que era proposto. Desta forma, o Jesus Seminar, após acurada análise das evidências, declarava ou não um específico ditos ou ato como trazendo a voz ou a ação do Jesus histórico. 


OS RESULTADOS DO JESUS SEMINAR 

O Jesus Seminar produziu duas obras, uma relacionada aos ditos de Jesus, outra aos atos de Jesus. 


Os Ditos de Jesus 

Os ditos de Jesus que o Seminar conseguiu analisar entre os anos 1985- 1991 foram mais ou menos 150. As conclusões sobre os ditos considerados autênticos pelo Seminário estão no livro The Five Gospels: What Did Jesus Really Say? (MACMILLAN, 1993). Este livro tinha como finalidade atualisar os estudos de 200 anos sobre o Jesus Histórico e divulgá-los para o grande público. Os pesquisadores tinham como referência alguns critérios de autenticidade:

• a oralidade: tratava-se de descobrir a tradição oral dentro da redação escrita, por exemplo, na sentença de Jesus: “oferece a outra face” (Lc 6,29); 

• a ironia: “amai vossos inimigos” (Mt 5,43); 

• a confiança em Deus: “não tenham medo” (Mt 6,31); 

• a múltipla atestação: quando a mesma frase aparece em outros textos, como, por exemplo: “feliz os pobres”, que se encontra em Mt (5,3), Lc (6,20) e Tomé (20,54). 


Mas, há também os critérios de não-autenticidade: 

• a auto-referência, por exemplo, a frase de Jesus: “eu sou o caminho a verdade e a vida” (Jo 14,6); 

• o material de costura, usado como introdução ou explicação; 

• as questões comunitárias: quando o texto se refere à comunidade dos primeiros seguidores, como, por exemplo, na instrução dos missionários, ou nas questões relativas ao poder (Mt 16,17-19: Pedro a “pedra” sobre a qual Jesus constrói sua igreja); 

• nas visões teológicas em que se revela a teologia do redator, como no julgamento final de Mt 25,31-46, sobre a profecia que envolve ovelhas e cabritos. 


Segundo a determinação do Jesus Seminar, os ditos autênticos de Jesus são os seguintes : 

• Oferecer a outra face (92%): Mt 5,39; Lc 6,29a. 

• Túnica e veste: Mt 5,40 (92%); Lc 6,29b (90%). 

• Felizes os pobres: Lc 6,20b (91%); ET4 54 (90%); Mt 5,3 (63%). 

• Duas milhas (90%): Mt 5,41. 

• Amar os inimigos: Lc 6,27b (84%); Mt 5,44b (77%); Lc 6,32,35a (56%). 

• Fermento: Lc 13:20–21 (83%); Mt 13:33 (83%); ET 96:1–2 (65%). 

• Imperador e Deus (82%): ET100:2b–3; Mc 12:17b; Lc 20:25b; Mt. 22:21c (também Evangelho Egerton 3,1-6). 

• Dar e pedir (81%): Lc 6:30a; Mt 5,42a; Didaqué1,5a. 

• Bom samaritano (81%): Lc10,30–35. 

• Bem-aventurados os que têm fome: Lc 6:21a (79%); Mt 5,6 (59%); ET 69:2 (53%).

• Bem-aventurados os tristes: Lk 6,21b (79%); Mt 5,4 (73%). 

• O administrador infiel (77%): Lc16,1–8a. 

• Os trabalhadores na vinha (77%): Mt 20,1–15. 

• Abba, Pai (77%): Mt 6,9b; Lc11,2c. 

• A semente de mostarda : ET 20,2–4 (76%); Mc 4:30–32 (74%); Lc 13:18–19 (69%), Mt 13:31–32 (67%). 


Os ditos com alguma probabilidade de serem autênticos, assim como foi decidido pelo Seminário, são os seguintes (os primeiros 15 de 75): 

• Sobre a ansiedade, não se preocupar (75%): ET 36; Lc 12,22–23; Mt 6,25. 

• A moeda perdida (75%): Lc 15,8–9. 

• As raposas têm tocas: Lc 9,58 (74%); Mt 8,20 (74%); ET 86 (67%). 

• Nenhum respeito em casa: ET 31,1 (74%); Lc 4,24 (71%); Jo 4,44 (67%); Mt1 3:57 (60%); Mc 6,4 (58%). 

• O amigo à meia-noite (72%): Lc 11,5–8. 

• Dois mestres : Lc 16,13a; Mt 6:24a (72%); ET 47,2 (65%). 

• O tesouro: Mt 13,44 (71%); ET 109 (54%). 

• A ovelha perdida: Lc 15,4–6 (70%); Mt 18,12–13 (67%); ET 107 (48%). 

• O que entra: Mc 7,14–15 (70%); ET 14:5 (67%); Mt1 5,10-11 (63%). 

• O juíz iníquo (70%): Lc 18,2–5. 

• O filho pródigo (70%): Lc 15,11–32. 

• Deixar os mortos: Mt 8:22 (70%); Lc 9,59–60 (69%). 

• Eunucos para o céu: (70%) Mt 19,12a. 

• Pelos seus frutos (69%): Mt 7,16b; ET 45,1a; Lc, 44b (56%). 

• O banquete, a festa de casamento: ET 64,1–11 (69%); Lc 14,16- 23 (56%); Mt 22:2-13 (26%). 

A conclusão do Seminário foi que somente 18% dos ditos de Jesus podem ser realmente atribuídos a ele (vermelho ou rosa). No caso do Evangelho de João, quase todas as passagens atribuídas a Jesus foram consideradas não-autênticas. Quanto ao Evangelho de Tomé, apenas dois ditos foram pelo Seminar atribuídos a Jesus: o pote vazio (97) e o assassinato (98). Mas pode haver outros ditos autênticos paralelos aos sinóticos. Mesmo assim, é bom lembrar que o voto não determina a verdade: somente indica o parecer dos estudiosos quanto à possibilidade da sentença trazer a voz histórica de Jesus. 


Os Atos de Jesus 

As conclusões sobre os Atos reconduzíveis ao Jesus histórico, estão reunidas no livro publicado pelo Jesus Seminar: The Acts of Jesus: The Search for the Authentic Deeds of Jesus (POLEBRIDGE, 1998). O trabalho queria descobrir nos evangelhos, os rastos do homem por detrás do mito. E a figura que emergiu foi bastante diferente da imagem apresentada pelo Cristianismo tradicional. 

Os atos de Jesus foram avaliados na 2ª fase do Seminários, entre os anos 1991 e 1996, num total de 387 relatos de 176 eventos, na maior parte dos quais o protagonista principal é Jesus. Deles, somente 10 receberam a cor vermelha, sendo, portanto, considerados tendo uma alta probabilidade de autenticidade. Dezenove receberam a cor rosa, indicando que o evento provavelmente ocorreu. Somando vermelho e rosa, chega-se a 29, que significa 16% do total (176): de pouco inferior à porcentagem dos ditos de Jesus (18%). 

Os dez atos de Jesus considerados autênticos pelo Seminário (cor vermelha), são os seguintes: 

• a controvérsia de Beelzebul: Lc 11,15-17; 

• a voz no deserto (João Batista): Mc 1,1-8; Mt 3,1-12; Lc 3,21-22; Evangelho dos Ebionitas 4; 

• João batiza Jesus: Mc 1,9-11; Mt 3,13-17; Lc 3,21-22; Ev. Ebionitas 4; 

• Jesus proclama a “boa-nova”: Mc 1,14-15; 

• jantando com os pecadores: Mc 2,15-17; Mt 9,10-13; Ev. Oxyrinco 1224 5,1-2; 

• Herodes corta a cabeça de João: Mc 6,14-29; Mt 14,1-12; Lc 9,7-9; 

• crucificação: o núcleo do evento é considerado autêntico, mesmo que os relatos dos evangelhos sejam considerado improváveis ou fictícios (cor preta); 

• a morte de Jesus: o núcleo do evento é considerado autêntico, mesmo que os relatos dos evangelhos sejam considerado improváveis ou fictícios (cor preta); 

• a primeira lista de aparições: Jesus aparece a Cefa: 1Cor 15,3-5; 

• nascimento de Jesus: partes de Mt 1,18-25 e Lc 2,1-7.

Além disso, mesmo não pudendo ser catalogado como um dito ou ato de Jesus, foi considerado auténtico (cor vermelha) o sumário que relembra a companhia de mulheres que seguiam Jesus: Lc 8,1-3. 

Os 19 atos “rosa” (próximos ao que Jesus fez) são os seguintes:

• a sogra de Pedro: Mc 1,29-31; Mt 8,14-15; Lc 4,42-44; 

• a lepra: Mc 1,40-45; Mt 8,1-4; Lc 5,12-16; Ev. Egerton 2,1-4; 

• o paralítico e os quatro homens: Mc 2,1-12; Mt 9,1-8; Lc 5,17-26; 

• chamado de Levi: Mc 2,13-14; Mt 9,9; Lc 5,27-28; Ev. Ebionitas 2,4; 

• observância do sábado: Mc 2,23-28; Mt 12,1-8; Lc 6,1-5; 

• os parentes de Jesus vêm a ele: Mc 3,20-21; 

• verdadeiros parentes: Mc 3,31-35; Mt 12,46-50; ET 99,1-3; 

• a mulher com hemorragia: Mc 5,24-34; Mt 9,20-22; Lc 8,42-48; 

• escândalo em Nazaré: Mc 6,1-6; Mt 13,54-58; 

• comendo com mãos impuras: Mc 7,1-13; Mt 15,1-9; 

• pedido por um sinal: Lc 11,29-30; 

• o cego de Betsaida: Mc 8,22-26; 

• o cego Bartimeu: Mc 10,46-52; Lc 18,35-43; 

• o incidente ao templo (expulsão dos vendedores): Mc 11,15-19; Mt 21,12-17; Lc 19,45-48; 

• o imperador e Deus: Mc 12,13-17; Mt 22,15-22; Lc 20,19-26; ET 100,1-4; Ev. Egerton 3,1-6; 

• a prisão: o núcleo do evento não é lembrado em detalhes; 

• diante do sumo sacerdote: o núcleo do evento não é lembrado em detalhes; 

• diante do sinédrio: o núcleo do evento não é lembrado em detalhes; 

• diante de Pilatos: o núcleo do evento não é lembrado em detalhes. 


Juntando os ditos e os atos de Jesus, as conclusões do Seminar em relação a Jesus de Nazaré foram as seguintes: 

• Jesus de Nazaré nasceu no reinado de Herodes o Grande; 

• sua mãe se chamava Maria e ele teve um pai humano, cujo nome pode não ter sido José; 

• Jesus nasceu em Nazaré, não em Belém; 

• Jesus foi um sábio itinerante cuja atuação foi no meio dos marginalizados;

• Jesus praticou curas sem fazer uso da medicina ou magia tradicionais, aliviando sofrimentos por nós hoje definidos como psicossomáticos; 

• Ele não andou em cima das águas, não alimentou a multidão com pães e peixes, não transformou a água em vinho, nem ressuscitou Lázaro da morte; 

• Jesus foi preso em Jerusalém e crucificado pelos romanos; 

• ele foi executado como um perturbador da ordem pública e não pela pretensão de ser o Filho de Deus; 

• o túmulo vazio é uma ficção: Jesus não ressurgiu corporalmente da morte; 

• a crença na ressureição se baseia na experiência visionária de Paulo, Pedro e Maria. O retrato de Jesus que aparece na reconstrução do Jesus Seminar é de um mestre sábio itinerante, não preocupado em fundar uma nova religião, mas dedicado à pregação e à interpretação de questões relativas à lei e a problemas cotidianos do povo. Anunciou a vinda do Reino de Deus, cuja expectativa já era presente na sociedade judaica do I séc. Falou de Deus na imagem de um pai amoroso, confraternizou com marginalizados e os adversários. Partindo da premissa que Jesus não teria nada a ver com a apocalíptica, o Seminário chegou à conclusão que ele seria um mestre sábio preocupado com o melhoramento e a transformação da vida e da realidade, mais do que um profeta escatologico-apocalíptico, anunciando o fim do mundo. 


A NOVA FASE DO JESUS SEMINAR: O ESTUDO DA COMUNIDADE CRISTÃ DAS ORIGENS 

Os ditos e os atos de Jesus analisados pelo Jesus Seminar representaram a base para as pesquisas individuais dos estudiosos sobre o Jesus Histórico. A partir de 2006, começou a terceira fase do Jesus Seminar, finalizada ao estudo da tradição de Jesus, a partir do movimento galiláico de Jesus. O projeto do Westar Institute voltado para isso foi chamado: Jesus Seminar on Christian Origins. O mesmo método usado em relação à busca de autenticidade dos ditos e atos do Jesus histórico, é agora usado para estudar o desenvolvimento da história da comunidade cristã e de seus escritos. Nesta fase, textos e tradições como a Fonte Q, os Evangelhos de Tomé e Marcos são lidos dentro do específico contexto cultural da Galiléia do I século. Entre os vários pesquisadores desta área, merecem ser lembrados James M. Robinson, organizador da The Nag Hammadi Library in English, e o Prof. Moti Aviam, por seu trabalho arqueológico na Galiléia. Paralelo a este, o Westar Institute patrocina outro Projeto: o Seminar on the Acts, iniciado em 1999 e cuja finalidade é a avaliação da autenticidade dos primeiros capítulos dos Atos dos Apóstolos, procurando definir o grau de autenticidade dos dados relativos às origens da comunidade cristã de Jerusalém. Por fim, há outro Projeto em andamento: o Literacy and Liturgy Seminar, que serve como ponte entre os trabalhos do Jesus Seminar e a fé das Comunidades.

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São muitas descobertas e conclusões fabulosas sobre o personagem Jesus e seu movimento sócio-político.

Mas o que mais me impressiona é a conclusão de que O EVANGELHO DE TOMÉ NÃO É SÓ MAIS ANTIGO QUE TODOS OS OUTROS BÍBLICOS MAS CONTÉM OU SE BASEIA EM MATERIAL MAIS ANTIGO DO QUE O QUE FOI UTILIZADO POR MATEUS, MARCOS E LUCAS!!!

Isso significa o seguinte: o Evangelho de Tomé está mais próximo do Evangelho Q do que qualquer outro existente e, portanto, mais próximo do que poderiam ter sido doutrinas originais de Jesus do que qualquer outro texto cristão exceto o Evangelho Q.

Mas o que há em comum e o que é diferente entre Q e Tomé? Vejamos algumas coisas:


Comum: 

- o Reino de Deus é neste mundo, não em outro. Não existe "Reino dos Céus" como algo transcendente.

- O ensinamento de Jesus é simples mas há um nível mais profundo de entendimento que alguns podem acessar.

- Não existe "paixão de Cristo". Jesus de maneira nenhuma é "Cordeiro de Deus", nem Deus, nem anjo, nem espírito. Jesus não tem qualquer conexão com o Templo de Jerusalém e seus sacrifícios rituais. Ele não é o Cristo teológico do Novo Testamento.

- Jesus não é sacerdote de uma instituição religiosa organizada.


Diferente (?):

- Em Q, Jesus é um messias político, um líder guiando o povo a uma revolução social de independência e reforma religiosa.

- Em Tomé, Jesus é O TODO, é tudo que existe, está em tudo, presente em tudo.


Isso é muito revelador. Nos anos 50, 20 anos depois da Morte de Jesus, um grupo influente de seus seguidores desenvolveu uma doutrina segundo a qual Jesus é O TODO. Como assim, o Todo?

Isso só pode ser explicado de uma maneira: Jesus, para Tomé, além do ensino socio-político revolucionário, revolucionou a espiritualidade. Jesus se tornou uma Ideia, Essência, Pensamento. Melhor dizendo: um Estado de Consciência.

Alguns Ditos de Jesus de Tomé repetidos nos sinóticos trazem uma versão mais simples, primitiva e sem adições e interpretações teológicas. São mais crus, secos, diretos e objetivos. Se conclui que Tomé utilizou versões mais antigas de coleções de Ditos de Jesus que os sinóticos.

Vejamos esse excelente estudo sobre o Evangelho de Tomé da Universidade Metodista, trabalho de conclusão de curso de um pastor 

http://www.metodistavilaisabel.org.br/artigosepublicacoes/descricao2.asp?n=53 :

Meyer traz a luz uma questão ainda mais interessante, a qual consideramos muito importante. O autor salienta que, “às vezes, Tomé preserva sentenças que parecem ser mais originais que os paralelos do Novo Testamento. Um exemplo é a sentença 9 de Tomé, conhecida nos sinóticos como a “Parábola do Semeador” (Mateus 13,3-9; Marcos 4,2-9 e Lucas 8, 4-8). Assim ela aparece em Tomé: 

(9) Jesus disse: "Eis que o semeador saiu, encheu sua mão e semeou. Algumas sementes caíram na estrada; os pássaros vieram e as recolheram. Algumas caíram sobre rochas, não criaram raízes no solo e não produziram espigas. Outras caíram em meio a um espinheiro, que sufocou as sementes e os vermes as comeram. E outras caíram em solo fértil e produziram bons frutos; renderam sessenta por uma e cento e vinte por uma". 

A forma rústica e objetiva, sem a necessidade de associar a parábola com a vida da Igreja através de interpretações alegóricas mostra o caráter mais primitivo e original do texto de Tomé. Isto mostra que as interpretações foram acréscimos tardios de explicações do texto para o entendimento da Igreja primitiva. Em Tomé, o escrito é exatamente o sentido que transmite: uma narração da agricultura na Palestina rural.

Este modelo segue todo o escrito de Tomé, não há interpretações alegóricas dos textos de Tomé com respeito às parábolas. Outro ponto a ser destacado é a expressão “encheu a mão (de sementes) e semeou”, presente na sentença de Tomé e ausente nos textos sinóticos. Segundo Meyer isto pode constituir um detalhe de um antigo contador de história.

A presença de sentenças que não aparecem nos evangelhos sinóticos, também reforça a crença do Evangelho de Tomé como fonte primária. Meyer diz que “algumas vezes, as sentenças eram totalmente desconhecidas” até a descoberta de Nag Hammadi. O exemplo usado por Meyer são as sentenças 97 e 98 :

(97) Jesus disse: "O Reino do Pai é como uma certa mulher que estava carregando um cântaro cheio de farinha. Enquanto estava caminhando pela estrada, ainda distante de casa, a alça do cântaro partiu-se e a farinha foi caindo pelo caminho atrás dela. Ela não se deu conta, pois não tinha percebido o acidente. Quando chegou em casa, colocou o cântaro no chão e percebeu que ele estava vazio." 

(98) Jesus disse: "O Reino do Pai é como um certo homem que queria matar um homem poderoso. Em sua própria casa ele desembainhou a espada e enfiou-a na parede para saber se sua mão poderia realizar a tarefa. Então ele matou o homem poderoso."  

São sentenças que fogem do aspecto apocalíptico de Jesus adotado no Novo Testamento. Segundo Meyer, a análise dessas parábolas “desconhecidas” podem de alguma forma, trazer muito do Jesus Histórico: “No Evangelho de Tomé e na primeira versão de ‘Q’, Jesus não emprega imagens apocalípticas para anunciar a vinda do Reino de Deus, mas antes declara que o reino já é uma realidade presente”. 

Um exemplo da característica desse Jesus em Tomé está na sentença 113: “Seus seguidores disseram-lhe: Quando virá o reino? Não virá quando se espera por ele. Não se dirá: Vejam, aqui está ele ou vejam, ali está ele. O reino do Pai está espalhado pela terra e as pessoas não o vêem”.

Apesar de não acreditarmos na hipótese cínica de Meyer, Crossman ou Mack, é possível que o Jesus de Tomé esteja mais próximo do Jesus histórico do que o Jesus dos evangelhos sinóticos. É difícil de provar essa questão, mas o Jesus dos Evangelhos canônicos parece dotado de uma mitologia trabalhada e proposital para uma religião instituída. Não queremos com isso desmantelar a figura oficial de Jesus, Deus cristão e responsável pela estruturação do cristianismo como a maior força religiosa da história. Porém, não se pode negar a simplicidade do texto no Evangelho de Tomé e ausência da narração de paixão e morte e da ressurreição de Jesus, enquanto que, em Mateus, Marcos e Lucas, ganham centralidade e paralelos com outros mitos similares do mundo antigo.

Podemos dizer que, inicialmente, como já foi comprovado, essas narrativas sobre morte e ressurreição de Jesus não eram centradas como fundamentais para a proclamação da mensagem do nazareno. Tais fundamentos doutrinários ganharam força a partir das epístolas paulinas e pseudo-paulinas. Dessa forma, como em Tomé não há a presença ou preocupação em destacar essas passagens, podemos imaginar que o texto de Tomé é mais antigo ou, ao menos, utilizou uma fonte mais antiga que os evangelhos sinóticos.

Quando relacionamos com o Evangelho de João, é preciso partir de uma outra premissa. O primeiro ponto que há de se destacar é a proximidade de João e Tomé com o mundo gnóstico. No entanto, as semelhanças terminam por aí. Mack levanta a questão da figura apresentada por ambas comunidades. Enquanto Tomé trabalha seu evangelho por meio de sentenças, reforçando dessa forma, a imagem do “mestre sábio”, personagem muito comum nas seitas gnósticas e no mundo místico, João canaliza as narrativas de tempo-espaço com a mitologia cristológica já decorrentes do mundo cristão ocidental.

Mack destaca essa combinação como um “auspicioso golpe de genialidade imaginativa”. Concordo plenamente. Expressões como “Filhos da Luz e das Trevas”, “Fonte de Água Viva” ou “Pão Vivo que veio do céu”, tipicamente míticas-gnósticas, correm paralelamente com textos do Antigo Testamento e com o cenário palestino e romano. Talvez fosse o grande trunfo do Evangelho de João para ser aceito entre os canônicos.

Mas a relação entre Tomé e João pode ser mais bem destacada pelo conflito entre os principais nomes usados como autores para os respectivos escritos: o discípulo Tomé e o dito, discípulo amado, João. No evangelho de João em seu capítulo de número 20, no momento em que Jesus aparece aos discípulos, depois de ressurreto, e concede o Espírito Santo aos seus seguidores mais chegados, o único dos doze, além de Judas Iscariotes, que não está presente é Tomé. Ora, se não está presente no momento em que o poder de inspiração e legitimidade para um autor sagrado é derramado sobre aqueles que teriam a missão de espalhar a mensagem de Jesus pelo mundo, certamente nada do que Tomé escreveria seria inspirado pelo Espírito Santo de Deus, concedido pelo próprio Jesus, e narrado por aquele que se auto proclamou, “o discípulo amado”. O que está presente na questão é o conflito entre comunidades. Em Tomé não há qualquer referência a João, mas há a famosa sentença 13, onde Jesus considera Tomé apto para ouvir três segredos revelados somente para os evoluídos e João sequer é citado.

Neste capítulo, o que percebemos e concluímos é a forte ligação de Tomé com o mundo místico-gnóstico e sua independência diante dos Evangelhos do Novo Testamento. Essa independência e singular visão de Jesus trouxe para esse escrito a marginalização e a refutação de um cristianismo já elitizado e institucionalizado em meados do II século. A sua redescoberta entre os textos de Nag Hammadi trouxeram á tona uma imagem de Jesus ao mesmo tempo mágico e humano, sem os feitos milagrosos, mas portador de uma mensagem que vai além da realidade visível. 


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A Hipótese Cínica é a que acredita ser Jesus adepto das ideias da escola filosófica do Cinismo grego. É improvável, tendo em vista que Q e Tomé mostram um Jesus combativo e revolucionário político, o que contraria os princípios do cinismo. Além disso não há nada de especificamente helênico nos Ditos de Jesus, mas sim Oriental e muito especificamente judaico, que passa longe da filosofia grega. Alguma influência cínica pode ter existido mas extremamente baixa e suplantada pela revolução social-política.

Evangelho de Tomé e de João são radicalmente diferentes e caminham em direções opostas. Enquanto Tomé mostra um Jesus que é um Sábio andarilho-filósofo, ao molde dos mestres espirituais do Oriente, que são encontrados do Egito até a Índia (e muito semelhante aos gimnosofistas indianos), João apresenta um Jesus totalmente teológico e "acadêmico", mitologizado e teorizado com categorias profundamente gregas.

O Jesus de Tomé é ao mesmo tempo Mágico e Humano. Aqui ele não é mago. Mágico no sentido Transcendental. Mas, ao mesmo tempo, extremamente Humano, preocupado com o Social, o Politico e o Histórico. Há atualmente três correntes entre os estudiosos sobre se Jesus era apenas um revolucionário político, um mago-profeta no estilo dos profetas carismáticos do Antigo Testamento e de João Batista, ou uma mistura das duas coisas. Eu fico do lado da terceira corrente: Jesus é um profeta carismático, um mago (praticava e estudava magia como João Batista e os judeus de sua época) e um revolucionário político-social. Não há motivos para separar essas três coisas, pois os outros candidatos a messias (havia ao menos NOVE líderes carismáticos na época de Jesus se dizendo Messias revolucionários!!!) também misturam essas características.

Antes de qualquer livro do Novo Testamento ser escrito, cristãos já tinham desenvolvido uma ideia mística sobre Jesus muito mais próxima das primeiras coleções de Ditos de Jesus que, por sua vez, estão literalmente mais próximas do Jesus Histórico do que qualquer texto do Novo Testamento. O que abre a possibilidade de Jesus ter ensinado doutrinas místicas. E quando lemos os seus ditos em formas de Parábolas, fica tentador concluir isto.

Mas que Misticismo é esse? Como assim Jesus é "O Todo"?

O contexto de Jesus na Galiléia pode responder: discípulo de João Batista, influenciado por doutrinas dos Essênios, Judaísmo místico, Apocalíptica... Teria Jesus praticado exercícios místicos, parecidos com as técnicas de meditação e êxtase da Cabalá, da Merkabah? Teria Jesus compartilhado de visões extáticas, transes e êxtases como os que aparecem nos numerosos Apocalipses judaicos e cristãos contemporâneos a ele? Não duvido!

Mas como pode haver um grupo judeu oficialmente reconhecido, como os Essênios, que lê e produz textos que não fazem parte da Torá, não frequenta o Templo de Jerusalém e ainda por cima pratica Astrologia, Magia, Numerologia e diversos tipos de práticas místicas? Ora, isso é perfeitamente possível se você estudar como funcionava o Judaísmo do Segundo Templo. Sugiro que assista aos vídeos da Tenda do Necromante sobre o Judaísmo do Segundo Templo:

 



Os Sacerdotes exigiam o sacrifício e a oferta de produtos e bens no Templo. Os judeus tinham que viajar de suas vilas rurais até o Templo em Jerusalém. O que eles faziam nas suas vilas longe das autoridades não interessava muito aos sacerdotes, desde que não causassem tumultos sociais ou se negassem a fazer os sacrifícios e entrega de dízimos e ofertas. 

Quando lemos os Horóscopos e textos astrológicos encontrados em Qumran junto com Apócrifos Judaicos e Antigo Testamento, nós vemos que esse pessoal sincretizava partes da religião babilônica com versões esotéricas e heréticas do Zoroastrismo. Isso afetava o Templo de Jerusalém? Não. Então para eles pouco importava. Só não se podia divulgar isso em público abertamente.

Mas, voltando a Tomé, e O Todo? Ora, esse Todo parece ser uma experiência mística de Unificação com o Universo, referenciada no Gnosticismo, Cabalá, Budismo, Hinduísmo e tantas outras tradições que sabemos que se comunicaram no período helenístico. Jesus, em transe, pode até mesmo ter se identificado com Deus, dada sua concepção extremamente herética de religião vista no conceito de "Reino de Deus" que proclama. Pode até mesmo ter ensinado isso para algumas pessoas. Talvez por isso há passagens como Marcos 1:44 onde Jesus proíbe as pessoas que contem e espalhem que ele é o Messias e que faz curas. Pode ser que essa passagem seja uma adulteração de algo que Jesus realmente fez: em transe místico, com ideias revolucionárias de religião, afirmou ser ele "Deus", não como uma divindade mas como um ser humano que alcançou, por praticar exercícios místicos, um estado semi-divino ou divino. Talvez, o que os padres gregos chamaram mais tarde de Theosis ou Deificação.

Ao contrário dos escritos de Paulo e demais do Novo Testamento, Jesus não afirma que é Deus em Tomé. Ele é mais que isso. Ele é O Todo. Isso é muito mais que ser um Deus. Ser um Deus no Novo Testamento parece algo comum aos deuses gregos e romanos: um ser que deve ser adorado em um templo por ser superior à humanidade, uma autoridade, um chefe poderoso. Não é isso que o escritor de Tomé quer que pensemos de Jesus. Para Tomé, Jesus é O Todo, um Estado de Consciência que devemos e podemos alcançar.

Teria o Jesus Histórico tido contatos diretos com os Samaneus budistas, os gimnosofistas indianos, brahmanes hindus e suas práticas místicas? Talvez, mas acho pouco provável. Acredito que essa influencia mística em Jesus, se é que houve, tenha sido indireta e por via dos Essênios e outros grupos judaicos. Mas, mais tarde, no século 2, quando os Atos de Tomé e o Livro de Tomé o Contendor ou Adversário são escritos, aí sim, há grande possibilidade de doutrinas budistas e indianas, como vimos na semelhança chocante entre o Sermão Budista do Fogo e o Sermão do Fogo do livro de Tomé o Adversário.

Eu realmente acredito que o Jesus Histórico tenha ensinado algo nesse sentido. Mas como é algo extremamente problemático de se dizer em público, preferiu dizer aos poucos e para apenas algumas pessoas. Transmitiu assim um Conhecimento "secreto" sobre Espiritualidade e religião. Ele o disse em parábolas, para que muitos não entendessem de propósito, pois deturpariam ou entenderiam Jesus como blasfemo.

Então, por isso o Evangelho Q deixa subentendido. Mas Tomé deixa escancarado e dá ênfase nisso.

Tomé parece, à primeira lida, trair o Jesus Histórico, pregando um Jesus muito místico e espiritualizado. Mas analisando as parábolas e ditos de Jesus em sua versão primitiva, vemos que Tomé guarda esse Jesus social-político.

Mas, será mesmo que Tomé se afastou tanto do Jesus Histórico quanto os Sinóticos?

Nos Sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) sim, Jesus é traído e substituído por uma divindade greco-romana de Cultos de Mistérios que é, ao mesmo tempo, objeto do Ritual de Sacrifício judaico do Templo de Jerusalém, o Cordeiro de Deus. Porque é isso que a Paixão de Cristo é: uma encenação teatral, como os mitos de Orfeu, Dionísio, Perséfone e todos os mitos básicos de cada Religião de Mistérios gregos, adaptada para um público judaico apegado aos ritos de sacrifício sangrentos do Templo de Jerusalém.


Os gnósticos não traíram Jesus. No Gnosticismo, permaneceu o espirito Rebelde, Anticlerical, Anti-hierárquico e revolucionário do Jesus Histórico e seu Movimento Aramaico. Por mais que sincretizassem com as religiões grega, egipcia, persa e etc, os gnósticos nunca retiraram de Jesus as qualidades do Messias Aramaico: seu Anarquismo Espiritual e luta pelos menos favorecidos contra as classes dominantes. No Gnosticismo clássico, como no Apócrifo de João, os gnósticos chamam as autoridades politicas e jurídicas (Arcontes) de DEMONIOS, filhos do Diabo horrível que criou o mundo à sua imagem e semelhança: injustiça, morte, ignorância, desigualdade e opressão.

A tradição "neopagã" de Paulo sim traiu Jesus, pois retirou todo o Anarquismo Espiritual anti-romano dele e o transformou no próprio Imperador Romano, sacerdote segundo a "ordem de melquisedeque", "cordeiro de deus", "rei dos reis", "senhor dos senhores", governante mundial absoluto, literalmente um TIRANO que força sua vontade sobre todos porque quer. E AI de quem criticar a teologia neopagã de Paulo: é blasfemo, herege, anátema, excomungado... Mas o Jesus Histórico, ao iniciar um movimento revolucionário contra Roma, se torna literalmente um terrorista. E ele não se importa, é isso mesmo que ele quer.

Modernamente ainda forçam uma ideia muito errada de que Jesus era um pacifista, um Mahatma Gandhi, uma Madre Tereza. Nada disso. Jesus era revolucionário e queria tomar o poder dos sacerdotes e de Roma à força, fazendo uma insurreição armada.

Outros taxam Jesus de socialista, o que é absurdo. Jesus não queria implantar um Estado burocrático governado por dirigentes de partido. O Reino de Deus é um reino social religioso comandado pelos judeus, favorecendo os camponeses e populações rurais, sem interferência externa.

Alguns se perderam entre esses dois caminhos e acabaram tendo que aceitar os novos mitos de Jesus como "Cordeiro Pascal". Mas daí interpretaram tudo à sua maneira. É o exemplo dos Docetas. O docetismo é a tentativa de forçar Jesus como um Buda DENTRO DO MITO DA PAIXÃO. Eles assimilaram o mito da Paixão de Cristo alegoricamente, e tentaram adaptar o Jesus O TODO de Tomé a isto.

O que dizem os Docetas? Eles partem da ideia do Jesus O TODO do Tomé, mas a levam a consequências irracionais ao tentar encaixar JESUS O TODO de Tomé no mito neopagão greco-judaico da Paixão de Cristo. Eles assimilam esse mito, mas não literalmente como Paulo. O assimilam como alegórico. Esse é o problema. Se Jesus é O TODO, logo ele nunca poderia ter sido crucificado: como pode uma Substância Supra-Sensível, um Estado de Consciência, a Natureza de Buda encarnar, sofrer, morrer e ressuscitar? É IMPOSSÍVEL. O ESTADO DE BUDA NÃO PODE VIRAR CARNE.

O Mito da Paixão de Cristo é absolutamente irracional. É uma estranha e bizarra mistura dos mitos dos deuses greco-romanos das religiões de Mistério, com o ritual sangrento do Sacrifício descrito na Torá, onde novilhos, cordeiros e touros eram sacrificados pelos pecados do povo. Todos os povos do mundo naquela época faziam sacrifícios de animais, e os judaítas exilados da babilônia apenas editaram a sua versão de como e para quê servem os sacrifícios, aliás muito semelhantes aos sacríficios zoroastrianos.

Voltando ao Mito da Paixão, assim como nos mitos de mistério, causa comoção. Quem nunca assistiu o filme A Paixão de Cristo e ficou emocionado com a história? Pois ela foi criada exatamente para isso, para emocionar. Não é racional. É um mito de Mistério perdendo sua natureza simbólica racional e se transformando num sangrento ritual de sacrifício judaico-zoroastriano.

Os docetas, baseando-se no Jesus O TODO de Tomé, não assimilaram esse mito literalmente, e tiveram de dar uma nova interpretação: a paixão foi uma ilusão, pois Jesus é um Estado de Consciência, portanto não pode ser crucificado e seu corpo material era apenas uma ilusão, sendo na verdade pura energia infinita e eterna. Olha o problema que os docetas causaram a si! Tudo porque tentaram adaptar o mito da Paixão ao Jesus O TODO de Tomé. Não deu certo, obviamente.

O docetismo é a tentativa de forçar no mito da paixão o Estado de Buda. Basta retirar toda esse mitologia da paixão de Cristo e ficar só com a Fonte Q, os Ditos de Jesus, que o problema está resolvido. Mas os docetas insistiram nesse mito...

O Estado de Buda não pode encarnar, visto que está além de qualquer distinção ontológica entre "espírito" e "matéria". Por isso nunca encarnou. Jesus nunca ensinou que ele era pré-eterno com o Pai, que foi profetizado como Cordeiro Pascal, NADA DISSO! ISSO É TUDO TEOLOGIA POSTERIOR INVENTADA POR INFLUÊNCIA GRECO-ROMANA!

Paulo foi adiante nas falsificações e, pior ainda, conseguiu fundir esse mito greco-romano-judaico com a própria ideologia do Império Romano, ao assemelhar Jesus ao Imperador de Roma e transformar o Movimento de Jesus em uma burocracia estatal-hierárquica chamada Igreja!

É OU NÃO É UM "NEGÓCIO DA CHINA"? Temos que tirar o chapéu pros judeus. Eles sabem como reverter as coisas e se beneficiar delas.

Paulo era cidadão Romano. Ele NUNCA iria apresentar o Jesus Histórico Aramaico como ele realmente era: um revolucionário que pregava o fim do Império Romano na Judéia. Jamais! Imagine só Paulo pregando Jesus aos romanos assim: 

"Veja romanos, nossa religião nova diz que o Império deve ruir e a província da Judeia deve ter sua independência, vocês devem acreditar nisso, é muito legal!"

Impossível, chega a ser ridículo. Paulo apresentou um Jesus à maneira dos romanos: um Deus-Imperador.

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VOLTANDO A TOMÉ

A ideia de Jesus ser O TODO e estar presente em tudo que existe não contraria os Ditos de Jesus do Evangelho Q. Muito ao contrário, complementa e se encaixa perfeitamente na teoria extraída dos próprios sinóticos de que, secretamente, Jesus ensinava coisas que a maioria das pessoas não estava preparada para ouvir. Essas coisas não era que ele "era deus" ou "cordeiro pascal" ou "salvador". Nada disso. Essas coisas eram as doutrinas MÍSTICAS dos Judeus, advindas de especulações metafísicas, transes e êxtases, como vemos na chamada Gnose Judaica de Merkabah, a forma primitiva do que se tornou Cabalá.

Esse misticismo pode não ser exatamente igual à especulação grega dos gnósticos gregos, mas não é diferente nem da Gnose Judaica, nem da Gnose aramaica mandaica. A gnose grega parece ser realmente uma adaptação em linguagem helenística do núcleo essencial da Gnose judaica e aramaica, sincrética, que lida com magia, astrologia, numerologia, especulações metafísicas sobre a Divindade e técnicas de transe e êxtase que se parecem com Yoga e meditação budista.

De novo, o misticismo de Tomé não contraria o Jesus Aramaico revolucionário social. Pelo contrário, o expande para o mundo.


A PREGAÇÃO DE JESUS ERA SOMENTE PARA OS JUDEUS.

E isso é claro quando lemos nas passagens A MULHER SIRO-FENÍCIA (MATEUS 15,21) e DAI A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR (LUCAS 20,25)

A mulher siro-fenícia É SÍRIA, não é judia, nem galileia. Jesus diz claramente que sua pregação é para os JUDEUS, e não para outros povos. "Mulher, que tenho eu contigo?" Disse Jesus. Egípcios, sírios, romanos, gregos, brasileiros, japoneses, que tenho eu com vocês? Minha doutrina não é para vocês. Vão embora!

Dai Roma para os Romanos, e Jerusalém para os judeus. Isso é o que Jesus ensinava quando disse Dai a César. É uma revolta contra o domínio romano: LUGAR DE ROMANOS É EM ROMA, LUGAR DE JUDEUS É EM JERUSALÉM. O Estado Judeu deve ter sua independência, romanos devem SAIR E NUNCA MAIS VOLTAR A PISAR EM JERUSALÉM. É muito claro, basta ler o texto.

Ora, o Evangelho de Tomé contraria isto. Se Jesus é O TODO, ele não está adstrito a Jerusalém, nem Galileia, nem Judeia. Porque nos anos 50 cristãos traíram Jesus dessa maneira falando que ele é O TODO?

Ora, porque eles assimilaram o movimento revolucionário de Jesus mas não concordam com ele: devemos espalhar esse movimento para todo o mundo e libertar os povos de TODO O MUNDO da tirania de Políticos corruptos e Sacerdotes maus!

Em outras palavras: os gnósticos não traíram Jesus, nem falsificaram o Evangelho. Eles simplesmente transportaram o movimento Rebelde do Jesus aramaico para O TODO, ou seja, O mundo inteiro. Por isso o Gnosticismo criou os Direitos Humanos, os Direitos Sociais, Individuais e Coletivos. Por isso os Gnósticos Clássicos denunciaram as hierarquias greco-romanas e foram odiados e mortos. Por isso os Maniqueístas denunciaram as hierarquias persas-sassânidas e foram odiados e mortos. Por isso os Cátaros denunciaram as hierarquias católicas e foram odiados e mortos.

Mas esse não era o objetivo original de Jesus, que só se importava com os Judeus. Jesus não queria saber do resto do mundo, nem se importava com outros povos.

Percebe a "heresia gnóstica"? Sim, é heresia do ponto de vista do Jesus Histórico que não pregou evangelho nenhum para converter pessoas de outros países. Mas os cristãos de Tomé não traíram o ensinamento Anárquico e Revolucionário do Jesus Aramaico, completamente destruído por Paulo e seu cristianismo paganizado romano imperial.

Entenda: a mensagem de Jesus nunca foi para nós, não-judeus. Quem a trouxe para nós não-judeus foram os "gnósticos".

Paulo pegou essa novidade desse ramo que pregava JESUS O TODO e o perverteu, transformando o Jesus de Tomé, originalmente um Estado de Consciência como o Buda, numa divindade greco-romana aparentada ao próprio Imperador de Roma. Isso sim é trair Jesus e pregar heresias.

Por mais que sincretizassem com mitologias e filosofias as mais variadas, o ramo "gnóstico" do movimento de Jesus nunca retirou o núcleo Anárquico-Revolucionário de Jesus. Apenas tentou apresentar isso para diferentes povos, em diferentes linguagens, o que não era objetivo real de Jesus.

À medida que vai se encontrando com outros povos, esse Jesus O TODO vai criando movimentos revolucionários espirituais diversos. Por isso teorizaram (e foram refutados) que os gnósticos eram marxistas. Na verdade os gnósticos estão mais para anarquistas espirituais, como o Jesus Aramaico e histórico. Obviamente que as denúncias contra as hierarquias acabaram gerando governos mais sociais, com espécies primitivas de socialismo como os que o Maniqueísmo causou na Pérsia e China antigas.

Um exemplo claro disso é o encontro dessas doutrinas primitivas de Jesus O TODO com o Dualismo Platônico: os gnósticos evoluíram o Dualismo Platônico para um NÃO-DUALISMO!

A separação entre Espírito e Matéria do Platonismo é reinterpretada como ILUSÃO pelos gnósticos. Por isso foram criticados por Plotino e os Neoplatônicos, por quererem "perverter" e "falsificar" a doutrina de Platão. Os gnósticos estavam revolucionando o Neoplatonismo, fazendo ele deixar de ser uma religião de elite para ser um movimento revolucionário cultural de massa. Isso justifica o ódio que receberam dos Neoplatônicos.


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Resumos e conclusões:

1 - Religião e Política nunca estiveram separados. O laicismo é coisa do Iluminismo e da Revolução Francesa, que separou Igreja do Estado. Antes do Iluminismo, Religião é Política e Política é religião. Em qualquer estado ou civilização, os deuses criaram o Estado, a Política e a Sociedade.

2 - Jesus nunca separou Religião e Política. Ele separou Roma de Jerusalém!

3 - Jesus nunca foi pacifista. Foi sim um mestre religioso espiritualista e ao mesmo tempo um Revolucionário Social. Jesus era apenas um dos vários candidatos à Messias, líderes político-religiosos que libertariam os judeus de qualquer domínio estrangeiro. Provavelmente Jesus assumiu a alcunha de Messias, liderando a revolta popular e turbulências no Templo de Jerusalém contra os Romanos. Por isso foi crucificado e morto, por atentado terrorista.

4 - O Movimento Aramaico do Jesus Histórico ficou chocado com sua morte. Tinham certeza que ele iria vencer, mas perdeu feio! Começam a justificar sua derrota com várias teorias. Os "gnósticos" transplantam a ideia revolucionária-social de Jesus para O TODO. Os helenistas inventam que Jesus é o "cordeiro de deus" e que ressuscitou dos mortos (Jesus é o "Cristo").  Os joaninos inventam que Jesus é a própria Torá encarnada e são expulsos oficialmente do Judaísmo.

5 - O Movimento Aramaico de Jesus era revolucionário, mas não socialista ou marxista. A Teologia da Libertação é poética e interessante mas não tem nada a ver com o Jesus Histórico. Teologia da Libertação é mitologia e fantasia sobre o que Jesus realmente foi, exatamente como a teologia paulina.

6 - O gnosticismo não é a assimilação de filosofia grega ao cristianismo. É justamente o contrário: a tentativa de preservar e expandir o Jesus Revolucionário para todos os povos, coisa que Jesus nunca quis ("Não fui enviado a não ser para as ovelhas perdidas de Israel", Mateus 15,24). Os gnósticos tentaram levar o Jesus Histórico e Revolucionário para as outras religiões, transformando-o numa Consciência Transcendental. Só assim ele poderia se encaixar nas mitologias de outros povos e revolucioná-las por dentro. O QUE O PROFETA MANI FAZ É EXATAMENTE ISSO! Ao contrário, o Jesus de Paulo se deixa ser totalmente transformado numa divindade greco-romana e no próprio Imperador Romano.

7 - Jesus era originalmente fariseu, tradicional. Depois, após se encontrar com João Batista, adota um misticismo judaico à sua maneira: político e revolucionário. Não existe nos Ditos de Jesus as doutrinas do Cordeiro Pascal, Paixão, Ressurreição, Eucaristia, Sacerdócio, Adoração em Templos, Sacrifício, Padres, Pastores, Apóstolos, Igreja, Hierarquia, Estrutura, NADA DISSO! A religião de Jesus é um movimento revolucionário sócio-político-mágico-místico, popular, simples, anticlerical.

PARA MAIS INFORMAÇÕES SOBRE O POSSÍVEL JESUS HISTÓRICO, EU RECOMENDO VÍDEOS DA TENDA DO NECROMANTE SOBRE JESUS: