domingo, 7 de maio de 2023

Os Ditos de Jesus e o Jesus Histórico


JESUS HISTÓRICO: SE TEM UMA IMAGEM QUE PODE MOSTRAR TALVEZ COMO ELE ERA, É ASSIM: UM HOMEM DA RAÇA JUDAICA PALESTINA, ORIGINALMENTE FARISEU, POSTERIORMENTE PRATICANTE DE MISTICISMO JUDAICO E REVOLUCIONÁRIO POLÍTICO-SOCIAL.


http://seer.pucgoias.edu.br/index.php/caminhos/article/view/1196

LUIGI SCHIAVO 

Resumo: no contexto da terceira onda de pesquisa do Jesus Histórico, o Jesus Seminar é um movimento de pesquisadores do Novo Testamento, surgido nos anos 80 nos Estados Unidos, com o objetivo de avaliar o grau de autenticidade dos ditos e atos do Jesus Histórico e, ultimamente, da tradição de Jesus. No presente estudo apresentaremos o método, as principais conclusões e algumas questões críticas relacionadas ao Jesus Seminar. 

Palavras-chave: Jesus Histórico, Movimento de Jesus, literatura, sociedade, história.

A A BUSCA PELAS PALAVRAS E ATOS DE JESUS: O JESUS SEMINAR DO JESUS DA FÉ AO JESUS REAL 

pesquisa sobre o Jesus Histórico, a partir de Reimarus, no séc. XVIII, se desenvolveu, até os nossos dias, em três ondas, preocupadas em reconstruir os fatos históricos e a pessoa humana de Jesus, que ficavam como que escondidos atrás das afirmações dogmáticas e de fé das Igrejas. Tal busca é fruto de uma mentalidade racionalística, que acreditava, em nome da razão, poder reconstruir a verdade histórica relacionada a Jesus. Ela foi marcada por vários momentos e etapas, como a descoberta da estratificação e fragmentação dos textos bíblicos, sua consequente classificação, a inserção de Jesus no contexto histórico-sociocultural do judaísmo do I séc., e a referência a outras fontes canônicas, apócrifas e pseudepigráficas que lançavam novas luzes sobre a complexidade da religião e da sociedade judaica do tempo de Jesus (SCHIAVO, 2006).


Sendo os olhos e os enfoques do pesquisador bem diferentes dos olhos dos crentes e das Igrejas, são possíveis várias abordagem a Jesus, resumíveis a quatro (SCHIAVO, 2006): 

• o Jesus real: é o homem Jesus de Nazaré, o Jesus da história, que viveu na Galiléia na primeira metade do I séc. Pelo que podemos reconstruir, era filho de José o carpinteiro e de Maria, e tinha provavelmente outros irmãos chamados Tiago, José, Simão e Judas (Mt 13,55). Deve ter sido discípulo de João Batista e, depois da morte dele, atuou três anos como rabi, sendo condenado e crucificado, talvez na Páscoa do ano 30. Se de um lado conhecemos bem os dados relativos ao final de sua vida, sua infância e juventude são envolvidas no mistério, e as narrativas de que dispomos não passam de relatos míticos. Não temos fontes diretas sobre o Jesus real, mas só memórias literárias, sujeitas às limitações próprias destes documentos. 

• O Jesus histórico: é a reconstrução da figura de Jesus a partir dos dados a nossa disposição, vindo de várias fontes: a literatura bíblica e extra-bíblica do I séc.; a arqueologia; a sociologia; a historiografia, etc. Este trabalho, servindo-se de vários métodos científicos, busca reconstruir e entender o contexto histórico, sociológico e religioso do tempo de Jesus, tentando entender e imaginar o impacto de sua pessoa e mensagem dentro deste mesmo contexto. Parte-se do pressuposto que Jesus deve ser lido dentro do contexto galiláico de sua época. Não sabemos se o Jesus histórico corresponda ao Jesus real: com certeza se aproxima bastante a ele. 

• O Jesus teológico: é o Jesus das afirmações dogmáticas da Igreja, sobretudo dos primeiros quatro concílios que definiram os elementos fundamentais da cristologia, diante da fragmentação e do pluralismo das definições e dos movimentos religiosos: Nicéia (325), Constantinopla (381), Éfeso (431), Calcedônia (451). É o Jesus da fé, diferente do Jesus real, mesmo que tenha elementos do Jesus histórico, e que será a base da unidade da fé das Igrejas que a ele se referem. 

• O Jesus da fé: é o Jesus crido, na resposta de fé do fiel que encontra o Jesus da história. É o Jesus considerado o Filho de Deus, o Senhor da história, o Salvador, o Messias, etc. Neste nível, o Jesus real, como ele era, o contexto em que vivia, o que realmente disse e fez, tem menor importância. Vale o Jesus imaginado, representado, sonhado, na maioria das vezes relacionado com os próprios desejos e necessidades. É um Jesus que já se transformou num verdadeiro símbolo, mas que tem o poder de orientar a vida e se tornar a referência ética fundamental de grupos e pessoas. 

Neste nosso estudo, enfocaremos a pesquisa desenvolvida pelo Jesus Seminar, que tem como objetivo “o Jesus real”, a delimitação das palavras por ele realmente pronunciadas e a reconstrução das ações por ele realizadas. Ela se insere no contexto mais amplo da “terceira onda” (Third Quest) do Jesus Histórico que lê o Jesus Histórico a partir do princípio de continuidade com o judaísmo do tempo. A leitura comparada dos textos cristãos mais antigos com os textos judaicos canônicos e apócrifos do mesmo período permite a reconstrução de elementos e da matriz comuns entre o judaísmo e o cristianismo primitivo, no que chamamos critério de continuidade ou de plausibilidade histórica. As pesquisas sobre Jesus, muito numerosas nos últimos anos, enfocam aspectos e temas diferentes: o Jesus mestre de sabedoria (Crossan, Mack, Vaage); o Jesus profeta do cumprimento das expectativas dos últimos tempos (Sanders, Meyer); surgiram, também, vários estudos sobre o contexto histórico-social da Palestina do I séc. d.C. – a Galiléia (Vermes, Freyne); a guerra judaica (Horsley); o movimento de Jesus (Theissen); as influências helênicas no movimento de Jesus (Vermes e Morton Smith) etc. 

O JESUS SEMINAR 

O Jesus Seminar, objeto deste nosso artigo, é um projeto de pesquisa patrocinado pelo Westar Institute, um instituto sem fins lucrativos, sustentado por seus membros, e cuja finalidade é a pesquisa aplicada à literatura religiosa, seja bíblica seja teológica1 . O Instituto não depende de nenhuma Igreja, nem se refere a nenhum específico ponto de vista teológico. Tem uma revista, a The Fourth R (assim chamada pelas iniciais das quatro seguintes palavras: reading, ‘riting and ‘rithmetic religion), onde, desde 1987, divulga para o grande público escritos e pesquisas sobre religião em linguagem popular, desenvolvidas nos seus projetos. O Jesus Seminar reúne mais ou menos 200 pesquisadores, especialistas em grego bíblico, e se propõe, através da investigação histórica, determinar o que Jesus, como figura histórica, pode ter dito e feito. O Seminar foi fundado em março de 1985, em Berkeley, California, por Robert Funk, professor da Universidade de Montana, e compreendia inicialmente trinta estudiosos, aos quais se agregaram posteriormente outros profissionais, chamados Fellows. Nas palavras de convocação, Funk definia quais eram os objetivos do Seminar:

Nós estamos entrando numa importante empreitada. Vamos procurar simplesmente e rigorosamente a voz de Jesus, o que ele realmente disse. Neste processo, iremos formular uma questão que chega aos limites do sagrado, ou também da basfêmia, para muitos em nossa sociedade. Como consequência, o caminho que seguiremos poderá trazer riscos. Poderemos provocar hostilidades. Mas, vamos começar, apesar dos perigos, porque somos profissionais e porque a questão de Jesus deve ser encarada, da mesma forma que o monte Everest por um grupo de escaladores. 2

O Jesus Seminar se propunha reler os quatro evangelhos e o Evangelho de Tomé, considerado tão antigo e importante quanto os canônicos e com mais material autêntico que João, buscando o grau de probabilidade das sentenças de Jesus, definido pelo consenso dos estudiosos. Seu objetivo era reconstruir a vida do Jesus Histórico, chegando a definir quem Jesus era, o que fez, o que disse, e o que suas palavras significaram. A reconstrução disso se baseava na antropologia social, na história e na análise textual dos textos. 

O movimento do Jesus Seminar se explica como o resultado da reação da academia científica diante das posições dogmáticas das Igrejas, que, sobretudo nos Estados Unidos, criaram um clima de inquisição, que fez com que os estudiosos ficassem retraídos e como que encurralados. O novo fermento intelectual surgido no pós-guerra, contagiou também a pesquisa bíblica, que aos poucos foi ganhando espaços e disciplinas nas universidades americanas, forçando a linha mais tradicional em seus próprios seminários e faculdades. Isso permitiu um fantástico crescimento dos estudos bíblicos, naquela que é conhecida como a “terceira onda” do Jesus Histórico (Third Quest).

O MÉTODO DO JESUS SEMINAR 

Para reconstruir o contexto e a história da sociedade palestina do I séc. d.C., o Jesus Seminar servia-se da antropologia trans-cultural, e para

enfocar a pessoa de Jesus, assim como transparecia dos textos antigos, usava a análise textual. Distinguia entre fontes primárias, fontes secundárias e evidências arqueológicas. O grupo procurava e analisava também as tradições sobre Jesus dos primeiros quatro séculos, a partir dos critérios de múltipla atestação, originalidade e oralidade Assumiram sete pilares da moderna pesquisa crítica de Jesus, desenvolvidos desde o XVIII séc.: 

• distinção entre o Jesus Histórico e o Cristo da Fé (Reimarus e Strauss); 

• reconhecimento da maior confiabilidade histórica dos três evangelhos sinóticos a respeito de João (tradição alemã do XIX séc.); 

• prioridade de Marcos diante de Mateus e Lucas (tradição de 1900); 

• existência do documento da Fonte Q (tradição de 1900); 

• rejeição do Jesus escatológico (apocalíptico) (1970-1980); 

• distinção entre cultura oral e escrita; 

• consideração que os evangelhos têm conteúdo histórico. 

A questão da exclusão da visão apocalíptica e escatológica de Jesus, assumida como um dos pressupostos do Jesus Seminar, ganhou espaço nos anos 1970-1980, quando a pesquisa sobre Jesus deixou o ambiente religioso para o acadêmico. Consideravam-se os elementos apocalípticos próprios de João Batista e da comunidade cristã das origens. Esta escolha levou, porém, à definição de um Jesus mais ligados aos círculos da sabedoria do que da escatologia. 

O primeiro passo metodológico do Jesus Seminar, foi a tradução dos Evangelhos no inglês americano, naquela que é conhecida como Scholars Version, que se caracterizava por preferir frases da língua corrente parecidas com o estilo do autor ou às suas palavras literais. As versões de referência da Bíblia eram a King James Version, a Revised Standard Version e o Novum Testamentum Graece. Procurava-se ouvir a mensagem assim como podia ressoar nos ouvidos de um ouvinte do I séc., por isso estavam preocupados em preservar a voz própria de cada autor. 

A metodologia para se chegarem a definir o grau de autenticidade dos textos bíblicos era a seguinte: em preparação ao fórum dos pesquisadores, um grupo de estudiosos escolhia um texto e preparava sua edição crítica a partir do Greek New Testament, com suas variantes no rodapé.

Por votação, escolhia-se também a tradução mais oportuna do texto. Em seguida, enviava-se o paper aos estudiosos do Jesus Seminar, para sua própria apreciação, estudo e aprofundamento pessoal. 

Os foruns do Jesus Seminar aconteciam duas vezes ao ano: neste ambiente, os estudiosos debatiam os textos e chegavam à definição, através de uma ou mais votações, de seu grau de autenticidade. A participação dos estudiosos nos dois debates anuais era de extrema importância, porque o consenso se criava através da discussão. A votação acontecia através da escolha de bolinhas de cores diferentes, a segunda do grau de autenticidade das palavras ou atos de Jesus. Foram selecionadas quatro cores: vermelho, para o que Jesus realmente disse; rosa, próximo ao que ele disse; cinza, para o que ele não disse nesta forma, mas estava parecido com seu ensinamento; preto, para o que não era dele. O consenso era definido pela porcentagem da pontuação, e não pela simples maioria: desta forma, se acreditava que refletisse melhor as opiniões de todos na decisão. A votação não determinava a verdade: indicava somente a orientação dos estudiosos em relação ao que era proposto. Desta forma, o Jesus Seminar, após acurada análise das evidências, declarava ou não um específico ditos ou ato como trazendo a voz ou a ação do Jesus histórico. 


OS RESULTADOS DO JESUS SEMINAR 

O Jesus Seminar produziu duas obras, uma relacionada aos ditos de Jesus, outra aos atos de Jesus. 


Os Ditos de Jesus 

Os ditos de Jesus que o Seminar conseguiu analisar entre os anos 1985- 1991 foram mais ou menos 150. As conclusões sobre os ditos considerados autênticos pelo Seminário estão no livro The Five Gospels: What Did Jesus Really Say? (MACMILLAN, 1993). Este livro tinha como finalidade atualisar os estudos de 200 anos sobre o Jesus Histórico e divulgá-los para o grande público. Os pesquisadores tinham como referência alguns critérios de autenticidade:

• a oralidade: tratava-se de descobrir a tradição oral dentro da redação escrita, por exemplo, na sentença de Jesus: “oferece a outra face” (Lc 6,29); 

• a ironia: “amai vossos inimigos” (Mt 5,43); 

• a confiança em Deus: “não tenham medo” (Mt 6,31); 

• a múltipla atestação: quando a mesma frase aparece em outros textos, como, por exemplo: “feliz os pobres”, que se encontra em Mt (5,3), Lc (6,20) e Tomé (20,54). 


Mas, há também os critérios de não-autenticidade: 

• a auto-referência, por exemplo, a frase de Jesus: “eu sou o caminho a verdade e a vida” (Jo 14,6); 

• o material de costura, usado como introdução ou explicação; 

• as questões comunitárias: quando o texto se refere à comunidade dos primeiros seguidores, como, por exemplo, na instrução dos missionários, ou nas questões relativas ao poder (Mt 16,17-19: Pedro a “pedra” sobre a qual Jesus constrói sua igreja); 

• nas visões teológicas em que se revela a teologia do redator, como no julgamento final de Mt 25,31-46, sobre a profecia que envolve ovelhas e cabritos. 


Segundo a determinação do Jesus Seminar, os ditos autênticos de Jesus são os seguintes : 

• Oferecer a outra face (92%): Mt 5,39; Lc 6,29a. 

• Túnica e veste: Mt 5,40 (92%); Lc 6,29b (90%). 

• Felizes os pobres: Lc 6,20b (91%); ET4 54 (90%); Mt 5,3 (63%). 

• Duas milhas (90%): Mt 5,41. 

• Amar os inimigos: Lc 6,27b (84%); Mt 5,44b (77%); Lc 6,32,35a (56%). 

• Fermento: Lc 13:20–21 (83%); Mt 13:33 (83%); ET 96:1–2 (65%). 

• Imperador e Deus (82%): ET100:2b–3; Mc 12:17b; Lc 20:25b; Mt. 22:21c (também Evangelho Egerton 3,1-6). 

• Dar e pedir (81%): Lc 6:30a; Mt 5,42a; Didaqué1,5a. 

• Bom samaritano (81%): Lc10,30–35. 

• Bem-aventurados os que têm fome: Lc 6:21a (79%); Mt 5,6 (59%); ET 69:2 (53%).

• Bem-aventurados os tristes: Lk 6,21b (79%); Mt 5,4 (73%). 

• O administrador infiel (77%): Lc16,1–8a. 

• Os trabalhadores na vinha (77%): Mt 20,1–15. 

• Abba, Pai (77%): Mt 6,9b; Lc11,2c. 

• A semente de mostarda : ET 20,2–4 (76%); Mc 4:30–32 (74%); Lc 13:18–19 (69%), Mt 13:31–32 (67%). 


Os ditos com alguma probabilidade de serem autênticos, assim como foi decidido pelo Seminário, são os seguintes (os primeiros 15 de 75): 

• Sobre a ansiedade, não se preocupar (75%): ET 36; Lc 12,22–23; Mt 6,25. 

• A moeda perdida (75%): Lc 15,8–9. 

• As raposas têm tocas: Lc 9,58 (74%); Mt 8,20 (74%); ET 86 (67%). 

• Nenhum respeito em casa: ET 31,1 (74%); Lc 4,24 (71%); Jo 4,44 (67%); Mt1 3:57 (60%); Mc 6,4 (58%). 

• O amigo à meia-noite (72%): Lc 11,5–8. 

• Dois mestres : Lc 16,13a; Mt 6:24a (72%); ET 47,2 (65%). 

• O tesouro: Mt 13,44 (71%); ET 109 (54%). 

• A ovelha perdida: Lc 15,4–6 (70%); Mt 18,12–13 (67%); ET 107 (48%). 

• O que entra: Mc 7,14–15 (70%); ET 14:5 (67%); Mt1 5,10-11 (63%). 

• O juíz iníquo (70%): Lc 18,2–5. 

• O filho pródigo (70%): Lc 15,11–32. 

• Deixar os mortos: Mt 8:22 (70%); Lc 9,59–60 (69%). 

• Eunucos para o céu: (70%) Mt 19,12a. 

• Pelos seus frutos (69%): Mt 7,16b; ET 45,1a; Lc, 44b (56%). 

• O banquete, a festa de casamento: ET 64,1–11 (69%); Lc 14,16- 23 (56%); Mt 22:2-13 (26%). 

A conclusão do Seminário foi que somente 18% dos ditos de Jesus podem ser realmente atribuídos a ele (vermelho ou rosa). No caso do Evangelho de João, quase todas as passagens atribuídas a Jesus foram consideradas não-autênticas. Quanto ao Evangelho de Tomé, apenas dois ditos foram pelo Seminar atribuídos a Jesus: o pote vazio (97) e o assassinato (98). Mas pode haver outros ditos autênticos paralelos aos sinóticos. Mesmo assim, é bom lembrar que o voto não determina a verdade: somente indica o parecer dos estudiosos quanto à possibilidade da sentença trazer a voz histórica de Jesus. 


Os Atos de Jesus 

As conclusões sobre os Atos reconduzíveis ao Jesus histórico, estão reunidas no livro publicado pelo Jesus Seminar: The Acts of Jesus: The Search for the Authentic Deeds of Jesus (POLEBRIDGE, 1998). O trabalho queria descobrir nos evangelhos, os rastos do homem por detrás do mito. E a figura que emergiu foi bastante diferente da imagem apresentada pelo Cristianismo tradicional. 

Os atos de Jesus foram avaliados na 2ª fase do Seminários, entre os anos 1991 e 1996, num total de 387 relatos de 176 eventos, na maior parte dos quais o protagonista principal é Jesus. Deles, somente 10 receberam a cor vermelha, sendo, portanto, considerados tendo uma alta probabilidade de autenticidade. Dezenove receberam a cor rosa, indicando que o evento provavelmente ocorreu. Somando vermelho e rosa, chega-se a 29, que significa 16% do total (176): de pouco inferior à porcentagem dos ditos de Jesus (18%). 

Os dez atos de Jesus considerados autênticos pelo Seminário (cor vermelha), são os seguintes: 

• a controvérsia de Beelzebul: Lc 11,15-17; 

• a voz no deserto (João Batista): Mc 1,1-8; Mt 3,1-12; Lc 3,21-22; Evangelho dos Ebionitas 4; 

• João batiza Jesus: Mc 1,9-11; Mt 3,13-17; Lc 3,21-22; Ev. Ebionitas 4; 

• Jesus proclama a “boa-nova”: Mc 1,14-15; 

• jantando com os pecadores: Mc 2,15-17; Mt 9,10-13; Ev. Oxyrinco 1224 5,1-2; 

• Herodes corta a cabeça de João: Mc 6,14-29; Mt 14,1-12; Lc 9,7-9; 

• crucificação: o núcleo do evento é considerado autêntico, mesmo que os relatos dos evangelhos sejam considerado improváveis ou fictícios (cor preta); 

• a morte de Jesus: o núcleo do evento é considerado autêntico, mesmo que os relatos dos evangelhos sejam considerado improváveis ou fictícios (cor preta); 

• a primeira lista de aparições: Jesus aparece a Cefa: 1Cor 15,3-5; 

• nascimento de Jesus: partes de Mt 1,18-25 e Lc 2,1-7.

Além disso, mesmo não pudendo ser catalogado como um dito ou ato de Jesus, foi considerado auténtico (cor vermelha) o sumário que relembra a companhia de mulheres que seguiam Jesus: Lc 8,1-3. 

Os 19 atos “rosa” (próximos ao que Jesus fez) são os seguintes:

• a sogra de Pedro: Mc 1,29-31; Mt 8,14-15; Lc 4,42-44; 

• a lepra: Mc 1,40-45; Mt 8,1-4; Lc 5,12-16; Ev. Egerton 2,1-4; 

• o paralítico e os quatro homens: Mc 2,1-12; Mt 9,1-8; Lc 5,17-26; 

• chamado de Levi: Mc 2,13-14; Mt 9,9; Lc 5,27-28; Ev. Ebionitas 2,4; 

• observância do sábado: Mc 2,23-28; Mt 12,1-8; Lc 6,1-5; 

• os parentes de Jesus vêm a ele: Mc 3,20-21; 

• verdadeiros parentes: Mc 3,31-35; Mt 12,46-50; ET 99,1-3; 

• a mulher com hemorragia: Mc 5,24-34; Mt 9,20-22; Lc 8,42-48; 

• escândalo em Nazaré: Mc 6,1-6; Mt 13,54-58; 

• comendo com mãos impuras: Mc 7,1-13; Mt 15,1-9; 

• pedido por um sinal: Lc 11,29-30; 

• o cego de Betsaida: Mc 8,22-26; 

• o cego Bartimeu: Mc 10,46-52; Lc 18,35-43; 

• o incidente ao templo (expulsão dos vendedores): Mc 11,15-19; Mt 21,12-17; Lc 19,45-48; 

• o imperador e Deus: Mc 12,13-17; Mt 22,15-22; Lc 20,19-26; ET 100,1-4; Ev. Egerton 3,1-6; 

• a prisão: o núcleo do evento não é lembrado em detalhes; 

• diante do sumo sacerdote: o núcleo do evento não é lembrado em detalhes; 

• diante do sinédrio: o núcleo do evento não é lembrado em detalhes; 

• diante de Pilatos: o núcleo do evento não é lembrado em detalhes. 


Juntando os ditos e os atos de Jesus, as conclusões do Seminar em relação a Jesus de Nazaré foram as seguintes: 

• Jesus de Nazaré nasceu no reinado de Herodes o Grande; 

• sua mãe se chamava Maria e ele teve um pai humano, cujo nome pode não ter sido José; 

• Jesus nasceu em Nazaré, não em Belém; 

• Jesus foi um sábio itinerante cuja atuação foi no meio dos marginalizados;

• Jesus praticou curas sem fazer uso da medicina ou magia tradicionais, aliviando sofrimentos por nós hoje definidos como psicossomáticos; 

• Ele não andou em cima das águas, não alimentou a multidão com pães e peixes, não transformou a água em vinho, nem ressuscitou Lázaro da morte; 

• Jesus foi preso em Jerusalém e crucificado pelos romanos; 

• ele foi executado como um perturbador da ordem pública e não pela pretensão de ser o Filho de Deus; 

• o túmulo vazio é uma ficção: Jesus não ressurgiu corporalmente da morte; 

• a crença na ressureição se baseia na experiência visionária de Paulo, Pedro e Maria. O retrato de Jesus que aparece na reconstrução do Jesus Seminar é de um mestre sábio itinerante, não preocupado em fundar uma nova religião, mas dedicado à pregação e à interpretação de questões relativas à lei e a problemas cotidianos do povo. Anunciou a vinda do Reino de Deus, cuja expectativa já era presente na sociedade judaica do I séc. Falou de Deus na imagem de um pai amoroso, confraternizou com marginalizados e os adversários. Partindo da premissa que Jesus não teria nada a ver com a apocalíptica, o Seminário chegou à conclusão que ele seria um mestre sábio preocupado com o melhoramento e a transformação da vida e da realidade, mais do que um profeta escatologico-apocalíptico, anunciando o fim do mundo. 


A NOVA FASE DO JESUS SEMINAR: O ESTUDO DA COMUNIDADE CRISTÃ DAS ORIGENS 

Os ditos e os atos de Jesus analisados pelo Jesus Seminar representaram a base para as pesquisas individuais dos estudiosos sobre o Jesus Histórico. A partir de 2006, começou a terceira fase do Jesus Seminar, finalizada ao estudo da tradição de Jesus, a partir do movimento galiláico de Jesus. O projeto do Westar Institute voltado para isso foi chamado: Jesus Seminar on Christian Origins. O mesmo método usado em relação à busca de autenticidade dos ditos e atos do Jesus histórico, é agora usado para estudar o desenvolvimento da história da comunidade cristã e de seus escritos. Nesta fase, textos e tradições como a Fonte Q, os Evangelhos de Tomé e Marcos são lidos dentro do específico contexto cultural da Galiléia do I século. Entre os vários pesquisadores desta área, merecem ser lembrados James M. Robinson, organizador da The Nag Hammadi Library in English, e o Prof. Moti Aviam, por seu trabalho arqueológico na Galiléia. Paralelo a este, o Westar Institute patrocina outro Projeto: o Seminar on the Acts, iniciado em 1999 e cuja finalidade é a avaliação da autenticidade dos primeiros capítulos dos Atos dos Apóstolos, procurando definir o grau de autenticidade dos dados relativos às origens da comunidade cristã de Jerusalém. Por fim, há outro Projeto em andamento: o Literacy and Liturgy Seminar, que serve como ponte entre os trabalhos do Jesus Seminar e a fé das Comunidades.

----------------------------------

São muitas descobertas e conclusões fabulosas sobre o personagem Jesus e seu movimento sócio-político.

Mas o que mais me impressiona é a conclusão de que O EVANGELHO DE TOMÉ NÃO É SÓ MAIS ANTIGO QUE TODOS OS OUTROS BÍBLICOS MAS CONTÉM OU SE BASEIA EM MATERIAL MAIS ANTIGO DO QUE O QUE FOI UTILIZADO POR MATEUS, MARCOS E LUCAS!!!

Isso significa o seguinte: o Evangelho de Tomé está mais próximo do Evangelho Q do que qualquer outro existente e, portanto, mais próximo do que poderiam ter sido doutrinas originais de Jesus do que qualquer outro texto cristão exceto o Evangelho Q.

Mas o que há em comum e o que é diferente entre Q e Tomé? Vejamos algumas coisas:


Comum: 

- o Reino de Deus é neste mundo, não em outro. Não existe "Reino dos Céus" como algo transcendente.

- O ensinamento de Jesus é simples mas há um nível mais profundo de entendimento que alguns podem acessar.

- Não existe "paixão de Cristo". Jesus de maneira nenhuma é "Cordeiro de Deus", nem Deus, nem anjo, nem espírito. Jesus não tem qualquer conexão com o Templo de Jerusalém e seus sacrifícios rituais. Ele não é o Cristo teológico do Novo Testamento.

- Jesus não é sacerdote de uma instituição religiosa organizada.


Diferente (?):

- Em Q, Jesus é um messias político, um líder guiando o povo a uma revolução social de independência e reforma religiosa.

- Em Tomé, Jesus é O TODO, é tudo que existe, está em tudo, presente em tudo.


Isso é muito revelador. Nos anos 50, 20 anos depois da Morte de Jesus, um grupo influente de seus seguidores desenvolveu uma doutrina segundo a qual Jesus é O TODO. Como assim, o Todo?

Isso só pode ser explicado de uma maneira: Jesus, para Tomé, além do ensino socio-político revolucionário, revolucionou a espiritualidade. Jesus se tornou uma Ideia, Essência, Pensamento. Melhor dizendo: um Estado de Consciência.

Alguns Ditos de Jesus de Tomé repetidos nos sinóticos trazem uma versão mais simples, primitiva e sem adições e interpretações teológicas. São mais crus, secos, diretos e objetivos. Se conclui que Tomé utilizou versões mais antigas de coleções de Ditos de Jesus que os sinóticos.

Vejamos esse excelente estudo sobre o Evangelho de Tomé da Universidade Metodista, trabalho de conclusão de curso de um pastor 

http://www.metodistavilaisabel.org.br/artigosepublicacoes/descricao2.asp?n=53 :

Meyer traz a luz uma questão ainda mais interessante, a qual consideramos muito importante. O autor salienta que, “às vezes, Tomé preserva sentenças que parecem ser mais originais que os paralelos do Novo Testamento. Um exemplo é a sentença 9 de Tomé, conhecida nos sinóticos como a “Parábola do Semeador” (Mateus 13,3-9; Marcos 4,2-9 e Lucas 8, 4-8). Assim ela aparece em Tomé: 

(9) Jesus disse: "Eis que o semeador saiu, encheu sua mão e semeou. Algumas sementes caíram na estrada; os pássaros vieram e as recolheram. Algumas caíram sobre rochas, não criaram raízes no solo e não produziram espigas. Outras caíram em meio a um espinheiro, que sufocou as sementes e os vermes as comeram. E outras caíram em solo fértil e produziram bons frutos; renderam sessenta por uma e cento e vinte por uma". 

A forma rústica e objetiva, sem a necessidade de associar a parábola com a vida da Igreja através de interpretações alegóricas mostra o caráter mais primitivo e original do texto de Tomé. Isto mostra que as interpretações foram acréscimos tardios de explicações do texto para o entendimento da Igreja primitiva. Em Tomé, o escrito é exatamente o sentido que transmite: uma narração da agricultura na Palestina rural.

Este modelo segue todo o escrito de Tomé, não há interpretações alegóricas dos textos de Tomé com respeito às parábolas. Outro ponto a ser destacado é a expressão “encheu a mão (de sementes) e semeou”, presente na sentença de Tomé e ausente nos textos sinóticos. Segundo Meyer isto pode constituir um detalhe de um antigo contador de história.

A presença de sentenças que não aparecem nos evangelhos sinóticos, também reforça a crença do Evangelho de Tomé como fonte primária. Meyer diz que “algumas vezes, as sentenças eram totalmente desconhecidas” até a descoberta de Nag Hammadi. O exemplo usado por Meyer são as sentenças 97 e 98 :

(97) Jesus disse: "O Reino do Pai é como uma certa mulher que estava carregando um cântaro cheio de farinha. Enquanto estava caminhando pela estrada, ainda distante de casa, a alça do cântaro partiu-se e a farinha foi caindo pelo caminho atrás dela. Ela não se deu conta, pois não tinha percebido o acidente. Quando chegou em casa, colocou o cântaro no chão e percebeu que ele estava vazio." 

(98) Jesus disse: "O Reino do Pai é como um certo homem que queria matar um homem poderoso. Em sua própria casa ele desembainhou a espada e enfiou-a na parede para saber se sua mão poderia realizar a tarefa. Então ele matou o homem poderoso."  

São sentenças que fogem do aspecto apocalíptico de Jesus adotado no Novo Testamento. Segundo Meyer, a análise dessas parábolas “desconhecidas” podem de alguma forma, trazer muito do Jesus Histórico: “No Evangelho de Tomé e na primeira versão de ‘Q’, Jesus não emprega imagens apocalípticas para anunciar a vinda do Reino de Deus, mas antes declara que o reino já é uma realidade presente”. 

Um exemplo da característica desse Jesus em Tomé está na sentença 113: “Seus seguidores disseram-lhe: Quando virá o reino? Não virá quando se espera por ele. Não se dirá: Vejam, aqui está ele ou vejam, ali está ele. O reino do Pai está espalhado pela terra e as pessoas não o vêem”.

Apesar de não acreditarmos na hipótese cínica de Meyer, Crossman ou Mack, é possível que o Jesus de Tomé esteja mais próximo do Jesus histórico do que o Jesus dos evangelhos sinóticos. É difícil de provar essa questão, mas o Jesus dos Evangelhos canônicos parece dotado de uma mitologia trabalhada e proposital para uma religião instituída. Não queremos com isso desmantelar a figura oficial de Jesus, Deus cristão e responsável pela estruturação do cristianismo como a maior força religiosa da história. Porém, não se pode negar a simplicidade do texto no Evangelho de Tomé e ausência da narração de paixão e morte e da ressurreição de Jesus, enquanto que, em Mateus, Marcos e Lucas, ganham centralidade e paralelos com outros mitos similares do mundo antigo.

Podemos dizer que, inicialmente, como já foi comprovado, essas narrativas sobre morte e ressurreição de Jesus não eram centradas como fundamentais para a proclamação da mensagem do nazareno. Tais fundamentos doutrinários ganharam força a partir das epístolas paulinas e pseudo-paulinas. Dessa forma, como em Tomé não há a presença ou preocupação em destacar essas passagens, podemos imaginar que o texto de Tomé é mais antigo ou, ao menos, utilizou uma fonte mais antiga que os evangelhos sinóticos.

Quando relacionamos com o Evangelho de João, é preciso partir de uma outra premissa. O primeiro ponto que há de se destacar é a proximidade de João e Tomé com o mundo gnóstico. No entanto, as semelhanças terminam por aí. Mack levanta a questão da figura apresentada por ambas comunidades. Enquanto Tomé trabalha seu evangelho por meio de sentenças, reforçando dessa forma, a imagem do “mestre sábio”, personagem muito comum nas seitas gnósticas e no mundo místico, João canaliza as narrativas de tempo-espaço com a mitologia cristológica já decorrentes do mundo cristão ocidental.

Mack destaca essa combinação como um “auspicioso golpe de genialidade imaginativa”. Concordo plenamente. Expressões como “Filhos da Luz e das Trevas”, “Fonte de Água Viva” ou “Pão Vivo que veio do céu”, tipicamente míticas-gnósticas, correm paralelamente com textos do Antigo Testamento e com o cenário palestino e romano. Talvez fosse o grande trunfo do Evangelho de João para ser aceito entre os canônicos.

Mas a relação entre Tomé e João pode ser mais bem destacada pelo conflito entre os principais nomes usados como autores para os respectivos escritos: o discípulo Tomé e o dito, discípulo amado, João. No evangelho de João em seu capítulo de número 20, no momento em que Jesus aparece aos discípulos, depois de ressurreto, e concede o Espírito Santo aos seus seguidores mais chegados, o único dos doze, além de Judas Iscariotes, que não está presente é Tomé. Ora, se não está presente no momento em que o poder de inspiração e legitimidade para um autor sagrado é derramado sobre aqueles que teriam a missão de espalhar a mensagem de Jesus pelo mundo, certamente nada do que Tomé escreveria seria inspirado pelo Espírito Santo de Deus, concedido pelo próprio Jesus, e narrado por aquele que se auto proclamou, “o discípulo amado”. O que está presente na questão é o conflito entre comunidades. Em Tomé não há qualquer referência a João, mas há a famosa sentença 13, onde Jesus considera Tomé apto para ouvir três segredos revelados somente para os evoluídos e João sequer é citado.

Neste capítulo, o que percebemos e concluímos é a forte ligação de Tomé com o mundo místico-gnóstico e sua independência diante dos Evangelhos do Novo Testamento. Essa independência e singular visão de Jesus trouxe para esse escrito a marginalização e a refutação de um cristianismo já elitizado e institucionalizado em meados do II século. A sua redescoberta entre os textos de Nag Hammadi trouxeram á tona uma imagem de Jesus ao mesmo tempo mágico e humano, sem os feitos milagrosos, mas portador de uma mensagem que vai além da realidade visível. 


-----

A Hipótese Cínica é a que acredita ser Jesus adepto das ideias da escola filosófica do Cinismo grego. É improvável, tendo em vista que Q e Tomé mostram um Jesus combativo e revolucionário político, o que contraria os princípios do cinismo. Além disso não há nada de especificamente helênico nos Ditos de Jesus, mas sim Oriental e muito especificamente judaico, que passa longe da filosofia grega. Alguma influência cínica pode ter existido mas extremamente baixa e suplantada pela revolução social-política.

Evangelho de Tomé e de João são radicalmente diferentes e caminham em direções opostas. Enquanto Tomé mostra um Jesus que é um Sábio andarilho-filósofo, ao molde dos mestres espirituais do Oriente, que são encontrados do Egito até a Índia (e muito semelhante aos gimnosofistas indianos), João apresenta um Jesus totalmente teológico e "acadêmico", mitologizado e teorizado com categorias profundamente gregas.

O Jesus de Tomé é ao mesmo tempo Mágico e Humano. Aqui ele não é mago. Mágico no sentido Transcendental. Mas, ao mesmo tempo, extremamente Humano, preocupado com o Social, o Politico e o Histórico. Há atualmente três correntes entre os estudiosos sobre se Jesus era apenas um revolucionário político, um mago-profeta no estilo dos profetas carismáticos do Antigo Testamento e de João Batista, ou uma mistura das duas coisas. Eu fico do lado da terceira corrente: Jesus é um profeta carismático, um mago (praticava e estudava magia como João Batista e os judeus de sua época) e um revolucionário político-social. Não há motivos para separar essas três coisas, pois os outros candidatos a messias (havia ao menos NOVE líderes carismáticos na época de Jesus se dizendo Messias revolucionários!!!) também misturam essas características.

Antes de qualquer livro do Novo Testamento ser escrito, cristãos já tinham desenvolvido uma ideia mística sobre Jesus muito mais próxima das primeiras coleções de Ditos de Jesus que, por sua vez, estão literalmente mais próximas do Jesus Histórico do que qualquer texto do Novo Testamento. O que abre a possibilidade de Jesus ter ensinado doutrinas místicas. E quando lemos os seus ditos em formas de Parábolas, fica tentador concluir isto.

Mas que Misticismo é esse? Como assim Jesus é "O Todo"?

O contexto de Jesus na Galiléia pode responder: discípulo de João Batista, influenciado por doutrinas dos Essênios, Judaísmo místico, Apocalíptica... Teria Jesus praticado exercícios místicos, parecidos com as técnicas de meditação e êxtase da Cabalá, da Merkabah? Teria Jesus compartilhado de visões extáticas, transes e êxtases como os que aparecem nos numerosos Apocalipses judaicos e cristãos contemporâneos a ele? Não duvido!

Mas como pode haver um grupo judeu oficialmente reconhecido, como os Essênios, que lê e produz textos que não fazem parte da Torá, não frequenta o Templo de Jerusalém e ainda por cima pratica Astrologia, Magia, Numerologia e diversos tipos de práticas místicas? Ora, isso é perfeitamente possível se você estudar como funcionava o Judaísmo do Segundo Templo. Sugiro que assista aos vídeos da Tenda do Necromante sobre o Judaísmo do Segundo Templo:

 



Os Sacerdotes exigiam o sacrifício e a oferta de produtos e bens no Templo. Os judeus tinham que viajar de suas vilas rurais até o Templo em Jerusalém. O que eles faziam nas suas vilas longe das autoridades não interessava muito aos sacerdotes, desde que não causassem tumultos sociais ou se negassem a fazer os sacrifícios e entrega de dízimos e ofertas. 

Quando lemos os Horóscopos e textos astrológicos encontrados em Qumran junto com Apócrifos Judaicos e Antigo Testamento, nós vemos que esse pessoal sincretizava partes da religião babilônica com versões esotéricas e heréticas do Zoroastrismo. Isso afetava o Templo de Jerusalém? Não. Então para eles pouco importava. Só não se podia divulgar isso em público abertamente.

Mas, voltando a Tomé, e O Todo? Ora, esse Todo parece ser uma experiência mística de Unificação com o Universo, referenciada no Gnosticismo, Cabalá, Budismo, Hinduísmo e tantas outras tradições que sabemos que se comunicaram no período helenístico. Jesus, em transe, pode até mesmo ter se identificado com Deus, dada sua concepção extremamente herética de religião vista no conceito de "Reino de Deus" que proclama. Pode até mesmo ter ensinado isso para algumas pessoas. Talvez por isso há passagens como Marcos 1:44 onde Jesus proíbe as pessoas que contem e espalhem que ele é o Messias e que faz curas. Pode ser que essa passagem seja uma adulteração de algo que Jesus realmente fez: em transe místico, com ideias revolucionárias de religião, afirmou ser ele "Deus", não como uma divindade mas como um ser humano que alcançou, por praticar exercícios místicos, um estado semi-divino ou divino. Talvez, o que os padres gregos chamaram mais tarde de Theosis ou Deificação.

Ao contrário dos escritos de Paulo e demais do Novo Testamento, Jesus não afirma que é Deus em Tomé. Ele é mais que isso. Ele é O Todo. Isso é muito mais que ser um Deus. Ser um Deus no Novo Testamento parece algo comum aos deuses gregos e romanos: um ser que deve ser adorado em um templo por ser superior à humanidade, uma autoridade, um chefe poderoso. Não é isso que o escritor de Tomé quer que pensemos de Jesus. Para Tomé, Jesus é O Todo, um Estado de Consciência que devemos e podemos alcançar.

Teria o Jesus Histórico tido contatos diretos com os Samaneus budistas, os gimnosofistas indianos, brahmanes hindus e suas práticas místicas? Talvez, mas acho pouco provável. Acredito que essa influencia mística em Jesus, se é que houve, tenha sido indireta e por via dos Essênios e outros grupos judaicos. Mas, mais tarde, no século 2, quando os Atos de Tomé e o Livro de Tomé o Contendor ou Adversário são escritos, aí sim, há grande possibilidade de doutrinas budistas e indianas, como vimos na semelhança chocante entre o Sermão Budista do Fogo e o Sermão do Fogo do livro de Tomé o Adversário.

Eu realmente acredito que o Jesus Histórico tenha ensinado algo nesse sentido. Mas como é algo extremamente problemático de se dizer em público, preferiu dizer aos poucos e para apenas algumas pessoas. Transmitiu assim um Conhecimento "secreto" sobre Espiritualidade e religião. Ele o disse em parábolas, para que muitos não entendessem de propósito, pois deturpariam ou entenderiam Jesus como blasfemo.

Então, por isso o Evangelho Q deixa subentendido. Mas Tomé deixa escancarado e dá ênfase nisso.

Tomé parece, à primeira lida, trair o Jesus Histórico, pregando um Jesus muito místico e espiritualizado. Mas analisando as parábolas e ditos de Jesus em sua versão primitiva, vemos que Tomé guarda esse Jesus social-político.

Mas, será mesmo que Tomé se afastou tanto do Jesus Histórico quanto os Sinóticos?

Nos Sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) sim, Jesus é traído e substituído por uma divindade greco-romana de Cultos de Mistérios que é, ao mesmo tempo, objeto do Ritual de Sacrifício judaico do Templo de Jerusalém, o Cordeiro de Deus. Porque é isso que a Paixão de Cristo é: uma encenação teatral, como os mitos de Orfeu, Dionísio, Perséfone e todos os mitos básicos de cada Religião de Mistérios gregos, adaptada para um público judaico apegado aos ritos de sacrifício sangrentos do Templo de Jerusalém.


Os gnósticos não traíram Jesus. No Gnosticismo, permaneceu o espirito Rebelde, Anticlerical, Anti-hierárquico e revolucionário do Jesus Histórico e seu Movimento Aramaico. Por mais que sincretizassem com as religiões grega, egipcia, persa e etc, os gnósticos nunca retiraram de Jesus as qualidades do Messias Aramaico: seu Anarquismo Espiritual e luta pelos menos favorecidos contra as classes dominantes. No Gnosticismo clássico, como no Apócrifo de João, os gnósticos chamam as autoridades politicas e jurídicas (Arcontes) de DEMONIOS, filhos do Diabo horrível que criou o mundo à sua imagem e semelhança: injustiça, morte, ignorância, desigualdade e opressão.

A tradição "neopagã" de Paulo sim traiu Jesus, pois retirou todo o Anarquismo Espiritual anti-romano dele e o transformou no próprio Imperador Romano, sacerdote segundo a "ordem de melquisedeque", "cordeiro de deus", "rei dos reis", "senhor dos senhores", governante mundial absoluto, literalmente um TIRANO que força sua vontade sobre todos porque quer. E AI de quem criticar a teologia neopagã de Paulo: é blasfemo, herege, anátema, excomungado... Mas o Jesus Histórico, ao iniciar um movimento revolucionário contra Roma, se torna literalmente um terrorista. E ele não se importa, é isso mesmo que ele quer.

Modernamente ainda forçam uma ideia muito errada de que Jesus era um pacifista, um Mahatma Gandhi, uma Madre Tereza. Nada disso. Jesus era revolucionário e queria tomar o poder dos sacerdotes e de Roma à força, fazendo uma insurreição armada.

Outros taxam Jesus de socialista, o que é absurdo. Jesus não queria implantar um Estado burocrático governado por dirigentes de partido. O Reino de Deus é um reino social religioso comandado pelos judeus, favorecendo os camponeses e populações rurais, sem interferência externa.

Alguns se perderam entre esses dois caminhos e acabaram tendo que aceitar os novos mitos de Jesus como "Cordeiro Pascal". Mas daí interpretaram tudo à sua maneira. É o exemplo dos Docetas. O docetismo é a tentativa de forçar Jesus como um Buda DENTRO DO MITO DA PAIXÃO. Eles assimilaram o mito da Paixão de Cristo alegoricamente, e tentaram adaptar o Jesus O TODO de Tomé a isto.

O que dizem os Docetas? Eles partem da ideia do Jesus O TODO do Tomé, mas a levam a consequências irracionais ao tentar encaixar JESUS O TODO de Tomé no mito neopagão greco-judaico da Paixão de Cristo. Eles assimilam esse mito, mas não literalmente como Paulo. O assimilam como alegórico. Esse é o problema. Se Jesus é O TODO, logo ele nunca poderia ter sido crucificado: como pode uma Substância Supra-Sensível, um Estado de Consciência, a Natureza de Buda encarnar, sofrer, morrer e ressuscitar? É IMPOSSÍVEL. O ESTADO DE BUDA NÃO PODE VIRAR CARNE.

O Mito da Paixão de Cristo é absolutamente irracional. É uma estranha e bizarra mistura dos mitos dos deuses greco-romanos das religiões de Mistério, com o ritual sangrento do Sacrifício descrito na Torá, onde novilhos, cordeiros e touros eram sacrificados pelos pecados do povo. Todos os povos do mundo naquela época faziam sacrifícios de animais, e os judaítas exilados da babilônia apenas editaram a sua versão de como e para quê servem os sacrifícios, aliás muito semelhantes aos sacríficios zoroastrianos.

Voltando ao Mito da Paixão, assim como nos mitos de mistério, causa comoção. Quem nunca assistiu o filme A Paixão de Cristo e ficou emocionado com a história? Pois ela foi criada exatamente para isso, para emocionar. Não é racional. É um mito de Mistério perdendo sua natureza simbólica racional e se transformando num sangrento ritual de sacrifício judaico-zoroastriano.

Os docetas, baseando-se no Jesus O TODO de Tomé, não assimilaram esse mito literalmente, e tiveram de dar uma nova interpretação: a paixão foi uma ilusão, pois Jesus é um Estado de Consciência, portanto não pode ser crucificado e seu corpo material era apenas uma ilusão, sendo na verdade pura energia infinita e eterna. Olha o problema que os docetas causaram a si! Tudo porque tentaram adaptar o mito da Paixão ao Jesus O TODO de Tomé. Não deu certo, obviamente.

O docetismo é a tentativa de forçar no mito da paixão o Estado de Buda. Basta retirar toda esse mitologia da paixão de Cristo e ficar só com a Fonte Q, os Ditos de Jesus, que o problema está resolvido. Mas os docetas insistiram nesse mito...

O Estado de Buda não pode encarnar, visto que está além de qualquer distinção ontológica entre "espírito" e "matéria". Por isso nunca encarnou. Jesus nunca ensinou que ele era pré-eterno com o Pai, que foi profetizado como Cordeiro Pascal, NADA DISSO! ISSO É TUDO TEOLOGIA POSTERIOR INVENTADA POR INFLUÊNCIA GRECO-ROMANA!

Paulo foi adiante nas falsificações e, pior ainda, conseguiu fundir esse mito greco-romano-judaico com a própria ideologia do Império Romano, ao assemelhar Jesus ao Imperador de Roma e transformar o Movimento de Jesus em uma burocracia estatal-hierárquica chamada Igreja!

É OU NÃO É UM "NEGÓCIO DA CHINA"? Temos que tirar o chapéu pros judeus. Eles sabem como reverter as coisas e se beneficiar delas.

Paulo era cidadão Romano. Ele NUNCA iria apresentar o Jesus Histórico Aramaico como ele realmente era: um revolucionário que pregava o fim do Império Romano na Judéia. Jamais! Imagine só Paulo pregando Jesus aos romanos assim: 

"Veja romanos, nossa religião nova diz que o Império deve ruir e a província da Judeia deve ter sua independência, vocês devem acreditar nisso, é muito legal!"

Impossível, chega a ser ridículo. Paulo apresentou um Jesus à maneira dos romanos: um Deus-Imperador.

------------

VOLTANDO A TOMÉ

A ideia de Jesus ser O TODO e estar presente em tudo que existe não contraria os Ditos de Jesus do Evangelho Q. Muito ao contrário, complementa e se encaixa perfeitamente na teoria extraída dos próprios sinóticos de que, secretamente, Jesus ensinava coisas que a maioria das pessoas não estava preparada para ouvir. Essas coisas não era que ele "era deus" ou "cordeiro pascal" ou "salvador". Nada disso. Essas coisas eram as doutrinas MÍSTICAS dos Judeus, advindas de especulações metafísicas, transes e êxtases, como vemos na chamada Gnose Judaica de Merkabah, a forma primitiva do que se tornou Cabalá.

Esse misticismo pode não ser exatamente igual à especulação grega dos gnósticos gregos, mas não é diferente nem da Gnose Judaica, nem da Gnose aramaica mandaica. A gnose grega parece ser realmente uma adaptação em linguagem helenística do núcleo essencial da Gnose judaica e aramaica, sincrética, que lida com magia, astrologia, numerologia, especulações metafísicas sobre a Divindade e técnicas de transe e êxtase que se parecem com Yoga e meditação budista.

De novo, o misticismo de Tomé não contraria o Jesus Aramaico revolucionário social. Pelo contrário, o expande para o mundo.


A PREGAÇÃO DE JESUS ERA SOMENTE PARA OS JUDEUS.

E isso é claro quando lemos nas passagens A MULHER SIRO-FENÍCIA (MATEUS 15,21) e DAI A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR (LUCAS 20,25)

A mulher siro-fenícia É SÍRIA, não é judia, nem galileia. Jesus diz claramente que sua pregação é para os JUDEUS, e não para outros povos. "Mulher, que tenho eu contigo?" Disse Jesus. Egípcios, sírios, romanos, gregos, brasileiros, japoneses, que tenho eu com vocês? Minha doutrina não é para vocês. Vão embora!

Dai Roma para os Romanos, e Jerusalém para os judeus. Isso é o que Jesus ensinava quando disse Dai a César. É uma revolta contra o domínio romano: LUGAR DE ROMANOS É EM ROMA, LUGAR DE JUDEUS É EM JERUSALÉM. O Estado Judeu deve ter sua independência, romanos devem SAIR E NUNCA MAIS VOLTAR A PISAR EM JERUSALÉM. É muito claro, basta ler o texto.

Ora, o Evangelho de Tomé contraria isto. Se Jesus é O TODO, ele não está adstrito a Jerusalém, nem Galileia, nem Judeia. Porque nos anos 50 cristãos traíram Jesus dessa maneira falando que ele é O TODO?

Ora, porque eles assimilaram o movimento revolucionário de Jesus mas não concordam com ele: devemos espalhar esse movimento para todo o mundo e libertar os povos de TODO O MUNDO da tirania de Políticos corruptos e Sacerdotes maus!

Em outras palavras: os gnósticos não traíram Jesus, nem falsificaram o Evangelho. Eles simplesmente transportaram o movimento Rebelde do Jesus aramaico para O TODO, ou seja, O mundo inteiro. Por isso o Gnosticismo criou os Direitos Humanos, os Direitos Sociais, Individuais e Coletivos. Por isso os Gnósticos Clássicos denunciaram as hierarquias greco-romanas e foram odiados e mortos. Por isso os Maniqueístas denunciaram as hierarquias persas-sassânidas e foram odiados e mortos. Por isso os Cátaros denunciaram as hierarquias católicas e foram odiados e mortos.

Mas esse não era o objetivo original de Jesus, que só se importava com os Judeus. Jesus não queria saber do resto do mundo, nem se importava com outros povos.

Percebe a "heresia gnóstica"? Sim, é heresia do ponto de vista do Jesus Histórico que não pregou evangelho nenhum para converter pessoas de outros países. Mas os cristãos de Tomé não traíram o ensinamento Anárquico e Revolucionário do Jesus Aramaico, completamente destruído por Paulo e seu cristianismo paganizado romano imperial.

Entenda: a mensagem de Jesus nunca foi para nós, não-judeus. Quem a trouxe para nós não-judeus foram os "gnósticos".

Paulo pegou essa novidade desse ramo que pregava JESUS O TODO e o perverteu, transformando o Jesus de Tomé, originalmente um Estado de Consciência como o Buda, numa divindade greco-romana aparentada ao próprio Imperador de Roma. Isso sim é trair Jesus e pregar heresias.

Por mais que sincretizassem com mitologias e filosofias as mais variadas, o ramo "gnóstico" do movimento de Jesus nunca retirou o núcleo Anárquico-Revolucionário de Jesus. Apenas tentou apresentar isso para diferentes povos, em diferentes linguagens, o que não era objetivo real de Jesus.

À medida que vai se encontrando com outros povos, esse Jesus O TODO vai criando movimentos revolucionários espirituais diversos. Por isso teorizaram (e foram refutados) que os gnósticos eram marxistas. Na verdade os gnósticos estão mais para anarquistas espirituais, como o Jesus Aramaico e histórico. Obviamente que as denúncias contra as hierarquias acabaram gerando governos mais sociais, com espécies primitivas de socialismo como os que o Maniqueísmo causou na Pérsia e China antigas.

Um exemplo claro disso é o encontro dessas doutrinas primitivas de Jesus O TODO com o Dualismo Platônico: os gnósticos evoluíram o Dualismo Platônico para um NÃO-DUALISMO!

A separação entre Espírito e Matéria do Platonismo é reinterpretada como ILUSÃO pelos gnósticos. Por isso foram criticados por Plotino e os Neoplatônicos, por quererem "perverter" e "falsificar" a doutrina de Platão. Os gnósticos estavam revolucionando o Neoplatonismo, fazendo ele deixar de ser uma religião de elite para ser um movimento revolucionário cultural de massa. Isso justifica o ódio que receberam dos Neoplatônicos.


-----------------------------------


Resumos e conclusões:

1 - Religião e Política nunca estiveram separados. O laicismo é coisa do Iluminismo e da Revolução Francesa, que separou Igreja do Estado. Antes do Iluminismo, Religião é Política e Política é religião. Em qualquer estado ou civilização, os deuses criaram o Estado, a Política e a Sociedade.

2 - Jesus nunca separou Religião e Política. Ele separou Roma de Jerusalém!

3 - Jesus nunca foi pacifista. Foi sim um mestre religioso espiritualista e ao mesmo tempo um Revolucionário Social. Jesus era apenas um dos vários candidatos à Messias, líderes político-religiosos que libertariam os judeus de qualquer domínio estrangeiro. Provavelmente Jesus assumiu a alcunha de Messias, liderando a revolta popular e turbulências no Templo de Jerusalém contra os Romanos. Por isso foi crucificado e morto, por atentado terrorista.

4 - O Movimento Aramaico do Jesus Histórico ficou chocado com sua morte. Tinham certeza que ele iria vencer, mas perdeu feio! Começam a justificar sua derrota com várias teorias. Os "gnósticos" transplantam a ideia revolucionária-social de Jesus para O TODO. Os helenistas inventam que Jesus é o "cordeiro de deus" e que ressuscitou dos mortos (Jesus é o "Cristo").  Os joaninos inventam que Jesus é a própria Torá encarnada e são expulsos oficialmente do Judaísmo.

5 - O Movimento Aramaico de Jesus era revolucionário, mas não socialista ou marxista. A Teologia da Libertação é poética e interessante mas não tem nada a ver com o Jesus Histórico. Teologia da Libertação é mitologia e fantasia sobre o que Jesus realmente foi, exatamente como a teologia paulina.

6 - O gnosticismo não é a assimilação de filosofia grega ao cristianismo. É justamente o contrário: a tentativa de preservar e expandir o Jesus Revolucionário para todos os povos, coisa que Jesus nunca quis ("Não fui enviado a não ser para as ovelhas perdidas de Israel", Mateus 15,24). Os gnósticos tentaram levar o Jesus Histórico e Revolucionário para as outras religiões, transformando-o numa Consciência Transcendental. Só assim ele poderia se encaixar nas mitologias de outros povos e revolucioná-las por dentro. O QUE O PROFETA MANI FAZ É EXATAMENTE ISSO! Ao contrário, o Jesus de Paulo se deixa ser totalmente transformado numa divindade greco-romana e no próprio Imperador Romano.

7 - Jesus era originalmente fariseu, tradicional. Depois, após se encontrar com João Batista, adota um misticismo judaico à sua maneira: político e revolucionário. Não existe nos Ditos de Jesus as doutrinas do Cordeiro Pascal, Paixão, Ressurreição, Eucaristia, Sacerdócio, Adoração em Templos, Sacrifício, Padres, Pastores, Apóstolos, Igreja, Hierarquia, Estrutura, NADA DISSO! A religião de Jesus é um movimento revolucionário sócio-político-mágico-místico, popular, simples, anticlerical.

PARA MAIS INFORMAÇÕES SOBRE O POSSÍVEL JESUS HISTÓRICO, EU RECOMENDO VÍDEOS DA TENDA DO NECROMANTE SOBRE JESUS:


Nenhum comentário:

Postar um comentário