sábado, 25 de junho de 2022

1º Festival Indiano de Vedanta - Reflexões sobre Politeísmo e Monoteísmo

 


Aconteceu nos dias 19, 20, 21 e 22 de Maio o Primeiro Festival Indiano de Vedanta e Autoconhecimento. Eu não pude participar mas os vídeos, relatos e entrevistas sobre ocorrido mostram que foi fabuloso.

Assistam a esse vídeo e observem bem as coisas que foram ditas e quais grupos participaram. Hindus, indígenas e adeptos de religiões afrobrasileiras se uniram para compartilhar e buscar conexões espirituais e conhecimentos. São 18 minutos que valem MUITO dedicar.

Vamos refletir.

O professor de vedanta Jonas Masetti começa falando de Conhecimento, em sânscrito Jnana. Ele faz uma crítica a si mesmo estando na posição de professor passando conteúdos, conclamando as pessoas a dançarem, cantarem e voltarem a ser humanos.

Isso é o que estou sentindo. A Yoga não é só estudo de conteúdos. Se for só isso se torna maçante. Estudando teologia cristã estou ficando aborrecido com esses livros e tratados de teologia e estudos do Antigo Testamento. São textos chatos que nada dizem à nossa vida real e atual.

Perde-se muito tempo analisando analiticamente as palavras da Torá (Pentateuco), palavras que foram escritas em outro tempo (600 anos antes de Cristo) e que nada dizem sobre nós, mas sim sobre a composição tardia daqueles textos durante o exílio da elite israelita na Babilônia. A Torá apresenta experiências humanas muito pobres e se trata de um conjunto enorme de textos recortados, editados, colados, manipulados, que escondem cultos e religiões antigas e originais e impõem forçadamente uma visão de mundo de Sacerdotes que queriam destruir os cultos nativos originais dos judeus e impor suas novidades (Monoteísmo) importadas da Pérsia e da Babilônia, já que agora (pós-exílio) eles é que são a classe dominante da nova província persa de Yehud e não mais existe a antiga elite agrária israelita,  nem rei, nem nobres. Nós veremos com maior detalhe sobre isso, a composição do Pentateuco, a Hipótese Documental e suas variantes mais aceitas pela academia e arqueologia; a ocupação da palestina e os movimentos populacionais por volta de 2.000 antes de Cristo; as divindades tribais que caminham com o clã e a fé nos antepassados (os deuses dos pais); os dois relatos diferentes da criação no Gênesis colados e suas incongruências; as fontes Javista, Eloísta, Sacerdotal e Deuteronomista; a influência do direito assírio; as reformas de Josias e a criação do Judaísmo antigo; as descobertas do Épico de Gilgamesh e a influência do mito da criação babilônico Enuma Elish no mito da criação de Gênesis; os resquícios politeístas diversos espalhados na Torá; os Querubins como cópias dos Iammasu ou Shedu babilônicos e os Arcanjos cópias dos Amesha Spentas zoroastrianos; dentre outras coisas.

É muita falação e pouca prática espiritual. Muitos adeptos do cristianismo chamariam o festival de "magia" e "atraso". Acham que devemos ficar estudando teologia pra entender a "palavra" de "deus". Ou que devemos ficar lendo a chata peça de museu "bíblia". Desconhecem as técnicas de meditação e as profundidades espirituais do Oriente e dos nativo-americanos. Sua palavra dita "de deus" é morta, seca, fria e não converte ninguém mais. Nem os evangélicos leem mais a bíblia, nem eles aguentam esse troço horrível. O Ocidente precisa de mais Yoga, mais Meditação, mais Cantos xamânicos, mais dança, mais tambor, mais ritmo, mais transes, mais êxtases, mais sincronia, mais contato com a Natureza e com o Espírito, mais Pentecostes, mais Buda, mais Súfis, mais samba, mais sincretismo, mais Conhecimento prático (e não teórico)!

Sobre a liturgia cristã, como são chatas as missas, as palestras e as pregações cristãs. Que morte, que falecimento gradual da religião. Catequese, escola bíblica, quem aguenta isso? Ficar estudando a bíblia é coisa do passado! Coisa chata, sem conexão com a realidade, sem nenhuma correspondência com nossa vida. Ou é pregação moralista medieval ou é reclamação que ninguém quer fazer serviço social, pastoral, e sair, e reunir, e discutir, e debater questões... Morreu gente, morreu o cristianismo mesmo, não tem jeito: a Luz vem do Oriente.

Sobre a teologia cristã, estou farto dessas análises textuais que promovem o ateísmo e a descrença e, no fim, são uma perda de tempo total, pois nada acrescentam. Que coisa chata e sem frutos é a teologia cristã. Por isso está morrendo e cada dia é mais desprezada e engolida pela ciência de um lado e pelas "novas" religiões espirituais e místicas por outro. Gira-se em círculos em análises frias, secas e mórbidas de textos que não tem aplicação contemporânea. Força-se uma beleza extraordinária em relatos horríveis de assassinatos, monstruosidades e absurdos diversos. Eu acho que o Pentateuco e toda a bíblia tem sim uma certa beleza e originalidade mas é algo que já passou, está ultrapassado. A bíblia não é lá essas coisas e tem muito texto bosta. Qual a beleza e originalidade do Velho Testamento?

O Velho Testamento mostra a consciência de um grupo de pessoas mudando ao longo do tempo, se adaptando às vicissitudes e se superando a cada dia para sobreviver. Isso é interessante e belo. O estudo ACADÊMICO, ARQUEOLÓGICO, portanto, CIENTÍFICO da bíblia nos leva a admirar os judeus como um povo que mudou e se adaptou para sobreviver, criou seu próprio Deus, mudou seus antigos Deuses em um único, reformou suas tradições e práticas e foi experimentando coletivamente a Fé nesse Deus na prática. Essas experiências reais e existenciais ( os conflitos com povos vizinhos, os assédios e ataques Egípcios, a destruição Assíria, o exílio Babilônico, o imperialismo Persa, a aculturação Grega, a exploração Romana) construíram a bíblia. E os relatos bíblicos mostram como essas pessoas, não o inteiro povo judeu-israelita mas a pequena parcela da elite escriba e sacerdotal, aprendeu com suas próprias tradições e as estrangeiras a ter Fé em Deus e construir um projeto de nação que funcionasse. A Torá é uma verdadeira prévia de uma Constituição jurídica moderna, algo que nem babilônios, egípcios e persas conseguiram desenvolver, nenhuma civilização antes fez algo parecido. Isso é belo e original. Mas hoje não tem nada mais a nos dizer. 

As necessidades reais da humanidade moderna dizem respeito ao relativismo pós-moderno, à crise da razão e das instituições, aos escândalos dos governos e das igrejas, da pressão do mundo do capital que suga nossa vida e nosso tempo. É anacronismo forçar a Torá a responder nossas necessidades reais. Nossa relação com o Transcendente é diferente. Precisaríamos então de uma nova Torá. Precisamos? Será?

Eu achava que sim. Agora acho que não. Nem da velha e nem de uma nova. Temos que jogar isso tudo fora, essa necessidade de uma "palavra" de "deus".

Outro líder por volta dos 3:00 minutos no vídeo fala de nos livrar das amarras da colonização, nós brasileiros. Em outras palavras, temos que nos livrar do cristianismo e toda forma de monoteísmo que nos foi imposta.

Eu admiro o Zoroastrismo mas ele inaugurou na humanidade uma era de massacres e terror por causa de sua crença fundamental que se espalhou como praga causando morte e violência: o Monoteísmo. Mesmo só sendo violento e intolerante no tardio período Sassanida do imperio persa, tendo o culto dos deuses antigos voltado no Império Parta, o Zoroastrismo causou muito mal ao fazer surgir o Judaísmo e Cristianismo, e esses causarem o Islamismo.

O Monoteísmo necessariamente causa totalitarismo, autoritarismo extremo, genocídio e apagamento de culturas. É o ingrediente principal do discurso de ódio, da morte e da violência. Pelo seguinte: se só existe um Deus verdadeiro, então os outros todos são falsos. Qual vai ser o Deus verdadeiro? O meu, é lógico, não importa qual. Não vou pregar que meu Deus e minha religião são falsos, só os dos outros. E é aqui que nasce a violência extrema: se os outros deuses são falsos, logo não podem ser tolerados. Todos precisam adorar e servir a um único Deus, uma única religião, uma única hierarquia, um único governo mundial. Soldados, cavaleiros, príncipes e nobres usaram essa justificativa para tomar o poder e impor seus reinos de terror ao longo da história.

Com o Monoteísmo a humanidade alcançou um nível de horror e intolerância jamais vistos. O Deus único implica que os outros são falsos, logo devem ser destruídos, humilhados, violentados. Monoteísmo e violência são SINÔNIMOS. Basta ver o que cristãos e muçulmanos fizeram com as culturas que encontraram e entre eles mesmos, seus "hereges" e excomungados.

O politeísmo não é assim. É muito mais tolerante. Pois, se não existe um Deus único, mas vários, então esses deuses coexistem e tá tudo bem. Mesmo deuses de panteões, culturas e nações diversas são aceitáveis e acabam se misturando. Claro que culturas politeístas cometeram barbáries, como os povos bárbaros nórdicos e os romanos, japoneses e chineses, os aztecas e tantos outros. Mas a violência politeísta é INFINITAMENTE menor e menos violenta do que os horrores dos monoteístas. Povos monoteístas são genocidas, politeístas não. 

É claro que não é porque é politeísta que se está livre da violência. Afinal os deuses de um povo politeísta ou o deus principal de um povo henoteísta podem muito bem entrar em conflito e ordenar a guerra contra outros deuses e seus povos. Mas, mesmo assim, há tolerância, permite-se o sincretismo para selar a paz, a violência é muito menor.

O Monoteismo causou violencia extrema e destruição. Todo monoteísmo desemboca em intolerancia, pois não se aceita outros deuses e religiões. Politeismo, especialmente o rural, vindo de camponeses simples, se tornou historicamente vítima da opressão do politeísmo hierarquizado das capitais e grandes cidades estatais e imperiais, mas, MUITO PIOR foi o Monoteismo que erradicou essas expressões legitimas e populares de fé. Monoteismo tende sempre ao patriarcalismo e busca oprimir e domesticar a mulher, desumanizando-a.

É muito claro que Politeísmo é melhor que Monoteísmo, pois permite a tolerância religiosa e a participação da mulher, dos homossexuais e das pessoas de diversas etnias e origens. 

O Monoteísmo é machista e misógino na raiz. O Deus Único sempre é masculino, macho. Um desprezo monumental pelas feiticeiras, curandeiras e bruxas é característica do Monoteísmo. Sacerdotisas são abominadas. A mulher é no máximo uma Virgem Maria: obediente e calada, escrava do marido, toda coberta, assexuada, absolutamente dócil até o nível da idiotice, despersonalizada, murcha, calada, tonta. Esse é o modelo de mulher monoteísta. A mulher politeísta também é vítima do machismo mas muito menos, pois ela é sacerdotisa, profetisa, os Deuses falam pela sua boca, o seu sexo não é pecado, seu corpo desnudo, seus seios e vaginas, sua bunda à mostra não é criminosa, é divina, há uma deusa do sexo, há divindades do prazer, da fertilidade e do amor!

O Deus Monoteísta é absolutamente homofóbico, apesar de obcecado com sexo. Tudo o ofende. Qualquer menção de sexualidade mexe com os instintos do Deus Único. Ele é um tarado. Um gay enrustido, sua sexualidade é frágil, qualquer traço de afeminação o afeta e o incomoda. Freud explica!

O Monoteísmo realiza a opressão e controle dos corpos (mulher, escravos, crianças) muito pior do que o politeísmo.

Claro que o Politeísmo defendido por mim não é qualquer politeísmo. Houveram e há vários politeísmos. Não defendo aqui o politeísmo Hierarquizado, de Panteão, como dos impérios (Egito, Babilônia, Assíria, Roma, etc) que projetam as sociedades de castas e hierarquias injustas desses povos antigos para justificar o autoritarismo e a desigualdade. O politeísmo que professo quase não é politeísmo e tem como base o Panenteísmo.

Panenteísmo é diferente de panteísmo. O Deus Panenteísta está no mundo mas não em total inteireza. O mundo é extensão desse Ser Único, que o transcende pois sua essência plena é infinita e está além dos fenômenos. Deus é o Absoluto, o Ser, Aquele que É. Assim, pela sua infinitude e extensão, qualquer nome ou representação será limitada e incompleta. Por isso pode ser representado por mil formas, mil alegorias, mil símbolos, mil deuses. Esse é o politeísmo que professo. 

Não é Henoteísmo, pois henoteísmo é a crença em vários deuses mas o foco de adoração somente em um, ou com preponderância de um deus sobre todos os outros.

Não é Catenoteísmo, pois catenoteísmo é a adoração de um deus de cada vez como se fosse o único supremo, de forma sucessiva, adorando um deus separado e depois outro, assim por diante. 

O politeísmo que professo não tem, até agora e pelo que eu estudei, uma nomenclatura ideal. Por isso eu decidi chamá-lo de Politeísmo Esclarecido. Na verdade a ideia é mais um Pseudo-Politeísmo. É um Politeísmo Refinado, que purifica o Politeísmo de toda hierarquização e "castas" e "iguala" todos os Deuses sem igualar forçadamente todas as religiões : o Absoluto e Infinito é uma mesma coisa, mas sua representação nesse mundo fenomênico é sempre deficiente, tornando possível representá-lo de infinitas formas, como infinitos Deuses. É um Politeísmo Pan-Enteísta.

Através desse Politeísmo Refinado ou Esclarecido, não se pode atacar outros deuses como inferiores pois todos são meras representações de aspectos, características, atributos e etc do Absoluto e Transcendente. Muito menos criar na cabeça a ideia doentia e demente de que meu deus é verdadeiro e devo destruir as outras religiões pois só a minha é verdadeira.

Além disso, o Politeísmo Esclarecido refuta a ideia da "Nova Era" de que "todas as religiões são iguais" e evita sincretismos forçados e mal executados (sem profundidade, sem raiz) de mera  identificação de entidades de uma religião com de outra. Os deuses e religiões não são "iguais" e "a mesma coisa". Igualá-los é negar-lhes identidade! Devem sim manter o diálogo e discutir elementos em comum mas sempre deixando claro que são diferentes e que tem o direito de ser diferentes, pois todos tem direito a autodeterminação como povo, etnia, religião, nação, etc. Quem quiser sincretizar que sincretize mas de maneira não-violenta, sem forçar, sabendo que está criando algo novo e diferente e sem negar a identidade dos outros deuses, sem querer apagar o outro.

Cheguei a essas conclusões tem pouco tempo, alguns anos apenas. Quanto mais estudo Vedanta, mais vejo o quão é parecida e idêntica ao Gnosticismo. As técnicas espirituais e místicas dos gnósticos (encontradas nos textos egípcios, já falamos sobre vários deles) equivalem a vários tipos de Yoga e Meditação, bem como exercícios físicos, corporais e mentais diversos que lembram as técnicas xamânicas.

Portanto a minha proposta é que as pessoas busquem praticar o Politeísmo Esclarecido, não o politeísmo antigo que justificava ou se calava diante de violências e desigualdades, mas uma "nova" forma de politeísmo em consonância com os Direitos Humanos e Fundamentais, Ciência e Democracia, de tendência fortemente gnóstica. Nós gnósticos adoramos vários deuses e em nossas Escrituras temos o Pai, a Mãe e o Filho como Deuses principais, mas também a divindade Sophia, Cristo e tantos outros que são manifestações do Grande Espírito Invisível. O Maniqueísmo é riquíssimo em divindades. Sincretizamos sem ofender e identificamos divindades sem negar-lhes a identidade.

Concluindo e voltando ao vídeo do Festival de Vedanta, veja que estavam presentes Hindus, Nativo-americanos e adeptos de religiões afroamericanas. Politeístas! Monoteístas não, porque são enraizadamente intolerantes, não suportam conviver com o outro, são os donos da "verdade".

Eu sigo o Vedanta, mais especialmente o chamado "Neovedanta" (que não é novo, é  antigo) que foi muito difundido no Ocidente pelo santo Swami Vivekananda. Busquem um Centro Ramakrishna Vedanta, deem uma lida nos principais livros. É um caminho sem volta de Iluminação!


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