domingo, 10 de março de 2024

O que é pecado? A invenção do Templo de Jerusalém e a diferença para o Zoroastrismo

 

"Pecado, pecadinho, pecadão... Isso não! Isso não entra no meu coração."

Quem nunca sofreu lavagem cerebral com essa musica infantil nas igrejas nas décadas de 80 e 90? Tanto católica quanto evangélica, essa música estava SEMPRE presente.

Complementando esse excelente vídeo do Necromante sobre pecado, os sacerdotes do templo de jerusalém no século 5 a.C. alteraram o Zoroastrismo e criaram coisas novas, dogmas novos. Quando se fala que o Judaísmo nasce a partir do Zoroastrismo tem que se ter em conta que a primeira fase do Judaísmo (o Judaísmo Pós-Exílico, criado pelo retorno da Pérsia dos antigos sacerdotes palestinos da Judá agora trazendo uma nova religião a partir de Zoroastro) é diferente das demais e não se caracteriza pelo Monoteísmo mas pela centralização do culto em um único local e a adoção do Henoteísmo (outras divindades EXISTEM mas somente uma pode ser adorada).

Não existe o conceito de "pecado" no Zoroastrismo, como conhecemos no Judaísmo e no Cristianismo, muito menos a ideia de um "pecado original". Nenhuma culpa original deve ser expiada por sacrifícios de animais nem pelo sacrifício de um homem. Pecados são atos, palavras, ações e pensamentos que afastam a pessoa de Ahura Mazda e dão poder a Ahrimã (Angra Mayniu). Todo ser humano possui Faravahar (centelha do Bem) e se afastar dela é "pecado". Não existe o conceito de pecado nos Gathas (séc 6 a.C.), somente em textos posteriores como o Vendidad (séc 4 a.c.). Logo, originalmente o Zoroastrianismo não tinha desenvolvido essa ideia que apareceu como complemento às necessidade práticas da religião.

Enquanto no Judaísmo recém criado o pecado é uma mancha de morte causada pelo sangue menstrual da mulher e deve ser limpo pelo sacrifício ritual no Templo de Jerusalém, no Zoroastrismo o sacrifício é uma mini encenação ritual da ordem cósmica. São coisas COMPLETAMENTE DIFERENTES. Os ritos para purificação de pecados no Zoroastrismo não envolvem sacrifício mas confissões a um sacerdote.

Então de onde os sacerdotes de jerusalém tiraram o "pecado"? Simples: é uma invenção político-econômica para dar bens e dinheiro para o Templo de Jerusalém, a fim de enriquecer a elite sacerdotal e pagar impostos para a Pérsia. Convencendo as pessoas de que se não se limparem do pecado irão morrer, os sacerdotes inventaram a mais perversa doutrina religiosa que já existiu, um nível monstruoso de psicopatia.

E o Cristianismo? Simples. Adulterou a noção de pecado vindo do sangue menstrual e disse que Jesus pagou a dívida de morte de todos através do seu sacrifício na cruz, portanto ninguém vai morrer (na verdade, os cristãos substituíram a morte física e o fim da existência ensinado pelo Templo de Jerusalém pelo Inferno zoroastriano como castigo eterno). Então ninguém mais vai para o inferno porque Jesus foi o supremo sacrifício pelo pecado de toda humanidade... Mas então porque tenho que ir na Igreja, comungar dos sacramentos, pagar dízimo? Hehehe os sacerdotes dos templos cristãos não iam perder grana né? Jesus apenas abriu a porta, agora você tem que atravessar ela... pagando dízimo e lambendo as bolas dos sacerdotes cristãos, pastores, padres, bispos.... Morte a todos os sacerdotes cristãos! Morte a esses vermes!


Vamos entender de uma vez a diferença entre as religiões antigas e as religiões dogmáticas a partir do Zoroastrismo (judaísmo, cristianismo e islã).

Antes de Zoroastro, as religiões dogmáticas eram minoritárias e raras. Dogmáticas são as religiões que te OBRIGAM a acreditar em uma doutrina, sem a qual a religião não faz sentido e você não é considerado adepto mas "ímpio", "herege" e coisas do tipo. Os cultos de Mistério greco-romanos podem ser considerados religiões dogmáticas. Ao contrário, a religião pública e tradicional Politeísta não é.

No antigo Politeísmo, que pode ser visto ainda hoje em religiões como Hinduismo, Candomblé, Xintoísmo, Religiões Folclóricas Chinesas, religiões tradicionais africanas e outros não existem dogmas. Existem ritos a serem feitos para determinados objetivos. Os deuses são forças da natureza, entidades, antepassados, energias, espíritos e etc que podemos invocar ou manipular para fazer o que desejamos. O objetivo dessas religiões é manter a ordem social e impedir o caos, promover a prosperidade e impedir a pobreza, manter a saúde e impedir a doença, etc. Literalmente, essas religiões tem como objetivo manter a sociedade livre de males no âmbito público, enquanto no âmbito privado as práticas mágicas visam proteger as famílias e os indivíduos. São religiões mágicas, de ritos de proteção, amuletos, rituais, mecanismos para proteger os indivíduos das coisas ruins que a vida vai trazendo. Não há nenhuma importância dada a conceitos como "verdade", "mentira", "salvação", "condenação" e etc. Essas coisas NÃO EXISTEM nessas religiões. Esse tipo de religião está mais próxima do Xamanismo e do Animismo no sentido de que o foco de suas práticas é manter a tribo a salvo de maus espíritos e deuses através de rituais tradicionais e práticas mágicas.

Já as religiões dogmáticas são completamente doentias e bizarras. Elas são Idealistas, pois partem do princípio de que existe uma coisa chamada "Verdade" que existe num plano espiritual além do mundo. Foi desse mundo bizarro da Verdade que esse mundo carnal veio a existência. Devemos então nos submeter a essa tal "verdade" pois se não fizermos isso seremos condenados a morte, tortura, inferno e coisas do tipo. Determinadas pessoas tem acesso a essa "verdade" (os sacerdotes) e o criador dessa verdade é um tal de Deus que fala diretamente com esses sacerdotes. Portanto, temos que nos submeter a esses sacerdotes: padres, pastores, sheiks, rabinos...

Com o Zoroastrismo, surgem religiões dogmáticas que são MORAIS, se preocupando neuroticamente com o "certo" e o "errado", o "bem" e o "mal". A partir dessa neurose doentia com a moralidade, o Templo de Jerusalém inventa a ideia de Pecado.

Antes disso, certo e errado eram definidos pelas tradições culturais de cada povo, cidade, vila e reino. NÃO ERA ATRIBUIÇÃO DOS DEUSES FICAR DECIDINDO O QUE ERA CERTO E ERRADO. Religião e Moralidade não se misturavam porque o papel da religião era suprir as necessidades materiais dos indivíduos, não impor dogmas universais.

O Zoroastrismo inventa a ideia da salvação dos povos iranianos. É uma ideologia imperial preocupada com o estabelecimento da moralidade no mundo, e "o mundo" para eles é o Império Persa. Tudo fora do Império não interessa, são zonas dominadas por Ahrimã onde a "verdadeira religião" e o "verdadeiro deus" não dominam, portanto pertence as trevas. Proibiu o culto de imagens e o exercício livre da religião, tendo todas as religiões que ter autorização Estatal para existir. Infectou todas as religiões com o Dualismo Ético Bem x Mal e submeteu os antigos deuses dos povos à autoridade do Deus Supremo Ahura Mazda, o único digno de adoração. Rebaixou os outros deuses iranianos a meras aparições, aspectos, manifestações e variações de Ahura Mazda, destruindo cultos nativos e sincretizando artificialmente as religiões iranianas originais, apagando culturas milenares.

Judaísmo assimila tudo isso do Zoroastrismo mas coloca "o mundo" como sendo tão somente a província persa de Yehud (Judá). Judá pertence a Yahweh ele é o deus exclusivo de seu povo, enquanto outros povos tem outros deuses. É uma ideologia política preocupada com a estabelecimento da moralidade na província de Yehud, que deve ser dominada e administrada pelos sacerdotes do Templo de Jerusalém. Negou a vida após a morte para amedrontar a população com o medo de morrer e deixar de existir e inventou o conceito de "pecado" para forçar sacrifícios para encher os cofres de Jerusalém de dinheiro. Inventou que as mulheres são imundas por menstruarem para acabar com as profetizas e os cultos de fertilidade que eram extremamente fortes em Judá e Israel e proibiu qualquer santuário ou templo religioso, obrigando todos a adorarem somente em Jerusalém.


Vamos então tentar classificar as religiões!

Animismo e Xamanismo: religiões mágicas preocupadas com saúde, alimentação e segurança de toda a população de um povo, tribo, clã.

Politeísmo: religião mágica focada em rituais específicos para forças espirituais e energias personificadas em Deuses para saúde, alimentação e segurança do Estado.

Cultos de Mistério: religião dogmática salvacionista exclusivista e elitista. Preocupação com a salvação da "alma", mas somente alguns poucos escolhidos da elite tem esse privilégio pois foram eleitos e predestinados pelo Destino. O resto da ralé pobre merece o destino que tem.

Zoroastrismo: religião dogmática salvacionista Estatal preocupada com a salvação do Império Persa e o estabelecimento de uma moralidade universalista, impondo uma monocultura inimiga da diversidade.

Judaísmo: religião dogmática salvacionista Estatal preocupada com a manutenção do poder político dos sacerdotes do templo de jerusalém na província persa de Yehud e o estabelecimento de uma moralidade provinciana que supervaloriza judeus e inferioriza todos os outros povos (uma espécie antiga de "Nazismo"), impondo uma monocultura inimiga da diversidade.

Cristianismo Gnóstico (final do séc 1 d.c.) : religião salvacionista revolucionária preocupada com o estabelecimento de uma ordem política, social e econômica justa para todos os seres. Partindo do mito judaico do Jardim do Éden, busca restabelecer o Paraíso Perdido através da revolução social e do fim das classes sociais. Moralidade é resumida a Justiça Social. Bem e Mal, Ordem e Caos, Certo e Errado existem mas não são definidos pelos sacerdotes e sim extraídos da reflexão filosófica, sociológica, antropológica, política, econômica. Se nós somos Deuses, nós é que decidimos o que é o bem e mal, não foram os deuses no céu pois eles nem existem. A salvação não é individual mas coletiva e social, cósmica: o mundo todo será salvo pela ação conjunta de todos, não apenas indivíduos.

Cristianismo (século 2 d.C.): religião dogmática salvacionista Estatal preocupada com a salvação de todos os impérios humanos e o estabelecimento de uma moralidade universalista, impondo uma monocultura inimiga da diversidade. Caracteriza-se por considerar como Reino de Deus todo o mundo conhecido a ser conquistado por Imperadores cristãos. Toma sua forma final e tradicional durante sua adoção como religião oficial pelo Império Romano. A instituição Igreja controlada pelos sacerdotes é vista como o "Reino de Deus", ou seja, o Império. Tem uma ideologia de dominação mundial.

Islamismo: religião dogmática salvacionista Estatal preocupada com a salvação de todos os impérios humanos e o estabelecimento de uma moralidade universalista, impondo uma monocultura inimiga da diversidade. As mesquitas são administradas pelos Imams, líderes religiosos e políticos, atuando em todos os âmbitos da vida da população. Os imams são como os sacerdotes do templo de jerusalém e governam localmente como políticos.

Budismo: religião dogmática salvacionista Estatal preocupada com a salvação de todos os impérios humanos e o estabelecimento de uma moralidade universalista. Permite uma certa diversidade religiosa se abstendo de definir dogmas sobre vários temas metafísicos polêmicos.

Taoísmo: até o século 1 d.C. uma filosofia e uma corrente filosófica de pensamento e reflexão sobre a vida humana. A partir daí, se desenvolve em práticas religiosas assimilando tradições populares chinesas e criando novas tradições com deuses, rituais, magia, astrologia e etc.

Nenhum comentário:

Postar um comentário