3. O fim dos tempos
Para o pensamento apocalíptico, a história não é uma série de acontecimentos isolados, mas um todo unificado, um processo contínuo de Adão ao fim do mundo. Seu tempo é mítico: início e fim (do mundo) encontram-se em um lugar teórico – mítico -, onde tudo começa enquanto tudo termina. O mundo está sempre nascendo como novo. A morte deste mundo, para o surgimento de um mundo novo, assegura a existência do mundo. A oposição, ou melhor, a continuidade entre “este mundo” e o “mundo que virá”, a passagem de um mundo para o outro é típico da apocalíptica[14].
M. Hengel observa que marcante característica da apocalíptica dos assideus – judeus fiéis que lutam ao lado dos Macabeus no século II a.C. – é sua visão da história mundial como uma unidade, cujo centro é Israel.
Comentário: vemos essa "visão da história mundial como uma unidade" de forma bem clara nos Apocalipses gnósticos encontrados em Nag Hammadi. Nos apocalipses gnósticos, quase sempre vemos uma HISTÓRIA DE SALVAÇÃO DA ALMA. Como veremos no futuro na postagem sobre o Zoroastrismo e sua influência no Judaísmo e na cultura mundial, essa religião foi a primeira a expressar de forma clara e ricamente teológica uma ESCATOLOGIA da alma humana de forma apocalíptica, sendo (a religião zoroastriana) a primeira a criar o gênero literário Apocalipse. Como já vimos e veremos novamente, o gnosticismo surge no seio do judaísmo, porém fortemente sincretizado com o zoroastrismo e a filosofia grega, além de muitas outras filosofias e religiões. Essa escatologia apocalíptica se desenvolverá no judaísmo dando origem às Histórias de Salvação da Alma Gnósticas, encontradas em abundância nos textos de Nag Hammadi. O Apócrifo de João é o primeiro texto que apresenta uma História de Salvação Gnóstica ( origem celestial da alma, sua paixão, queda, arrependimento e posterior redenção e retorno ao céu). Grosso modo, os textos gnósticos podem ser divididos entre: Apocalipses, Discursos de Revelação, Diálogos de Revelação e Histórias de Salvação. Esses gêneros nem sempre estão claramente delimitados e muitas vezes se confundem uns com os outros e se misturam com Aretologias, Evangelhos, Tratados Filosóficos, Homilias, Diatribes e outros gêneros filosóficos e religiosos típicos do mundo helenístico e romano. Veremos no futuro uma estranhíssima e reveladora semelhança entre os Diálogos de Revelação Gnósticos, os Diálogos Platônicos e a Bhagavad Gita e outros textos hindus.
Depois do Apócrifo de João, a Hipóstase dos Arcontes se mostra um Discurso de Revelação construído sob uma forma básica de tratado filosófico-esotérico tipicamente helenista. Sobre a Origem do Mundo se mostra um tratado de Escatologia Universal misturado com História de Salvação da Alma gnóstica. A Exegese da Alma é uma História de Salvação gnóstico-cristã. O Livro de Tomé o Contendor é um Diálogo de Revelação de Jesus. O Evangelho dos Egípcios é um tratado sobre uma História de Salvação do gnosticismo sethiano, e assim por diante...
Comentário: vemos essa "visão da história mundial como uma unidade" de forma bem clara nos Apocalipses gnósticos encontrados em Nag Hammadi. Nos apocalipses gnósticos, quase sempre vemos uma HISTÓRIA DE SALVAÇÃO DA ALMA. Como veremos no futuro na postagem sobre o Zoroastrismo e sua influência no Judaísmo e na cultura mundial, essa religião foi a primeira a expressar de forma clara e ricamente teológica uma ESCATOLOGIA da alma humana de forma apocalíptica, sendo (a religião zoroastriana) a primeira a criar o gênero literário Apocalipse. Como já vimos e veremos novamente, o gnosticismo surge no seio do judaísmo, porém fortemente sincretizado com o zoroastrismo e a filosofia grega, além de muitas outras filosofias e religiões. Essa escatologia apocalíptica se desenvolverá no judaísmo dando origem às Histórias de Salvação da Alma Gnósticas, encontradas em abundância nos textos de Nag Hammadi. O Apócrifo de João é o primeiro texto que apresenta uma História de Salvação Gnóstica ( origem celestial da alma, sua paixão, queda, arrependimento e posterior redenção e retorno ao céu). Grosso modo, os textos gnósticos podem ser divididos entre: Apocalipses, Discursos de Revelação, Diálogos de Revelação e Histórias de Salvação. Esses gêneros nem sempre estão claramente delimitados e muitas vezes se confundem uns com os outros e se misturam com Aretologias, Evangelhos, Tratados Filosóficos, Homilias, Diatribes e outros gêneros filosóficos e religiosos típicos do mundo helenístico e romano. Veremos no futuro uma estranhíssima e reveladora semelhança entre os Diálogos de Revelação Gnósticos, os Diálogos Platônicos e a Bhagavad Gita e outros textos hindus.
Depois do Apócrifo de João, a Hipóstase dos Arcontes se mostra um Discurso de Revelação construído sob uma forma básica de tratado filosófico-esotérico tipicamente helenista. Sobre a Origem do Mundo se mostra um tratado de Escatologia Universal misturado com História de Salvação da Alma gnóstica. A Exegese da Alma é uma História de Salvação gnóstico-cristã. O Livro de Tomé o Contendor é um Diálogo de Revelação de Jesus. O Evangelho dos Egípcios é um tratado sobre uma História de Salvação do gnosticismo sethiano, e assim por diante...
A base epistemológica da apocalíptica, pensa M. Hengel, é a revelação de uma “sabedoria” divina especial acerca da história, do cosmos e do destino dos homens, ocultada à razão humana. É uma típica reação contra o racionalismo grego, inclusive usando a astrologia como meio válido para atingir um conhecimento superior através da revelação[15].
Como veremos em postagem posterior sobre os Manuscritos de Qumran, os Essênios e os Terapeutas de Alexandria, foram encontrados nos Manuscritos de Qumran, datados de cerca do ano 130 antes de Cristo, em hebraico e aramaico, calendários astronômicos baseados nos capítulos astronômicos do Livro de Enoc mais conhecido como 1Enoch ou 1Henoc, e HORÓSCOPOS, evidenciando que, além de ser um grupo apocalíptico (e portanto, fruto de intenso sincretismo entre judaísmo e zoroastrismo), os essênios também assimilaram a astrologia babilônica e não viam problema algum em usar a Torah e os Profetas, textos produzidos tardiamente por outros grupos apocalípticos judaicos (como o Livro de Henoc) como também estudo, interpretação e aplicação da astrologia em suas doutrinas e práticas.
Como veremos em postagem posterior sobre os Manuscritos de Qumran, os Essênios e os Terapeutas de Alexandria, foram encontrados nos Manuscritos de Qumran, datados de cerca do ano 130 antes de Cristo, em hebraico e aramaico, calendários astronômicos baseados nos capítulos astronômicos do Livro de Enoc mais conhecido como 1Enoch ou 1Henoc, e HORÓSCOPOS, evidenciando que, além de ser um grupo apocalíptico (e portanto, fruto de intenso sincretismo entre judaísmo e zoroastrismo), os essênios também assimilaram a astrologia babilônica e não viam problema algum em usar a Torah e os Profetas, textos produzidos tardiamente por outros grupos apocalípticos judaicos (como o Livro de Henoc) como também estudo, interpretação e aplicação da astrologia em suas doutrinas e práticas.
B. Frost diz: “Foi a fusão do mito e da escatologia que produziu o que chamamos de apocalíptica. Na realidade podemos definir a apocalíptica como a mitologização da escatologia”[16].
ORA! Os textos apocalípticos, judaicos, cristãos e gnósticos, todos eles são revelações e visões sob forma mitológica, descrevendo lugares fantásticos, seres de outros mundos e viagens a outros universos, que, evidentemente, são simbólicos e requerem uma interpretação para se descobrir o real significado do texto. Grande parte dos textos gnósticos, como visto, são diálogos de revelação contendo os mitos da alma (sua queda e redenção). Os gnósticos judaicos, juntos com cristãos primitivos, essênios, terapeutas e outros, eram todos grupos apocalípticos.
ORA! Os textos apocalípticos, judaicos, cristãos e gnósticos, todos eles são revelações e visões sob forma mitológica, descrevendo lugares fantásticos, seres de outros mundos e viagens a outros universos, que, evidentemente, são simbólicos e requerem uma interpretação para se descobrir o real significado do texto. Grande parte dos textos gnósticos, como visto, são diálogos de revelação contendo os mitos da alma (sua queda e redenção). Os gnósticos judaicos, juntos com cristãos primitivos, essênios, terapeutas e outros, eram todos grupos apocalípticos.
D. Hanson, falando da apocalíptica como filha e sucessora da profecia, diz que enquanto a profecia consegue integrar uma visão dos eventos cósmicos com os acontecimentos históricos, a apocalíptica perde esta tensão dialética e se refugia no mito, procurando saídas numa ordem cósmica supratemporal.
Essa busca por um refúgio atemporal, transcendente, místico, verdadeiro, longe das mazelas da vida humana, mágico, inteligível, é totalmente evidenciada pelos escritos gnósticos. A busca por um mundo superior, um tempo longe do mundo material e da Terra, procurando abrigo na esperança de um mundo melhor após a morte, ao lado dos deuses e de Deus, tudo isso grita ao leitor dos textos gnósticos. É o desprezo total e absoluto pela política, economia, sociedade, tudo que diz respeito à vida social e política é vista como a mais diabólica artimanha de Yaldabaoth para prender as almas divinas no corpo decadente e corruptível que é a matéria.
Na Pistis Sophia, Jesus ensina isso claramente, cheio de energia e certeza:
Essa busca por um refúgio atemporal, transcendente, místico, verdadeiro, longe das mazelas da vida humana, mágico, inteligível, é totalmente evidenciada pelos escritos gnósticos. A busca por um mundo superior, um tempo longe do mundo material e da Terra, procurando abrigo na esperança de um mundo melhor após a morte, ao lado dos deuses e de Deus, tudo isso grita ao leitor dos textos gnósticos. É o desprezo total e absoluto pela política, economia, sociedade, tudo que diz respeito à vida social e política é vista como a mais diabólica artimanha de Yaldabaoth para prender as almas divinas no corpo decadente e corruptível que é a matéria.
Na Pistis Sophia, Jesus ensina isso claramente, cheio de energia e certeza:
"Amém, eu vos digo: Por causa da raça dos homens, porque ela é material, eu me preocupei e trouxe-lhe todos os mistérios da Luz, para que possa purificar-se, pois os homens são o resíduo de toda a matéria de sua matéria. Caso contrário nenhuma alma de toda a raça dos homens teria sido salva e não seria capaz de herdar o reino da Luz se eu não tivesse trazido os mistérios da purificação.
Porque as emanações da Luz não têm necessidade dos mistérios, pois elas são puras. Mas é a raça dos homens que tem necessidade deles, porque todos os homens são resíduos materiais. Por esta razão eu vos disse outrora: 'O sadio não tem necessidade do médico, mas o doente’ isto é: aqueles (que estão) na Luz não têm necessidade dos mistérios, porque eles são luzes purificadas; mas é a raça dos homens que tem necessidade deles, porque são resíduos materiais.
Por esta razão, portanto, pregai a toda a humanidade, dizendo: não cessai de buscar, dia e noite, até encontrardes os mistérios purificadores. E dizei à raça dos homens: 'renunciai ao mundo e a toda sua matéria. Pois aquele que dá e recebe no mundo, que come e bebe de sua matéria e que lhe presta excessiva atenção em seus relacionamentos adiciona outras matérias à sua. Porque todo este mundo, tudo que nele se encontra e todas suas associações são resíduos materiais, e cada um será questionado a respeito de sua pureza'.
Por esta razão eu vos disse outrora: 'renunciai ao mundo e a toda a matéria nele, para que não acumuleis matéria adicional ao restante da vossa matéria.' Em virtude disto, anunciai a todos os povos, dizendo: 'renunciai ao mundo e a todos seus relacionamentos, para que não acumuleis matéria adicional ao resto da matéria que se encontra em vós'. E dizei-lhes: 'não pareis de buscar dia e noite e não descanseis até encontrardes os mistérios purificadores que vão vos purificar e tornar-vos luz pura, para que possais ir ao alto e herdar a luz de meu reino.'
Portanto, André e todos os teus irmãos e condiscípulos, por causa de todas as renúncias e sofrimentos que passastes em cada região, por causa de vossas mudanças em cada região, sendo transferidos de um corpo para outro, por causa de todas vossas aflições, depois de tudo isto, vós recebestes os mistérios purificadores, tornando-vos luz pura extremamente purificada. Por esta razão, ireis para o alto e penetrareis em todas as regiões das grandes emanações da Luz e sereis reis no Reino da Luz para sempre.
- Pistis Sophia 2:100
“A escatologia profética se transforma em apocalíptica no momento em que se renuncia à tarefa de traduzir a visão cósmica para as categorias da realidade do mundo (…) Pois em sua forma não traduzida, o mito falava de uma salvação que alçava as pessoas humanas acima do fluxo da esfera mundana, uma salvação adquirida a nível atemporal, cósmico, que oferecia um escape desta ordem caída para uma nova criação que fazia a pessoa voltar para a segurança do estado primevo da natureza antes de sua queda na corrupção e mudança. Gradualmente os descendentes pós-exílicos dos profetas cederam a essa tentação e assim abdicaram do seu ofício político de integrar a mensagem ao âmbito político histórico”[17].
Enquanto o antigo judaísmo não se importava com a vida após a morte mas apenas com o estabelecimento de um Estado Judeu e da esperança de uma vida de prosperidade material, riqueza e abundância terrenas, a Apocalíptica e seus grupos (seitas judaicas como os essênios, cristãos, gnósticos, terapeutas e outros) vão justamente colocar toda sua esperança no mundo após a morte e rejeitar o mundo material como mundano e corrupto. É esta a interpretação que os Essênios de Qumran dão a Israel. Para os essênios, Israel não é uma coisa política, um país, estado ou nação. Israel é uma comunidade de pessoas, uma assembleia, uma Ecclesia, uma Sangha, uma Igreja de pessoas que abandonam os apegos ao mundo material e se unem para obedecer aos mandamentos de Deus, adquirir sabedoria e conhecimento e assim poderem ser salvos do sofrimento, da metempsicose (reencarnação), dos mundos inferiores, das trevas. A Lei de Moisés foi dada para estabelecer uma assembléia de seres puros e santos, e não um país de políticos corruptos e comerciantes ladrões. Os essênios são os verdadeiros judeus e cabe a eles restaurar o verdadeiro sentido da Lei de Moisés, corrompida pelos sacerdotes do Templo, pelos Macabeus, fariseus, saduceus, zelotes, publicanos e outros.
Enquanto o antigo judaísmo não se importava com a vida após a morte mas apenas com o estabelecimento de um Estado Judeu e da esperança de uma vida de prosperidade material, riqueza e abundância terrenas, a Apocalíptica e seus grupos (seitas judaicas como os essênios, cristãos, gnósticos, terapeutas e outros) vão justamente colocar toda sua esperança no mundo após a morte e rejeitar o mundo material como mundano e corrupto. É esta a interpretação que os Essênios de Qumran dão a Israel. Para os essênios, Israel não é uma coisa política, um país, estado ou nação. Israel é uma comunidade de pessoas, uma assembleia, uma Ecclesia, uma Sangha, uma Igreja de pessoas que abandonam os apegos ao mundo material e se unem para obedecer aos mandamentos de Deus, adquirir sabedoria e conhecimento e assim poderem ser salvos do sofrimento, da metempsicose (reencarnação), dos mundos inferiores, das trevas. A Lei de Moisés foi dada para estabelecer uma assembléia de seres puros e santos, e não um país de políticos corruptos e comerciantes ladrões. Os essênios são os verdadeiros judeus e cabe a eles restaurar o verdadeiro sentido da Lei de Moisés, corrompida pelos sacerdotes do Templo, pelos Macabeus, fariseus, saduceus, zelotes, publicanos e outros.
Éschaton, em grego, significa “último”, éschata “as últimas coisas”. O termo hebraico correspondente é ahrît: “fim”, “conclusão”, “resultado”, “desfecho”.Éschaton como “fim do tempo do mundo”, “destruição total do mundo” é um conceito que o Antigo Testamento ignora. É que para o pensamento hebraico, mesmo um acontecimento intra-histórico tem o valor de definitivo, é ahrît. A escatologia é, no AT, a transformação do mundo e da história, atingindo um “novo estado de coisas”, sem um encerramento definitivo das coisas. A escatologia está, assim, ligada à história, vista como um processo de intervenções de Iahweh em favor de Israel[18].
A antiga escatologia judaica estava ligada ao restabelecimento de Israel no mundo. A apocalíptica destrói essa mentalidade, essa esperança em uma renovação do Israel terreno. Os grupos apocalípticos buscam um Israel Transcendente, celestial, e não terreno...
A antiga escatologia judaica estava ligada ao restabelecimento de Israel no mundo. A apocalíptica destrói essa mentalidade, essa esperança em uma renovação do Israel terreno. Os grupos apocalípticos buscam um Israel Transcendente, celestial, e não terreno...
Podemos dizer, neste sentido, que a apocalíptica é a radicalização da escatologia. Isaías 65,17;66,22 fala que Iahweh vai criar “novos céus e nova terra”, tema que é retomado em o Novo Testamento, em textos com forte coloração apocalíptica.
Mateus 19,28, por exemplo, diz que Jesus promete recompensar os discípulos que o seguem “quando as coisas forem renovadas, e o Filho do Homem se assentar no seu trono de glória”. Paulo, em Rm 8,19.22, diz que “a criação em expectativa anseia pela revelação dos filhos de Deus”, pois “a criação inteira geme e sofre as dores de parto até o presente”. 2Pd 3,13 fala dos novos céus e da nova terra: “O que nós esperamos, conforme a sua promessa, são novos céus e nova terra, onde habitará a justiça”, enquanto Ap 21,1 escreve: “Vi então um céu novo e uma nova terra…”
A apocalíptica costuma dividir a história em períodos, especialmente em uma sucessão de 4 impérios (cf. Dn 2), na convicção de que o homem não é eterno (o número 4 simboliza as coisas do mundo e, portanto, a caducidade do poder) e de que Deus dirige a história e toma iniciativas a seu respeito.
Em Dn 7,1-28, o nosso herói sonha com quatro animais terríveis que saem do mar e que representam 4 impérios:
10: semelhante a um leão: império babilônico
20: semelhante a um urso: império medo
30: semelhante a um leopardo: império persa
40: um animal diferente, com 10 chifres e mais um 110 chifre pequeno que derruba três dos outros : império grego
Este quarto animal é o reino de Alexandre Magno. Os 10 chifres são os reis selêucidas. O chifre menor – que tem boca e olhos – é Antíoco IV Epífanes, que derruba três dos outros, provavelmente três reis vencidos por ele: Ptolomeu IV Filometor, Ptolomeu VII Evergetes e Artaxes, rei da Armênia.
Mas aí acontece a reviravolta a partir do v. 9: assenta-se a corte celeste em sessão solene de um tribunal. Os v. 11-12 dizem que o 40 animal é morto e que, embora os três primeiros ainda sobrevivam, são agora inofensivos: “Eu continuava olhando, então, por causa do ruído das palavras arrogantes que proferia aquele chifre, quando vi que o animal fora morto, e seu cadáver destruído e entregue no abrasamento do fogo. Dos outros animais também foi retirado o poder, mas eles receberam um prolongamento de vida, até uma data e um tempo determinados”.
Os vv. 13-14 descrevem o reino do Filho do Homem – em aramaico bar nasha’ = “ser humano”, “homem” -, assim como descreveu os reinos anteriores. O Filho do Homem não é, no contexto de Dn 7, um indivíduo, mas uma figura de linguagem para um coletivo. O que o livro de Daniel faz é opor uma figura da raça humana às quatro feras anteriores. Esta figura simboliza o reino dos “santos” (= povo santo) que se concretiza como eterno.
Quando, no futuro, falarmos da Epístola de Eugnosto e do gnosticismo propriamente dito, já formulado como doutrina esotérica judaica pré-cristã com seus pressupostos delimitados, esclareceremos as questões a respeito do Filho do Homem, que muito tem a ver com a noção platônica da Ideia Inteligível... apenas posteriormente esse conceito será sincretizado com o Saoshyant zoroastriano (messias no judaísmo).
Diz Dn 7,13-14: “Eu continuava contemplando, nas minhas visões noturnas, quando notei, vindo sobre as nuvens do céu, um como Filho de Homem. Ele adiantou-se até o Ancião e foi introduzido à sua presença. A ele foi outorgado o império a honra e o reino, e todos os povos, nações e línguas o serviram. Seu império é um império eterno que jamais passará e seu reino jamais será destruído”.
Diz Dn 7,13-14: “Eu continuava contemplando, nas minhas visões noturnas, quando notei, vindo sobre as nuvens do céu, um como Filho de Homem. Ele adiantou-se até o Ancião e foi introduzido à sua presença. A ele foi outorgado o império a honra e o reino, e todos os povos, nações e línguas o serviram. Seu império é um império eterno que jamais passará e seu reino jamais será destruído”.
No livro etiópico de Henoc já se fala de um “Filho do Homem” como indivíduo e personificação do Messias. Em 46,1-8 é descrito o Filho do Homem: “Este é o Filho do Homem, de quem era a justiça e a justiça morava com ele. Ele revelará todos os tesouros do oculto, pois, o Senhor dos espíritos o escolheu, e é aquele cujo destino é superior a todos para sempre por sua retidão frente ao Senhor dos espíritos. Este Filho do Homem que vistes tirará os reis e poderosos de seus leitos e os fortes de seus assentos, afrouxará os freios dos poderosos e despedaçará os dentes dos pecadores. Arrancará os reis de seus tronos e reinos, porque não o exaltam nem o louvam, nem dão graças porque lhes foi dado o reino” (46,3-5).
“Parece claro que o autor das Parábolas [seção do Livro Etiópico de Henoc, capítulos 37-41] representa uma linha de tradição que evolui para além das concepções de Dn 7, unindo em uma só pessoa as figuras, primitivamente separadas, do Messias – Rei Eleito – Servo de Iahweh – Juiz Justo (+ ‘Filho do Homem’)”, comenta A. Diez Macho[19].
Esta figura é o precedente imediato do uso neotestamentário, onde frequentemente Jesus se refere a si mesmo como o Filho do Homem (cf. Mt 8,20; 11,19; 20,28; 24,30; Jo 3,14).
A apocalíptica, por outro lado, acredita que o “fim do mundo” será precedido por um período de grande sofrimento e domínio do mal, que se concretiza através de anjos decaídos, na esfera divina, e chefes poderosos, na esfera humana. Além do que, o escritor apocalíptico vê o sofrimento de sua época com sentido cósmico e universal, donde decorre que os que sofrem perseguições estão fazendo algo além de sua própria vida, estão conduzindo os acontecimentos globais do homem.
Anjos maléficos, chefes (governantes ou arcontes) poderosos que perseguem a alma humana, grande sofrimento na vida terrena, acontecimentos globais e cataclísmicos... tudo isso é a base da maioria dos textos gnósticos, numa arrepiante e horripilante visão pessimista da realidade: a alma humana está presa num mundo falso inventado por um falso deus que a odeia e a quer levá-la para mundos piores e mais tenebrosos ainda. Esse falso deus tem uma hoste inimaginável de anjos maléficos e espíritos poderosos que oprimem a alma e fazem de tudo pra mantê-la presa no mundo material. A visão apocalíptica do conflito cósmico no fim dos tempos é vista pelos gnósticos como o arquétipo do sofrimento que o gnóstico vive no presente.
Anjos maléficos, chefes (governantes ou arcontes) poderosos que perseguem a alma humana, grande sofrimento na vida terrena, acontecimentos globais e cataclísmicos... tudo isso é a base da maioria dos textos gnósticos, numa arrepiante e horripilante visão pessimista da realidade: a alma humana está presa num mundo falso inventado por um falso deus que a odeia e a quer levá-la para mundos piores e mais tenebrosos ainda. Esse falso deus tem uma hoste inimaginável de anjos maléficos e espíritos poderosos que oprimem a alma e fazem de tudo pra mantê-la presa no mundo material. A visão apocalíptica do conflito cósmico no fim dos tempos é vista pelos gnósticos como o arquétipo do sofrimento que o gnóstico vive no presente.
Mt 24-25 descreve a queda de Jerusalém em 70 d.C. combinada com a ideia de fim do mundo. Diz Mt 24,21: “Pois naquele tempo haverá uma grande tribulação, tal como não houve desde o princípio do mundo até agora, nem tornará a haver jamais”.
E Mt 24,29-31 completa:“Logo após a tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas cairão do céu e os poderes do céu serão abalados. Então aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem e todas as tribos da terra baterão no peito e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu com poder e grande glória. Ele enviará os seus anjos que, ao som da grande trombeta, reunirão os seus eleitos dos quatro ventos, de uma extremidade até a outra extremidade do céu”.
A Regra da Comunidade de Qumran, escrita no século II a.C., diz que “Deus, nos mistérios de seu conhecimento e na sabedoria de sua glória, fixou um fim para a existência da injustiça, e no tempo de sua visita a destruirá para sempre. Então a verdade se levantará para sempre no mundo que se contaminou em caminhos de maldade durante o domínio da injustiça até o momento decretado para o juízo” (1QSIV 18-20).
O tema do mal como consequência da união de anjos com mulheres, já presente em Gn 6,1-4, é bem desenvolvido no Livro Etiópico de Henoc. Em 6,1-2 se lê: “Naqueles dias, quando se multiplicaram os filhos dos homens, aconteceu que lhes nasceram filhas belas e formosas. Viram-nas os anjos, os filhos dos céus, desejaram-nas e disseram: ‘Vamos, escolhamos entre os humanos e geremos filhos'”.
Em 7,1-6, o Livro Etiópico de Henoc diz: “E tomaram mulheres; cada um escolheu a sua e começaram a conviver e a unir-se a elas, ensinando-lhes ensalmos e esconjuros e treinando-as na coleta de raízes e plantas. Ficaram grávidas e geraram enormes gigantes de três mil côvados de altura cada um. Consumiam todo o produto dos homens, até que foi impossível para estes alimentá-los. Então os gigantes voltaram-se contra eles e comiam os homens. Começaram a pecar com aves, feras, répteis e peixes, consumindo sua carne e bebendo o seu sangue. Então a terra se queixou dos iníquos”.
Outro elemento: na visão apocalíptica da história há um sentido de urgência, pois é para já o estabelecimento do Reino de Deus. Todos nós conhecemos Mc 1,14-15: “Depois que João foi preso, veio Jesus para a Galileia proclamando o Evangelho de Deus: ‘Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho”.
Se já está na hora da virada, é necessário que se mantenha uma rigorosa conduta pessoal. É uma ética sem concessões. Em Qumran, onde se exige máximo rigor no comportamento dos membros da comunidade, as punições por desobediência às normas estabelecidas são severíssimas (cf. 1QS VI, 24-VII,27). Só um exemplo: “Aquele cujo espírito se aparta do fundamento da comunidade para trair a verdade e caminhar na obstinação de seu coração, se voltar, será castigado dois anos; durante o primeiro ano não se aproximará do alimento puro dos Numerosos. E durante o segundo não se aproximará da bebida dos Numerosos, e sentar-se-á atrás de todos os homens da comunidade” (1QSVII, 20-22).
Na apocalíptica a esperança no futuro é expressa através do tema da ressurreição. As definições de como e quando, entretanto, variam de livro para livro. Também se faz necessário, segundo o pensamento apocalíptico, um grande julgamento no término da história, quando os ímpios serão condenados e os justos salvos e recompensados na era messiânica que se estabelece definitivamente.
Mt 25,31-32.34.41 diz que “Quando o Filho do Homem vier em sua glória, e todos os anjos com ele, então se assentará no trono de sua glória. E serão reunidos em sua presença todas as nações e ele separará os homens uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos (…) Então dirá o rei aos que estiverem à sua direita: ‘Vinde, benditos de meu Pai, recebei por herança o Reino preparado para vós desde a fundação do mundo’ (…) Em seguida, dirá aos que estiverem à sua esquerda: ‘Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno preparado para o diabo e para os seus anjos'”.
No Livro Etiópico de Henoc 91,7-8 se diz que “Quando crescer a iniquidade, o pecado, a blasfêmia e a violência em todas as nações, e aumentar a perversidade, a culpa e a impureza, virá o castigo do céu contra todos eles, e sairá o Santo Senhor com cólera e castigo para julgar a terra. Nestes dias será cortada a violência pela raiz, e as raízes da iniquidade com as da mentira serão aniquiladas sob o céu”.
E em 47,3-4: “Nestes dias vi o ‘Princípio dos dias’ sentar-se no trono de glória e os livros dos vivos foram abertos diante dele. E toda a coorte do céu superior e seu cortejo estava de pé diante dele. O coração dos santos encheu-se de alegria, pois se cumprira o cômputo da justiça, tinha sido ouvida a oração dos justos e o sangue dos inocentes era reclamado diante do Senhor dos espíritos”“Nestes dias vi o ‘Princípio dos dias’ sentar-se no trono de glória e os livros dos vivos foram abertos diante dele. E toda a coorte do céu superior e seu cortejo estava de pé diante dele. O coração dos santos encheu-se de alegria, pois se cumprira o cômputo da justiça, tinha sido ouvida a oração dos justos e o sangue dos inocentes era reclamado diante do Senhor dos espíritos”.
[14]. Cf. PAUL, A. O que é o Intertestamento, p. 67; ROWLEY, H. H. A importância da literatura apocalíptica, p. 157-188.
[15]. Cf. HENGEL, M. Judaism and Hellenism I, p. 250.
[16]. FROST, S. B. Old Testament Apocalyptic: Its Origins and Growth. London, 1952, p. 33, citado em PAUL, A. O que é o Intertestamento, p. 67.
[17]. HANSON, P. D. Apocalíptica no Antigo Testamento: um reexame, em VV. AA. Apocalipsismo, p. 50-51.
[18]. Cf. DINGERMANN, F. Origem e desenvolvimento da escatologia no AT, em SCHREINER, J. (org.) Palavra e Mensagem. São Paulo: Paulus,1978, p. 430-443.
[19]. DIEZ MACHO, A. Apócrifos del Antiguo Testamento IV. Madrid: Cristiandad, 1984, p. 30.
http://airtonjo.com/site1/apocaliptica-3.htm
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