Antes de tudo, precisamos saber que expansão do budismo pode ser dividida em cinco períodos:
1. Séculos VI-V a.C.: o Dharma foi exposto pelo Buda e difundido por seus discípulos;
2. Séculos V a.C. - I d.C.: foram realizados os concílios budistas e surgiram as primeiras escolas;
3. Séculos I-VI: surgimento do budismo Mahayana;
4. Séculos VII-XIII: expansão do Budismo Esotérico (Vajrayana).
5. Séculos XIX-XX: chegada do budismo ao Ocidente.
O surgimento e desenvolvimento do Budismo Mahayana coincide, temporal e espacialmente, com o advento de várias correntes de pensamentos mundialmente influentes: Medioplatonismo, Neoplatonismo, Gnosticismo, Cristianismo, Proto-cabala, Hermetismo, Maniqueísmo, Misticismo Cristão (Padres do Deserto) e outros. Esse espaço corresponde à parte oriental do Império Romano, o Império Parta, o Império Kushana e os reinos Indo-Parta e Indo-Cita.
O desenvolvimento do Budismo Esotérico (Vajrayana, ou Tibetano) coincide com o Shankara e a Advaita Vedanta na Índia.
Nagarjuna é datado sem precisão e sem comprovação, pelos estudiosos como tendo vivido entre 150 e 250 depois de Cristo. As únicas fontes sobre sua vida são de 600-800 anos depois disso em textos chineses e tibetanos, cheios de fantasias sobre ele possuir poderes mágicos e ter o dom da longevidade, levitação, flutuação e são fontes muito questionáveis e tardias. Ele pode ter vivido muito depois de 150-250. Valentim, pelo contrário, é muito bem localizado tendo vivido entre 100 e 160 depois de Cristo, como atestam tanto os heresiologistas católicos como seus discípulos que afirmam que ele conviveu com discípulos dos Apóstolos, especialmente de São Paulo. Portanto é extremamente provável que as ideias gnósticas de Nagarjuna são originalmente Valentinianas e de demais gnósticos como Basílides e Bardesanes e foram levadas até as regiões do Império Kushana, onde passaram para o cânon mahayana através dos pujantes e produtivos mosteiros budistas da região. Ou pode ser até mesmo que ele nunca tenha existido, sendo uma invenção de monges mahayanas para colocar no cânon budista as ideias que que eles aprenderam dos Gnósticos cristãos mais a oeste, através da fabricação de seu crescente prestígio entre os budistas como um grande mestre do dharma.
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O Caminho do Meio
por Tulku Thondub Rinpoche (tradução adaptada)
Este é um breve resumo da filosofia Mahayana de acordo com a escola Prasangika Madhyamaka. Os eruditos e escolas tibetanas variam em suas interpretações sobre a visão Prasangika. O seguinte é um sumário do ponto de vista de Longchen Rabjam (1308-1363), o maior erudito da escola Nyingma, exposto no Yidshin Dzodrel Pema Karpo. Um entendimento completo da filosofia Prasangika exige familiaridade com os textos originais e com as visões contrastantes da erudição interpretativa.
Nagarjuna diz em seu Vigrahavyavartanikarika:
Se eu tivesse apresentado uma teoria qualquer,Então teria cometido uma falta.Mas não assumi qualquer teoria;[E assim] estou totalmente livre de qualquer culpa.
Esta filosofia deve ser entendida através da introdução de duas categorias: a natureza absoluta e o nível convencional.
A natureza absoluta
Nagarjuna disse no Mulamadhyamakakarika I:
Os fenômenos não surgem de si mesmos, dos outros, de ambos ou da ausência de causa.Nada, em nenhum lugar,Nem mesmo surge.
A natureza absoluta é a de não existir em qualquer forma. Transcendendo os objetos da mente dualista, jaz a indivisibilidade das duas verdades e da liberdade primordial. Os prasangikas, portanto, não apresentam qualquer teoria que lhes seja característica.
O nível convencional
A base
Os ensinamentos expostos pelos buddhasSão baseados nas duas verdades:A verdade relativaE a verdade absoluta.
A verdade relativa
Todos os fenômenos existentes são originados através da causação interdependente. Os fenômenos que não existem mas que são presumidos como existentes, ou que são falsamente apreendidos pela mente, são contrastados com os fenômenos [relativamente] existentes. As entidades surgem através da causação interdependente. As não-entidades surgem através da operação da mente, similares ao nexo causal dos fenômenos objetivos, conhecido como a postulação interdependente. Os pensamentos, ideias e percepções delusórios — por exemplo, a corda que é confundida com uma cobra — são produtos da postulação interdependente.
A verdade absoluta
A sabedoria transcendente está além da concepção e além da expressão,É não-surgida e incessante como a natureza do espaço,É o objeto da sabedoria da autoconsciência diferenciadora:Mãe de todos os buddhas dos três tempos, a você eu presto homenagem.
Esta autoconsciência não é a mesma que a da escola Apenas Mente (Chitamatrin), que a usa como um termo para a mente comum.
A verdade absoluta não é um objeto da mente. Shantideva disse em seu Bodhicharyavatara IX:
A verdade absoluta não é um objeto da mente;A mente é a verdade relativa.
A verdade absoluta é a meta última do treinamento espiritual; e é verdadeira como o caminho e resultado do treinamento e atingimento espirituais.
A verdade absoluta é a grande paz, a cessação, a natureza das coisas, que transcende os objetos da mente. Em seu sentido real, tanto as identidades das coisas quanto da natureza das coisas são igualmente puras, livres e perfeitas, e estão além das elaborações ou julgamentos. Estão afastadas das referências mentais e das referências características. As pessoas que realizam as duas verdades aperfeiçoam o caminho das acumulações duais e atingem o estado búddhico. Chandrakirti disse em seu Madhyamakavaratara VI:
O rei dos gansos, com as bem desenvolvidas asas brancasDas verdades relativa e absoluta,Vem à presença dos gansos, os seres, e com o poder das virtudes.Eles voam além do oceano de virtudes dos buddhas.
Do ponto de vista buddhista, para algo ser real, ele não deve depender de qualquer outra coisa além de si mesmo para a sua existência. Sua identidade não deve ser dependente do surgimento de qualquer outra coisa. Já que todos os fenômenos foram demonstrados como surgidos através de um processo de causação interdependente, a conclusão é que as coisas não têm "próprio ser" [existência inerente]. Esta ausência de identidade real é a sua natureza, e é chamada vacuidade. As duas verdades são as coisas e a natureza das coisas. Elas nunca são encontradas separadamente. Elas são vacuidade porque são um surgimento interdependente, ao invés de serem independentemente reais. Se fossem reais, não haveria surgimento e cessação. Os fenômenos são surgidos e funcionais interdependentemente porque são vacuidade. Se não fossem vacuidade e irreais, nada poderia surgir, cessar ou funcionar através da originação dependente. Nagarjuna disse no Vigravyavartanikarika:
Os fenômenos que surgiram interdependentementeSão designados como vacuidade;Tudo o que surge através da causação interdependente não tem realidade.
Ambas as verdades são livres da realidade. No Madhyamakavarata VI é dito:
Em ambas as verdades não há realidade essencial,Então não são nem eternas nem nulas.
Quem quer que entenda o significado da vacuidade entenderá a lei do surgimento interdependente como, por exemplo, o princípio kármico. No Caminho do Meio, as duas verdades são a mesma [verdade], e essa verdade é o ensinamento do Buddha. No Vigravyavartanikarika é dito:
Para quem quer que a vacuidade seja possível,Todos os significados são possíveis.Para quem quer que a vacuidade não seja possível,Nada é possível.A vacuidade e o surgimento interdependenteSão o mesmo no caminho do meio.Para aquele que disse esta fala excelente,O Buddha, eu presto homenagem.
Sem conhecer o significado das verdades, é impossível entender e realizar os ensinamentos buddhistas. Sem contar com o nível convencional não há como expressar, entender e realizar o significado absoluto a fim de atingir o nirvana. É dito no Mulamadhyamakakarika XXIV:
Quem quer que não conheça as duas verdades não conhece a profunda talidade [sânsc. tathata]. Sem contar com o convencional, o significado absoluto não pode ser ensinado ou descoberto. Sem entender o significado absoluto, o nirvana não pode ser atingido.
Na verdade absoluta, não há distinção entre a afirmação e a negação. Porém, estas divisões são mantidas na verdade relativa: quando engajado tanto no debate quando na contemplação da natureza última, não se mantém qualquer tese ou se apresenta qualquer visão, já que a natureza última é livre de manter ou apresentar qualquer visão. Quando estiver em um período de não-meditação ou quando lidar com o mundo convencional, deve-se ver, ponderar e ensinar aos outros os detalhes dos fenômenos existentes da verdade relativa como foi dado nas escrituras, isto é, que eles são como um sonho ou como uma aparição. Este reconhecimento da natureza das coisas, que são como um sonho, abrirá os olhos para caminho das duas acumulações e então se deverá atingir os dois corpos - o corpo último e o corpo da forma - do estado iluminado, o estado búddhico.
O caminho
Pelos méritos de [ter escrito] este [texto], possam todos os seresObter méritos e sabedoria,E possam eles atingir os excelentes corpos dúplicesQue são gerados através do mérito e da sabedoria.
O mérito
A sabedoria
Ó Subhuti! As mentes são luminescentes em sua natureza.
No Ratnavali é dito:
O corpo da forma dos buddhasÉ produzido pela acumulação de mérito;O corpo último, resumidamente,É produzido pela acumulação de sabedoria suprema.
Primeiro deve-se alcançar o ponto de entender a liberdade em relação às conceitualizações através do raciocínio e de ver a ausência de realidade, que é a natureza de vacuidade dos fenômenos existentes.
Examine uma flor por exemplo: tente encontrar e provar como a flor existe. A flor é a cor da flor, ou é o seu formato? Não, eles são a cor e o formato, mas não a flor. As diferentes substâncias são a flor? Não. Não descobriremos a flor mesmo se a reduzirmos às suas menores partículas. Não podemos achá-la nas partes da flor, não pode ser encontrada na agregação dessas partes, incluindo a cor, o formato e as substâncias. Então não há qualquer coisa na flor que possamos identificar como a sua existência. Ao invés disso, o que foi provado é a sua não-existência, o não-eu e a vacuidade da flor em sua natureza real. O mesmo método de exame é aplicável a todas as formas da matéria - até as menores partículas - e para a mente - até o seu mais curto momento de duração. Portanto, a forma e os outros constituintes da existência são vacuidade.
Como os fenômenos parecem ser reais e funcionais? A base é a vacuidade. Os fenômenos surgem e funcionam como reais quando percebidos por pessoas comuns como nós. O processo de emergência da vacuidade para a realidade aparente toma lugar através da interdependência do aspecto objetivo, que são as causas e condições, e do aspecto subjetivo, que são o pensamento dualista, as emoções maculadas e o processo kármico enraizado na ignorância. Os fenômenos existentes surgem quando os fatores causais estão completos. O exemplo dado é o de um mágico criando uma ilusão. Quando os mantras, as substâncias e a meditação forem completados, as casas e as árvores criadas pelo poder mágico aparecerão como reais. Do mesmo modo, a vacuidade é forma e assim por diante.
Como resultado do surgimento dependente da existência fenomenal, os fenômenos são irreais e são vacuidade em sua natureza verdadeira. E como eles são vacuidade, são capazes de surgir e funcionar através do surgimento dependente. Similarmente, o espaço permite que a terra e os seres funcionem. Apesar de as aparências fenomenais não serem verdadeiras em sua natureza real, elas aparecem e funcionam como verdadeiras no nível relativo, que é a falsidade. A visão extrema do substancialismo é evitada ao entender as aparências. Enquanto parece ter um "ser", a flor é uma vacuidade, uma não-existência. A visão extrema do niilismo é evitada ao entender a vacuidade. A vacuidade é capaz de surgir como um originação dependente. A vacuidade e a originação dependente são inseparáveis. Portanto, a vacuidade não é outra que a forma e a forma não é outra que a vacuidade. O Sutra do Coração diz:
A forma é vacuidade, a vacuidade é forma,A vacuidade não é outra que forma,A forma não é que outra que vacuidade.
Quando se treina nesta contemplação de sabedoria, primeiro deve-se acalmar a mente e então deve-se permanecer na experiência do estado de liberdade em relação aos pensamentos, referidos como a visão da verdade absoluta. Enquanto se permanece nesse estado, os conceitos de objetos exteriores e de mente interior param de ser gerados. A dualidade do objetivo e do subjetivo é superada. Isto é a liberdade em relação aos conceitos e percepções duais. Nessa hora não há afirmação nem negação na mente engajada na contemplação, não há qualquer coisa além do insight livre das elaborações. É a meditação sobre a sabedoria luminescente da consciência autodiscriminadora.
Shantideva disse no Bodhicharyavatara IX:
Uma vez que nem as coisas nem as não-coisasPermaneçam diante da mente,Elas não serão qualquer coisa -Esta é a grande paz ou cessação, a liberdade em relação aos conceitos.
As tendências que são as primeiras a cessar através da contemplação sobre a natureza dos fenômenos são: o apego sobre os fenômenos como reais; e as afirmações e negações. Então, depois, mesmo o apego à contemplação do estado natural das coisas também cessará. Para começar com a realização da vacuidade, venha conceitualmente através da inferência e então em um insight direto, total e não dualista. O Bodhicharyavatara IX diz:
Desenvolvendo a experiência da vacuidade,Abandone o hábito de apreender os fenômenos como reais.Desenvolvendo a experiência do nada,Esse [apego à vacuidade] também será abandonado.
Uma vez cessado o apego ao sentido de um eu e à realidade dos fenômenos, o próprio conceito de antídoto a estas delusões radicais cessará. É o conceito de vacuidade dos fenômenos em si. Uma vez ele que tenha cessado, o meditador atingirá a sabedoria transcendente. O Buddha disse no Aryaprajnaparamitasanchayagatha:
Aquele que é livre dos vários conceitos e que desfruta da paz supremaEstá desfrutando da perfeição excelente da sabedoria transcendental.
A ignorância faz uma pessoa estar sujeita à originação dependente de causas e condições, a esfera da experiência mundana que não termina até o atingimento do estado absoluto, o estado búddhico. Antes desta realização da grande vacuidade ou da verdade absoluta, os efeitos do karma nunca são transcendidos. O caminho para ter uma vida mais feliz e para fazer os esforços que conduzem ao estado búddhico é praticar ações meritórias e a meditação que conduz à sabedoria. A fé, a generosidade, o amor e a conduta adequada pacificarão as forças negativas dentro nós e gerarão a energia positiva, conduzindo-nos para o estado perfeito. A prática das ações meritórias e da sabedoria é possível por causa do padrão dinâmico da causação interdependente.
O resultado são os dois corpos de um buddha. Através do processo de treinamento no caminho, a mente e os eventos mentais, a causa do samsara, são dissolvidos na esfera última (sânsc. darmadatu). Na iluminação, para si mesmo atingi-se o corpo último (sânsc. darmakaya). Para os outros, os corpos da forma (sânsc. rupakaya) aparecem espontaneamente, como um reflexo da lua na água, até que o samsara seja esvaziado. Eles aparecem de acordo com as aspirações feitas quando se treinava no caminho, e com as conexões kármicas dos seres.
No Madhyamakavatara XI, é dito:
A cessação [que resulta da] queimaDe todo combustível das entidades conhecíveisÉ o corpo último do vitorioso.Nessa hora não há mais nascimento nem morte.
E
O corpo da paz irradia-se como uma joia que realiza desejos.Até que os seres sencientes sejam liberados, para o bem do mundo[As emanações da paz] aparecem eternamente sem conceitos.
No Bodhicharyavatara IX é dito:
As árvores realizadoras de desejos e as joias realizadoras de desejosRealizam completamente os desejos:Do mesmo modo para os discípulos, por causa das aspirações,O corpo de vitorioso aparece.
Shantideva ilustra ainda mais o princípio das ações iluminadas, que realizam os desejos dos seres sem conceitos mentais e esforço, mas pelo poder das aspirações no passado. Ele conta a história de um brâmane chamado Shaku. Este brâmane abençoou um relicário de Garuda, uma divindade na forma de um pássaro sagrado. Mesmo após a morte do brâmane, por um longo tempo este relicário foi efetivo em neutralizar venenos. No Bodhicharyavatara IX é dito:
Por exemplo, o relicário de Garuda que[Shanku] consagrou, e [então ele] morreu muito depois -Ele [o relicário] ainda tem sido efetivo em neutralizar o veneno e assim por diante.Similarmente, agindo de acordo com as ações dos bodhisattvas,Atinge-se o relicário [os corpos] dos buddhas.Apesar de o bodhisattva ter agora passado para além da tristeza [do mundo],Ele realiza todas as metas [os desejos dos seres].
(Adaptado e traduzido de Hidden Teachings of Tibet, Tulku Thondub Rinpoche, Wisdom Publications, por Padma Dorje, 2000. Revisão pendente.)
https://tzal.org/o-caminho-do-meio/
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COMENTÁRIOS:
Os fundamentos básicos do Budismo Mahayana podem ser identificados como os seguintes:
1 - A doutrina da Vacuidade ou Vazio (Sunyata) que é a Teologia Apofática dos Gnósticos, medioplatônicos e de Dionísio Areopagita. Já falamos sobre ela na postagem sobre Alógenos Parte 2 https://gnosedesi.blogspot.com/2019/02/os-arconticos-parte-2-final-alienigena.html
2 - A Perfeição da Sabedoria (Prajna Paramita), que é a Sophia gnóstica, a Mãe de todos os Budas conforme os sutras mahayanas. No Tibet ela é inclusive chamada de Yum Chenmo que significa literalmente Grande Mãe. Nas postagens Em Busca de Sophia e Origem de Sophia falamos mais dela: https://gnosedesi.blogspot.com/2019/03/em-busca-de-sophia-por-que-nos.html e https://gnosedesi.blogspot.com/2014/12/sophia-significado-no-gnosticismo.html
3 - As 5 outras Paramitas (Perfeições) que, como dissemos na postagem Pensamentos e Reflexões, também aparecem em todas as formas de Gnosticismo: https://gnosedesi.blogspot.com/2020/07/pensamentos-e-reflexoes-final.html.
4 - A habilidade nos meios pedagógicos (Upaya Kaushalya), que significa ter a habilidade de ensinar o Dharma de acordo com as necessidades e características dos seres sencientes, seja uma família, pessoa ou comunidade. Ou seja, o pregador ou transmissor do dharma deve usar as ferramentas adequadas para fazer aquele aluno entender o Dharma, e ele pode usar diferentes formas, imagens, explicações, mitos e alegorias para isso. Deve ser criativo nas ferramentas para transmitir corretamente o Dharma. Ora, esta é a mentalidade gnóstica no que tange ao Ensino da Gnose: todos os mitos e folclores de todos os povos e religiões podem ser interpretados e analisados para fazer as pessoas daquela cultura entenderem o Gnosticismo. É o que os gnósticos fizeram no Egito, na Grécia, na Síria, no Irã, nos Bálcãs, em Roma, na China, Tibet, Índia, Ásia central e todos os lugares. Até mesmo no Japão, pois a religião sincrética Shugen-Do foi iniciada quando maniqueístas e mitraístas chineses (miloístas) chegaram ao Japão e utilizaram as crenças nativas xintoístas, criando uma nova religião sincrética gnóstica.
5 - O Bodhisattva, aquele que atrasa sua própria Iluminação para pregar o Dharma e salvar todos os seres. Assim como o budismo Mahayana, o gnosticismo não se tornou como o budismo theravada onde somente os monges renunciantes conseguem praticar perfeitamente o Dharma. A Gnose foi pregada nas cidades grandes e era acessível a todos. Não era necessário ser um monge solitário para obter Gnose.
6 - O culto a Sutras (Escrituras) de uma Segunda Revelação ou Segundo Giro na Roda do Dharma, focado na Vacuidade (Shunya) que inicia a transmissão da Revelação Esotérica do Buddha, ensinado de uma forma um pouco restrita e não tão pública. A doutrina da Vacuidade é uma doutrina complexa e esotérica, um verdadeiro desafio à maneira ordinária e comum de raciocinar e perceber a realidade. Esses sutras da vacuidade (vazio) são de difícil compreensão, característica também dos textos gnósticos que TAMBÉM pregam a mesma doutrina do Vazio com outra linguagem.
Outras doutrinas gnósticas são encontradas no Budismo Mahayana em seus Sutras. Acho que a mais notória de todas é a doutrina da Natureza de Buda ou Natureza Búdica presente em todos os seres sencientes, que aparece no Mahayana Mahaparanirvana Sutra e no Tathagatagarbha Sutra, bem como outros, corresponde exatamente à doutrina gnóstica da Centelha de Luz, também chamada de Centelha Divina, Partícula de Luz e até mesmo de Sophia e Virgem da Luz.
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O Mito da Queda da Sabedoria (Sophia) e Os Aeons Buscam Conhecer o Pai
A Queda da Sabedoria
Os valentinianos usaram o Mito da Sabedoria (Sophia) como metáfora para descrever essa queda no erro. Segundo esse mito, o desejo de conhecer o Pai passou para a Sabedoria, a mais jovem dos Doze Aeons. Em nome de toda a Plenitude, ela assumiu a busca de conhecer o Pai supremo. No entanto, ela tentou conhecer a Deus sem a mediação do Filho, algo que é impossível. Como resultado dessa maneira defeituosa de pensar, ela se separou de seu consorte e caiu em um estado de erro e sofrimento (Contra as Heresias 1: 2: 2-3, Trechos de Teódoto 31: 3, Tratado Tripartido 75: 17-77 : 37). A separação de Eva de Adão no livro de Gênesis (Gênesis 2: 21-22) é interpretada pelos professores valentinianos como uma representação alegórica da separação da Sabedoria de seu consorte (Trechos de Teódoto 21: 1).
O pensamento defeituoso da sabedoria é descrito como um aborto que ela produziu porque "desejava ser como o Pai" (Refutação das Heresias 30: 6). Na tentativa de conhecer o Pai, ela estava, de certa forma, tentando trazê-lo à luz. No entanto, tudo o que ela trouxe foi o pensamento defeituoso que é descrito como um "aborto". (Contra as heresias 1: 2: 1). Em sua ignorância, a Sabedoria sofreu tristeza, medo e confusão.
Em sua angústia, ela se arrependeu e começou a implorar por ajuda. Os outros Aeons também ficaram angustiados e se juntaram a sua petição (Contra as Heresias 1: 2: 3, Refutação das Heresias 31: 2, Exposição Valentiniana 34: 25-31). Por meio de uma segunda fronteira ou Limite, ela foi dividida em um Eu Superior e um Inferior. Seu eu inferior (o "aborto") junto com o sofrimento foram excluídos da Plenitude. A Sabedoria Superior foi fortalecida e voltou para seu consorte convencida de que Deus é incognoscível (Contra as Heresias 1: 2: 4, cf .. Refutação das Heresias 31: 5)
As ações da sabedoria serviram para exteriorizar e separar o defeito inerente à Plenitude. O "aborto" é uma expressão do desejo compartilhado por todos os Aeons pelo conhecimento dos Pais. O resultado líquido desse processo é que a Sabedoria inferior (ou seja, o Pensamento abortado) foi aprisionada fora da Plenitude em um reino inferior de ignorância e sofrimento. Este processo está de acordo com o que é ordenado pelo Pai (Tratado Tripartido 76: 24-77: 1). Esta é a razão pela qual o consorte da Sabedoria é chamado de Ordenado.
http://www.gnosis.org/library/valentinus/Valentinian_Theology.htm
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CONCLUSÕES
As Duas Verdades de Nagarjuna correspondem as Duas Sabedorias de Valentim.
A Verdade Ordinária ou Relativa é a Sabedoria Inferior, Kato Sophia ou Achamoth. Essa verdade e é útil até certo ponto, mas não é absoluta. Ela tenta conhecer Deus sem mediação do Filho, ou seja, sem o Cristo, Verbo e Logos. Sem o Despertar do Cristo, é impossível conhecermos verdadeiramente a Deus pois o Cristo Interno é o mediador entre nossa mente ignorante e o Ser Supremo e Real e Verdadeiro.
Os dogmas das religiões são verdades relativas. Realmente a Eucaristia É O CORPO E O SANGUE DE JESUS. Realmente Krishna é a Suprema Personalidade de Deus. Realmente o Alcorão é a Palavra de Deus. Isso tudo é verdade. Verdade relativa. Útil, tem lá suas utilidades e aplicações, mas essencialmente são verdades relativas.
Já a Verdade Suprema ou Absoluta é Ano Sophia e sabe que Deus é incognoscível. Que quando tentamos definir Deus em dogmas, ritos, conceitos e livros sagrados, produzimos um aborto, um erro e um pensamento defeituoso que QUER SER COMO O PAI, mas não consegue. Ele quer ser a Verdade Absoluta, mas ele não é.
Quando temos a Verdade Suprema, então entramos na Teologia Apofática e entendemos que não podemos "conhecer" nos termos mundanos, ou seja, conceituar e limitar o Ilimitado e Infinito. Entendemos o símbolo da Eucaristia, corpo e sangue de Jesus. Entendemos o significado alegórico da guerra em que Arjuna se meteu no Bhagavad Gita. Entendemos que nem o Corão nem a Bíblia podem ser a palavra de Deus, porque nenhum texto sagrado é palavra de Deus. A palavra de Deus é conhecida somente através de uma Experiência Direta, um conhecimento real, uma vivência real dela. Está além desse mundo relativo e não pode se limitar a ele.
Como diz Buddha no Alagaddúpama Sutra, quando alcançamos a Outra Margem (o objetivo), devemos largar o barco para trás. Isso significa que até mesmo os Evangelhos Gnósticos e os Sutras Budistas precisam ser abandonados para que o navegante alcance a Verdade Suprema, pois mesmos eles são Verdade Relativa.
Quem alcançou Ser Supremo não é mais Gnóstico e quem alcançou o Paramartha não é mais Buda.

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