quarta-feira, 19 de novembro de 2025

REVISADO! A Biblioteca de Nag Hammadi - REPOSTAGEM







Até os séculos XVIII, o único conhecimento acerca das doutrinas do cristianismo primitivo que rivalizaram com a chamada Ortodoxia Cristã (que se transformaria na chamada Igreja Católica) provinha dos Heresiologistas, teólogos apologéticos do cristianismo primitivo que defendiam a sua igreja como sendo a verdadeira igreja (ortodoxa) ante as chamadas "heresias", ensinamentos, seitas e outras igrejas que rivalizavam com a corrente ortodoxa.

O principal heresiologista é Ireneu de Lyon (130-202 d.C.), que escreveu um livro chamado Contra as Heresias no período do cristianismo primitivo tentando refutar alguns dos diversos grupos gnósticos que existiam na sua época, recorrendo à ridicularização, parcialidade e o que se poderia chamar de "fake news".

Outros heresiologistas importantes são:

- Hipólito de Roma (170-236 d.C.), que escreveu o tratado Philosophumena, também conhecido como Refutação de Todas as Heresia, parcialmente reencontrado.

- Epifânio de Salamina, ( 310-403 d.C.), que escreveu o Panarion, mais conhecido como Contra Heresias, texto polêmico devido a Epifanio copiar de Hipolito e Ireneu grande parte das coisas sem dar crédito e de coisas realmente absurdas e falsas que ele inventou sem prova alguma e com exclusividade atribuiu a alguns grupos gnósticos.

Esses textos são extremamente agressivos. Seu objetivo é descrever as doutrinas e as comunidades cristãs contrárias à ortodoxia católica e refutá-las. Além disso, criticavam os chamados "textos apócrifos", que a ortodoxia não aceitava como sendo "inspirados por Deus" por conterem doutrinas que eles negaram terem sido ensinados por Jesus. O problema é que não há nenhuma prova de que os textos "inspirados", usados como Escrituras Sagradas, sejam os originais usados pelos primeiros cristãos e, os outros, apócrifos, inventados posteriormente... O que se tem é o arbítrio de uma hierarquia eclesiástica impondo, tardiamente, sob pena de excomunhão e maldição todo aquele que se atreve a criticar ou estudar aquilo que não interessava ao clero em conluio com o Imperador.

Temos um tipo de religião fanática e intolerante que nega a livre manifestação do pensamento. Assim era e ainda é a Igreja Católica Romana.

Até então, o único conhecimento acerca da diversidade de pensamento cristão durante o cristianismo primitivo vinha do olhar preconceituoso, extremamente parcial e DUVIDOSO desses heresiologistas, que exageraram na crítica aos que não os seguiam, buscando diminuir e rebaixar TODAS as outras igrejas a "hereges" e forçar a conversão de todos à ortodoxia sob pena de ir para o inferno...

Ocorre que, por algum motivo fantástico, nos sécs. XVIII, XIX e XX foram sendo reencontrados textos e conjunto de textos que continham em si MUITAS das obras que foram condenadas pelos heresiologistas como heréticas, e muitos outras novas  desconhecidas que foram datados como sendo dos 3 primeiros séculos do cristianismo e continham também várias das doutrinas descritas pelos heresiologistas. Esses textos são:

  • Códice Bruce (Bruce Codex), encontrado no Egito em 1769, contém o Primeiro dos Livros de Jeú (Books Of Jeu ou Books Of Ieou) mencionados em Pistis Sophia, um Hino Gnóstico Sem Nome, um Texto Gnóstico Sem Nome e também o texto sem título chamado pelos estudiosos de Apocalipse Sem Título ou The Untitled Text.
  • Códice Askew (Askew Codex), adquirido pelo Museu Britânico das mãos do Doutor Anthony Askew em 1785, provavelmente de origem egípcia pois assim como a maior parte dos textos reencontrados são traduções para a língua Copta de textos do cristianismo primitivo escritos originalmente em grego. Contém vários livros que em grande parte relatam o mito de Pistis Sophia, porém são assinados como "Uma parte dos Livros do Salvador", cujo conteúdo referencia a várias tradições gnósticas diferentes, sendo um mistério até agora descobrir se os textos provêm de um único ramo gnóstico, se são compilações de materiais anteriores, se são edições e acréscimos de novas igrejas sobre materiais de outras igrejas anteriores, se influenciaram o Maniqueísmo ou se foram influenciados pelo Evangelho de Mani, etc. Faz referência a termos, doutrinas, mitologias e esquemas teogônicos que são facilmente caracterizados como Ofitas, Barbelonitas, Sethianos e pré-Maniqueístas.
  • Códice Akhmin ou Códice de Berlim (Akhmin Codex ou Berlin Codex), encontrado no Egito em 1896, contém o Evangelho de Maria com muitas páginas faltando, uma versão do Apócrifo de João, a Sophia de Jesus Cristo e um resumo do Ato de Pedro.
  • A Biblioteca de Nag Hammadi, descoberta em 1945 no Egito, uma verdadeira Bíblia de textos judaicos, cristãos, herméticos e até mesmo uma parte da República de Platão.
  • Códice Tchacos (Codex Tchacos), descoberto em El Mynia, Egito, em 1970, contém a Carta de Pedro a Felipe, o Primeiro Apocalipse de Tiago, um fragmento do Livro de Alógenes (que não se sabe se é uma parte perdida do Alógenes de Nag Hammadi ou outro texto diferente mas com o mesmo nome) e o Evangelho de Judas até então desaparecido.

PISTIS SOPHIA (Códice Askew)


Chamado popularmente de Pistis Sophia, esse conjunto de 4 textos sem nome apresenta um gnosticismo bastante complexo e ricamente detalhado muito similar às doutrinas de várias igrejas gnósticas diferentes, como os Ofitas, Barbelonitas, Setianos e Maniqueístas. Foi escrito em Copta (é uma tradução em língua copta de textos originais em GREGO), ou seja, foram escritos NO EGITO (Copta era a língua mais popular do Egito durante o cristianismo primitivo). O Copta é falado até hoje por cristãos egípcios (Igreja Ortodoxa Copta).

Basicamente, Pistis Sophia conta a história da ALMA HUMANA (a narrativa é uma gigantesca parábola ensinada por Jesus aos seus discípulos depois de sobreviver à crucifixão), chamada de Pistis Sophia (Fé e Sabedoria, em grego). Ela vivia no Céu (Pleroma) com sua mente pura cheia de Deus e ela própria participando da Natureza Divina (era uma Deusa). Então ela se sentiu atraída por querer ser como Deus mesmo sabendo não poder entrar no Grande Mistério por não estar apta... Foi então que passou a ser atacada por vários poderosos Arcontes, se encheu das substâncias contrárias a Deus (Deus é o Ser Perfeito), se apaixonou (se apegou) àquilo que estava "fora" de Deus, ou seja, o NÃO-SER e caiu na mescla da Luz e das Trevas.

Tendo contato com essa substância malévola contrária ao Ser (e, logicamente, contrária a todas as Ideias Inteligíveis ou Éons, dentre eles, o Bem, o Amor, a Piedade, a Pureza, a Compaixão, A misericórdia e etc), ela entrou em pecado e caiu do Céu, chegando aos mundos inferiores e imperfeitos "fora" de Deus (fora de Deus em parte, pois o Todo está dentro de Deus, porém em um nível inferior), dentre os quais está o NOSSO MUNDO. Arrependida, ela tenta subir de volta a Deus mas perdeu sua divindade... Então Deus, com pena de sua situação, envia um Noivo maravilhoso para se casar com ela, chamado Cristo, que se une com ela em uma União Mística (onde ela se afasta dos apegos do mundo, da matéria e do não-ser). Então, orando a Deus e se arrependendo sinceramente de seus pecados e apegos, retorna sua mente à pureza inicial, através do Silêncio, do desapego e da concentração mental nos Aeons mais elevados, bem como do autoconhecimento, e sobe aos mundos superiores de degrau em degrau até chegar ao Mundo Original, o próprio Deus.

Mas não apenas isso. Pelo contrário, Jesus ainda ensina muitas outras coisas a respeito do nosso mundo e dos outros mundos, superiores e inferiores. Jesus explica sobre a Lei do Karma, que ele chama de Destino; fala sobre o significado do Sacerdócio segundo a Ordem de Melquisedec, o qual todos os gnósticos são sacerdotes; explica o que são os Arcontes de cada Esfera (cada mundo), como eles dominam esse mundo e nos controlam por dentro e por fora; explica que todas as pessoas são deuses caídos e, a cada involução (transmigração da alma) a mundos inferiores, os antigos Deuses Solares se tornaram demônios e monstros, podendo ainda se arrepender e iniciar seu caminho de volta a Deus; ataca os adivinhos, falsos astrólogos, falsos profetas, vendilhões e mercadores de fé e todos os doutrinadores que não ensinam os mistérios da Alma Humana e sua redenção, mas ensinam mentiras para enganar os homens e que eles seriam os Anjos caídos, que abandonaram Deus para ensinar falsas artes para os homens caídos, sofrendo o Destino e sendo dominados pelos Arcontes; ensina ainda MUITAS E MUITAS outras maravilhosas doutrinas que foram proscritas pela ortodoxia cristã.


A BIBLIOTECA DE NAG HAMMADI


Essa Bíblia foi encontrada no século XX no Egito, em 1945, exatamente no local onde, segundo os historiadores e apologistas cristãos do cristianismo primitivo e da Idade Média, ficava o Monastério de São Pacômio, um dos Padres do Deserto Egípcio.

Os Padres do Deserto foram cristãos que abandonaram tudo para ficar sozinhos (a raiz é "monos", um, sozinho, solitário) em "celas" (quartos fechados) praticando técnicas de meditação, repetição de textos e frases sagradas e estudos interpretativos de textos sagrados, além da própria produção de textos, apologias, hinos, cânticos e comentários a outros textos, com o objetivo de alcançar um CONHECIMENTO (GNOSE) superior ao das pessoas comuns, qual seja, a Experimentação de Deus dentro de si.

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A GNOSE NO CRISTIANISMO PRIMITIVO

1.1 O TERMO “GNOSE” NA ANTIGUIDADE 

O termo grego “gnose” geralmente é traduzido como conhecimento e é diretamente relacionado com os diversos grupos chamados pelos Padres da Igreja de gnósticos aos quais atuavam nos séculos II e III d.C. Mas a que tipo de conhecimento esse termo se referia e será que ele está necessariamente relacionado com os gnósticos? Por que este ganhou contornos tão depreciativos? 

O termo gnose quando utilizado para refletir sobre os vários grupos religiosos que atuavam nos séculos II e III, perde o seu caráter genérico de um conhecimento racional e passa a se referir a um conhecimento interior, a um conhecimento das coisas divinas. Em suma, nessa perspectiva religiosa, gnosis passa a ser considerado um conhecimento da condição humana e quem tem esse conhecimento terá sua salvação garantida pelo fato de ter consciência de sua condição e assim transcendê-la. 

Um mestre gnóstico chamado Monoimus escreveu o seguinte: 

"Desistindo de procurar por Deus, a criação e coisas como esta, busques por Ele dentro de ti e aprendas quem é que agrega em Si absolutamente todas as coisas dentro de ti, e digas: 

'Meu Deus, 
minha mente, 
minha compreensão, 
minha alma, 
meu corpo'. 

E aprendas de onde vem tristeza, a alegria, o amor, o ódio, a vivacidade involuntária, a sonolência involuntária, a raiva involuntária e afeição involuntária; e se tu investigares corretamente estes (pontos), O descobrirás, unidade e pluralidade, em ti mesmo, de acordo com aquela partícula, e saberás que Ele encontra a conexão como sendo tu mesmo"

Monoimo, segundo Hipolito de Roma em "Refutação de todas as heresias."



(apud: PAGELS, 1979, p.17).

SOBRE MONOIMUS, FAVOR LER O 

ARTIGO: https://gnosedesi.blogspot.com/2014/11/monoimo-e-o-monismo-gnostico.html


Para Pagels (1979) a gnose poderia ser traduzida como uma percepção interior, como um processo de conhecer-se a si mesmo simultâneo ao conhecimento de Deus. 

A gnose não era tida como algo ruim para os cristãos do primeiro século e não estava relacionada apenas com os grupos chamados de “gnósticos”. Exemplo disso é Clemente de Alexandria, que viveu entre os anos de 150 e 215 d.C., um autor que nunca foi considerado herege, e considerava a gnose como algo fundamental para um cristão. (CHAVES, 2006b, p.11). 

Clemente de Alexandria não rejeitava todas as ideias gnósticas, considerava Valentino e sua escola, cristãos dedicados à descoberta da Verdade, apesar de terem sido levados ao erro por não terem compreendido as filosofias gregas e pagãs. (OGRADY, 1994). 

Monoimus foi um Mestre gnóstico mencionado na obra de Hipólito de Roma, “Refutação contra todas as heresias”. Nenhuma de suas obras chegou até nossos dias. 

Clemente de Alexandria nasceu provavelmente em Atenas. Convertido ao cristianismo percorreu a Grécia, a Ásia Menor e a Palestina. 

Clemente, em sua obra Stromateis, que significa “coletânea variada”, diz que: “O gnóstico procura agir como Deus, e já se tornou Deus”, e ainda “O verdadeiro gnóstico é irmão, amigo e filho do Senhor” 

Segundo seus ensinamentos, o verdadeiro conhecimento vivencial surgia através da constante prática da fé e do amor. (OGRADY, 1994).

 Clemente se utilizava de tudo o que julgava valioso nos sistemas gnósticos. Apesar de discordar da concepção gnóstica de que o mundo era mau, ele se utilizava da filosofia grega, que considerava como precursora do cristianismo, e considerava o cristianismo como uma filosofia no seu sentido original de “amor pela sabedoria”, uma busca da sabedoria em sua forma verdadeira para conquistar a santidade. (OGRADY, 1994). 

Clemente se esforçava por demonstrar que a filosofia, como tal, era boa. Os que a cultivavam estariam cumprindo a própria vontade de Deus, e um uso razoável desta só poderia ser benéfico. (BOEHNER, 2009, p.35). 

É inconcebível que a filosofia seja má, visto que torna os homens virtuosos. Por isso ela deve ter sua origem em Deus, que só pode fazer o bem; aliás, tudo o que vem de Deus é dado para o bem e recebido para o bem. E por sinal os homens maus não costumam interessar-se por filosofia. (Stromata apud: BOEHNER, 2009, p.35). 

O termo gnose passa a ter caráter pejorativo, a partir do momento em que começa a ser utilizado pelos Padres da Igreja para designar esses grupos opositores à “ortodoxia”. Os heresiólogos consideravam essas doutrinas pseudo gnósticas ou falsa gnose. (CHAVES, 2006b). 

Da palavra gnose, surgiu o termo gnóstico, (“conhecedor”), mas na Antiguidade algum grupo religioso ou filosófico se autodenominava de gnóstico? Ou o rótulo de gnóstico foi criado pelos líderes da “ortodoxia” para depreciá-los? 

Bazán (2008), diz que na Antiguidade havia grupos que se autodenominavam e eram reconhecidos como gnósticos. 

Efectivamente, en la base de lo que puede llamarse como denominación genérica el movimento gnóstico están ciertas asociaciones de individuos que llamamos “gnósticos”, porque así se autodesignan intersbjetivamente entre ellos y porque así son designados y reconocidos por testigos que son externos.

 Para Clemente, nem todos os cristãos eram gnósticos, pois não haviam alcançado a perfeição na fé, mas todo o gnóstico é cristão, ou seja, para Clemente, o gnóstico é simplesmente um cristão perfeito. O autor ainda fala em vários graus de perfeição, entre eles, piedade, paciência, temperança, trabalho, martírio ou gnose. Apenas Jesus Cristo possui todas essas modalidades de perfeição. (BOEHNER, 2009, p.40). 

 11 a esos grupos, bien sean sujetos eclesiásticos o filósofos griegos14. (BAZÁN, 2008, p.116). 

 Para defender essa ideia de uma identidade gnóstica, Bazán (2008) menciona o texto gnóstico Testemunho da Verdade que diz o seguinte: “Y han avanzado hacia el conocimiento. Y los que poseen el conocimiento”. 

Em Hipólito de Roma, autor do tratado “Refutação contra todas as heresias”, aparece identificando-os como um grupo que considera herético como gnóstico: 

‘Qué enseñan los naasenos, que se llaman a si mesmos de “gnósticos”. Em Clemente de Alexandria, em seu tratado Stromata aparece: “Éstas son también las opiniones de los superiores de Pródico, que falsamente se denominam gnósticos”. (apud: BÁZAN, 2008). 

Segundo Meyer (2006, p.138), Irineu também dizia que alguns grupos religiosos se referiam a si mesmos como “gnósticos” argumentando que tinham um conhecimento que não era o mundano, mas um conhecimento místico, o conhecimento e a relação de Deus e do eu (entre Deus e o eu). 

Para Bazán: Es decir que hay documentos antiguos suficientes, cristianos e gentiles que avalan no sólo la existencia de “gnósticos” entre los cristianos de los siglos II y III, sino que asimismo sobreetienden con sus palabras y el empleo del plural que constituían agrupaciones y que como tales observados imparcialmente debían tener creencias, prácticas y conductas compartidas que los identificaban como “gnósticos” frente a otros indivíduos también constituyentes de asociaciones por la época17. (BAZÁN, 2008, p.117). 

Bazán (2008) defende a ideia de uma identidade gnóstica. Segundo o autor, seus ritos e doutrinas fazem com que estes se reconheçam como um grupo. Se trata de un correlato de conocimiento común y general tanto para quienes se autodenominan de este modo como para quienes extramentalmente los. 

Efetivamente, na base do que pode chamar-se como denominação genérica do movimento gnóstico estão certas associações de indivíduos que chamamos “gnósticos”, porque assim se autodenominam intersubjetivamente entre eles e porque assim são designados e reconhecidos por testemunhos que são externos a esses grupos, bem como sujeitos eclesiásticos ou filósofos gregos. 

15 “E tem avançado para o conhecimento. E os que possuem o conhecimento”. 

16 Que ensinam os naasenos que se chamam a si próprios de gnósticos. 

17 A saber que há documentos antigos suficientes, cristãos e gentios que garantem não só a existência de “gnósticos” entre os cristãos dos séculos II e III, mas que assim mesmo entendem com suas palavras e o emprego do plural que constituem agrupamentos e que como tais observadas imparcialmente deviam ter crenças, práticas e condutas compartilhadas que os identificavam como “gnósticos” frente à outros indivíduos também participantes de outros grupos da época. 

1bservan desde el exterior, actuando, obedeciendo pautas de comportamento y sosteniendo determinadas doctrinas.18 (BÁZAN, 2008, p.117). 

Mas segundo Chaves (2006b, p.10), em nenhum momento da Antiguidade houve uma religião que se autodenominasse gnosticismo, ou ainda uma seita gnóstica. O autor defende que gnosticismo é uma concepção moderna, criada por autores do século XIX, e que de certa forma continua sendo usada atualmente. É difícil falar em uma identidade gnóstica, devido à diversidade do movimento que comumente chamamos de gnosticismo. Poderíamos pensar em uma identidade gnóstica, apenas se aceitássemos a ideia de identidade como algo mutável e em constante transformação porque, na maioria dos casos, esses grupos religiosos que comumente chamamos de gnósticos, tinham uma duração muito curta, ou eram assimilados por grupos maiores e mais organizados, ou se almalgamavam com algum outro movimento religioso surgindo outro movimento totalmente diferente do “original”, ou acabavam se dividindo devido à cisões internas, ou seja, a identidade desses fiéis estava sempre em construção. 

Os valentinianos poderiam ser considerados uma exceção à regra, pois estes se organizaram em uma comunidade que se defendia como cristã baseada numa ideia de “semente espiritual”. Tal comunidade era considerada uma Ekklesia (igreja), e não apenas uma escola no sentido filosófico. (SOBRAL, 2010). Os gnósticos valentinianos também tinham um ritual de batismo, um ritual eucarístico, e um ritual de unção, os membros casados eram tolerados pelos valentinianos. Seria sensato pensar em um sentido de pertencimento e de identidade entre os membros do grupo de Valentino, pois estes tinham um líder, Valentino, e seguiam as mesmas práticas em comum. Mas vale destacar também que o termo “valentinianos” foi usado por heresiólogos em seus textos. 

O primeiro a usar esse termo foi Justino, o Mártir, dizendo ser apropriado que os heréticos fossem nomeados a partir do nome de seu fundador. (SOBRAL, 2010).

 Entretando, Irineu de Lion em seu catálogo de heresias diz que: 

“Valentim é o primeiro a adaptar as doutrinas tiradas da heresia gnóstica ao caráter próprio de sua. Trata-se de um conhecimento correlato comum e geral tanto para os que se autodenominavam deste modo como para os que externamente os observam do exterior, atuando, obedecendo a normas de comportamento e sustentando determinadas doutrinas da escola”. (Adv Haer 1:11.1) como se Valentim não fosse considerado um gnóstico, mas sim alguém que adaptou as ideias gnósticas ao seu sistema. 

Para pensarmos numa concepção de uma identidade gnóstica temos de levar alguns pontos em consideração: em primeiro lugar, as denominações dadas a esses grupos eram denominações criadas pelos heresiólogos para depreciá-los, sendo que os próprios adeptos desses grupos não se autodenominavam assim. 

Outro ponto importante a ser destacado é que os movimentos gnósticos não eram uma religião monolítica e a própria documentação gnóstica nos apresenta indícios de rivalidades entre esses grupos, além disso, havia conflitos internos dentro de cada uma dessas seitas, ou seja, a noção de identidade era muito fluída, estava sempre em transformação a cada vez que surgia um novo movimento, que se utilizava de ideias do movimento “original”, mas acaba também incluindo outras tradições filosóficas e religiosas.


http://www.uel.br/pos/mesthis/CarlosAMatias.pdf

Sobre o Padre da Igreja e teólogo Clemente de Alexandria, favor ler o artigo a respeito:
https://gnosedesi.blogspot.com/2014/06/clemente-de-alexandria-e-gnose.html


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O Bispo Atanásio de Alexandria, seguindo o Concílio de Niceia (concílio realizado pela Igreja Católico-Ortodoxa que se tornara a religião oficial do Império Romano) ordenou a destruição de TODOS OS TEXTOS que estavam fora do cânone de escrituras estabelecido pelo concílio. Monges desse Monastério de São Pacômio, crendo que os textos apócrifos eram importantíssimos e verdadeiros e não poderiam ser destruídos pois a Verdade estaria correndo perigo e o mal venceria e isso seria um pecado terrível, esconderam em potes e ainda decoraram a capa dos vários códices com pedras entalhadas formando cruzes lindas, arte feita tipicamente por monges cristãos primitivos.

Contém vários dos textos e doutrinas citadas pelos heresiologistas e muito mais, mostrando o erro de interpretação dos heresiologistas.

CONTEÚDO DA BIBLIA DE NAG HAMMADI

A Bíblia de NAG HAMMADI contém 13 códices (livretos contendo cada um vários ou poucos textos):

Códice I (Códice Jung)

Códice II

Códice III

Códice IV

Códice V

Códice VI

Códice VII

Códice VIII

Códice IX

Códice X

Códice XI

Códice XII

Códice XIII



RECOMENDAÇÃO

Antes de tudo, fazer a Oração do Apóstolo Paulo, primeiro Texto da Biblia de Nag Hammadi, com o coração cheio de amor por Deus e a mente pura, após um período de 5 minutos de uma técnica de meditação de sua preferência.



A ORAÇÃO DO APÓSTOLO PAULO

(…)

Dá-me tua luz, dá-me tua misericórdia, Meu Redentor,
redime-me, pois sou teu; aquele que veio de tí.
Tú és minha Mente; cultiva-me !
Tu és meu tesouro: abre-te para mim !
Tu és minha perfeição; leva-me para tí !
Tú és minha confiança; dá-me a Coisa Perfeita
que não pode ser apreendida !

Eu te invoco, aquele que é, e que pré-existiu no nome,
que é exaltado acima de qualquer outro nome,
Jesus Cristo, o Senhor dos Senhores, o Rei dos Aeons;
dá-me as dádivas, das quais não te arrependas,
através do Filho do Homem, do Espírito, do Paráclito da verdade.
Dá-me, através do Evangelista,
autoridade quando te pedires;
e cura para meu corpo quando te pedires,
redime minha eterna alma luminosa e meu espírito
revela em minha mente, o Filho-Primeiro do Pléroma da graça !
Concede-me o que nenhum olho de anjo jamais viu,
e o que nenhum ouvido de arconte jamais ouviu,
e o que não entrou no coração do homem,
e que veio para ser angelical,
e que foi modelado segundo a imagem do Deus psíquico,
quando foi formada no princípio,
pois eu tenho fé e esperança.

E coloca sobre mim o teu amado, eleito,
e abençoada grandeza,
o Filho-Primeiro,
o Criado-Primeiro,
e o maravilhoso mistério de tua casa;
pois teus são o poder e a glória,
o louvor e a grandeza,
para sempre e sempre.

Amen !



Recomendo ao leitor que quer iniciar nos ensinamentos gnósticos a ler os seguintes textos que constam na Biblia Nag Hammadi NECESSARIAMENTE NESSA ORDEM, pois eles dão um panegírico e uma introdução excelente ao Gnosticismo de forma geral:

1º - A EXEGESE DA ALMA: expõe de forma clara que a Gnose é o conhecimento de si mesmo, sua origem, o que faz no mundo, porque se está no mundo, o que é a Alma Humana. É uma introdução geral ao cristianismo primitivo, bastante clara, concisa e objetiva.

2º - ENSINAMENTOS DE SILVANO: Quem é Jesus e porque ele é um Mestre tão maravilhoso?? Esse texto responde a essa pergunta.

3º - ENSINAMENTOS AUTORIZADOS: Detalhes a respeito de como a Alma Humana sofre e como os arcontes atacam a mente e fazem a alma sofrer.

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