terça-feira, 18 de novembro de 2025

Nembutsu: uma prática gnóstica do Budismo da Terra Pura



 

O Poder Salvífico do Nembutsu de Sabedoria

1. Considerações Gerais:

Seguem-se agora seis estrofes dos Shozomatsu Wasan (Hinos das Três Épocas) que focalizam o poder salvífico do Nembutsu de Sabedoria que nos é proporcionado pela Compaixão dos Dois Budas – Sakyamuni e Amida. As duas primeiras estrofes, fundamentadas no Surangama Sutra, evocam a figura do Bodhisattva Mahasthamaprapta que ensina a realização através do Nembutsu de Sabedoria. Há que lembrar que para Shinran o Mestre Honen era uma manifestação (nirmanakaya, keshin) do Bodhisattva Mahasthamaprapta (V. Apêndice). As duas últimas estrofes glosam textos do Mestre do Dharma Seikaku, de Agui (1167-1235), companheiro de Shinran na comunidade de Honen em Yoshimizu, autor do Tratado sobre a Fé Exclusiva (Yuishinshô).

 

2. Tradução:

Declarou o Buda da Luz Sem Impedimento:

“Para beneficiar os seres sensíveis do futuro,

Ao Bodhisattva Mahasthamaprapta

Transmiti o Nembutsu de Sabedoria”.

 

Compadecendo-se dos seres sensíveis do mundo impuro,

Mahasthamaprapta nos aconselha o Nembutsu;

Ele abraça as pessoas de Fé,

Introduzindo-as na Terra Pura.

 

Através da Compaixão de Sakyamuni e Amida,

Foi-nos concedido o Anseio pela Realização Búdica;

É ingressando na Sabedoria da Fé

Que nos tornamos gratos para com a Benevolência Búdica.

 

A obtenção do Nembutsu de Sabedoria

É obra do Poder do Voto de Dharmakara;

Sem a Sabedoria da Fé

Como alcançaríamos o Nirvana?

 

É uma grande tocha na longa noite da ignorância!

Não vos entristeçais com a escuridão de vossos olhos de sabedoria!

É uma embarcação no Grande Oceano dos nascimentos e mortes!

Não há que lamentar o peso dos impedimentos de vosso mau karma!

 

Sendo ilimitado o Poder do Voto,

Nosso mau karma, por pesado e profundo que seja, não nos oprime;

Sendo sem limites a Sabedoria Búdica,

Não rejeita os corações distraídos e negligentes.

 

3. Questões de Vocabulário:

3.1. Buda da Luz Sem Impedimento (Jap. Mugekôbutsu) = o Buda Amida.

3.2. Bodhisattva Mahasthamaprapta (Jap. Daiseishi Bosatsu) = A história da transmissão do Nembutsu de Sabedoria ao Bodhisattva Mahasthamaprapta se encontra em uma passagem do Surangama Sutra (Sutra da Marcha Heróica) que também inspirou a Shinran oito estrofes de louvor a esse Bodhisattva arroladas nos Jôdo Wasan(Seiten, págs. 488-489). Há que lembrar que existem duas Escrituras distintas com esse nome. A primeira, cujo título completo é Surangama Samadhi Sutra (Sutra da Contemplação da Marcha Heróica) foi traduzida para o chinês por Kumarajiva entre 402 e 412, compreende dois rolos e figura também no Kangyur tibetano. A segunda, chamada também Buddhosinisa Sutra (Sutra do Usinisa de Buda) (Usinisa – Jap. Butchô –, é a calota no alto da cabeça do Buda, uma das 32 marcas maiores que distinguem o Tathagata do comum dos mortais.), foi, segundo um catálogo chinês, traduzida em Cantão no ano de 705 pelo mestre indiano Paramiti. Compreende dez rolos. Trata-se de um sutra pseudepígrafo composto na própria China e, como tal, foi desmascarado no Japão pelos monges eruditos da Escola Hosso em Nara, no ano de 779, o que não impediu que esse Sutra fosse muito estudado e comentado pelos mestres das Escolas Zen e Shingon da China e do Japão. É esse o Sutra citado por Shinran nos Wasan e no Kyogyo Shinsho (Seiten, págs. 385-386). Existe uma tradução inglesa: The Surangama Sutra, translated by Charles Luk (Lu K’uan Yu), London, Rider, 1966. Encontra-se arrolada na Edição Taishô do Cânon Sino-Japonês, na seção correspondente aos Textos Esotéricos (Mikkyô-bu).

3.3. Nembutsu de Sabedoria (Jap. Chie no Nembutsu) = Sendo o Budismo uma religião gnóstica em que a Salvação é proporcionada pelo Conhecimento, mesmo na tradição da Terra Pura, geralmente vista como um ramo devocional do Budismo, vemos que o Nembutsu e a Fé estão estreitamente vinculados com a Sabedoria.

3.4. Anseio pela Realização Búdica (Jap. Gansabusshin) = expressão equivalente a Daibodaishin (Grande Bodhicitta).

3.5. Poder do Voto de Dharmakara (Jap. Hozo Ganriki) = o Outro Poder ou Poder do Voto Original de Amida, Buda que, antes de sua realização búdica, era um Bodhisattva de nome Dharmakara, conforme é narrado no Grande Sutra (Daimuryojukyô).

3.6. Longa Noite da Ignorância (Jap. Mumyô Jôya) = essa expressão nos remete a uum famoso versículo do Dhammapada:

Longa é a noite para quem vela, longa é a estrada para quem está fatigado, longa é a série dos nascimentos e das mortes para os insensatos presos à ilusão dos desejos e que desconhecem a Verdadeira Lei. (V, 60)

 

4. Comentário:

O Budismo é uma religião gnóstica que prega a Salvação pelo Conhecimento e, dentre as diferentes escolas budistas, o Shin não é uma exceção. Embora o Shin seja geralmente encarado como uma forma devocional de Budismo, a Fé proposta pelo mesmo como via salvífica está intimamente vinculada à Sabedoria, o que é facilmente perceptível através de uma análise de expressões usadas por Shinran , como shinchi (crer e saber), chie no nembutsu (Nembutsu de Sabedoria) e shinjin no chie (Sabedoria da Fé), estas duas últimas presentes nos  Wasan que aqui analisamos.

Em suma, o Shin não é uma religião à parte do restante do Budismo, é uma modalidade do Caminho Búdico cujos princípios básicos são os mesmos que temos nas demais escolas. A diferença está na soteriologia ou no método de salvação: Enquanto que nas outras escolas o praticante conquista a Sabedoria a partir de seus próprios esforços, no Shin esta lhe é proporcionada juntamente com a Fé, por obra e graça do Outro Poder.

Nos Wasan de que agora nos ocupamos, Shinran, fundamentando-se no Surangama Sutra, expõe a tradição segundo a qual o Nembutsu de Sabedoria foi transmitido pelo Buda Amida ao Bodhisattva Mahasthamaprapta (Seishi, Daiseishi Bosatsu), cuja missão é anuncia-lo aos seres viventes. O mesmo tema é desenvolvido nas oito estrofes de louvor a Seishi que constam dos Jôdo Wasan. Essa ênfase no Bodhisattva Mahasthamaprapta se explica pelo fato de Shinran crer ser ele a divindade essencial(Honji) da qual seu Mestre Hônen seria uma manifestação ou emanação (Suijaku). Em uma anotação à margem dessas oito estrofes dos Jôdo Wasan, Shinran afirma enfaticamente: O Bodhisattva Daiseishi é a essência (Honji) do Venerável Genkû (Hônen). (Seiten, pág. 489)

Um importante documento sobre essa crença de Shinran relativa a Hônen é a terceira das 10 cartas de sua esposa, a Senhora Eshin-ni, endereçadas à filha Kakushin-ni entre 1256 e 1268, descobertas nos arquivos do Nishi Honganji em 1923. Essas cartas são uma preciosa documentação não só para o estudo da biografia de Shinran, mas também para o conhecimento de aspectos econômicos, sociais e culturais da Idade Média japonesa.

 

APÊNDICE

CARTA DA SENHORA ESHIN-NI

Com certeza, li vossa carta do 1º dia do 12º mês do ano passado (1262), depois do 20º dia do mesmo mês. Primeiramente, quanto ao regresso do Pai à Terra Pura, trata-se de algo que já era esperado, nada mais há a dizer.

Quando ele desceu a montanha, fez um retiro no Pavilhão Hexagonal (Rokkaku-dô)para orar por sua futura libertação. Na madrugada do 95º dia, o Príncipe Shôtoku se lhe manifestou em uma revelação num sonho, transmitindo-lhe uma mensagem. Assim, na mesma madrugada, ele deixou o Pavilhão e, em busca de condições que lhe propiciassem a futura salvação, procurou o local onde se encontrava o Venerável Hônen e com ele se encontrou. Desde então, da mesma forma com que fizera o retiro de cem dias no Pavilhão Hexagonal, por cem dias visitou o Venerável, chovesse ou fizesse sol, superando todos os obstáculos. Ouviu ele, por várias vezes, o Venerável Mestre discorrer com empenho a respeito da futura salvação esclarecendo se tratar do Caminho da Libertação dos nascimentos e mortes, aberto aos bons e aos maus, sem distinção. Após tomar sua firme decisão, o pai sempre se dirigia ao local em que seu preceptor se encontrava, ainda que as pessoas o advertissem que ele poderia cair nos caminhos do mal. Dizia ele que costumava retrucar a muitas pessoas que assim fazia porque sua condição era a de alguém que por incontáveis eras vinha perambulando por nascimentos e mortes.

Ora, quando eu estava num local denominado Go da Fronteira, situado em Shimotsuma de Hitachi, tive um sonho: era como se estivesse no ritual de consagração de uma capela. Essa capela fora construída voltada para a direção leste. Parecia ser a véspera do dia da celebração principal. A capela estava iluminada por muitas velas que ardiam diante dela. Do lado oeste dessa iluminação, havia algo semelhante a um torii (arco monumental), em cuja trave horizontal estava dependurada uma pintura búdica. Uma das figuras representadas não tinha o rosto de um Buda, era apenas uma auréola em meio a um brilho. Não se percebia uma forma distinta, era apenas uma luz que brilhava. Uma outra figura ostentava claramente as feições de um Buda, e então eu perguntei:

–          Que Buda é esse?

Um desconhecido respondeu:

–          Aquele que é apenas uma luz é o próprio Venerável Hônen, é o Bodhisattva Mahasthamaprapta.

Então eu perguntei:

–          Quem é o outro?

–          É o Bodhisattva Avalokitesvara, ou seja, é o monge Zenshin.

Ao ser surpreendida com essa resposta, despertei e percebi então que se tratava de um sonho.

Tive, pois, esse sonho. Já tinha ouvido dizer que não devemos contar essas coisas a ninguém. Além disso, mesmo que contasse isso a alguém, certamente não seria aceito como verdadeiro. Contei ao pai apenas a parte relativa ao Venerável Hônen, e ele então observou:

–          Existem vários tipos de sonhos, esse é certamente um sonho que diz a verdade. Em vários lugares tivemos casos de pessoas que tiveram sonhos em que o Venerável foi visto como uma emanação de Mahasthamaprapta. Além do mais, este se apresenta como luz.

Eu não disse ao pai que o havia visto como Avalokitesvara, mas depois disso, na intimidade de meu coração, nunca mais o vi como uma pessoa comum. Há que tomar consciência de tudo isso. Seja lá como tenha sido o momento de seu passamento, jamais tive a menor dúvida a respeito disso. Além disso, embora seja algo muito comum, Masukata guardou tudo profundamente na memória, jamais se esquecendo de seus últimos momentos por ele testemunhados, inclusive levando-se em conta os laços entre pai e filho. Isso me deixa muito contente.

                                               


 

Esta nota contém as palavras reveladas por Avalokitesvara na madrugada do 95º dia do retiro de 100 dias feito pelo pai no Pavilhão Hexagonal, ao ter deixado a montanha, na época em que servia como doso (oficiante subalterno) no Monte Hiei. Registrei-as aqui para que possais vê-las.

                                       (Carta 3, Seiten, págs. 616-618)

http://jodoshinshu.com.br/autores/rev-ricardo-riman/wasan/o-poder-salvifico-do-nembutsu-de-sabedoria/

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MEU COMENTÁRIO

O Nembutsu é CHOCANTEMENTE IDÊNTICO ao Hesicasmo dos Padres do Deserto Egípcio!

O autor do texto claramente identifica o budismo como gnóstico e a si mesmo como gnóstico. Conforme já detectamos no blog, o Budismo Mahayana cresceu sob forte influência gnóstica e, de fato, conforme detectado por especialistas japoneses, a Escola da Terra Pura foi uma criação da primeira seita do Lótus Branco na China, uma religião sincrética entre Maniqueísmo e Budismo chinês, com elementos taoístas, confucionistas e nativo-chineses. Conforme foi dito na postagem Abraxas e Caulacau Parte 2 https://gnosedesi.blogspot.com/2018/12/abraxas-e-caulacau-parte-2-final.html :

APÊNDICE II

Influências maniqueístas no Shinshu


Há boas razões para afirmar que Zendō (Shandao) estava familiarizado com o Maniqueísmo e que ele emprestou algumas partes de seu sistema, pelo menos, daquela religião.

(i) Zendō é dito ter investigado os ensinamentos da White Lotus Society, que foi fundada por Eon (Hui-yin) dois séculos e meio antes de seu tempo, ou seja, cerca de 380 dC e, portanto, antes do tempo de Vasubandhu (em 450). Sociedade do Lótus Branco é mencionada pelos budistas no Japão como tendo sido o primeiro começo do culto formal e organizado de Amida (ver, por exemplo, Murakami); mas Dèvéria, no Journal Asiatique, Ser. ix. vol. xp 461, cita uma obra chinesa no sentido de que era uma forma de Maniqueísmo. Deve-se notar, no entanto, que Eon não é reconhecido pelos shinshuistas como um dos patriarcas de sua fé.

(ii) O mesmo autor mostra que os Templos Maniqueus são mencionados como existindo em Singanfu nos anos 510 (?), 621, 631, 760, sendo sucessivamente conhecidos como Tenji, Taishinji e, finalmente, como Dai-un Kōmyōji. O maniqueísmo deve, portanto, ter sido tão proeminente antes dos pensamentos de Zendō quanto o nestorianismo, e o nome de Kōmyōji parece uma prova quase conclusiva de uma afiliação maniqueísta.

Vejamos esse verbete de um site do Budismo Nichiren sobre Hui Yin (Hui Yuan), o Maniqueísta fundador da Sociedade do Lótus Branco e formalizador do Budismo Terra Pura:

Hui-yüan (1) [慧遠] (334-416) (PY Huiyuan;  Eon): O fundador do Pai-lien-she, ou Sociedade do Lotus Branco, um grupo que praticava a meditação no Buda Amida para obter o renascimento na Terra Pura de Amida. Nascido no norte da China na atual província de Shansi, Hui-yüan tornou-se sacerdote e foi visitar Tao-an em 354, aprendendo os ensinamentos dos sutras da Sabedoria sob sua tutela. Mais tarde, ele foi para o Monte Lu (na atual província de Kiangsi), onde fundou o templo Tung-lin-ssu. Admirando suas virtudes, muitas pessoas o seguiram até o Monte Lu. Em 402 fundou o Pai-lien-she junto com 123 padres e leigos que se engajaram nas práticas da Terra Pura. Essa é a origem da escola Terra Pura na China. Quando a comunidade budista veio à tona, Huan Hsüan, que usurpou o trono da dinastia Chin, mostrou intenções de colocar o budismo sob sua autoridade. Opondo-se a isso, Hui Yuan escreveu um tratado intitulado Um sacerdote não se curva diante de um rei, afirmando que os sacerdotes budistas, que renunciaram ao mundo secular, não tinham que prestar homenagem costumeira ao soberano ou subordinar-se à autoridade secular. Hui-yüan também se correspondeu com Kumārajīva, que estava em Ch'ang-an, perguntando sobre vários conceitos budistas, como o corpo do Dharma e a não-substancialidade; essas cartas foram compiladas como O Ensaio sobre o Grande Significado do Mahayana . Ele viveu no Monte Lu por cerca de trinta anos até sua morte.

https://www.nichirenlibrary.org/en/dic/Content/H/80

Agora o que intriga é que a Terra Pura japonesa claramente fala de Pistis Sophia. Já detectamos na postagem Abraxas e Caulacau Parte 1 https://gnosedesi.blogspot.com/2018/12/abraxas-e-caulacau-parte-1-ligacoes.html que Pistis Sophia parece ser uma forma cristã modificada da Prajna Paramita, ou o contrário é que parece mais certo, sendo a Prajna Paramita uma forma modificada da Pistis Sophia gnóstica. Mas aqui temos claramente o conceito de Pistis Sophia, que não é exatamente a Prajna Paramita dos sutras da Prajna Paramita, mas Fé e Sabedoria. Pistis Sophia é uma expressão que pode ser traduzida de várias maneiras, e encontramos várias formas diferentes nos livros modernos: Fé e Sabedoria, A Fé de Sophia, Fé na Sabedoria, Sabedoria da Fé.... O Hino Terra Pura acima descrito fala de Sabedoria da Fé, um conceito chave do Budismo da Terra Pura Japonês da escola Jodo Shinshu.

Já falamos da Sabedoria na postagem Em Busca de Sophia:

Mas os gnósticos vão além: invocam a própria Sabedoria e pede diretamente a Ela para que habite em si mesmos e revele os mistérios ocultos. Maat, condensamento de Verdade, Retidão e Justiça - Sophia, a Sabedoria, Hokhmah, ela é uma Deusa e ouve nossas orações. A importância dela é tremenda pois nossas Almas sentem saudade do tempo em que vivíamos com Sophia no céu e éramos suas crianças, seus filhos, e dançávamos na presença de Deus e dos Deuses com nossa Mãe e nossos irmãos. A Alma sente que não é desse mundo e está presa aqui por ignorância e deseja se livrar dessa ignorância. Mas sozinhos é tão difícil. Precisamos da ajuda dos outros mundos para nos despertar do sono, da morte e do inferno em que vivemos.
Aquele que é ignorante age como Yaldabaoth, que é o deus cego (Samael) e tolo (em grego Saclas ou aramaico Ashqalun). É arrogante, prepotente, soberbo, acha que é autossuficiente, que não precisa de melhorar, nem de se salvar, nem de evoluir. Ele diz: EU SOU DEUS E NÃO HÁ OUTRO ALÉM DE MIM (Isaías 45:5).
Mas aquele que é sábio age como a divina Sophia, que é Fé e Sabedoria. Ela é Pureza, Luz, Poder e Sabedoria. Ela é Graça, Percepção, Compreensão e Prudência. Ela é Razão, Mente, Inteligência, Pensamento e Entendimento. Se torna humilde, compassivo, misericordioso, cheio de amor. Reconhece que está em pecado, que foi expulso do Céu merecidamente, que perdeu seu status de divindade. Mas quer voltar ao que é seu, se arrependendo de seus pecados e confessando-os diante de todos na Terra e no Céu! E gritando a Deus, se arrepende dizendo: SALVA-ME, Ó LUZ, POIS MAUS PENSAMENTOS PENETRARAM EM MIM! (Pistis Sophia 32:1)
https://gnosedesi.blogspot.com/2019/03/em-busca-de-sophia-por-que-nos.html

Precisamos de ajuda do Alto. O ego sozinho não consegue a Salvação por conta própria. O Budismo Terra Pura e a Gnose nos conclamam à humildade: reconhecer que há Outro Poder maior que nós. Ele está dentro de nós, pois tudo que existe veio dele. Mas precisamos despertá-lo, invocá-lo. É difícil se libertar do mundo sozinhos! Precisamos de ajuda vinda do Alto! Profetas, Budas, Santos do Passado podem nos ajudar com suas intercessões e intervenções. Muitas vezes nossa mente é tão ignorante que Deus precisa agir fortemente para nos tirar da estupidez.

Resolvi postar no Drive do Blog alguns Sutras Mahayanas essenciais que considero muito nitidamente gnósticos. Na verdade todo o Budismo Mahayana é gnóstico, por isso seria bom se tivéssemos acesso a todos os Sutras Mahayanas traduzidos para o Português. Se tivéssemos o Canon Budista Chinês todo traduzido para o Português seria uma coisa maravilhosa! Os Sutras da Prajna Paramita, os Sutras da escola Yogachara, os sutras do Tathagatagarbha, todos são essenciais para o gnóstico.

A Escola Yogachara é especialmente idêntica ao gnosticismo antigo cristão. É religião (uma forma de praticar budismo mahayana, não é uma denominação ou seita, é uma tradição intelectual e prática que várias seitas, denominações e indivíduos podem adotar) e um profundo estudo psicológico da personalidade humana. Yogachara apresenta conceitos gnósticos como Alaya-Vijnana, que conectam o conceito Gnóstico de Alma com o conceito budista de Consciência Armazenadora, Caçamba, Carregamento ou Armazém, conceito também utilizado por Mani em seu Evangelho. Este Alaya Vijnana é explicado em Pistis Sophia claramente quando Jesus fala do Verdadeiro Eu, o Self que renasce, a verdadeira Alma Humana incondicionada, devendo se desvencilhar do falso espírito ou Ego, que na Yogachara é o Vijnana. A Oitava Consciência se dá quando Alaya se liberta de Vijnana. Este Oitavo ou Oitava Consciência corresponde ao Ogdoad Gnóstico onde mora Barbelo, a Mãe do Todo e Mãe de Sophia.


PISTIS SOPHIA, CAP 111

Sobre a constituição do homem.
 
Após o Salvador ter dito isto, continuou a falar, dizendo a Maria: "Agora, portanto, ouve, Maria, com relação à pergunta que me fizeste: Quem compele o homem até ele pecar?  Ouve, agora: quando o bebê nasce, o poder é fraco nele, a alma é pequena e também o falso espírito é fraco nele.  Em resumo, os três são pequenos, sem que nenhum deles sinta nada, seja de bom ou de mal, por causa da carga do esquecimento que é muito pesada.  Além disto o corpo também é frágil.  O bebê se nutre dos alimentos do mundo dos regentes.  O poder atrai para si a porção de poder que se encontra nestes alimentos, e a alma atrai para si a porção da alma que está nos alimentos.  O falso espírito atrai para si a porção do mal que está nos alimentos e também em seus desejos.  Por outro lado, o corpo atrai para si a matéria insensata, que se encontra nos alimentos.  O destino, ao contrário, não é retirado dos alimentos, porque não está misturado neles, mas a forma em que vem ao mundo também vai com ele.

E, pouco a pouco, o poder, a alma e o falso espírito crescem, e cada um deles percebe de acordo com sua natureza.  O poder procura encontrar a luz do alto.  A alma, por outro lado, procura encontrar a região da retidão que é misturada, e que está na região da mistura.  O falso espírito, por sua vez, procura todos os males, luxúrias e todos os pecados.  O corpo, ao contrário, não percebe nada, a não ser que obtenha força da matéria.”[1]

E imediatamente os três desenvolvem a percepção, cada qual de acordo com a sua natureza.  E os recebedores retribuidores designam servidores para segui-los e serem testemunhas de todos os pecados que forem cometidos, com vista à maneira e ao método de castigá-los por ocasião dos julgamentos.

Sobre o falso espírito.  
E depois disto o falso espírito observa e percebe todos os pecados e males que os regentes da grande Providência impuseram à alma,[2] e ele os realiza com a alma. E o poder interior incita a alma a buscar a região da Luz e todo o Divino.

O falso espírito dirige a alma, compelindo-a constantemente a praticar todas iniqüidades com suas paixões e pecados, sendo designado permanentemente à alma, à qual é hostil, levando-a a realizar todos estes males e pecados. E os servidores retributivos selam-nos porque eles são testemunhas de todos os pecados que (o falso espírito) leva a alma a cometer.  Além disto, quando ela vai descansar à noite ou durante o dia, incita-a, em sonhos e com desejos, a ansiar por todas as coisas do mundo.




[1] O 'poder' é a natureza superior do homem, em particular, seu corpo mental abstrato, que está sempre buscando as coisas do alto.  A 'alma' é sua mente concreta, que está misturada aos aspectos espiritual e material, e busca, por meio da razão, a região da retidão.  O 'falso espírito' é o corpo astral, cuja natureza é emotividade, paixões, sensualidade, ou seja, é o corpo dos desejos que está sempre em busca da satisfação de suas paixões.  O corpo, no entanto, não percebe nada, não está orientado em nenhuma direção, a não ser sua conservação material; é um mero instrumento que responde as ordens dos princípios que estão acima dele.  Para o homem comum orientado para a matéria, a influência relativa destas ordens sobre o corpo está na razão direta de sua sintonia vibratória: primeiramente com o corpo astral (o falso espírito), em segundo lugar com o mental concreto (a alma) e, finalmente, de forma muito débil, com o mental superior (o poder).

[2] A Providência é responsável pela transmissão das tendências desenvolvidas pela alma nas encarnações anteriores.  As tendências (sanskaras, no hinduismo) às paixões inferiores equivalem, então, aos ‘pecados e males impostos à alma’, sendo o “falso espírito”, o corpo astral, ou o corpo dos desejos, o agente responsável pela realização destes pecados.  Ademais, a Providência, como agente do carma, é também responsável pelo tipo de ambiente familiar e social em que a alma passará seus dias na Terra, sujeita a condições mais ou menos favoráveis para as virtudes ou pecados.

O Mahayana também assimilou dos gnósticos os Três Tipos de Indivíduos, alegoricamente representados por Caim, Abel e Seth no Gnosticismo Sethiano-Barbelonita, e pelos Materiais, Psíquicos e Pneumáticos (Espirituais) no Valentinismo: Sravakas, Pratyekabuddhas e Bodhisattvas.

O Gnosticismo veio primeiro. A Yogachara veio depois. O Gnosticismo é do seculo 1 a.C., como vimos na Epístola de Eugnosto. Já Yogachara é do século 4 depois de Cristo, muito depois do Gnosticismo Clássico e pouco depois do Maniqueísmo. As denominações e escolas de pensamento Mahayanas claramente apresentam novidades oriundas do gnosticismo cristão.

A Tripitaka Chinesa (Taisho Tripitaka), além dos sutras do canon pali e os mahayanas, ainda contém novos textos encontrados em Dunhuang. Os Manuscritos de Dunhuang são uma coleção de textos, além de pinturas e proto-mandalas encontrados nessa caverna, contendo textos budistas, taoístas, nestorianos E MANIQUEÍSTAS!!!! Poucas pessoas sabem disto: a Taisho Tripitaka, versão definitiva do canon budista chinês e japonês, contém textos maniqueístas na sessão de textos esotéricos (tântricos).

Fiz upload dos seguintes Sutras. Por favor, leiam, estudem, e rezem esses textos pois Mani o Buda da Luz, Apóstolo de Cristo Jesus, irá Iluminar a sua Mente. Esses textos foram escritos por Gnósticos. A utilização desses textos em recitações, concentrações mentais e outros ritos parecidos traz grande evolução espiritual, desperta a Fé e a Sabedoria!

- Sutra do Diamante
- Sutra da Contemplação de Amitayus = AMITAYURDHYANA SUTRA
- Longo Sukhavati Vyuha Sutra = SUTRA DA VIDA INFINITA
- Curto Sukhavati Vyuha Sutra = AMITABHA SUTRA
- Tathagatagarbha Sutra


Se você não leu, recomendo as seguintes postagens sobre Maniqueísmo e Budismo:

https://gnosedesi.blogspot.com/2018/12/abraxas-e-caulacau-parte-1-ligacoes.html

https://gnosedesi.blogspot.com/2018/12/abraxas-e-caulacau-parte-2-final.html

https://gnosedesi.blogspot.com/2018/09/o-evangelho-de-mani-descoberta-dos.html

https://gnosedesi.blogspot.com/2019/02/monijiao-maniqueismo-na-china-textos.html

https://gnosedesi.blogspot.com/2020/08/bon-e-maniqueismo-parte-1.html

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