Está disponível no drive o texto Ensinamentos de Silvano.
Alguns estudiosos muito ignorantes (o que não falta no mundo são pessoas que estudam mas não aprendem nada) dizem que esse texto não é gnóstico, pelo simples fato de que não apresenta a mitologia gnóstica.
Ora! Quem ousaria dizer que o Evangelho de Tomé não é gnóstico? Ou que o Evangelho de Filipe, ou o Evangelho da Verdade (Evangelho de Valentim) não são gnósticos? Nenhum deles apresenta o mito gnóstico. No entanto, é unânime entre cristãos, não-cristãos, gnósticos, católicos, ortodoxos que esses textos são todos gnósticos.
Eles dizem que o gnosticismo original é mitológico e as outras formas não são gnósticas mas derivadas dos gnósticos. Ora, isso é uma incongruência brutal, pois a origem do gnosticismo não está em mito nenhum mas em uma MENTALIDADE que remonta aos sincretismos helenísticos da época de Alexandre na região de Israel e que é visível nas seitas dos essênios e seus derivados.
Não é porque o texto não contém o Mito de Sophia que ele não é gnóstico. Dizer isso é de uma ignorância extrema, uma vergonha!
Os Ensinamentos de Silvano são um exemplo de como pensa um cristão gnóstico mais familiarizado com o proto-catolicismo. Parece mesmo que ele está traduzindo para ortodoxos-proto-católicos a sua visão de mundo gnóstica, o mais inteligível possível. Pela sua meta-linguagem recorrendo a elementos de guerras e batalhas provavelmente este mestre gnóstico foi um soldado ou oficial do exército romano. Cabe notar que ele usa a linguagem proto-católica, o que pode indicar uma filiação Valentiniana, mas isso não é confirmável.
"O Perverso, que é um tirano, é o senhor dessas coisas. Enquanto conduz isso, ele, o Perverso, está encoberto no grande lamaçal. Toda a cidade, que é tua alma, perecerá".
Logo no começo vemos o Mito de Sophia implícito no pensamento do autor. Ele fala da Alma e de sua luta contra os Poderes... Ora, quem conhece o mito gnóstico identifica claramente Sophia e os Arcontes aqui. E os poderes são "Os Poderes do Adversário", e quem não é capaz de ver Yaldabaoth aqui, o Adversário em tantos outros textos gnósticos? Ele é o inimigo da alma no mito gnóstico. Ele é chamado de Perverso, Adversário, Inimigo e outros nomes parecidos.
"Confia-te neste par de amigos, a razão e a mente, e ninguém se tornará vitorioso sobre ti".
Personificação de conceitos abstratos, filosóficos e místicos é outra característica típica dos textos gnósticos encontrada em abundância aqui nos Ensinamentos de Silvano.
"Não foge do divino e do ensinamento que está dentro de ti".
"Não gera transtorno e aflição ao divino que está dentro de ti (...) terás autodomínio de tua alma e do teu corpo e te tornarás o trono da Sabedoria, aquele pertencente à morada de Deus. Ele te dará uma grande Luz por meio dela (Sabedoria)"
A doutrina gnóstica da Divindade Inata do ser humano é mais que presente no texto, é explícita e direta.
"A Sabedoria te convoca em sua bondade, dizendo 'Vinde a mim, vós todos, ó insensatos, que vós recebereis uma dádiva, o Conhecimento do que há de bom e magnífico' ".
Sophia Acima, a Sabedoria Superior dos valentinianos, aparece no texto prometendo a Gnose àqueles que a buscam. O texto é tão gnóstico que é vergonhoso pessoas se atreverem a dizer que não é.
"Aceita a luz em teus olhos e elimina a escuridão de ti. Vive em Cristo e tu receberás um tesouro no céu. Não te torna como uma linguiça, feita de muitas coisas que são inúteis, e não te torna um guia para tua cega ignorância".
Nesse trecho o autor cita dois epítetos de Yaldabaoth traduzidos, Cego e Ignorante.
"Conhece a ti mesmo, isto é, de qual substância és (...) O corpo veio à vida da terra como uma substância mundana, mas o modelado, pelo amor da Alma, veio à existência por meio do pensamento do Divino. O criado, entretanto, é a mente, que veio à existência em conformidade com a imagem de Deus. A mente divina possui a substância do Divino, porém a Alma é aquilo que Deus modelou para os seus próprios corações. Penso que ela, a Alma, existe como esposa daquilo que veio à vida em conformidade com a imagem, e a matéria como substância do corpo, que veio à vida através da terra".
Ou seja, a Alma é de origem divina e superior, a mente humana foi emanada imitando a mente de Deus mas é inferior pois foi criada posteriormente bem afastada de Deus. E o corpo foi feito da matéria, e não é adequado que a Alma Divina viva sob os ditames nem da mente nem do corpo material. Essa tripartição é tipicamente gnóstica, derivada de Platão e Aristóteles.
"Porém retorna, meu filho, ao teu Primeiro Pai, Deus, e à Sabedoria, tua Mãe, dos quais tu vieste à vida desde o princípio, para que possas lutar contra todos os teus inimigos, os Poderes do Adversário".
Esse é um dos trechos mais gnósticos, pois apresenta personificações tipicamente gnósticas de aeons: o Primeiro Pai, Deus, e a Mãe Sophia, Sabedoria, auxiliares da Alma na sua luta contra os Arcontes de Yaldabaoth, os Poderes do Adversário.
Enfim, quanto mais se lê, mais se percebe o gnosticismo óbvio do tratado. A ênfase na Luz e , Luz Eterna, a vigilância contra os trapaceiros, poderes, inimigos, bárbaros, bestas e outras imagens tipicamente gnósticas.
Além disso o texto usa uma miríade de palavras que não são proto-ortodoxas, como Grande Mente, Alma Divina, Alma Inferior, Protótipo, Primeira Luz, Grande Divindade, Único Existente.
Além disso o texto usa uma miríade de palavras que não são proto-ortodoxas, como Grande Mente, Alma Divina, Alma Inferior, Protótipo, Primeira Luz, Grande Divindade, Único Existente.
É um texto belíssimo, um tratado ao mesmo tempo místico e filosófico, demonstrando grande devoção e amor a Deus, e uma certeza absoluta de que a Alma que busca a Deus o encontra, basta ter Fé, Sabedoria e, principalmente aceitar Cristo como o Iluminador da Mente.
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