quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Em busca de Sophia: por que nós gnósticos damos tanta ênfase à Sabedoria?

MAAT


Na seguinte postagem https://gnosedesi.blogspot.com/2014/12/sophia-origem-e-significado-no.html muito foi dito sobre o significado e a localização da figura de Sophia nas diferentes mitologias gnósticas. Mas pouco foi dito do por quê de sua tão importante presença, sua onipresença em todos os sistemas mitológico-filosóficos gnósticos.

Na postagem sobre Os Arcônticos Parte 2 https://gnosedesi.blogspot.com/2019/02/os-arconticos-parte-2-apocalipse-de_1.html nós constatamos claramente que o mito gnóstico clássico e suas variantes, ou seja, todos os mitos barbelonitas e setianos derivam de uma síntese habilidosa entre vários mitos de Platão como o Mito de Er e o do Demiurgo, conceitos das filosofias de Platão e Aristóteles e as mitologias bíblicas do Jardim do Éden e da Deusa Sabedoria nos livros sapienciais judaicos. Nós não falamos sobre a presença notória do Estoicismo na ética e moral barbelo-setiana, principalmente no Apócrifo de João onde nos é jogado na cara explicitamente os conceitos da Estoá; falaremos disso quando eu postar uma outra tradução do Apócrifo de João e tecer comentários sobre essa básica, fundamental, linda e maravilhosa Escritura Sagrada de Deus.

Vamos relembrar. Os livros chamados Sapienciais do Velho Testamento discorrem a respeito de uma personificação feminina do conceito de Sabedoria, que aparece como uma verdadeira Deusa companheira de Deus ao mesmo tempo que é uma potência, característica, aspecto ou emanação do próprio Deus, sendo uma parte dele mesmo. Esses livros são em cinco: Provérbios, Eclesiástico, Eclesiastes, Jó e Sabedoria de Salomão. 

Sophia, como sabemos, é termo grego que significa Sabedoria. Derivou depois, segundo a tradição, cunhado por Pitágoras, a palavra Filosofia, ou seja, amor à Sabedoria. Apesar de escritos majoritariamente em Copta, a língua corrente e popular do Egito, os textos gnósticos estão recheados de filosofia grega, especialmente platônica, e Sophia aparece por todos os códices.

Mas vamos começar com Provérbios. O Livro de Provérbios teve sucessivas fases de composição. A última, que corresponde aos capítulos 1 a 9, segundo os estudiosos (pesquisem a respeito) foi composta com certeza após o Exílio babilônico e apresentam uma clara e óbvia composição copiada das chamadas Instruções egípcias. As instruções eram tipo de literatura do Egito que chegaram até hoje preservados em texto hierático. Como exemplo clássico são as Máximas de Ptah Otep, mas também são desse gênero textual as Instruções de Amenemés, as Instruções de Kagemni, os Ensinamentos do Rei Merykare e tantas outras. Recentemente em Ugarit (já falamos das descobertas cananéias de Ugarit no blog aqui https://gnosedesi.blogspot.com/2016/01/deus-no-antigo-testamento-fusao-de.html ) foram reencontradas também Conselhos em língua acádica do mesmo tipo, mostrando que esse tipo de literatura não era só mais antigo do que os judeus mas espalhado pelo Oriente Médio.

Mas o Egito possui algo que está mais presente ainda no Velho Testamento, e é a personificação da Sabedoria Divina (incluindo Justiça, Verdade, Ordem e Retidão) chamada MAAT. Maat antigamente era um conceito filosófico, ético e moral egípcio que foi aos poucos personificado como divindade. O mito da Alma após a morte para os egípcios possuía uma fase importante que era o Julgamento diante de Maat e Anúbis, o supervisor. Quando falecia, saindo do corpo a Alma ia para um Julgamento no mundo subterrâneo chamado Salão das Duas Verdades. Neste lugar, Anúbis pesava o coração daquela alma com uma pena de Maat numa balança. Se o coração ficasse mais pesado que a pena de Maat a Alma estava suja e cheia de pecados e era entregue à deusa-demônia Ammit que devorava o coração e aquela alma, levando-a para um tormento após a morte. Se o coração não pesar mais que a pena de Maat a Alma era considerada boa e justa e enviada para o Reino de Osiris chamado Amenti (mais conhecido como Duat ou Tuat) para ser julgada por Osíris que verificaria o nível dessa alma para enviá-la para outros mundos melhores em sua saga pela Evolução, Aperfeiçoamento e Imortalidade.

Ora, é óbvio que Maat foi adaptada para Chokmah ou Hokhmah, a Sabedoria em hebraico no texto bíblico, que depois deram origem às variantes Hachmuth e Achamoth dos textos gnósticos, ambos se referindo a Sophia. Sophia para os gregos foi personificada somente mais tarde e nunca chegou a ser uma deusa grega, sempre sendo um conceito abstrato. São os egípcios e o Velho Testamento que a divinizam assim. 

Em Pistis Sophia, Maat é substituída pela Virgem de Luz e cumpre o mesmo papel de Maat e Anubis após a morte. Uma observação interessante é que o texto gnóstico Pistis Sophia cita os deuses egípcios Ram e Bubastis (Bubastis, identificada como a Afrodite grega em Pistis Sophia, na verdade é o nome da cidade do Egito onde a deusa Bastet tinha seu culto e templos principais, e por isso com o tempo a deusa passou a ser chamada pelos gregos de Bubastis, adaptando o original da palavra em egípcio antigo Per-Bast) além de outros deuses gregos como Zeus, Kronos, Hermes e Ares. Diferente dos textos canônicos, os gnósticos não escondem de onde tiram seus mitos, conceitos e construções cosmológicas, pois o que fazem é sincretizar e não plagiar e esconder de onde tirou como a bíblia canônica faz com o Zoroastrismo e o judaísmo apócrifo.

Nos Provérbios, Maat está espalhada em várias passagens mas a doutrina da Sabedoria como Mulher Divina falando está particularmente nos capítulos 8 e 9. Vejamos trechos:

Provérbios Capítulo 1

"20.A Sabedoria clama nas ruas, eleva sua voz na praça, 

21.clama nas esquinas da encruzilhada, à entrada das portas da cidade ela faz ouvir sua voz: e até quando os que zombam se comprazerão na zombaria?" 

Capítulo 7

" 4.Dize à sabedoria: “Tu és minha irmã”, e chama à inteligência “minha amiga”," 

Capítulo 8

1.Porventura não clama a Sabedoria e a inteligência não eleva a sua voz? 
2.No cume das montanhas posta-se ela, e nas encruzilhadas dos caminhos. 
3.Alça sua voz na entrada das torres, junto às portas, nas proximidades da cidade. 4.“É a vós, ó homens, que eu apelo; minha voz se dirige aos filhos dos homens. 
5.Ó simples, aprendei a prudência, adquiri a inteligência, ó insensatos. 
6.Prestai atenção, pois! Coisas magníficas vos anuncio, de meus lábios só sairá retidão,
 7.porque minha boca proclama a verdade e meus lábios detestam a iniquidade. 8.Todas as palavras de minha boca são justas, nelas nada há de falso nem de tortuoso. 
9.São claras para os que as entendem e retas para o que chegou à ciência.* 10.Recebei a instrução e não o dinheiro. Preferi a ciência ao fino ouro, 
11.pois a Sabedoria vale mais que as pérolas e joia alguma a pode igualar. 
12.Eu, a Sabedoria, sou amiga da prudência, possuo uma ciência profunda
13.O temor do Senhor é o ódio ao mal. Orgulho, arrogância, caminho perverso, boca mentirosa: eis o que eu detesto. 
14.Meu é o conselho e o bom êxito, minha a inteligência, minha a força.* 
15.Por mim reinam os reis e os legisladores decretam a justiça;* 
16.por mim governam os magistrados e os magnatas regem a terra. 
17.Amo os que me amam. Quem me procura, encontra-me. 
18.Comigo estão a riqueza e a glória, os bens duráveis e a justiça. 
19.Mais precioso que o mais fino ouro é o meu fruto, meu produto tem mais valor que a mais fina prata. 
20.Sigo o caminho da justiça, no meio da senda da equidade. 
21.Deixo os meus haveres para os que me amam e acumulo seus tesouros. 
22.O Senhor me criou, como primícia de suas obras, desde o princípio, antes do começo da terra.* 
23.Desde a eternidade fui formada, antes de suas obras dos tempos antigos. 24.Ainda não havia abismo quando fui concebida, e ainda as fontes das águas não tinham brotado. 
25.Antes que assentados fossem os montes, antes dos outeiros, fui dada à luz; 26.antes que fossem feitos a terra e os campos e os primeiros elementos da poeira do mundo. 
27.Quando ele preparava os céus, ali estava eu; quando traçou o horizonte na superfície do abismo,* 
28.quando firmou as nuvens no alto, quando dominou as fontes do abismo, 29.quando impôs regras ao mar, para que suas águas não transpusessem os limites, quando assentou os fundamentos da terra, 
30.junto a ele estava eu como artífice, brincando todo o tempo diante dele,* 31.brincando sobre o globo de sua terra, achando as minhas delícias junto aos filhos dos homens. 
32.E agora, meus filhos, escutai-me: felizes aqueles que guardam os meus caminhos. 33.Ouvi minha instrução para serdes sábios, não a rejeiteis. 
34.Feliz o homem que me ouve e que vela todos os dias à minha porta e guarda os umbrais de minha casa! 
35.Pois quem me acha encontra a vida e alcança o favor do Senhor. 
36.Mas quem me ofende, prejudica-se a si mesmo; quem me odeia, ama a morte.”

Capítulo 9

1.A Sabedoria edificou sua casa, talhou sete colunas.
2.Matou seus animais, preparou seu vinho e dispôs a mesa. 
3.Enviou servas, para que anunciassem nos pontos mais elevados da cidade" 
4.“Quem for simples apresente-se!”. Aos insensatos ela disse: 5.“Vinde comer o meu pão e beber o vinho que preparei. 6.Deixai a insensatez e vivereis; andai direito no caminho da inteligência!”. 7.Quem censura um mofador, atrai sobre si a zombaria; o que repreende o ímpio, arrisca-se a uma afronta.* 8.Não repreendas o mofador, pois ele te odiará. Repreende o sábio e ele te amará. 9.Dá ao sábio: ele se tornará mais sábio ainda, ensina ao justo e seu saber aumentará. 10.O temor do Senhor é o princípio da Sabedoria, e o conhecimento do Santo é a inteligência,* 11.porque por mim se multiplicarão teus dias e anos de vida te serão acrescentados. 12.Se tu és sábio, é para teu bem que o és, mas se tu és um “soberbo”, só tu sofrerás as consequências. 13.A senhora Loucura é irrequieta, uma tola que não sabe nada. 14.Ela se assenta à porta de sua casa, numa cadeira, nos pontos mais altos da cidade, 15.para convidar os viandantes que seguem direito seu caminho. 16.“Quem for simples venha para cá!” Aos insensatos, ela diz: 17.“As águas furtivas são mais doces e o pão tomado às escondidas é mais delicioso”.* 18.Ignora ele que ali há sombras e que os convidados da senhora Loucura jazem nas profundezas da região dos mortos.*"
COMENTÁRIO: Ou seja, em Provérbios a Sabedoria aparece mais como Maat, uma deusa criada antes de todas as criaturas, pois ela mesma toma parte na atividade da criação junto com Deus. Já em Sabedoria de Salomão, Sophia aparece como uma Emanação que participa da Natureza Divina como uma hipóstase, doutrina que sabemos bem ter sido inaugurada pelos Medioplatônicos.
Posteriormente os padres da igreja irão deturpar a personificação feminina da Sabedoria e impôr uma masculinidade ao conceito ao mesclar Sabedoria com Cristo, retirando todo o feminino. São os gnósticos que irão preservar o original feminino da Sabedoria.
Sabedoria de Salomão, ou simplesmente Livro da Sabedoria, foi escrito em grego. É óbvio que o autor é um judeu helenizado, preocupado com a Imortalidade, Incorruptibilidade e Sabedoria. Cita a versão Septuaginta, provando que é um texto posterior a essa tradução antiga para o grego do Velho Testamento. Não parece referenciar as obras de Fílon de Alexandria, o que o coloca em período anterior a este. Porém, cita e usa termos que só aparecem no judaísmo durante o governo do imperador Augusto e faz ironias sobre o governo de Roma. Provavelmente foi escrito no século 1 antes de Cristo e é o mais recente dos livros do Velho Testamento.
Sabedoria de Salomão Capítulo 6
"12.Resplandecente é a sabedoria, e sua beleza é inalterável: os que a amam, descobrem-na facilmente. 13.Os que a procuram encontram-na. Ela antecipa-se aos que a desejam. 14.Quem, para possuí-la, levanta-se de madrugada não terá trabalho, porque a encontrará sentada à sua porta. 15.Fazê-la objeto de seus pensamentos é a prudência perfeita, e quem por ela vigia, em breve não terá mais cuidado. 16.Ela mesma vai à procura dos que são dignos dela; ela lhes aparece nos caminhos cheia de benevolência, e vai ao encontro deles em todos os seus pensamentos, 17.porque, verdadeiramente, desde o começo, seu desejo é instruir, e desejar instruir-se é amá-la. 18.Mas amá-la é obedecer às suas leis, e obedecer às suas leis é a garantia da imortalidade. 19.Ora, a imortalidade faz habitar junto de Deus; 20.assim o desejo da sabedoria conduz ao Reino! 21.Se, pois, cetros e tronos vos agradam, ó vós que governais os povos, honrai a sabedoria, e reinareis eternamente." 
Capítulo 7

"7.Assim implorei e a inteligência me foi dada, supliquei e o espírito da sabedoria veio a mim." 
"10.Eu a amei mais do que a saúde e a beleza, e gozei dela mais do que da claridade do sol, porque a claridade que dela emana jamais se extingue. 11.Com ela me vieram todos os bens, e nas suas mãos inumeráveis riquezas. 
12.De todos esses bens eu me alegrei, porque é a sabedoria que os guia, mas ignorava que ela fosse sua mãe." 

COMENTÁRIO: Sabedoria é a Mãe de todos os bens. A Bíblia de Jerusalém da editora Paulus traduz o verso 12 dizendo "mas ignorava que ela fosse a Mãe de Tudo". Ou seja, tudo aquilo que é Bom e do Bem é filho da Sabedoria. Ela é, nesse texto, a Grande Mãe, não só a Sabedoria mas o Princípio pelo qual Deus fez todas as coisas.

"21.Tudo que está escondido e tudo que está aparente eu conheço: porque foi a sabedoria, criadora de todas as coisas, que mo ensinou." 
"25.Ela é um sopro do poder de Deus, uma irradiação límpida da glória do Todo-poderoso; assim mancha nenhuma pode insinuar-se nela. 26.É ela uma efusão da luz eterna, um espelho sem mancha da atividade de Deus, e uma imagem de sua bondade. 27.Embora única, tudo pode; imutável em si mesma, renova todas as coisas. Ela se derrama de geração em geração nas almas santas e forma os amigos e os intérpretes de Deus, 28.porque Deus somente ama quem vive com a sabedoria! 29.É ela, com efeito, mais bela que o sol e ultrapassa o conjunto dos astros. Comparada à luz, ela se sobreleva, 30.porque à luz sucede a noite, enquanto que, contra a sabedoria, o mal não prevalece." 
CAPÍTULO 8

"4.Ela é iniciada na ciência de Deus e, por sua escolha, decide de suas obras.*" 
"7.E, se alguém ama a justiça, seus trabalhos são virtudes; ela ensina a temperança e a prudência, a justiça e a força: não há ninguém que seja mais útil aos homens na vida." 
"17.Meditando comigo mesmo nesses pensamentos, e considerando em meu coração que a imortalidade se encontra na aliança com a sabedoria," 
"18.a alegria perfeita na sua amizade, contínua riqueza na sua atividade, inteligência nas lições de seus entretenimentos familiares, e glória na comunicação de suas sentenças, saí à sua procura, a fim de possuí-la em mim." 
COMENTÁRIO: Sophia é iniciada na Gnose de Deus e dela emanam 4 principais hipóstases: Temperança, Prudência, Justiça e Força. É intrigante a extrema semelhança dessas virtudes com o sistema do Quinteto (Pêntada) de Aeons dos vários gnosticismos, do Zoroastrismo, do budismo esotérico e do maniqueísmo  - lembremos que as Quatro Faces de Zurvan segundo o Profeta Mani são Pureza, Luz, Poder e Sabedoria. No Evangelho dos Egípcios e no Apócrifo de João eles são Graça, Percepção, Compreensão e Prudência. Além disso "a Imortalidade se encontra no parentesco com a Sabedoria" segundo a Biblia de Jerusalém e outros 4 aeons estão com ela:
Alegria Perfeita na sua amizade; Contínua Riqueza na sua atividade; Inteligência nas lições de seus entretenimentos;e Glória na comunicação de suas sentenças.
As passagens sobre Sophia divina continuam em outros livros. Em Jó por exemplo está no capítulo 28 versos 20 a 23. No Eclesiástico (Ben Sirach) está no capítulo 1.
O que todos os textos citados instam é que a pessoa invoque humildemente a Sabedoria. Pois para quê estamos aqui nesse mundo maligno, senão para sair da terra má e infértil cheia de inimigos que é a Ignorância e viajar para a Terra de Luz que mana leite e mel, a Sabedoria?
Se pararmos para pensar e filosofar veremos que o que motiva o ser humano é a busca de Conhecimento, a busca da Sabedoria. Quando o ser humano não se importa mais em responder aquelas velhas perguntas aparentemente sem resposta como PORQUE EXISTIMOS? PORQUE SOMOS? DE ONDE VIEMOS? PARA ONDE VAMOS? O QUE É A VIDA? O QUE É A MORTE? QUAL O OBJETIVO DE TANTO SOFRIMENTO, TANTA CONFUSÃO, TANTA COISA? Aí o ser humano não é mais humano, não passa de um simples animal, vegetal, mineral. O que nos torna diferentes é justamente a capacidade de transcender através de faculdades mentais essa mera existência e conjecturar o sentido de tudo. Esse é o início do verdadeiro pensamento científico. Pois a ciência comum, a sabedoria terrena e inferior, quer apenas explicar como fenômenos ocorrem. Mas não encontrou explicação do por quê os fenômenos acontecem. A própria existência é um fenômeno.
Veja, tudo é um milagre! Não era para coisas existirem! Átomos, elétrons, moléculas, sínteses de proteínas, a matéria, as coisas! NADA disso era pra existir!!! Não há sentido nenhum no surgimento dessas coisas! POR QUE EXISTEM??? Isso é um milagre. Isso é sobrenatural. Isso é paranormal, a existência de coisas! E quando não se importa mais com isso, o ser humano aceita viver na ignorância, aceita interpretar seu papel sem sentido na existência e vive como se isso bastasse, ele aceita que nada nem ninguém tem valor a não ser seus próprios interesses e objetivos. Mas não percebe que vai se desintegrar em átomos no espaço.
Os gnósticos não aceitam o papel que a civilização e o cosmo os relega e se rebelam contra o status quo, ou seja, a ignorância, a estagnação, a falta de informação, a falta de conhecimento, a sujeição a um sistema sem sentido algum aparente, a "natureza". Gnóstico nenhum idolatra a "mãe terra" como muitos ignorantes primitivos ainda fazem pois ela é uma velha bêbada e acabada, cuja vida não tem sentido algum. Que abandona seus filhos na morte e no sofrimento, num sistema de poder corrupto e maligno. A Única Mãe é a Ideia, a Transcendência, a Capacidade de Raciocínio, ela é a Mãe do Todo, que nos dá Sabedoria, sua Filha Pistis Sophia, mãe das virtudes.
Se estamos na ignorância, como ir para a Sabedoria?
O autor da Sabedoria de Salomão, no final do capítulo 8 e no capítulo 9 diz o que fez para se tornar mais sábio:
"19.Eu era um menino vigoroso, dotado de uma alma excelente, 20.ou antes, como era bom, eu vim a um corpo intato;* 21.mas, consciente de não poder possuir a sabedoria, a não ser por dom de Deus, e já era inteligência o saber de onde vem o dom, eu me voltei para o Senhor, e invoquei-o, dizendo do fundo do coração:"
Ou seja, antes de descer a esse corpo sua Alma já vinha de uma vida passada boa, onde havia buscado ser Bom. Por isso ele está predisposto à Sabedoria mas ainda falta algo. Ele então invoca no capítulo 9:
ORAÇÃO PARA OBTER SABEDORIA
"1.“Deus de nossos pais, e Senhor de misericórdia, que todas as coisas criastes pela vossa palavra, 2.e que, por vossa sabedoria, formastes o homem para ser o senhor de todas as vossas criaturas, 3.governar o mundo na santidade e na justiça, e proferir seu julgamento na retidão de sua alma, 4.dai-me a sabedoria que partilha do vosso trono, e não me rejeiteis como indigno de ser um de vossos filhos. 5.Sou, com efeito, vosso servo e filho de vossa serva, um homem fraco, cuja existência é breve, incapaz de compreender vosso julgamento e vossas leis;* 6.porque qualquer homem, mesmo perfeito, entre os homens, não será nada, se lhe falta a sabedoria que vem de vós. 7.Ora, vós me escolhestes para ser rei de vosso povo e juiz de vossos filhos e vossas filhas. 8.Vós me ordenastes construir um templo na vossa montanha santa e um altar na cidade em que habitais: imagem da sagrada habitação que preparastes desde o princípio.* 9.Mas ao vosso lado está a sabedoria que conhece vossas obras; ela estava presente quando fizestes o mundo, ela sabe o que vos é agradável, e o que se conforma às vossas ordens. 10.Fazei-a, pois, descer de vosso santo céu, e enviai-a do trono de vossa glória, para que, junto de mim, tome parte em meus trabalhos, e para que eu saiba o que vos agrada. 11.Com efeito, ela sabe e conhece todas as coisas; prudentemente guiará meus passos e me protegerá no brilho de sua glória. 12.Assim, minhas obras vos serão agradáveis; governarei vosso povo com justiça, e serei digno do trono de meu pai. 13.Que homem, pois, pode conhecer os desígnios de Deus, e penetrar nas determinações do Senhor? 14.Tímidos são os pensamentos dos mortais, e incertas as nossas concepções; 15.porque o corpo corruptível torna pesada a alma, e a morada terrestre oprime o espírito carregado de cuidados. 16.Mal podemos compreender o que está sobre a terra, dificilmente encontramos o que temos ao alcance da mão. Quem, portanto, pode descobrir o que se passa no céu? 17.E quem conhece vossas intenções, se vós não lhe dais a sabedoria, e se do mais alto dos céus vós não lhe enviais vosso Espírito Santo? 18.Assim se tornaram direitas as veredas dos que estão na terra; os homens aprenderam as coisas que vos agradam e pela sabedoria foram salvos.”
Invocar, pedir, desejar ter! Esse é o princípio da Sabedoria. Os gnósticos extraíram dos livros sapienciais do velho testamento muitos conceitos para sua cosmovisão. "Salomão" se humilha diante de deus, confessando sua ignorância, implorando por conhecimento. Reconhecendo seus pensamentos e ideias como errôneos e tudo o que lhe foi ensinando como coisas miseráveis perto da Sabedoria de Deus ele pede a Deus.
Mas os gnósticos vão além: invocam a própria Sabedoria e pede diretamente a Ela para que habite em si mesmos e revele os mistérios ocultos. Maat, condensamento de Verdade, Retidão e Justiça - Sophia, a Sabedoria, Hokhmah, ela é uma Deusa e ouve nossas orações. A importância dela é tremenda pois nossas Almas sentem saudade do tempo em que vivíamos com Sophia no céu e éramos suas crianças, seus filhos, e dançávamos na presença de Deus e dos Deuses com nossa Mãe e nossos irmãos. A Alma sente que não é desse mundo e está presa aqui por ignorância e deseja se livrar dessa ignorância. Mas sozinhos é tão difícil. Precisamos da ajuda dos outros mundos para nos despertar do sono, da morte e do inferno em que vivemos.
Aquele que é ignorante age como Yaldabaoth, que é o deus cego (Samael) e tolo (grego Saclas ou aramaico Ashqalun). É arrogante, prepotente, soberbo, acha que é autossuficiente, que não precisa de melhorar, nem de se salvar, nem de evoluir. Ele diz: EU SOU DEUS E NÃO HÁ OUTRO ALÉM DE MIM (Isaías 45:5).
Mas aquele que é sábio age como a divina Sophia, que é Fé e Sabedoria. Ela é Pureza, Luz, Poder e Sabedoria. Ela é Graça, Percepção, Compreensão e Prudência. Ela é Razão, Mente, Inteligência, Pensamento e Entendimento. Se torna humilde, compassivo, misericordioso, cheio de amor. Reconhece que está em pecado, que foi expulso do Céu merecidamente, que perdeu seu status de divindade. Mas quer voltar ao que é seu, se arrependendo de seus pecados e confessando-os diante de todos na Terra e no Céu! E gritando a Deus, se arrepende dizendo: SALVA-ME, Ó LUZ, POIS MAUS PENSAMENTOS PENETRARAM EM MIM! (Pistis Sophia 32:1)
Oh, Parábola do Filho Pródigo, tu és a história de minh'alma expulsa do céu desejosa de sua Divindade de volta!
Oh, Parábola do Grão de Mostarda, tu és a história do Cristianismo gnóstico e seus ramos pelo mundo!
Oh, minhas lágrimas, orações, jejuns e meditações, meus amigos mais íntimos!



MÃE BARBELO, CHEIA DE GRAÇA, DEUS PAI É CONTIGO. BENDITA ÉS TU ENTRE OS OS AEONS, BENDITO É O FRUTO DO TEU VENTRE, O CRISTO PRIMORDIAL.
RAINHA DOS CÉUS, CONSOLADORA, ESPÍRITO SANTO. TU QUE ESTÁS PRESENTE EM TUDO E ENCHES TUDO. TESOURO DE BENS E DOADORA DA VIDA, VEM E HABITA EM NÓS. PURIFICA-NOS DE TODA IMPUREZA E SALVA NOSSAS ALMAS, TU QUE ÉS BENDITA!
DIVINA SOPHIA, DONZELA DE LUZ, ROGAI POR NÓS PECADORES. AGORA E NA HORA DE NOSSA MORTE, AMÉM.
REJUBILA Ó VIRGEM DE LUZ, Ó SOPHIA CHEIA DE GRAÇA, POIS NOSSO DEUS É CONTIGO. BENDITA ÉS TU ENTRE OS AEONS E BENDITO É O FRUTO DO TEU VENTRE, POIS DESTE À LUZ ÀS NOSSAS ALMAS!
GLÓRIA AO PAI, À MÃE E AO FILHO, COMO ERA NO PRINCÍPIO, É AGORA E SERÁ SEMPRE, E PELOS AEONS DOS AEONS. AMÉM!
SENHOR JESUS CRISTO, FILHO DE DEUS, PELAS ORAÇÕES DA TUA DIVINA CONSORTE PISTIS SOPHIA, E DE TODOS OS AEONS, TEM PIEDADE DE NÓS! AMÉM.

Nenhum comentário:

Postar um comentário