quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Epístola de Ptolomeu a Flora - Disponível no Drive - Comentários

Já está disponível no Drive a Epístola de Ptolomeu a Flora.


Ptolomeu foi o mais brilhante dos discípulos de Valentim e expandiu a doutrina de seu mestre a um nível superior.

A primeira igreja atacada por Ireneu no seu livro contra heresias é justamente o Sistema de Ptolomeu, o mito cosmogônico de Ptolomeu, que segundo Ireneu é "como a Flor da Escola de Valentim". Ireneu fica indignado com o crescimento dos discipulos de Ptolomeu e outros discípulos de Valentim que ameaçavam a existência da igreja proto-católica em Lyon e em Roma. Um exemplo é essa carta, em que Ptolomeu está introduzindo em sua Escola uma mulher que parece ter conhecido o cristianismo primeiro pelo proto-catolicismo e depois foi atraída para a gnose.

Nesta Carta, ele tenta tirar dúvidas de uma mulher chamada Flora que parece ser de classe alta e detentora de alto nível educacional e filosófico, pois ele trata de assuntos complexos, mas o faz de uma maneira bastante inteligível para qualquer pessoa minimamente instruída.

Uma das coisas mais interessantes dessa carta é que ela refuta aquela velha acusação contra os gnósticos de que ensinam que Deus é mau. Ptolomeu é um cristão gnóstico valentiniano que, ao que parece, não concordava com algum sub-grupo dos barbelo-setianos, porque, segundo Ptolomeu, eles ensinam que O DIABO criou o mundo, e isso é um equívoco. Cabe lembrar que nos próprios textos gnósticos barbelonitas e setianos reencontrados, Yaldabaoth, o Criador DESTE COSMO, é uma mistura da Luz de Sophia com o Erro das Trevas, portanto ele não é "O Diabo", mas UM DIABO em relação a este Aeon (universo, mundo), pois ele é ignorante, por estar em um nível bastante inferior aos outros mundos. Mas seu mundo não é o Inferno, pois existem muitos outros mundos piores abaixo.

Ptolomeu não deve ter mentido, realmente é capaz que tenha existido algum grupo gnóstico que tenha identificado o criador desse universo que estamos com o Diabo e com Jeová. Mas essa não é a regra segundo lemos no mito de Sophia contido nos próprios textos barbelo-setianos clássicos, que enfatizam a malignidade mas não deixam de citar que ele tem também poder de Luz, ou seja, do Bem.

Ora, os heresiologistas acusam os gnósticos de dizerem que Deus é mau. Temos portanto em mãos um rico e precioso testemunho de um dos maiores mestres gnósticos da humanidade expondo a doutrina sem a visão deturpada dos heresiologistas.

Para Ptolomeu, o Criador do mundo é uma mistura do Bem e do Mal e não pode ser confundido com Deus, pois Deus não pode errar, e a Lei de Moisés e o Velho Testamento contém erros que precisam ser corrigidos, revelando que o autor de partes da Lei não é Deus o Pai, mas um "deus" inferior, uma Autoridade, um Anjo, Semi-Deus, uma divindade de baixo nível que não é boa nem má, mas mistura dos dois. Um deus intermediário.

Vamos entender. Os gnósticos acreditam que existem vários mundos, e cada mundo é comandado por um ser poderoso que o controla. Ora, se cada mundo pode ser mais benigno ou mais maligno, cada Chefe e Governante de cada mundo é ou mais benigno ou mais maligno, depende de cada mundo. Se o nosso mundo é uma mistura de Bem e de Mal, o chefe do nosso mundo é também uma mistura de Bem e de Mal. Esses chefes são "deuses", porque são como se fossem Deus devido a sua autoridade e poder: o mundo existe porque eles existem e eles existem porque o mundo existe. Mas na verdade não são Deus. Pois Deus é um só, aquele que é 100% Bom, Puro e Amoroso, e não tem nenhum resquício de Trevas ou Mal, Ele que está no mais elevado dos Céus, no Reino da Luz, o Reino Puro, o Pai.

Se só o Pai é Deus no sentido exato do termo, não existe essa história que os gnósticos dizem que deus é mau, pois Yaldabaoth ou outro chefe de outro mundo não é Deus no sentido exato do termo, apesar de nos textos hora ou outra ele ser chamado de deus por outros personagens, porque ele se comporta COMO SE fosse Deus mesmo sendo apenas um chefe de um mundo inferior.


Estamos tão arraigados com a linguagem católico-ocidental que não conseguimos entender o conceito de palavras em outros contextos, nem conseguimos nos abstrair delas para entender o seu significado além do sentido imediato que nos vem à mente e que é influenciado pela nossa bagagem cultural. Quando vemos escrito "deus", nós logo pensamos no Velho Barbudo na Montanha do judaico-cristianismo "oficial", criador. Mas essa palavra é usada para traduzir conceitos muito diferentes, como os vistos na Pistis Sophia, onde se fala de vários seres divinos como Sem-Pais, Luzes, Autogerados, Améns, Vozes, Auxiliares, Anjos, Arcanjos, Autoridades, Decanos, Senhores e outras classes de seres divinos, celestiais ou chefes.

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